Misericórdia é ter um coração inclinado e fiel

Misericórdia é uma palavra muito bonita que aparece no Evangelho e que significa coração sensível. Não  sensível no sentido de um sentimento piegas, mas “sensível à miséria” – miser-cordis, do latim: um coração atento à miséria, à necessidade, ao pobre. Traduz a palavra grega “eleison”, Kyrie eleison, isto é “Senhor, misericórdia”! O termo eleison significa inclinar-se: Senhor, inclina-te para nós. Portanto, misericórdia, é o “estar inclinado para o outro”. É viver inclinado, propenso, atento. É aquilo que hoje poderíamos chamar o “cuidado”. A misericórdia tem ainda outra dimensão, que na Bíblia aparece junta com o “inclinar-se para…” e que é “ser fiel”. Um coração inclinado e fiel.

Vasco P. Magalhães, sj

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São João Paulo II – 22 de Outubro

Com João Paulo II teve início um dos pontificados mais longos da história da Igreja, durante o qual um Papa “vindo de um país distante”, foi reconhecido como autoridade moral também por muitos não-cristãos e não-crentes, como demonstraram as comovedoras manifestações de afecto durante a sua doença e de profundos pêsames depois da sua morte.

Junto do seu túmulo, nas Grutas Vaticanas, continua ainda ininterruptamente a peregrinação de numerosos fiéis, e também isto constitui um sinal eloquente do modo como o amado João Paulo II entrou no coração das pessoas, sobretudo pelo seu testemunho de amor e de dedicação no sofrimento. Nele pudemos admirar a força da fé e da oração, e uma confiança total em Maria Santíssima, que sempre o acompanhou e protegeu, especialmente nos momentos mais difíceis e dramáticos da sua vida.

Poderíamos definir João Paulo II como um Papa totalmente consagrado a Jesus, por meio de Maria, como era bem evidenciado no seu lema: “Totus tuus”.

Contemplativo e missionário: assim foi o amado Papa João Paulo II. Foi-o, graças à íntima união com Deus, quotidianamente alimentada pela Eucaristia e por prolongados momentos de oração.

Bento XVI

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29º Domingo do Tempo Comum – Ano A

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 22, 15-21)

Naquele tempo, os fariseus reuniram-se para combinar como o haviam de surpreender nas suas próprias palavras. Enviaram-lhe os seus discípulos, acompanhados dos partidários de Herodes, a dizer-lhe: «Mestre, sabemos que és sincero e que ensinas o caminho de Deus segundo a verdade, sem te deixares influenciar por ninguém, pois não olhas à condição das pessoas. Diz-nos, portanto, o teu parecer: É lícito ou não pagar o imposto a César?»

Mas Jesus, conhecendo-lhes a malícia, retorquiu: «Porque me tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do imposto.» Eles apresentaram-lhe um denário. Perguntou: «De quem é esta imagem e esta inscrição?» «De César» – responderam. Disse-lhes então: «Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.» Quando isto ouviram, ficaram maravilhados e, deixando-o, retiraram-se.

Mensagem

O Evangelho deste 29º Domingo sobre o tributo a César (Mt 22, 15-21) está inserido num conjunto de conflitos entre Jesus e as autoridades. Nele é dito: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

Não entendemos bem esta frase sem levar em conta o contexto em que Jesus a diz. Os fariseus saíram e fizeram um plano para apanhar Jesus nalguma palavra mas Jesus apercebeu-se da armadilha e da maldade com que se dirigiram a ele. Assim, pois, a resposta de Jesus está calculada. Ao ouvi-la, os fariseus ficaram surpreendidos pois não a esperavam. Se tivesse ido contra César, teriam podido denunciá-lo; se tivesse ido claramente a favor de pagar o tributo a César, teriam marchado satisfeitos com a sua astúcia. Mas Jesus, sem falar contra César, relativiza-o: tem que se dar a Deus o que é de Deus, e Deus é Senhor também dos poderes deste mundo.

César, como todo o governante, não pode exercer um poder arbitrário, porque o seu poder é-lhe dado e, como os servos da parábola dos talentos, que têm que responder pelo uso dos talentos, também ele deve prestar contas da forma como usou o poder. No Evangelho de São João, Jesus diz a Pilatos: «Tu não terias poder algum sobre mim, se não te fosse dado do alto» (Jo 19, 11). Jesus não quer apresentar-se como um agitador político. Simplesmente, põe as coisas no seu lugar.

A interpretação que se tem feito às vezes de Mt 22, 21 (“Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”) é que a Igreja não deveria “imiscuir-se em política”, mas ocupar-se somente do culto. Mas esta interpretação é totalmente falsa, porque ocupar-se de Deus não é só ocupar-se do culto, mas também preocupar-se pela justiça, e pelos homens, que são os filhos de Deus. Pretender que a Igreja permaneça nas sacristias, que se faça de surda, cega e muda ante os problemas morais e humanos do nosso tempo, é tirar de Deus o que é de Deus. “A tolerância que só admite Deus como opinião privada, mas que lhe nega o domínio público (…) não é tolerância, senão hipocrisia” (Bento XVI).

Palavra para o caminho

Para Jesus, César e Deus não são duas autoridades de grau semelhante que entre si devem repartir a submissão dos homens. Deus está acima de qualquer César, e este nunca pode exigir o que pertence a Deus.

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Não tenhas receio, crê somente

Caríssimos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje gostaria de pôr em confronto a esperança cristã com a realidade da morte, uma realidade que a nossa civilização moderna tende a cancelar cada vez mais. Assim, quando a morte chega, seja para quem está próximo seja para nós mesmos, não estamos preparados, privados até de um “alfabeto” adequado para esboçar palavras com sentido acerca do seu mistério, que contudo permanece. Mesmo se os primeiros sinais de civilização humana transitaram precisamente através deste enigma. Poderíamos dizer que o homem nasceu com o culto dos mortos.

Outras civilizações, antes da nossa, tiveram a coragem de a encarar. Era um acontecimento contado pelos idosos às novas gerações, como uma realidade iniludível que obrigava o homem a viver para algo absoluto. O salmo 90 recita: «Ensinai-nos a contar assim os nossos dias, para que guiemos o coração na sabedoria» (v. 12). Contar os próprios dias faz com que o coração se torne sábio! Palavras que nos reconduzem a um realismo sadio, afastando o delírio da omnipotência. O que somos? Somos «quase nada», diz outro salmo (cf. 88, 48); os nossos dias passam velozes: mesmo se vivêssemos cem anos, no final teremos a impressão de que tudo foi um sopro. Muitas vezes ouvi idosos dizerem: “Para mim a vida passou como um sopro…”.

Assim a morte põe a nossa vida a nu. Faz-nos descobrir que as nossas ações de orgulho, ira e ódio eram vaidade: pura vaidade. Apercebemo-nos, desapontados, que não amámos o suficiente e que não procurámos o que era essencial. E, ao contrário, vemos o que de verdadeiramente bom semeamos: os afetos pelos quais nos sacrificamos, e que agora nos levam pela mão.

Jesus iluminou o mistério da nossa morte. Com o seu comportamento, autoriza-nos a sentir-nos pesarosos quando uma pessoa querida falece. Ele ficou «profundamente» perturbado diante do túmulo do amigo Lázaro, e «desatou a chorar» (Jo 11, 35). Nesta sua atitude sentimos Jesus muito próximo, nosso irmão. Ele chorou pelo seu amigo Lázaro. E então Jesus reza ao Pai, fonte da vida, e ordena a Lázaro que saia do sepulcro. E assim acontece. A esperança cristã alimenta-se nesta atitude que Jesus assume contra a morte humana: mesmo estando presente na criação, ela é contudo uma cicatriz que deturpa o desígnio de amor de Deus, e o Salvador quer curar-nos dela.

Outros evangelhos narram acerca de um pai que tem a filha muito doente, e dirige-se com fé a Jesus para que a salve (cf. Mc 5, 21-24.35-43). E não há figura mais comovedora do que a de um pai ou de uma mãe com um filho doente. E Jesus encaminha-se imediatamente com aquele homem, que se chamava Jairo. A um certo ponto chega alguém da casa de Jairo, dizendo que a menina morreu, e que não há mais necessidade de incomodar o Mestre. Mas Jesus diz a Jairo: «Não tenhas receio, crê somente» (Mc 5, 36). Jesus sabe que aquele homem sente a tentação de reagir com raiva e desespero, porque a menina morreu, e recomenda-lhe que preserve a pequena chama que está acesa no seu coração: a fé. «Não tenhas receio, crê somente». “Não receies, unicamente continua a manter acesa aquela chama!”. E depois, quando chegaram a casa, despertará a menina da morte e restituí-la-á viva aos seus entes queridos.

Jesus põe-nos neste “ápice” da fé. Ao choro de Marta pela morte do irmão Lázaro contrapõe a luz de um dogma: «Eu sou a Ressurreição e a Vida; quem crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e crê em Mim nunca morrerá. Crês tu nisto?» (Jo 11, 25-26). É o que Jesus repete a cada um de nós, todas as vezes que a morte vem arrancar o tecido da vida e dos afetos. Toda a nossa existência se joga aqui, entre a vertente da fé e o precipício do medo. Jesus diz: “Eu não sou a morte, eu sou a ressurreição e a vida, crês tu nisto?, crês tu nisto?”. Nós, que hoje estamos aqui na Praça, cremos nisto?

Todos somos pequeninos e indefesos diante do mistério da morte. Contudo, que graça se naquele momento guardarmos no coração a pequena chama da fé! Jesus guiar-nos-á pela mão, assim como guiou pela mão a filha de Jairo, e repetirá mais uma vez: “Talitá kum”, “Menina, levanta-te!” (Mc 5, 41). Di-lo-á a nós, a cada um de nós: “Levanta-te, ressurge!”. Agora, eu convido-vos a fechar os olhos e a pensar naquele momento: da nossa morte. Cada um de nós pense na própria morte, e imagine aquele momento que acontecerá, quando Jesus nos pegará na mão e nos disser: “Vem, vem comigo, levanta-te”. Terminará ali a esperança e será a realidade, a realidade da vida. Refleti bem: o próprio Jesus virá ter com cada um de nós e pegar-nos-á pela mão, com a sua ternura, a sua mansidão, o seu amor. E cada um repita no seu coração a palavra de Jesus: “Levanta-te, vem. Levanta-te, vem. Levanta-te, ressurge!”.

Esta é a nossa esperança diante da morte. Para quem crê, é uma porta que se abre de par em par; para quem duvida é uma brecha de luz que filtra por uma porta que não se fechou completamente. Mas será para todos nós uma graça, quando esta luz, do encontro com Jesus, nos iluminar.

Papa Francisco, Audiência Geral, 18 de Outubro de 2017

 

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Quem viver piedosamente em Cristo sofre perseguição

Jesus não foi compreendido, mas antes rejeitado pelos grandes e poderosos deste mundo, acabando por ser morto na cruz. Também Maria, sua Mãe, sofreu muitas vezes, não apenas enquanto esteve junto à cruz.

O caminho de Jesus é também o caminho dos seus discípulos, de nós, carmelitas, chamados a viver em seu obséquio. O sofrimento, a dor, a incompreensão e as dificuldades fazem parte da existência humana, tal como no-lo recorda a Regra: “a vida do homem sobre a terra é um tempo de provação e todos os que querem viver piedosamente em Cristo sofrem perseguição” (R 18; cf. Jb 7,1; 2Tm 3,12). Estas realidades dolorosas não nos serão poupadas porque temos fé – isso seria interesse! –, mas fazem parte da nossa vida.

Pedro Bravo, O. Carm.

 

 

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Rezar com Santa Teresa de Jesus os mistérios luminosos

Mistérios Luminosos (rezados às quintas-feiras)

1º Mistério – O Baptismo de Jesus. “E do céu veio uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado; em ti pus todo o meu agrado.»” (Lc 3, 22b).

“A voz que se ouviu no Baptismo disse que Vós comprazeis com Vosso Filho. E haveremos de ser todos iguais, Senhor?… Ó minha alma, considera o grande deleite e o imenso amor que tem por nós o Pai…, bem como o ardor com que o Espírito Santo se junta a Ele!” (Santa Teresa de Jesus, Exc 7).

1 Pai nosso, 10 Ave- Marias e 1 Glória ao Pai…

2º Mistério – Jesus nas Bodas de Caná. “Sua mãe disse aos que estavam a servir: «Fazei tudo o que Ele vos disser!» (Jo 2, 5).

“Ó Fontes divinas das graças do meu Deus. Jorrais com grande abundância para aplacar a nossa sede, quão seguro estará diante dos perigos desta vida, aquele que procura manter-se com este divino licor… (Santa Teresa de Jesus, Exc 9).

1 Pai nosso, 10 Ave- Marias e 1 Glória ao Pai…

3º Mistério – O anúncio do Reino de Deus. Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e acreditai no Evangelho!” (Mc 1, 15).

“Surgiram em mim uma grande força e uma verdadeira determinação de cumprir com todo o empenho a mínima palavra da Divina Escritura. Creio que não deixaria de enfrentar nenhum obstáculo para fazê-lo.” (Santa Teresa de Jesus, V 40, 2).

1 Pai nosso, 10 Ave- Marias e 1 Glória ao Pai…

4º Mistério – A Transfiguração. “Desceu, então, uma nuvem, cobrindo-os com a sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: «Este é o meu Filho amado. Escutai-o!»” (Mc 9, 7).

“Oh, Jesus meu, quem poderia dar a entender a majestade com que Vos mostrais? Fixai os olhos em vós mesmas e contemplai no vosso interior o vosso Mestre que não vos faltará. Que Sua Majestade não consinta que vos afasteis da sua presença.” (Santa Teresa de Jesus, C 29, 2. 8).

1 Pai nosso, 10 Ave- Marias e 1 Glória ao Pai…

5º Mistério – A instituição da Eucaristia. “Quando chegou a hora, Jesus pôs-se à mesa com os apóstolos e disse: «Ardentemente desejei comer convosco esta ceia pascal, antes de padecer».” (Lc 22, 14-15).

“Se nos chegássemos ao Santíssimo Sacramento com grande amor e fé, uma única vez bastaria para nos deixar ricas de graças. Quanto mais tantas vezes.” (Santa Teresa de Jesus, CAD 3, 13).

1 Pai nosso, 10 Ave- Marias e 1 Glória ao Pai…

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Santa Teresa de Jesus – 15 de Outubro

Nasceu em Ávila (Espanha) no ano 1515. Tendo entrado na Ordem das Carmelitas, fez grandes progressos no caminho da perfeição e teve revelações místicas. Ao empreender a reforma da Ordem teve de sofrer muitas tribulações, mas tudo suportou com coragem invencível. A doutrina profunda que escreveu nos seus livros é fruto das suas experiências místicas. Morreu em Alba de Tormes (Salamanca) no ano 1582.

Quem deveras ama a Deus, todo o bem ama, todo o bem quer, todo o bem favorece, todo o bem louva, com os bons se junta sempre e os favorece e defende; não ama senão verdades e coisa que seja digna de amar. Pensais que é possível, a quem mui deveras ama a Deus, amar vaidades, ou riquezas, ou coisas de deleites do mundo, ou honras, ou tenha contendas ou invejas? Não, que nem pode; e tudo, porque não pretende outra coisa senão contentar ao Amado (Santa Teresa de Jesus).

Preces

Aclamemos com alegria o Senhor da Glória, a Coroa de todos os Santos, que nos concedeu hoje a graça de celebrarmos Santa Teresa, e digamos: Glória a vós, Senhor!

Senhor, fonte de vida e de santidade, que manifestais nos vossos Santos as maravilhas da vossa graça, queremos com Santa Teresa cantar eternamente as vossas misericórdias. Glória a vós, Senhor!

Vós, que desejais abrasar todo o mundo com o fogo do vosso Amor, fazei que sejamos, como Santa Teresa, servidores do vosso Amor entre os nossos irmãos. Glória a vós, Senhor!

Vós, que revelais aos vossos Anjos os mistérios do vosso coração, associai-nos mais a vós, para que, tendo experimentado melhor o vosso amor em nós, conduzamos os irmãos para vós. Glória a vós, Senhor!

Vós, que proclamastes bem-aventurados os puros de coração e prometestes que haveriam de ver-vos, purificai o nosso olhar, para que vos descubramos em todas as criaturas e nos elevemos sempre para vós. Glória a vós, Senhor!

Vós, que resistis aos soberbos e dais inteligência aos simples, fazei que sejamos humildes de coração, para adquirirmos em benefício de toda a Igreja a sabedoria, que nos enriquece. Glória a vós, Senhor!

Vós, que suscitastes na Igreja a família do Carmelo, concedei aos Carmelitas a graça da fidelidade ao espírito de oração e de zelo apostólico, a exemplo de Santa Teresa. Glória a vós, Senhor!

Oração

Senhor, que por meio de Santa Teresa de Jesus, inspirada pelo Espírito Santo, manifestastes à vossa Igreja o caminho da perfeição, concedei-nos a graça de encontrar alimento na sua doutrina espiritual e de nos inflamarmos no desejo da verdadeira santidade. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo

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28º Domingo do Tempo Comum – Ano A

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 22, 1-14)

Naquele tempo, Jesus dirigiu-Se de novo aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo e, falando em parábolas, disse-lhes: «O Reino do Céu é comparável a um rei que preparou um banquete nupcial para o seu filho. Mandou os servos chamar os convidados para as bodas, mas eles não quiseram comparecer. De novo mandou outros servos, ordenando-lhes: ‘Dizei aos convidados: O meu banquete está pronto; abateram-se os meus bois e as minhas reses gordas; tudo está preparado. Vinde às bodas.’ Mas eles, sem se importarem, foram um para o seu campo, outro para o seu negócio. Os restantes, apoderando-se dos servos, maltrataram-nos e mataram-nos. O rei ficou irado e enviou as suas tropas, que exterminaram aqueles assassinos e incendiaram a sua cidade. Disse, depois, aos servos: ‘O banquete das núpcias está pronto, mas os convidados não eram dignos. Ide, pois, às saídas dos caminhos e convidai para as bodas todos quantos encontrardes.’ Os servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos aqueles que encontraram, maus e bons, e a sala do banquete encheu-se de convidados.

Quando o rei entrou para ver os convidados, viu um homem que não trazia o traje nupcial. E disse-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem o traje nupcial?’ Mas ele emudeceu. O rei disse, então, aos servos: ‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.’ Porque muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos.»

Mensagem

Jesus conhecia muito bem como desfrutavam os camponeses da Galileia as festas de casamento que se celebravam nas aldeias. Sem dúvida, ele mesmo tomou parte em mais de uma. Que experiência podia ser mais alegre para aquelas pessoas que ser convidados para um casamento e poder sentar-se com os vizinhos a partilhar juntos um banquete de festa?

Esta recordação vivida desde criança ajudou Jesus mais tarde a comunicar a Sua experiência de Deus de uma forma nova e surpreendente. Segundo Ele, Deus está a preparar um banquete final para todos os Seus filhos, pois a todos os quer ver sentados junto a Ele desfrutando para sempre de uma vida plenamente feliz.

Podemos dizer que Jesus entende toda a sua vida como o oferecimento de um grande convite em nome de Deus para essa festa final. Por isso Jesus não impõe nada à força, não pressiona ninguém. Anuncia a Boa Nova de Deus, desperta a confiança no Pai, acende nos corações a esperança. A todos chegará o seu convite.

Jesus era realista. Sabia que o convite de Deus pode ser rejeitado. Na parábola «dos convidados para a festa do casamento» fala-se de diversas reacções dos convidados. Uns rejeitam o convite de forma consciente e rotunda: «Não quiseram vir». Outros respondem com absoluta indiferença: «Não fizeram caso». Mais importante para eles são as suas terras e negócios.

Mas, segundo a parábola, Deus não desanima nem desiste. Acima de tudo haverá uma festa final. O desejo de Deus é que a sala do banquete se encha de convidados. Por isso há que ir aos «cruzamentos dos caminhos», por onde caminham tantas pessoas errantes, que vivem sem esperança e sem futuro. A Igreja há-de continuar a anunciar com fé e alegria o convite de Deus proclamado no Evangelho de Jesus.

Palavra para o caminho

Santa Madre Teresa de Calcutá saía todas as noites para as ruas de Calcutá para recolher moribundos para dar-lhes, com amor, uma boa morte: limpos, bem vestidos e, se fosse possível, baptizados. Certa vez comentou: “Não tenho medo de morrer, porque quando estiver diante do Pai, haverá tantos pobres que lhe entreguei com os trajes de casamento que saberão defender-me”.

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Como era Santa Teresa de Jesus?

Foi dito acerca de Teresa de Jesus que era bela, inteligente e santa, ainda que ela se descreva como “… enfim, mulher, e não boa, mas ruim” (V 18,4).

Era uma pessoa nobre, íntegra, que recusava toda a falsidade e hipocrisia: “Posso errar em tudo, mas não mentir, que, pela misericórdia de Deus, antes passaria mil mortes” (M 4 2, 7). Inclinada à amizade, extrovertida e graciosa na sua conversação, era delicada, generosa e sensível aos favores. Ela mesma afirma que “isto que tenho de ser agradecida, deve ser natural, que com uma sardinha que me dêem me subornarão” (Carta a Maria de São José, 1578). Dotada de um especial dom para atrair os melhores colaboradores, dizia dela o P. Graciano que era “tão aprazível e agradável, que a todos os que tratavam com ela, atraía atrás de si, e amavam-na e queriam”.

Era profundamente religiosa e, ao mesmo tempo, prática, enérgica, tenaz, trabalhadora e sacrificada. Dizia o bispo Mendoza que “se compromete de tal modo, que consegue o que começa”.

Foi amiga das letras e dos bons livros e buscava o conselho dos bons letrados. Era habilidosa nas tarefas caseiras, e até entre panelas capta também a presença de Deus. Foi uma mulher alegre; para ela “um santo triste é um triste santo”.

Foi uma pessoa de contrastes: contemplativa e activa, simples e sábia, enferma e forte, solitária e sempre acompanhada, perseguida e ditosa, pobre e esplêndida, pecadora e santa, e sobretudo muito humana. Quando passou pelo convento dos Anjos das franciscanas em Madrid, as monjas comentaram: “Bendito seja o Senhor, que nos deixou ver uma santa a quem todas podemos imitar, que dorme e fala como nós e anda sem cerimónias… e é grande a sua lhaneza!”.

Luis Javier Fernández Frontela, OCD

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Alguns traços da vida de Santa Teresa de Jesus

Teresa de Ahumada, Teresa de Jesus, nasce em Ávila a 28 de Março de 1515 e morre em Alba de Tormes a 5 de Outubro de 1582. É filha de Alonso Sanchez de Cepeda, descendente de judeus conversos, e de Beatriz de Ahumada, de família fidalga. O Livro da Vida menciona alguns detalhes da sua família, que podemos qualificar como numerosa, com nove irmãos e três irmãs, junto a uns pais “virtuosos e tementes a Deus”.

Ao cumprir os 14 anos, morre a sua mãe. Nesse momento reza diante da Virgem da Caridade: “Como eu comecei a entender o que tinha perdido, aflita, fui diante de uma imagem de Nossa Senhora e supliquei-lhe, com muitas lágrimas, que fosse minha mãe” (V 7, 1). Em 1531, seu pai manda-a como interna para o convento das freiras agostinhas de Santa Maria das Graças, mas no ano seguinte por motivo de doença tem que regressar a casa.

Determinada a vestir o hábito carmelita contra a vontade de seu pai, em 1535 foge de sua casa para dirigir-se ao convento da Encarnação. Veste o hábito em Novembro de 1536.

Um ano depois da sua profissão, em finais de 1538, devido a uma grave doença, sai do convento para restabelecer-se; e estando em casa de um tio seu, em Hortigosa do rio Almar, lê o Terceiro Abecedário de Francisco de Osuna, que lhe descobre o mundo da oração mental, através da meditação da vida de Cristo e o conhecimento próprio.

Após um agravamento que quase a leva à morte, em 1539 regressa, ainda convalescente e paralítica, à Encarnação, onde lentamente vai recuperando o movimento. Ela atribui isso a uma intervenção de São José, a quem, desenganada dos médicos, se tinha encomendado. E a sua devoção a São José aumenta e se converte em amizade com este Santo a quem sente e chama familiarmente meu Pai e Senhor São José (V 6, 6).

Uma vez recomposta das suas dores, começa a instruir na oração a outros, freiras e leigos, entre eles o seu próprio pai, embora ela se vá afastando da mesma. Durante anos luta entre a dedicação à vida espiritual e os passatempos superficiais, até que em 1554, com 39 anos, dois acontecimentos marcam a sua vida. O primeiro é o encontro com uma imagem de Cristo muito chagado, que a determina a entregar-se por completo nas suas mãos, fazendo sempre e em tudo a vontade de Deus. O segundo acontecimento é a leitura das Confissões de Santo Agostinho: “Quando cheguei à sua conversão e li como ele ouviu aquela voz no jardim, não me parecia senão que o Senhor me falava a mim, segundo sentiu o meu coração; estive por largo tempo desfazendo-me toda em lágrimas… Começou a crescer em mim a disposição de estar mais tempo com Ele” (V 9, 8-9).

A partir desse momento, começou a ter fortes vivências interiores, que os seus confessores, a princípio qualificavam como imaginárias ou como obra do demónio. Ela confia que são de Deus pelo efeito de paz e do reforço de virtudes que deixam na sua alma e o anelo de servir a Deus. Propõe-se estabelecer um novo estilo de vida carmelitana mais fiel às suas origens. Este ideal torna-se realidade a 24 de Agosto de 1562 com a fundação do convento de São José. A partir de então, a dedicação à contemplação e à oração se compaginará com uma actividade extraordinária como fundadora, que desde 1567 funda outros 16 conventos de Carmelitas Descalças: Medina del Campo, Malagón, Valladolid, Toledo, Pastrana, Salamanca, Alba de Tormes, Segóvia, Beas de Segura, Sevilha, Caravaca de la Cruz, Villanueva de la Jara, Palencia, Sória e Burgos. Neles estabelece um estilo de vida religiosa orante, fraterna, alegre, com sentido de pertença à Igreja. E em 1568, em Duruelo, com a colaboração de São João da Cruz, funda os frades Carmelitas Descalços, e quer que sejam fraternos, orantes, cultos e apostólicos, que trabalhem ao serviço da Igreja através do ministério sacerdotal e missionário.

Luis Javier Fernández Frontela, OCD

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