12º Domingo do Tempo Comum – Ano C

Então perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?» (Lc 9, 18)

O Evangelho do 12º Domingo do Tempo Comum (Ano C), começa por nos apresentar Jesus a rezar sozinho, o que acontece imensas vezes no Evangelho de Lucas, que é, por isso, também chamado «Evangelho da oração». Informa-nos o narrador, que os seus discípulos estavam com Ele. Estar com Ele é o «lugar feliz» do discípulo de todos os tempos.

Também ficamos a saber, pela informação dos discípulos de então, que as multidões dizem Jesus com o passado, alinhando-o com as figuras do passado (João Baptista, Elias, um antigo profeta redivivo), não contendo, portanto, nada de substancialmente novo. Em contraponto com as multidões, Pedro avança um dizer novo, diz que Jesus é o Cristo de Deus, sem, todavia, com este dizer, renovar a sua vida, sem fixar n’Ele os olhos e o coração.

É Jesus, e só podia ser Jesus, que se auto-apresenta aos seus discípulos de ontem e de hoje, como tendo de sofrer, ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia. Aí está o transpassado, desfigurado, transfigurado, fonte única de água viva para nós, fonte da nossa vida. Dizemos, na verdade, muitas coisas. Mas é necessário ouvir Jesus dizer. Porque só Ele se diz e nos diz.

«Dizia Ele a todos: “Se alguém quer vir atrás de mim, diga não a si mesmo, e tome a sua cruz todos os dias, e siga-me”» (Lucas 9,23). O dizer de Jesus, o seu ensinamento novo, não é para elites, para alguns iluminados. É para todos. Entenda-se que a escola de Jesus está aberta a todos, ricos e pobres, maus e bons, especialistas e ignorantes. Ainda bem, portanto, que Jesus diz para todos, e todos devemos estar sentados e atentos na sua escola. A vida cristã, que consiste em seguir Jesus, é coisa quotidiana, de todos os dias. Lucas é mesmo o único Evangelista que regista a necessidade de tomar a cruz todos os dias. Não é só para alguns dias de festa. Não pode ter pausas.

Dizer não a si mesmo é pensar ao contrário do que estamos habituados a fazer. Pensamos sempre primeiro em nós, em salvar-nos a nós mesmos. E para nos salvarmos a nós mesmos, pensamos nós, temos de nos antecipar aos outros, ser mais espertos do que os outros, passar à frente dos outros. Exactamente o contrário de Jesus, que não quis salvar-se a si mesmo. Quis salvar-nos a nós, pôr-se ao nosso serviço, fazer-se fonte de água viva para nós. Todavia, se se tivesse salvo a si mesmo, não nos salvava a nós! Estamos, portanto, perante a lógica nova do «quem perde, ganha», que é o jogo novo do cristianismo.

Não se pode ser cristão, discípulo de Jesus, seguir Jesus, dizer Jesus, sem dar a vida. O discípulo de Jesus, à maneira de Jesus, tem de pôr em jogo a própria vida. Tudo, e não apenas o supérfluo. O dom de si mesmo transforma a vida para sempre.

António Couto (resumo)

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