Se Tu me dás a mão não terei medo

O Carmelo não tem resposta para o mistério do mal. Mas o Carmelo percorreu o caminho difícil e dá uma palavra de esperança ao peregrino que sofre. Sofrimento profundo e experiências trágicas são parte da vida de cada pessoa. As limitações da nossa condição humana e as forças destrutivas presentes no mundo atacam com frequência a nossa fé. O Carmelo testemunha que o amor de Deus está sempre presente mesmo nos escombros da nossa vida, apesar de parecer o contrário. O Carmelo dá-nos uma análise particularmente intensa do impacto que o amor de Deus tem no espírito e na personalidade do ser humano. Convidado a uma relação cada vez mais profunda, o peregrino é desafiado a deixar todos os apoios e a caminhar confiadamente no futuro de Deus. No processo de adaptação ao ambiente divino, o cristão experimenta frequentemente ataques tanto no espírito como na psique. O Carmelo oferece linguagem e imagens expressivas que podem exprimir estes sofrimentos, e é muito eloquente na recomendação de vigiar em silêncio pela chegada de Deus. Os santos do Carmelo confiaram no sofrimento e como discípulos frequentemente expressaram o desejo de levar a cruz. Contudo, este desejo de sofrer, tem significado no contexto de uma resposta de amor à obra de Deus. O sofrimento de Jesus na cruz nasceu do amor e não do amor ao sofrimento.

John Welch, O. Carm.

Abrir

Mostrai-nos o vosso rosto e seremos salvos

A história do Amado que vem ao encontro da Amada para atrair o seu coração para uma profunda união, é a história protótipo que os Carmelitas experimentaram repetidas vezes. A nossa vida não pode ser forçada à submissão a não ser que seja conduzida pelo amor. Não podemos deixar o apego aos nossos ídolos se Deus não acender no nosso coração um amor mais profundo. O coração tem então um lugar para onde ir e pode confiadamente desamarrar-se das suas “ataduras”, dependências e ídolos. O amor de Deus, sempre presente e oferecido, atrai o coração até à profundidade de Deus, e aí encontra-se com o sofrimento do mundo. A nossa atitude contemplativa não nos afasta das preocupações do mundo mas lança-nos para a luta corajosa no mundo.

John Welch, O. Carm.

Abrir

A quem iremos?

As fomes do nosso coração lançam-nos para o mundo à procura de alimento. De muitas maneiras perguntamos ao mundo: “Viste aquele que fez isto ao meu coração e o deixou penando”? O nosso coração encontra-se disperso e perdido, enquanto perguntamos a cada pessoa, a cada possessão e a cada actividade que nos digam algo mais acerca do Mistério que está no centro da nossa vida. A alma apaixonada pelos mensageiros de Deus confunde-os com o próprio Deus. Tomamos as coisas boas criadas por Deus e pretendemos que sejam Deus. O coração, cansado de peregrinar, procura instalar-se e construir um lar. Põe os seus desejos mais profundos nas relações, nas possessões, nos planos, nas actividades, nas metas, e pede a tudo isto que sacie as fomes profundas. Porém, pretendemos demasiado deles e como não podem resistir às nossas expectativas começam a desmoronar-se. Os santos carmelitas nunca se cansam de nos recordar que só Deus é o alimento suficiente para saciar as fomes do nosso coração.

John Welch, O. Carm.

Abrir

Criaste-nos para Ti, Senhor

A tradição Carmelita reconhece que há no coração humano uma fome muito profunda de Deus. Este desejo e esta ânsia impulsionam-nos ao longo de toda a nossa vida a procurar a realização das aspirações do nosso coração. Esta corrente profunda de desejo na nossa vida é devida ao facto de que Deus nos desejou primeiro. Deus, o primeiro contemplativo, ao contemplar-nos viu que éramos atractivos e encantadores para Si. A tradição Carmelita não fala do aniquilamento do desejo mas da transformação dos desejos, para que desejemos cada vez mais o que Deus deseja em consonância de desejo. Como Teresa de Ávila dizia em simples palavras: “Quero o que Tu queres”.

John Welch, O. Carm.

Abrir

800 anos de história

A tradição carmelita pode ser entendida como um comentário de oitocentos anos ao “Cântico dos Cânticos”. Esta antiga história de amor da literatura hebraica é uma narração simples que fundamenta e capta a experiência de numerosíssimos carmelitas. «A voz do meu amado! Ei-lo que chega, correndo pelos montes, saltando sobre as colinas» (Ct 2, 8). Pensando que procuravam um Deus difícil de se deixar encontrar, voltavam da sua busca com a convicção de que tinha sido o próprio Deus que, com eterno amor, saíra ao seu encontro ao longo de todo o caminho. A ânsia profunda do coração do carmelita revelou-se, deste modo, como sinal de um convite: «Levanta-te, minha amada, e vem, ó minha bela amada!» (Ct 2, 10). Os escritores carmelitas recorreram frequentemente à apaixonante história de amor do “Cântico dos Cânticos” para encontrar as palavras que pudessem expressar esta experiência… Os versos do “Cântico” aparecem, consciente ou inconscientemente, na literatura carmelita. Os carmelitas contam muitas histórias, mas de entre elas, aparece repetidamente a história da amada que espera incansavelmente a chegada do Amado.

John Welch, O. Carm.

Abrir