A alegria de Deus é perdoar

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Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

Na Liturgia de hoje lê-se o capítulo 15 do Evangelho de Lucas, que contém as três palavras da misericórdia: a da ovelha tresmalhada, a da moeda perdida e depois a maior de todas as parábolas, típica de são Lucas, a do pai e dos dois filhos, o filho «pródigo» e o filho que se julga «justo», que se crê santo. Estas três parábolas falam da alegria de Deus. Deus é alegre! E isto é interessante: Deus é alegre! E em que consiste a alegria de Deus? A alegria de Deus é perdoar, a alegria de Deus é perdoar! É o júbilo de um pastor que encontra a sua ovelha; a alegria de uma mulher que encontra a sua moeda; é a felicidade de um pai que volta a receber em casa o filho que se tinha perdido, que estava morto e reviveu, voltou para casa. Aqui está o Evangelho inteiro! Aqui está! Aqui está o Evangelho inteiro, todo o Cristianismo! Mas vede que não se trata de sentimento, não é «moralismo»! Pelo contrário, a misericórdia é a verdadeira força que pode salvar o homem e o mundo do «câncer» que é o pecado, o mal moral, o mal espiritual. Só o amor preenche os vazios, os abismos negativos que o mal abre no coração e na história. Somente o amor pode fazer isto, e esta é a alegria de Deus!

Jesus é todo misericórdia, Jesus é todo amor: é Deus que se fez homem. Cada um de nós, cada um de nós é aquela ovelha tresmalhada, a moeda perdida; cada um de nós é aquele filho que esbanjou a própria liberdade, seguindo ídolos falsos, miragens de felicidade, e perdeu tudo. Mas Deus não se esquece de nós, o Pai nunca nos abandona. É um Pai paciente, espera-nos sempre! Respeita a nossa liberdade, mas permanece sempre fiel. E quando voltamos para Ele, acolhe-nos como filhos na sua casa, porque nunca, nem sequer por um momento, deixa de esperar por nós com amor. E o seu coração rejubila com cada filho que volta para Ele. Faz festa, porque é alegria. Deus tem esta alegria, cada vez que um de nós, pecadores, vamos ter com Ele e pedimos o seu perdão.

Qual é o perigo? É que nós presumimos que somos justos e julgamos os outros. Julgamos até Deus, porque pensamos que Ele deveria castigar os pecadores, condená-los à morte, em vez de perdoar. Então sim que corremos o risco de permanecer fora da casa do Pai! Como aquele irmão mais velho da parábola, que em vez de ficar feliz porque o seu irmão voltou, irrita-se com o pai que o recebeu e faz festa. Se no nosso coração não há misericórdia, a alegria do perdão, não estamos em comunhão com Deus, ainda que observemos todos os preceitos, porque é o amor que salva, não apenas a prática dos preceitos. É o amor a Deus e ao próximo que dá cumprimento a todos os mandamentos. E este é o amor de Deus, a sua alegria: perdoar. Ele espera-nos sempre! Talvez alguém no seu coração tenha algum peso: «Mas eu fiz isto, fiz aquilo…». Ele espera-te! Ele é Pai: espera-nos sempre!

Se vivermos segundo a lei do «olho por olho, dente por dente», jamais sairemos da espiral do mal. O Maligno é astuto e ilude-nos que com a nossa justiça humana podemos salvar-nos a nós mesmos e o mundo. Na realidade, só a justiça de Deus nos pode salvar! E a justiça de Deus revelou-se na Cruz: a Cruz é o juízo de Deus sobre todos nós e sobre este mundo. Mas como nos julga Deus? Dando a vida por nós! Eis o gesto supremo de justiça que derrotou de uma vez por todas o Príncipe deste mundo; e este gesto supremo de justiça é também, precisamente, o gesto supremo de misericórdia. Jesus chama todos nós a seguir este caminho: «Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso» (Lc 6, 36). Agora, peço-vos algo. Em silêncio, todos pensemos… cada um pense numa pessoa com a qual não está bem, com a qual está irritado, da qual não gosta. Pensemos naquela pessoa e em silêncio, neste momento, oremos por essa pessoa, sejamos misericordiosos para com aquela pessoa. [silêncio de oração].

Agora, invoquemos a intercessão de Maria, Mãe da Misericórdia. 

Papa Francisco

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Ano da Fé – LXII

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A morte Jesus e a morte do cristão

Será que a morte terá sentido, ou melhor, fará sentido um homem morrer? Aparentemente, dir-se-ia que não. O homem é todo ele desejo de viver e com todo o seu ser recusa a morte, mas ela aproxima-se inevitavelmente. Somos por natureza transitórios.

Embora a caducidade seja natural, a morte, vivida como solidão angustiada e impotente, não faz pare do desígnio da criação: “Deus não é o autor da morte, e a perdição dos vivos não Lhe dá nenhuma alegria” (Sab 1, 13). Pelo contrário, pertence à condição histórica da humanidade pecadora, afastada da comunhão original com Deus: “O pecado entrou no mundo e, com o pecado, a morte” (Rom 5, 12). Deste facto derivam o seu carácter de violência e de ameaça e o seu ferrão venenoso.

Jesus, embora não tivesse pecado, tomou a condição humana comum. Sentiu “pavor e angústia” (Mc 14, 33), “com grande clamor e lágrimas” (Heb 5, 7). Mas entregou-se confiadamente à vontade do Pai, ofereceu-se inteiramente pelo bem dos homens. Fez da sua morte um acto pessoal cheio de sentido. A ressurreição revelou a fecundidade da sua doação e deu um fundamento sólido à esperança dos crentes. O seu testemunho impele-os a segui-lo, confiantes no Pai omnipotente e misericordioso, cheios de amor pelos irmãos, preparados para acreditar na vida, mesmo nas trevas da morte.

O cristão teme a morte como todos os homens e como o próprio Jesus. A fé não o livra desta condição mortal. Todavia, sabe que já não está só. Obediente ao último chamamento do Pai, associado a Cristo crucificado e ressuscitado, confortado pelo Espírito Santo, pode vencer a angústia, muitas vezes, até transformá-la em alegria. Pode exclamar com o apóstolo Paulo: “A morte foi tragada pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória?” (1Cor 15, 54-55). Então, a morte assume o significado de um acto supremo de confiança na vida e de amor a Deus e a todos os homens.

Quero ver Deus, e para O ver é preciso morrer (Santa Teresa de Jesus).

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Carta do Papa ao capítulo geral dos frades carmelitas

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Carta do Papa Francisco aos carmelitas
por ocasião do capítulo geral 2013

Ao Reverendíssimo Padre
Fernando Millán Romeral
Prior Geral da Ordem dos Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo.

Dirijo-me a vós, queridos Irmãos da Ordem da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, que celebrais neste mês de Setembro o Capítulo Geral. Num momento de graça e renovação, que vos chama a discernir a missão da gloriosa Ordem Carmelita, desejo dirigir-vos uma palavra de encorajamento e de esperança. O antigo carisma do Carmelo foi durante oito séculos um dom para toda a Igreja, e continua ainda hoje a oferecer o seu particular contributo para a edificação do Corpo de Cristo e para mostrar ao mundo o seu rosto luminoso e santo. As vossas origens contemplativas brotam da terra da epifania do amor eterno de Deus em Jesus Cristo, Verbo feito carne. Enquanto reflectis sobre a vossa missão como Carmelitas hoje, sugiro-vos que considereis três elementos que podem guiar-vos na realização plena da vossa vocação que é a subida do monte da perfeição: o obséquio de Cristo, a oração e a missão.

Obséquio

A Igreja tem a missão de levar Cristo ao mundo, e para isto, como Mãe e Mestra, convida a cada um a aproximar-se d’Ele.

Na liturgia carmelita da Festa da Virgem do Monte Carmelo contemplamos a Virgem que está “junto à cruz de Cristo”. Esse é também o lugar da Igreja: aproximar-nos de Cristo. E é também o  lugar de cada filho fiel da Ordem Carmelita. A vossa Regra começa com a exortação aos Irmãos a “viver uma vida de obséquio de Jesus Cristo” para o seguir e servir com um coração puro e indiviso. A íntima relação com Cristo realiza-se na solidão, na assembleia fraterna e na missão. “A opção fundamental de uma vida concreta e radicalmente dedicada ao seguimento de Cristo” (Ratio Institutionis Vitae Carmelitae, 8) faz da vossa existência uma peregrinação de transformação no amor. O Concílio Ecuménico Vaticano II recorda o lugar da contemplação no caminho da vida. A Igreja tem “de facto a característica de ser, ao mesmo tempo, humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, entregue à acção e dada à contemplação, presente no mundo, e contudo, peregrina (Sacrosanctum Concilium, 2). Os antigos eremitas do Monte Carmelo conservaram a memória daquele lugar santo e mesmo exilados e afastados mantinham o olhar e o coração constantemente fixos na glória de Deus. Reflectindo acerca das vossas origens e da vossa história e contemplando a imensa linhagem de quantos viveram através dos séculos o carisma carmelita, descobrireis assim a vossa vocação actual de ser profetas de esperança. E é precisamente nesta esperança que sereis regenerados. Frequentemente o que aparece como novo é algo de muito antigo iluminado por uma nova luz.

Na vossa Regra encontra-se o coração da missão carmelita de então e também de hoje. Enquanto vos preparais para celebrar o oitavo centenário de Alberto, patriarca de Jerusalém em 1214, recordareis que ele formulou um “caminho de vida”, um espaço que vos torna capazes de viver uma espiritualidade totalmente orientada para Cristo. Ele delineou os elementos exteriores e interiores, uma ecologia física do espaço e a armadura espiritual necessária para responder adequadamente à vocação e realizar eficazmente a própria missão.

Num mundo que permanentemente desconhece Cristo e, de facto, o rejeita, sois convidados a aproximar-vos e aderir cada vez mais profundamente a Ele. É um contínuo chamamento a seguir Cristo e a conformar-se com Ele. Isto é de vital importância no nosso mundo tão desorientado, “porque quando se apaga a sua chama, também as outras luzes acabam por perder o seu vigor” (Lumen Fidei, 4). Cristo está presente na vossa fraternidade, na liturgia comunitária e no ministério que vos foi confiado: renovai o obséquio de toda a vossa vida.

Oração

O Santo Padre Bento XVI, antes do vosso Capítulo Geral de 2007, lembrou-vos que “a peregrinação interior da fé para Deus inicia-se com a oração”; e em Castel Gandolfo, em Agosto de 2010, disse-vos: “vós sois aqueles que nos ensinam a orar”. Vós vos definis como contemplativos no meio do povo. Com efeito, se é verdade que sois chamados a viver nas alturas do Carmelo, é também verdade que sois chamados a dar testemunho no meio do povo. A oração é o “caminho real” que nos abre para a profundidade do mistério do Deus Uno e Trino, mas é também o caminho estreito para Deus no meio do povo, peregrino no mundo em direcção à Terra Prometida.

Um dos caminhos mais belos para entrar na oração passa através da Palavra de Deus. A lectio divina conduz ao diálogo directo com o Senhor e mostra os tesouros da sabedoria. A íntima amizade com Ele que nos ama torna-nos capazes de ver com os olhos de Deus, de falar com a sua palavra no coração, de conservar a beleza desta experiência e de compartilhá-la com aqueles que têm fome de eternidade.

O retorno à simplicidade de uma vida centrada no Evangelho é o desafio para a renovação da Igreja, comunidade de fé que sempre encontra novos caminhos para evangelizar o mundo em contínua transformação. Os santos carmelitas foram grandes pregadores e mestres da oração. Isto é o que ainda hoje é pedido ao Carmelo do século XXI. Ao longo da vossa história, os grandes carmelitas foram um forte chamamento à raiz da contemplação, raiz fecunda sempre da oração. Aqui está o coração do vosso testemunho: a dimensão do “contemplativo” da Ordem, para viver, cultivar e transmitir. Desejo que cada um se pergunte a si mesmo: como é a minha vida de contemplação? Quanto tempo dedico diariamente à oração e contemplação? Um carmelita sem esta vida contemplativa é um corpo morto! Hoje, ainda mais do que no passado, é fácil deixar-se distrair pelas preocupações e pelos problemas deste mundo e deixar-se fascinar pelos seus falsos ídolos. O nosso mundo está fracturado de muitas maneiras; o contemplativo, pelo contrário, volta à unidade e constituiu um forte chamamento à unidade. Agora mais do que nunca é o momento de descobrir o caminho interior do amor e dar às pessoas de hoje no testemunho da contemplação, na pregação e na missão não coisas inúteis, mas aquela sabedoria que emerge do “meditar dia e noite na lei do Senhor”, Palavra que sempre conduz junto à Cruz gloriosa de Cristo. Unida à contemplação, a austeridade de vida não é um aspecto secundário da vossa vida e do vosso testemunho. É uma tentação muito forte, também para vós, cair na mundanidade espiritual. O espírito do mundo é inimigo da vida de oração: nunca se deve esquecer isto! Exorto-vos a que tenhais uma vida mais austera, segundo a vossa mais antiga tradição, uma vida afastada de toda a mundanidade, longe dos critérios do mundo.

Missão

Queridos Irmãos Carmelitas, a vossa missão é a mesma de Jesus. Toda a planificação, todo o confronto seria pouco útil, se o Capítulo não realizasse um caminho de verdadeira renovação. A Família Carmelita conheceu uma maravilhosa “Primavera” em todo o mundo, como fruto, concedido por Deus, do esforço missionário do passado. Toda a missão apresenta por vezes árduos desafios, porque a mensagem evangélica nem sempre é bem acolhida e inclusivamente acontece ser rejeitada violentamente. Nunca nos devemos esquecer que somos lançados para águas turbulentas e desconhecidas, mas Aquele que nos chama à missão dá-nos também a coragem e a força para a realizar. Por isso, celebrais o Capítulo animados pela esperança que jamais morre, com um forte espírito de generosidade na recuperação da vida contemplativa, simplicidade e austeridade evangélica.

Dirigindo-me aos peregrinos na Praça de São Pedro tive ocasião de afirmar: “Todo o cristão e toda a comunidade é missionária na medida em que leva e vive o Evangelho e testemunha o amor de Deus para com todos, especialmente para com aqueles que se encontram em dificuldade. Sede missionários do amor e da ternura de Deus! Sede missionários da misericórdia de Deus, que sempre nos perdoa e tanto nos ama!” (Homilia, 5 de Maio de 2013). O testemunho do Carmelo no passado pertence à profunda tradição espiritual crescida numa das grandes escolas de oração. Esta suscitou a coragem de homens e mulheres que enfrentaram o perigo e inclusivamente a morte. Recordemos somente dois grandes mártires contemporâneos: Santa Teresa Benedita da Cruz e o Beato Tito Brandsma. Pergunto-me então: hoje, entre vós, vive-se com a força e com a coragem destes santos?

Queridos Irmãos do Carmelo, o testemunho do vosso amor e da vossa esperança, radicado na profunda amizade com o Deus vivo, pode chegar como uma “brisa suave”, que renova e revigora a vossa missão eclesial no mundo de hoje. A isto sois chamados. O Rito da Profissão coloca nos vossos lábios estas palavras: “Com esta profissão uno-me à Família Carmelita para viver ao serviço de Deus na Igreja e aspirar à caridade perfeita com a graça do Espírito Santo e a ajuda da Bem-Aventurada Virgem Maria” (Rito da Profissão na Ordem do Carmo).

A Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe e Rainha do Carmelo, acompanhe os vossos passos e torne fecundo em frutos o caminho diário para o Monte de Deus. Invoco sobre toda a Família Carmelita, e em particular sobre os Padres Capitulares, abundantes dons do Espírito Divino, e a todos concedo do coração a implorada Bênção Apostólica.

Vaticano, 22 de Agosto de 2013

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Solenidade de Nossa Senhora do Carmo

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E, já que não posso deixar de ser a que tenho sido, não tenho outro remédio, senão acolher-me a Nossa Senhora e confiar nos méritos de Seu Filho e da Virgem, Sua Mãe, cujo hábito indignamente trago, e vós trazeis também. Louvai-O, minhas filhas, pois verdadeiramente o sois desta Senhora; e assim não tendes de vos afrontar que eu seja ruim, pois tendes tão boa Mãe. (…) Imitai-A e considerai qual deve ser a grandeza desta Senhora, e o bem de A ter por Padroeira, pois não bastaram meus pecados e ser a que sou, para em nada deslustrar esta sagrada Ordem.

Santa Teresa de Jesus

Oração a Nossa Senhora do Carmo

Ó Virgem Maria, Mãe e Rainha do Carmelo, tu estiveste unida de modo admirável ao mistério da Redenção; tu acolheste e conservaste no coração a Palavra de Deus e perseveraste com os Apóstolos em oração esperando a vinda do Espírito Santo. Em ti, como numa imagem perfeita, vemos realizado o que desejamos e esperamos ser na Igreja. Ó Virgem Maria, Estrela mística do Monte Carmelo, ilumina-nos e guia-nos no caminho da perfeita caridade e atrai-nos para a contemplação do rosto do Senhor. Cuida de nós com amor, e reveste os teus filhos com o teu santo Escapulário, sinal da tua protecção, e que a tua presença ilumine os nossos caminhos e nos faça chegar ao monte da salvação, que é Cristo Jesus, teu Filho e Senhor nosso. Amen.

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Ano da Fé – XLIX

PELIGROSO "GUSTAV" SIGUE FORTALECIÉNDOSE POCO A POCO ANTES DE LLEGAR A CUBA

Creio no Espírito Santo – III

O Espírito Santo vai-se manifestando discretamente, até se revelar em força nos momentos mais decisivos da história da salvação. No Antigo Testamento, «o Espírito Santo, como pessoa, está encoberto», como diz o Papa João Paulo II na sua Encíclica Dominum et Vivificantem (cf. n.º 15). Irrompe no Novo Testamento, depois de o Filho consumar a sua obra de salvação. De facto, como podemos verificar, no Antigo Testamento predomina a figura do Pai; no Novo Testamento predomina a figura do Filho e ao mesmo tempo abre-se o caminho à acção do Espírito Santo na Igreja. Assim se torna explícita a existência da Santíssima Trindade, presente desde o princípio na obra da criação. O Espírito Santo é uma pessoa, mas para se falar dele usa-se a linguagem dos símbolos, que evidenciam aquilo que Ele faz. Eis alguns desses símbolos:

Vento, sinal da força de Deus: o vento destrói obstáculos que pareciam intransponíveis (Act 2, 2) e é símbolo da força, acção e dinamismo de Deus, que se manifestam logo na criação (cf. Gn 1, 2) e depois actuam nos profetas (Ez 1, 4) e nos Apóstolos (Act 2, 2).

Hálito, alma (alento vital) do homem: Gn 2, 7.

Água: os rios de água viva de que fala Jesus em Jo 7, 38 são o símbolo da vida nova no Espírito Santo: “Ele falava do Espírito que deviam receber aqueles que tinham crido nele; pois não havia ainda Espírito, porque Jesus ainda não fora glorificado” (Jo 7, 39).

A pomba é o sinal da simplicidade, da liberdade e da paz, do calor e da vida, e do mistério de Deus. Conforme a pomba que pousa na arca de Noé (Gn 8, 6-12) anuncia a nova humanidade, também aquela que aparece no Baptismo de Jesus (Mt 3, 16) anuncia que Ele é o iniciador da nova criação, o que baptiza no Espírito Santo.

O fogo significa, na Bíblia, a presença amorosa e activa de Deus no meio do seu povo. É sinal de insatisfação, de inquietação, de purificação (Is 6, 6-7; Ez. 1, 4) e entrega à missão, sobretudo ao ministério da Palavra (cf. Act 4, 8. 20: a ânsia de proclamar a Palavra é como um fogo que queima). Por isso em Act 2, 3 o Espírito Santo desce em forma de línguas de fogo.

A acção do Espírito Santo não se opõe à acção de Cristo, mas vem depois dele e graças a ele «para continuar no mundo, mediante a Igreja, a obra da Boa Nova da salvação» (cf. Dominum et Vivificantem, n.º 3). Assim, «o Espírito Santo fará com que perdure sempre na Igreja a mesma verdade, que os Apóstolos ouviram do seu Mestre» (cf. Dominum et Vivificantem, n.º4).

A sua acção concretiza-se em favor de cada pessoa individual, e em favor da Igreja. O Espírito Santo e as suas inspirações não são propriedade privada de ninguém, mas é em confronto com a Igreja que nós devemos avaliar os carismas que o Espírito vai suscitando em cada pessoa.

O Espírito Santo é o Espírito da Verdade. É no seu testemunho que «o testemunho humano dos Apóstolos encontrará o seu mais forte sustentáculo» (cf. Dominum et Vivificantem, n.º 5). Assim o Espírito Santo não ensina nada diferente do que Jesus Cristo ensinou, mas pelo contrário, assegura de modo duradouro a transmissão e irradiação da Boa Nova revelada por Jesus de Nazaré (cf. Dominum et Vivificantem, n.º 7).

Portanto, quem pede: «Vem, Espírito Santo!», tem de estar preparado para dizer: «Vem e incomoda-me onde tenho de ser incomodado!» (Wilhems Stählin).

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Ano da Fé – XLVIII

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Creio no Espírito Santo – II

Significativamente, o Espírito é mencionado na abertura e encerramento da Bíblia. Toda a história, desde a criação até à realização final, se desenrola sob o influxo do poderoso “sopro” de Deus. O Espírito é a omnipotência do amor com que Deus realiza o seu projecto no mundo: que produz as coisas, dá a vida, suscita os profetas, justifica os pecadores, faz ressuscitar os mortos.

No Novo Testamento, com a vinda e a obra de Jesus, o Espírito de Deus está presente. O anjo da Anunciação anuncia que o Espírito virá sobre a Virgem Maria, de tal modo que aquele que vai nascer dela “será santo e chamado Filho de Deus” (Lc 1, 35). Mais tarde, no baptismo de Jesus, os céus abrem-se e Jesus vê o Espírito de Deus descer como uma pomba sobre ele (cf. Mt 3, 16). É o Espírito que o conduz ao deserto e é pela força do Espírito que resiste ao tentador. Toda a sua acção, a autoridade da sua Palavra, os milagres como os gestos mais simples que ele realiza, são obra deste Espírito que Deus lhe dá “sem medida” (Jo 3, 34).

Este Espírito, Jesus prometeu-o aos seus discípulos no momento de os deixar: “Pedirei ao Pai, e ele vos dará outro Defensor que estará sempre convosco: o Espírito de verdade” (Jo 14, 16). Com efeito, para que o Espírito seja derramado, é necessário que Jesus, realizada a sua obra, parta: “Se eu não partir, o Defensor não virá até vós; mas se eu partir, enviar-vo-lo-ei” (Jo 16, 7). A partida de Jesus é o seu regresso ao Pai.

A grande manifestação do Espírito Santo à Igreja nascente dá-se porém no Pentecostes. Segundo o texto de Act. 2, 4, “…todos ficaram repletos do Espírito Santo…”. Deu-se aqui o cumprimento da promessa de Jesus Cristo, de que não deixaria órfãos os seus discípulos. O Espírito Santo é o defensor e consolador prometido, e por Ele os discípulos darão testemunho de Cristo. É pela sua acção que a Igreja se dá a conhecer ao mundo. Os Apóstolos perdem o medo de testemunhar a sua fé em Jesus Cristo ressuscitado e lançam-se na missão de anunciar o Evangelho ao mundo, porque o Espírito Santo está com eles. É também Ele que guia a Igreja e está presente nas suas grandes decisões. Por isso se diz que o Espírito Santo é a alma da Igreja.

A missão do Espírito é introduzir-nos na comunhão com Deus. Por meio dele, o amor de Deus é derramado nos nossos corações e o Pai e o Filho passam a habitar em nós, tornamo-nos irmãos em Cristo, a ele unidos como a seu corpo, participantes da sua relação filial com o Pai, capazes de partilhar a sua caridade para com todos, co-herdeiro da sua glória.

Mas a nossa capacidade de compreensão é limitada; por isso, a missão do Espírito é introduzir a Igreja de maneira sempre nova, de geração em geração, na grandeza do mistério de Cristo (Bento XVI).

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Ano da Fé – XLV

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O mistério da redenção

Quem provocou a morte de Jesus? Do ponto de vista histórico, a morte de Jesus foi desejada pelas autoridades hebraicas e romanas do tempo, e pela multidão de Jerusalém habilmente manipulada. Não por todos os hebreus de então e muito menos pelos das gerações seguintes.

Mas as causas históricas não explicam adequadamente a cruz de Cristo. A nível diferente, todos os homens são responsáveis por ela. Aqueles poucos que, em grau variável, a provocaram directamente são apenas os representantes do pecado, radicado em todos os homens, em todos os povos e em todas as épocas: “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras” (1Cor 15, 3). “Segundo as Escrituras” significa segundo o projecto de Deus escondido no Antigo Testamento. Por trás da morte de Jesus está, pois, um desígnio de Deus, um desígnio de amor, a que a fé da Igreja chama mistério da redenção. Tal como o antigo Israel foi liberto da escravidão do Egipto para receber o dom da aliança e da Terra prometida, assim toda a humanidade é redimida, isto é, liberta da escravidão do pecado e introduzida no Reino de Deus. Surpreendendo todas as expectativas humanas, Deus revela-se na fraqueza e na loucura da cruz como amor sem medida; abraça, por meio do Crucificado, aqueles que se encontram longe d’Ele; e, por fim, subordina a morte de Jesus à salvação dos pecadores, por meio da gloriosa ressurreição.

O mistério da redenção, segundo o Novo Testamento, é mistério de amor. Deus é em si mesmo perfeitíssimo, feliz e imutável. Não pode diminuir, nem crescer, nem perder, nem adquirir. É por amor completamente livre e gratuito que chama à vida as criaturas e que concede a sua Aliança. O homem, criado livre, fecha-se, com o pecado, ao amor e aos dons de Deus. O pecado ofende a Deus e provoca-lhe um misterioso “sofrimento”, que, segundo a Bíblia, é amargura e desilusão, ciúme, ira e, sobretudo, compaixão. No seu amor sempre fiel, na sua misericórdia sem limites, “Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). Cristo acolhe livremente a iniciativa do Pai. Partilha a atitude misericordiosa do Pai, a sua vontade, e o seu projecto. Entregou-se aos homens sem reservas, confiou-se às suas mãos, sem recuar perante a sua hostilidade, tomando sobre si o peso do seu pecado. Assim viveu e testemunhou na sua carne a fidelidade incondicional do amor de Deus à humanidade pecadora.

Os demónios não são os que O crucificaram, mas tu, que, juntamente com eles, O crucificaste e continuamente crucificas, quando te comprazes nos vícios e no pecado (São Francisco de Assis).

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Ano da Fé – XXXVII

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Os milagres de Jesus – I

No Antigo Testamento, os acontecimentos prodigiosos do Êxodo e, em geral, os milagres realizados por Deus e pelos seus enviados atestam a presença salvífica do Senhor na história do seu povo. No Novo Testamento, esses factos extraordinários são chamados “milagres (obras poderosas), prodígios e sinais” (Act 2, 22). Obras poderosas, porque manifestam o poder criador de Deus; prodígios, porque são acontecimentos extraordinários e inexplicáveis, que provocam a admiração das pessoas; sinais, porque no contexto da pregação evangélica transmitem um significado preciso: a chegada do Reino de Deus.

Os milagres são gestos através dos quais Deus nos fala. Dirigem-se sempre às pessoas, ou porque lhes dizem directamente respeito, como as curas dos doentes, ou, pelo menos, lhes trazem alguns benefícios materiais e espirituais, como sucede na multiplicação dos pães e em outras transformações da natureza.

Jesus de Nazaré, coerente com a sua missão de Messias-Servo, firme ao repelir as tentações da riqueza, do êxito e do poder, nunca se serve dos milagres para seu interesse pessoal. Tal como ensina com autoridade, assim realiza os milagres com autoridade, em seu próprio nome: ”Eu te ordeno” (Mc 5, 41).

O significado dos milagres é múltiplo. Deus tornou-se presente de uma forma nova, para vencer o pecado, a doença, a morte e todas as formas de mal, a fim de dar ao homem a salvação integral, espiritual, corporal, social e cósmica, agora como antecipação e depois, no final da história, em plenitude, fazendo “novas todas as coisas” (Ap 21, 5). O povo, perante estes gestos divinos é chamado a acreditar e a converter-se. Contudo, por vezes, Jesus manifestou relutância em realizar milagres. Esta recusa tem um significado específico: ele quer evitar que as pessoas instrumentalizem Deus em função dos seus interesses imediatos. Para quem não procura a comunhão com Deus mas apenas os seus benefícios, o milagre torna-se alienante. Jesus exige, pelo menos, uma fé inicial, uma abertura ao mistério.

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Ano da Fé – XXXI

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Libertos da escravidão da riqueza

A proximidade de Deus confere a coragem de opções radicais. Em primeiro lugar, liberta do desejo de possuir. Jesus vive para o Pai, ancorado no seu amor, disponível à sua vontade. A fim de testemunhar a confiança absoluta nele e dedicar-se totalmente ao seu Reino, assume uma vida pobre e itinerante. Quer que também os discípulos vão levar a feliz notícia, livres de todos os empecilhos: “Nada leveis para o caminho: nem cajado, nem alforge, nem pão, nem dinheiro, nem tenhais duas túnicas (Lc 9, 3). Adverte as pessoas, para que não se deixem sugestionar pela riqueza: “Ninguém pode servir a dois senhores… Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6, 24). A riqueza assenhoreia-se de uma pessoa quando se deposita nela a medida do valor e a segurança da vida: “Guardai-vos de toda a cobiça, porque, mesmo que um homem viva na abundância, a sua vida não depende dos seus bens” (Lc 12, 15). Trata-se de um perigo muito concreto. O jovem rico não consegue libertar-se dos seus bens, volta as costas a Jesus e vai-se embora triste (cf. Mt 19, 16-22).

A preocupação com o bem-estar é redimensionada. Há valores mais importantes e decisivos, para além do alimento e do vestuário: “Olhai para as aves do céu: não semeiam, nem ceifam, nem recolhem em celeiros; e o vosso Pai celeste alimenta-as: Não valeis vós mais do que elas?”. Claro que é necessário semear e colher, fiar e tecer, projectar e trabalhar, mas sem ansiedade pelo amanhã (cf. Mt 6, 19-21). É preciso possuir sem ser possuído, sem preferir o bem-estar à solidariedade.

O Evangelho manda distribuir e pôr em circulação os nossos bens: “Fazei para vós bolsas que não envelhecem, um tesouro inesgotável nos céus, do qual o ladrão não se aproxima e a traça não corrói” (Lc 12, 33). Condena a posse egoísta que não considera as necessidades alheias. Contudo, não pede que se viva na miséria. O valor absoluto é a fraternidade, não a pobreza material. Confirma-o a experiência da primeira Igreja em Jerusalém, onde os crentes tinham “um só coração e uma só alma” (Act 4, 32), punham os seus haveres em comum e, assim, “entre eles não havia ninguém necessitado” (Act 4, 34).

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Ano da Fé – I

Qual é o desígnio de Deus acerca do Homem?

Deus, infinitamente perfeito e bem-aventurado em si mesmo, num desígnio de pura bondade, criou livremente o homem para o tornar participante da sua vida bem-aventurada. Na plenitude dos tempos, Deus Pai enviou o seu Filho, como Redentor e Salvador dos homens caídos no pecado, convocando-os à sua Igreja e tornando-os filhos adoptivos por obra do Espírito Santo e herdeiros da sua bem-aventurança.

A medida do amor é amar sem medida (São Francisco de Sales).

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