30º Domingo do Tempo Comum – Ano B

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 10, 46-52)

Naquele tempo, quando Jesus ia a sair de Jericó com os seus discípulos e uma grande multidão, um mendigo cego, Bartimeu, o filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho. E ouvindo dizer que se tratava de Jesus de Nazaré, começou a gritar e a dizer: «Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim!» Muitos repreendiam-no para o fazer calar, mas ele gritava cada vez mais: «Filho de David, tem misericórdia de mim!» Jesus parou e disse: «Chamai-o.» Chamaram o cego, dizendo-lhe: «Coragem, levanta-te que Ele chama-te.» E ele, atirando fora a capa, deu um salto e veio ter com Jesus. Jesus perguntou-lhe: «Que queres que te faça?» «Mestre, que eu veja!» – respondeu o cego. Jesus disse-lhe: «Vai, a tua fé te salvou!» E logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho.

Reflexão

A cura do cego Bartimeu é narrada por Marcos para ajudar as comunidades cristãs a saírem da cegueira e mediocridade em que vivem. Somente deste modo, poderão seguir Jesus pelo caminho do Evangelho. O relato é de uma surpreendente actualidade para a Igreja dos nossos dias. Bartimeu é “um mendigo cego sentado à beira do caminho”. A sua vida é sempre noite. Ouviu falar de Jesus, porém não conhece o seu rosto. Não pode segui-lo. Está junto ao caminho por onde ele passa, porém, está fora. Entre nós é noite! Desconhecemos Jesus. Falta-nos luz para seguir o seu caminho.

Apesar da sua cegueira, Bartimeu percebe que Jesus está a passar perto dele. Não duvida um instante. Algo lhe diz que em Jesus está a sua salvação: “Jesus, Filho de David, tem misericórdia de mim”. Este grito repetido com fé desencadeará a sua cura. Hoje ouvem-se na Igreja queixas e lamentos, críticas, protestos… Não se escuta a oração humilde e confiante do cego. Esquecemo-nos que somente Jesus pode salvar esta Igreja. Não percebemos a sua presença no nosso meio. Somente cremos em nós.

O cego não vê, mas sabe escutar a voz de Jesus que lhe chega através dos seus enviados: “Coragem, levanta-te, que Ele chama-te”. Este é o clima que necessitamos de criar na Igreja: animar-nos mutuamente para reagirmos, voltarmos a Jesus que nos chama. Este é o primeiro objectivo da pastoral.

O cego reage de forma admirável: larga o manto que o impede de levantar-se, dá um salto mesmo ainda sem ver e aproxima-se de Jesus. Do seu coração brota somente um pedido: “Mestre, que eu veja”. Se os seus olhos se abrirem, tudo mudará. O relato conclui dizendo que o cego recobrou a vista e “seguiu Jesus pelo caminho”. Esta é a cura que nós cristãos e as nossas comunidades necessitamos hoje.

Palavra para o caminho

Quando Jesus pergunta a Bartimeu o que deseja dele, o cego não duvida. Sabe muito bem aquilo que necessita: “Mestre, que eu veja”. Isto é o mais importante. Quando alguém começa a ver as coisas de maneira nova, a sua vida transforma-se. Quando uma comunidade recebe a luz de Jesus, converte-se.

Felizes os que crêem, não porque um dia foram baptizados, mas porque descobriram por experiência que a fé faz viver, de uma forma mais alegre, mais intensa e mais jovem.

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15º Domingo do Tempo Comum – Ano B

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 6, 7-13)

Jesus percorria as aldeias vizinhas a ensinar. Chamou os Doze, começou a enviá-los dois a dois e deu-lhes poder sobre os espíritos imundos. Ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser um cajado: nem pão, nem alforge, nem dinheiro no cinto; que fossem calçados com sandálias e não levassem duas túnicas. E disse-lhes também: «Em qualquer casa em que entrardes, ficai nela até partirdes dali. E se não fordes recebidos numa localidade, se os seus habitantes não vos ouvirem, ao sair de lá, sacudi o pó dos vossos pés, em testemunho contra eles.» Eles partiram e pregavam o arrependimento, expulsavam numerosos demónios, ungiam com óleo muitos doentes e curavam-nos.

Reflexão

O Evangelho do 15º Domingo do Tempo Comum, que narra o envio em missão dos «Doze» (Marcos 6,7-13), situa-se estrategicamente entre a rejeição de Jesus na sua pátria (Marcos 6,1-6) e o martírio de João Baptista (Marcos 6,14-29). O contexto é, pois, claro, intenso e dramático acerca do destino dos missionários: entre a rejeição e martírio. A rejeição e o martírio derivam do facto de as pessoas (nós) não acreditarem que a missão (claríssimo no caso de Jesus) provém de Deus!

Marcos recorda-nos algumas recomendações de Jesus. Destacamos algumas. Segundo Marcos, ao enviar os «Doze», Jesus «dá-lhes autoridade sobre os espíritos imundos». Não lhes dá poder sobre as pessoas que irão encontrar no seu caminho. Abrirão caminhos na sociedade, não utilizando o poder sobre as pessoas, mas humanizando a vida, aliviando o sofrimento das pessoas, fazendo crescer a liberdade e a fraternidade.

Levarão somente «bastão» e «sandálias». Jesus imagina-os como caminhantes. Jamais instalados. Sempre a caminho. Não presos a nada nem a ninguém. Somente com o imprescindível. Com aquela agilidade que tinha Jesus para se fazer presente onde alguém precisava dele. O báculo [bastão, bordão] de Jesus não é para mandar, mas para caminhar.

Não devem levar «nem pão, nem mochila, nem dinheiro». Eles não têm de viver obcecados com a sua própria segurança. Levam consigo algo mais importante: o Espírito de Jesus, a sua Palavra e a sua Autoridade para humanizar a vida das pessoas.

Tampouco, levarão uma «segunda túnica». Vestir-se-ão com a simplicidade dos pobres. Serão profetas no meio do povo. A vida deles será sinal da proximidade de Deus com todos, sobretudo, dos mais necessitados.

Este despojamento, ou empobrecimento, ou leveza, está na base da credibilidade da mensagem que devem transmitir.

Palavra para o caminho

Esta sociedade necessita, como nunca, do impacto de homens e mulheres que saibam viver com poucas coisas. Crentes capazes de demonstrar que a felicidade não está em acumular bens. Temos necessidade de alguém que nos chame a atenção, com sua vida, que quem não sabe amar é um zero colossal, um fracasso total, por muitos que sejam os seus bens e os seus êxitos.

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6º Domingo do Tempo Comum – Ano B

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 1, 40-45)

Um leproso veio ter com Ele, caiu de joelhos e suplicou: «Se quiseres, podes purificar-me.» Compadecido, Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: «Quero, fica purificado.» Imediatamente a lepra deixou-o, e ficou purificado. E logo o despediu, dizendo-lhe em tom severo: «Livra-te de falar disto a alguém; vai, antes, mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que foi estabelecido por Moisés, a fim de lhes servir de testemunho.» Ele, porém, assim que se retirou, começou a proclamar e a divulgar o sucedido, a ponto de Jesus não poder entrar abertamente numa cidade; ficava fora, em lugares despovoados. E de todas as partes iam ter com Ele.

Reflexão

O Evangelho deste sexto Domingo do Tempo Comum mostra-nos como Jesus acolhe um leproso. Naquele tempo, os leprosos eram as pessoas mais excluídas da sociedade, e eram evitadas por todos. Não podiam participar em nada, porque antigamente a falta de remédios eficazes, o medo do contágio e a necessidade de defender a vida da comunidade obrigava as pessoas a afastarem-se e a excluírem os leprosos. Além do mais, entre o povo de Deus, onde a defesa do dom da vida era um dos deveres mais sagrados, chegou a pensar-se que era uma obrigação divina a exclusão dos leprosos, porque era a única maneira de defender a comunidade contra o contágio da morte. Por isso, em Israel, o leproso sentia-se impuro e excluído não só da sociedade mas também de Deus (Lv 14, 1-32).

O leproso de que nos fala o Evangelho mostra muita coragem. Esquece as normas da religião para se aproximar de Jesus. Diz-lhe: “Se quiseres podes curar-me!”. Ou seja, não há necessidade que me toques. Basta quereres, para que eu fique curado. A frase revela dois males: o mal da enfermidade da lepra que o convertia em impuro; e o mal da solidão a que estava condenado pela sociedade e pela religião. Revela também a grande fé deste homem no poder de Jesus.

Acolhendo e curando o leproso Jesus revela o novo rosto de Deus. Profundamente compadecido, Jesus cura os dois males. Em primeiro lugar, para curar o mal da solidão, toca o leproso. É como se lhe dissesse: “Para mim, tu não és um excluído. Acolho-te como irmão!”. Em segundo lugar, cura a enfermidade da lepra dizendo: “Quero! Fica limpo!”. Para poder entrar em contacto com Jesus, o leproso transgrediu as normas da lei. Jesus, para poder ajudar o excluído e assim revelar o novo rosto de Deus, transgrediu as normas da sua religião e toca no leproso. Naquele tempo quem tocasse num leproso convertia-se em impuro aos olhos das autoridades religiosas e perante a lei da época.

Jesus não só cura como quer também que a pessoa curada possa novamente conviver com os outros. Reintegra a pessoa na convivência. Naquele tempo, para que um leproso fosse de novo acolhido na comunidade, tinha necessidade de um certificado dado por um sacerdote de que estava curado. Assim estava escrito na lei relativamente à purificação de um leproso (Lv 14, 1-32). O mesmo acontece hoje. O doente sai do hospital com um certificado médico assinado pelo respectivo médico. Jesus obriga o leproso a entregar o documento às autoridades competentes de modo que possa reinserir-se com normalidade na sociedade, obrigando assim as autoridades a reconhecer que o homem estava curado.

Jesus proibira o leproso de falar da cura. Mas este não o faz. O leproso começou a proclamar e a divulgar o sucedido, a ponto de Jesus não poder entrar abertamente numa cidade; ficava fora, em lugares despovoados. Qual a razão de Jesus ficar fora em lugares desertos? Jesus tocou o leproso. Portanto, segundo a opinião da religião daquele tempo, é Jesus que agora está impuro e deve viver afastado de todos. Não podia entrar nas cidades. Mas Marcos indica que as pessoas pouco se importam destas normas oficiais e de todas as partes iam ter com Ele. Subversão total!

Palavras para o caminho

Gostaria de vos deixar uma pequena recordação pessoal ligada ao Evangelho. Quando visitei uma leprosaria na Amazónia, um leproso pediu o seguinte, durante a missa: ‘Peçamos ao Senhor que ajude o padre Ermes, porque na Europa é muito difícil manter a fé’. Em vez de rezar por si, rezou por mim. No fim da missa perguntei-lhe: ‘Quando tu te encontrares com o Senhor, vais perguntar-lhe por que razão eras leproso?’. E ele: ‘Não lhe vou perguntar nada, eu sempre me fiei d’Ele’” (Ermes Ronchi).

Hoje em dia, a doença mais terrível do Ocidente não é a tuberculose nem a lepra, é a sensação de ser indesejado, de não ser amado, de ser abandonado. Tratamos as doenças do corpo por meio da medicina; mas o único remédio para a solidão, para a confusão e para o desespero é o amor. São muitas as pessoas que morrem neste mundo por falta de um pedaço de pão, mas são muitas mais as que morrem por falta de um pouco de amor. A pobreza no Ocidente é outra espécie de pobreza; não se trata apenas de uma pobreza de solidão, é também uma pobreza de espiritualidade. Há uma fome que é fome de amor, como também há uma fome de Deus” (Santa Teresa de Calcutá).

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3º Domingo do Tempo Comum – Ano B

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 1, 14-20) 

Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia, e proclamava o Evangelho de Deus, dizendo: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho.»

Passando ao longo do mar da Galileia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. E disse-lhes Jesus: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens.» Deixando logo as redes, seguiram-no. Um pouco adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco a consertar as redes, e logo os chamou. E eles deixaram no barco seu pai Zebedeu com os assalariados e partiram com Ele. 

Mensagem

Quando contemplamos a realidade que nos rodeia, notamos a existência de sombras que desfeiam o mundo e criam, tantas vezes, angústia, desilusão, desespero e sofrimento na vida humana. Esse quadro não é, no entanto, uma realidade irremediável a que estamos para sempre condenados. O objectivo de Jesus foi introduzir no mundo o que ele chama o “Reino de Deus”: uma sociedade estruturada de maneira justa e digna para todos, tal como Deus a quer. É esse o projecto que Jesus nos apresenta e ao qual nos convida a aderir. Quando Deus reina no mundo, a humanidade progride em justiça, solidariedade, compaixão, fraternidade e paz. Jesus dedicou-se a isso com verdadeira paixão. Por isso foi perseguido, torturado e executado. O “Reino de Deus” foi o absoluto para ele.

Para que o “Reino de Deus” se torne uma realidade exige-se, antes de mais, a “conversão”. Temos de modificar a nossa mentalidade, os nossos valores, as nossas atitudes, a nossa forma de encarar Deus, o mundo e os outros para que se torne possível o nascimento de uma realidade diferente. De acordo com a Palavra de Deus que nos é proposta, o “Reino de Deus” exige também o “acreditar” no Evangelho. “Acreditar” é, sobretudo, uma adesão total à pessoa de Jesus e ao seu projecto de vida.

O chamamento a integrar a comunidade do “Reino” não é algo reservado a um grupo especial de pessoas, com uma missão especial no mundo e na Igreja; mas é algo que Deus dirige a cada homem e a cada mulher, sem excepção. Todos os baptizados são chamados a ser discípulos de Jesus, a “converter-se”, a “acreditar no Evangelho”, a seguir Jesus nesse caminho de amor e de dom da vida. Esse chamamento é radical e incondicional: exige que o “Reino” se torne o valor fundamental, a prioridade, o principal objectivo do discípulo.

O “Reino” é uma realidade que Jesus começou e que já está decisivamente implantada na nossa história. Não tem fronteiras materiais e definidas; mas está a acontecer e a concretizar-se através dos gestos de bondade, de serviço, de doação, de amor gratuito que acontecem à nossa volta (muitas vezes, até fora das fronteiras institucionais da “Igreja”) e que são um sinal visível do amor de Deus nas nossas vidas. Não é uma realidade que construímos de uma vez, mas é uma realidade sempre em construção, sempre a fazer-se, até à sua realização final, no fim dos tempos.

Quando Jesus chamou os primeiros discípulos, junto ao lago onde pescavam e remendavam as redes, e lhes disse “Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens” pouco devem ter percebido daquele convite. Mas o que encanta é que Jesus começou por escolher homens habituados à incerteza das pescarias e ao perigo das ondas, fortes e ousados mas também frágeis e dependentes. Capazes de “chorar” pelos erros ou por compaixão, e de tudo arriscar por amor. Capazes de entender que o milagre de “pescar a humanidade” só é possível com a compaixão de Jesus, com as lágrimas que lavam o olhar, para ver melhor os outros e fazer algo: por eles e com eles!

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2º Domingo do Tempo Comum – Ano B

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 1, 35-42)

No dia seguinte, João encontrava-se de novo ali com dois dos seus discípulos. Então, pondo o olhar em Jesus, que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus!» Ouvindo-o falar desta maneira, os dois discípulos seguiram Jesus. Jesus voltou-se e, notando que eles o seguiam, perguntou-lhes: «Que pretendeis?» Eles disseram-lhe: «Rabi – que quer dizer Mestre – onde moras?» Ele respondeu-lhes: «Vinde e vereis.» Foram, pois, e viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia. Eram as quatro da tarde. André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João e seguiram Jesus. Encontrou primeiro o seu irmão Simão, e disse-lhe: «Encontrámos o Messias!» – que quer dizer Cristo. E levou-o até Jesus. Fixando nele o olhar, Jesus disse-lhe: «Tu és Simão, o filho de João. Hás-de chamar-te Cefas» – que significa Pedra.

Comentário

Os Evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas apresentam o chamamento dos primeiros discípulos de maneira muito mais resumida. O Evangelho de João tem uma outra maneira de descrever o início da primeira comunidade que se formou ao redor de Jesus. Ele traz histórias bem mais concretas. O que chama a atenção é a variedade dos chamamentos e dos encontros das pessoas entre si e com Jesus. Deste modo, João ensina como se deve fazer para iniciar uma comunidade. É através de contactos e convites pessoais.

O Quarto Evangelho é uma catequese muito bem feita. Ele não só mostra como se formou a primeira comunidade, mas também, através dos vários títulos de Jesus, descreve a fé desta comunidade, que é modelo para todas as outras comunidades. Assim, ao longo dos seus 21 capítulos, ele vai revelando quem é Jesus. Os títulos, que vão aparecendo durante os encontros e as conversas das pessoas com Jesus, fazem parte desta catequese. Eles ajudam os leitores a descobrirem como e onde Jesus se revela nos encontros do dia-a-dia da vida.

João Baptista diz que Jesus é o “Cordeiro de Deus”. Este título evocava a memória do Êxodo. Na noite da primeira Páscoa, o sangue do Cordeiro Pascal, passado nas portas das casas, tinha sido sinal de libertação para o povo (Ex 12,13-14). Para os primeiros cristãos Jesus é o novo Cordeiro Pascal que liberta o seu povo (1 Cor 5,7; 1 Pd 1,19; Ap 5,6.9).

Dois discípulos de João Baptista, animados pelo próprio João, foram à procura de Jesus. Jesus responde: “Vinde e vede!”. É convivendo com Jesus que eles mesmos devem poder verificar e confirmar se era isto o que eles procuravam. O encontro confirmou a busca: “Era isso mesmo!”. Os dois nunca mais esqueceram a hora do encontro: eram 4 horas da tarde! Também hoje, as comunidades devem poder dizer: “Vinde e vede!”.

André descobriu que Jesus é o Messias. Ele gostou tanto do encontro, que partilhou a sua experiência com o seu irmão e testemunhou: “Encontramos o Messias!”. Em seguida, conduziu o irmão até Jesus. Encontrar, experimentar, partilhar, testemunhar, conduzir até Jesus! É assim que a Boa Nova se espalha pelo mundo, até hoje! Connosco pode acontecer o que aconteceu com o irmão de André. No encontro com Jesus, o seu nome foi mudado de Simão para Cefas (Pedra ou Pedro). A mudança de nome significa mudança de rumo. O encontro com Jesus pode produzir mudanças profundas na vida das pessoas.

A galeria dos encontros com Jesus no Evangelho de João

No Evangelho de João, são narrados com detalhes muitos encontros com Jesus que marcam para sempre a vida das pessoas. Os primeiros discípulos nunca mais puderam esquecer aquele momento. Um deles, provavelmente o “discípulo amado” ainda se lembrava da hora em que encontrou Jesus: “Eram 4 horas da tarde!”. O outro, André, chamou o seu irmão, Pedro (Jo 1,35-51). Nicodemos foi encontrar Jesus de noite. Os dois tiveram uma conversa difícil (Jo 3, 1-13), mas Nicodemos, apesar da crítica de Jesus, ficou seu amigo. Ele defendeu-o numa discussão com os chefes (Jo 4,14; 7,50-52) e, depois da morte de Jesus, lá estava ele, novamente, com perfumes para a sepultura (Jo 19,39). João Baptista alegrou-se ao ver o crescimento do movimento de Jesus (Jo 3,22-36). A samaritana encontrou Jesus junto do poço (Jo 4,1-42) e dentro dela passou a jorrar a água viva (Jo 4,14; 7,37-38). O encontro com o paralítico deu-se junto às águas de um santuário popular (Jo 5,1-18). Foi na praça do Templo que se deu o encontro com a mulher que ia ser apedrejada. Ela reencontrou a dignidade e a paz (Jo 8,1-11). O cego encontrou Jesus, que lhe abriu os olhos e se revelou a ele como o Filho do Homem (Jo 9,1-41). Marta e Maria foram ao encontro de Jesus no caminho e experimentaram a sua força renovadora (Jo 11,17-37).

Estes e outros encontros são como quadros colocados numa galeria. Eles vão revelando aos olhos atentos de quem os aprecia algo que está por trás dos detalhes, a saber, a identidade de Jesus. Ao mesmo tempo, mostram as características das comunidades que acreditavam em Jesus e davam testemunho da sua presença. São também espelhos, que ajudam a descobrir o que se passa dentro de nós quando nos encontramos com Jesus.

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Festa do Baptismo do Senhor – Ano B

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 1, 7-11)

Naquele tempo, João começou a pregar, dizendo: «Depois de mim vai chegar outro que é mais forte do que eu, diante do qual não sou digno de me inclinar para lhe desatar as correias das sandálias. Eu baptizei-vos em água, mas Ele há-de baptizar-vos no Espírito Santo.»

Por aqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi baptizado por João no Jordão. Quando saía da água, viu serem rasgados os céus e o Espírito descer sobre Ele como uma pomba. E do céu veio uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado, em ti pus todo o meu agrado.»

Mensagem

O Evangelho deste Domingo apresenta o encontro entre Jesus e João Baptista, nas margens do rio Jordão. Na circunstância, Jesus foi baptizado por João.

Na primeira parte do nosso texto (vers. 7-8), Marcos apresenta o testemunho de João Baptista sobre Jesus. Aí, Jesus é definido por João como “Aquele que é mais forte do que eu, diante do qual não sou digno de me inclinar para lhe desatar as correias das sandálias” e como “Aquele que há-de baptizar-vos no Espírito Santo”. Tanto a fortaleza como o baptismo no Espírito são prerrogativas que caracterizam o Messias que Israel esperava (cf. Is 9,5-6; 11,2). O testemunho de João não oferece dúvidas: Jesus é esse Messias anunciado pelos profetas, que Deus vai enviar para libertar o seu Povo e para lhe dar a vida definitiva.

O testemunho de João irá, logo, ser confirmado pelo testemunho do próprio Deus. Na cena do baptismo, Marcos faz referência a uma voz vinda do céu que apresenta Jesus como “o meu Filho muito amado” (vers. 11). Esse Messias esperado é também o Filho amado de Deus, enviado aos homens para os “baptizar no Espírito” e para os inserir numa dinâmica de vida nova – a vida no Espírito.

O testemunho de Deus é acompanhado por três factos estranhos que, no entanto, devem ser entendidos em referência a factos e símbolos do Antigo Testamento. Assim, a abertura do céu significa a união da terra e do céu. A imagem inspira-se, provavelmente, em Is 63,19, onde o profeta pede a Deus que “abra os céus” e desça ao encontro do seu Povo, refazendo essa relação que o pecado do Povo interrompeu. Desta forma, Marcos anuncia que a actividade de Jesus vai reconciliar o céu e a terra, vai refazer a comunhão entre Deus e os homens.

O símbolo da pomba não é imediatamente claro. Provavelmente, não se trata de uma alusão à pomba que Noé libertou e que retornou à arca (cf. Gn 8,8-12); é mais provável que a pomba (em certas tradições judaicas, símbolo do Espírito de Deus que, no início, pairava sobra as águas – cf. Gn 1,2) evoque a nova criação que terá lugar a partir da actividade que Jesus vai iniciar.

Temos, finalmente, a voz do céu. Essa voz declara que Jesus é o Filho de Deus e a sua missão, como a do Servo de Javé, não se desenrolará no triunfalismo, mas na obediência total ao Pai; não se cumprirá com poder e prepotência, mas na suavidade, na simplicidade, no respeito pelos homens (“não gritará, nem levantará a voz; não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega” – Is 42,2-3).

Porque é que Jesus quis ser baptizado por João? Jesus necessitava de um baptismo cujo significado primordial estava ligado à penitência, ao perdão dos pecados e à mudança de vida? Ao receber este baptismo de penitência e de perdão dos pecados (do qual não precisava, porque Ele não conheceu o pecado), Jesus solidarizou-Se com o homem limitado e pecador, assumiu a sua condição, colocou-Se ao lado dos homens para os ajudar a sair dessa situação e para percorrer com eles o caminho da vida plena. Esse era o projecto do Pai, que Jesus cumpriu integralmente. Da actividade de Jesus resultará uma nova criação, uma nova humanidade.

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Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei e Senhor do Universo

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 25, 31-46)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Quando o Filho do Homem vier na sua glória, acompanhado por todos os seus anjos, há-de sentar-se no seu trono de glória. Perante Ele, vão reunir-se todos os povos e Ele separará as pessoas umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. À sua direita porá as ovelhas e à sua esquerda, os cabritos.

O Rei dirá, então, aos da sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo.’

Então, os justos vão responder-lhe: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos peregrino e te recolhemos, ou nu e te vestimos? E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?’ E o Rei vai dizer-lhes, em resposta: ‘Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes.’

Em seguida dirá aos da esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o diabo e para os seus anjos! Porque tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, era peregrino e não me recolhestes, estava nu e não me vestistes, doente e na prisão e não fostes visitar-me.’ Por sua vez, eles perguntarão: ‘Quando foi que te vimos com fome, ou com sede, ou peregrino, ou nu, ou doente, ou na prisão, e não te socorremos?’ Ele responderá, então: ‘Em verdade vos digo: Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.’

Estes irão para o suplício eterno, e os justos, para a vida eterna.»

Reflexão

A parábola do «juízo final» é, na realidade, uma descrição grandiosa do veredicto final sobre a história humana. Ali estão as pessoas de todas as raças e povos, de todas as culturas e religiões. Vai escutar-se a última palavra que tudo esclarecerá. Dois grupos vão emergindo daquela multidão. Uns são chamados a receber a bênção de Deus: são os que se aproximaram, com misericórdia, dos necessitados. Outros são convidados a afastar-se: viveram indiferentes ao sofrimento dos outros. No «entardecer da vida» seremos examinados pelo amor; ser-nos-á perguntado sobre o que fizemos, em concreto, pelas pessoas que precisaram da nossa ajuda.

É este o grito de Jesus a toda a humanidade: ocupai-vos dos que sofrem, cuidai dos pequenos. Em parte alguma se construirá a vida como Deus quer senão libertando as pessoas do sofrimento. O que é decisivo na vida não é o que dizemos ou pensamos ou escrevemos. Também não bastam os sentimentos bonitos nem as contestações estéreis. O importante é ajudar os que têm necessidade de nós.

Estamos a preparar o nosso fracasso final sempre que fechamos os nossos olhos às necessidades dos outros, sempre que nos esquivamos a qualquer responsabilidade que não seja em benefício próprio, sempre que nos contentamos com criticar tudo, sem estender a mão a ninguém. A parábola de Jesus obriga-nos a fazer perguntas muito concretas: estou a fazer alguma coisa por alguém? A que pessoas posso ajudar? Que faço para que reine um pouco mais de justiça, solidariedade e amizade entre nós? Que mais poderia fazer?

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33º Domingo do Tempo Comum – Ano A

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 25, 14-30)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «Um homem, ao partir de viagem, chamou os servos e confiou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada qual conforme a sua capacidade; e depois partiu. Aquele que recebeu cinco talentos negociou com eles e ganhou outros cinco. Da mesma forma, aquele que recebeu dois ganhou outros dois. Mas aquele que apenas recebeu um foi fazer um buraco na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor.

Passado muito tempo, voltou o senhor daqueles servos e pediu-lhes contas. Aquele que tinha recebido cinco talentos aproximou-se e entregou-lhe outros cinco, dizendo: ‘Senhor, confiaste-me cinco talentos; aqui estão outros cinco que eu ganhei.’ O senhor disse-lhe: ‘Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel em coisas de pouca monta, muito te confiarei. Entra no gozo do teu senhor.’ Veio, em seguida, o que tinha recebido dois talentos: ‘Senhor, disse ele, confiaste-me dois talentos; aqui estão outros dois que eu ganhei.’ O senhor disse-lhe: ‘Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel em coisas de pouca monta, muito te confiarei. Entra no gozo do teu senhor.’ Veio, finalmente, o que tinha recebido um só talento: ‘Senhor, disse ele, sempre te conheci como homem duro, que ceifas onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste. Por isso, com medo, fui esconder o teu talento na terra. Aqui está o que te pertence.’

O senhor respondeu-lhe: ‘Servo mau e preguiçoso! Sabias que eu ceifo onde não semeei e recolho onde não espalhei. Pois bem, devias ter levado o meu dinheiro aos banqueiros e, no meu regresso, teria levantado o meu dinheiro com juros.’ ‘Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem dez talentos. Porque ao que tem será dado e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. A esse servo inútil, lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.’»

Reflexão

A parábola deste Domingo XXXIII (Mt 25,14-30) conduz-nos a tomar consciência de que um imenso dom, vindo de Deus, precede sempre a nossa acção: cinco talentos, dois talentos, um talento… é sempre uma imensa quantidade dada logo à partida!

O talento começou por ser uma unidade de peso, usada sobretudo para medir metais preciosos. Por exemplo, na Babilónia, um talento equivalia a 60 quilos. Imagine-se então o valor de um talento de ouro! Em épocas sucessivas, no período helenístico, o valor do talento baixou, situando-se então entre 35 e 25 quilos. De qualquer modo, um talento equivalia então a 6000 denários, sendo que o denário era o salário normal de um dia de trabalho. Um talento, 6000 denários, era assim o equivalente a uma vida inteira de trabalho! Portanto, quer seja um, dois ou cinco talentos, é sempre um imenso dom que nos é entregue!

Não há diferença entre os que recebem mais e os que recebem menos. Todos recebem segundo as suas capacidades. O que é importante é que o dom seja posto ao serviço do Reino e que possibilite o crescimento dos bens do Reino que são o amor, a fraternidade e a partilha. A chave principal da parábola não consiste em produzir talentos mas o modo de viver a nossa relação com Deus. Os dois primeiros servos não pedem nada, não procuram o seu próprio bem-estar, não guardam os talentos para si próprios, não fazem contas, não medem. Com a maior naturalidade, quase sem se darem conta e sem procurarem nenhuma espécie de mérito para si próprios, começam a trabalhar, para que o dom recebido frutifique para Deus e para o Reino. O terceiro servo tem medo e, por isso, não faz nada. Segundo as normas da lei antiga, ele actua de modo correcto. Mantém-se nas exigências estabelecidas. Não perde nada mas tampouco ganha algo. Por isso perde até o que tinha. O Reino é risco. Quem não quer arriscar perde o Reino!

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Dedicação da Basílica de São João de Latrão

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 2, 13-22)

Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, ovelhas e pombas, e os cambistas nos seus postos. Então, fazendo um chicote de cordas, expulsou-os a todos do templo com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos cambistas pelo chão e derrubou-lhes as mesas; e aos que vendiam pombas, disse-lhes: «Tirai isso daqui. Não façais da Casa de meu Pai uma feira.»

Os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: ‘O zelo da tua casa me devora’. Então os judeus intervieram e perguntaram-lhe: «Que sinal nos dás de poderes fazer isto?» Declarou-lhes Jesus, em resposta: «Destruí este templo, e em três dias Eu o levantarei!» Replicaram então os judeus: «Quarenta e seis anos levou este templo a construir, e Tu vais levantá-lo em três dias?» Ele, porém, falava do templo que é o seu corpo. Por isso, quando Jesus ressuscitou dos mortos, os seus discípulos recordaram-se de que Ele o tinha dito e creram na Escritura e nas palavras que tinha proferido.

Reflexão

Os profetas de Israel, em diversas situações, tinham criticado o culto sacrificial que Israel oferecia a Deus, considerando-o como um conjunto de ritos estéreis, vazios e sem significado, uma vez que não eram expressão verdadeira de amor a Jahwéh; tinham, inclusive, denunciado a relação do culto com a injustiça e a exploração dos pobres (cf. Am 4,4-5; 5,21-25; Os 5,6-7; 8,13; Is 1,11-17; Jer 7,21-26). As considerações proféticas acabaram por consolidar a ideia de que a chegada dos tempos messiânicos implicaria a purificação e a moralização do culto prestado a Jahwéh no Templo. Nesta linha, o profeta Zacarias chegou a ligar explicitamente o “dia do Senhor” (o dia em que Deus vai intervir na história e construir um mundo novo, através do Messias) com a purificação do culto e a eliminação dos comerciantes que desenvolviam a sua actividade comercial “no Templo do Senhor do universo” – Zac 14,21).

O gesto que o Evangelho deste domingo nos relata deve entender-se neste enquadramento. Quando Jesus pega no chicote de cordas, expulsa do Templo os vendedores de ovelhas, de bois e de pombas, deita por terra os trocos dos banqueiros e derruba as mesas dos cambistas (vers. 14-16), está a revelar-Se como “o Messias” e a anunciar que chegaram os novos tempos, os tempos messiânicos.

No entanto, Jesus vai bem mais longe do que os profetas vétero-testamentários. Ao expulsar do Templo também as ovelhas e os bois que serviam para os ritos sacrificiais que Israel oferecia a Jahwéh (João é o único dos evangelistas a referir este pormenor), Jesus mostra que não propõe apenas uma reforma, mas a abolição do próprio culto. O culto prestado a Deus no Templo de Jerusalém era, antes de mais, algo sem sentido: ao transformar a casa de Deus num mercado, os líderes judaicos tinham suprimido a presença de Deus. Mas, além disso, o culto celebrado no Templo era algo de nefasto: em nome de Deus, esse culto criava exploração, miséria, injustiça e, por isso, em lugar de potenciar a relação do homem com Deus, afastava o homem de Deus. Jesus, o Filho, com a autoridade que Lhe vem do Pai, diz um claro “basta” a uma mentira com a qual Deus não pode continuar a pactuar: “não façais da casa de meu Pai casa de comércio” (vers. 16).

Os líderes judaicos ficam indignados. Quais são as credenciais de Jesus para assumir uma atitude tão radical e grave? Com que legitimidade é que Ele se arroga o direito de abolir o culto oficial prestado a Jahwéh?

A resposta de Jesus é, à primeira vista, estranha: “destruí este Templo e Eu o reconstruirei em três dias” (vers. 19). João deixa claro que Jesus não Se referia ao Templo de pedra onde Israel celebrava os seus ritos litúrgicos (vers. 20), mas a um outro “Templo” que é o próprio Jesus (“Jesus, porém, falava do Templo do seu corpo” – vers. 21). O que é que isto significa? Jesus desafia os líderes que O questionaram, a suprimir o Templo que é Ele próprio; mas deixa claro que, três dias depois, esse Templo estará outra vez erigido no meio dos homens. Jesus alude, evidentemente, à sua ressurreição. A prova de que Jesus tem autoridade para “proceder deste modo” é que os líderes não conseguirão suprimi-lo. A ressurreição garante que Jesus vem de Deus e que a sua actuação tem o selo de garantia de Deus.

No entanto, o mais notável, aqui, é que Jesus Se apresenta como o “novo Templo”. O Templo representava, no universo religioso judaico, a residência de Deus, o lugar onde Deus Se revelava e onde Se tornava presente no meio do seu Povo. Jesus é, agora, o lugar onde Deus reside, onde Se encontra com os homens e onde Se manifesta ao mundo. É através de Jesus que o Pai oferece aos homens o seu amor e a sua vida. Aquilo que a antiga Lei já não conseguia fazer – estabelecer relação entre Deus e os homens – é Jesus que, a partir de agora, o faz.

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30º Domingo do Tempo Comum – Ano A

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 22, 34-40)

Constando-lhes que Jesus reduzira os saduceus ao silêncio, os fariseus reuniram-se em grupo. E um deles, que era legista, perguntou-lhe para o embaraçar: «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?» Jesus disse-lhe: ‘Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente’. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante: ‘Amarás ao teu próximo como a ti mesmo’. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.»

Mensagem

Os judeus chegaram a contar até seiscentos e treze mandamentos que deviam ser observados para cumprir integralmente a Lei. Não era, por isso, estranho, fazer-se perguntas como a que colocaram a Jesus, na tentativa de encontrar o essencial: qual é, de todos, o primeiro mandamento?

Jesus responde de forma clara e precisa: “Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente”. O segundo é este: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Não há mandamento maior do que estes”.

Há algo que nos é revelado com toda a clareza: O amor é tudo. O que se nos pede na vida é amar. Aí está a chave. Podemos depois retirar todas as consequências e derivações, mas o essencial é viver diante de Deus e diante dos outros numa atitude de amor. Se pudéssemos agir sempre assim, tudo estaria a salvo. Não há nada mais importante do que isto.

Esta centralidade do amor enraíza, segundo a fé cristã, numa realidade: Deus, a origem da vida, ele próprio é amor. Essa é a definição ousada e insuperável da fé-cristã: “Deus é amor”. Podemos duvidar de tudo, mas nunca podemos duvidar do seu amor.

Precisamente por isto, amar a Deus é encontrar o seu próprio bem. O que verdadeiramente dá glória a Deus não é o nosso mal, mas a nossa vida e plenitude. Quem ama a Deus e se sabe amado por ele com amor infinito aprende a olhar-se, estimar-se e cuidar-se com verdadeiro amor.

Por outro lado, é então que se entende na sua verdadeira profundidade o segundo mandamento: “Amarás ao próximo como a ti mesmo”. Quem ama a Deus sabe que não pode viver numa atitude de indiferença, despreocupação ou esquecimento dos outros. A única postura humana diante de qualquer pessoa que encontremos na vida é amá-la.

Isto não significa que se tenha que viver, da mesma forma, a intimidade com a esposa, a relação com o cliente ou o encontro fortuito com alguém na rua. O que se nos pede é agir, em cada caso, procurando positivamente para eles o bem que queremos para nós. Em tempos em que tudo parece estar em questão, é bom recordar que há algo inquestionável: o homem é humano quando sabe viver amando a Deus e ao próximo.

Palavra para o caminho

Que é amar a Deus? Ao falar do amor de Deus os hebreus não pensavam nos sentimentos que podem nascer no nosso coração. A fé em Deus não consiste num “estado de alma”. Amar a Deus é simplesmente centrar a vida nele para viver em tudo a sua vontade. Amar a Deus é centrar a minha vida em Deus: no que pensa Deus, no que diz Deus, no que Deus quer… E eu, a mesma coisa: o que é que Deus me está a pedir, e não o que está a pedir para o vizinho!… Agora: sem dar voltas ao assunto! Já: sem me fingir surdo! E… obras, que nisso mesmo consiste o amor.

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