A Palavra de Deus é fonte inesgotável

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Quem poderá compreender, Senhor, toda a riqueza de uma só das vossas palavras? Como o sedento que bebe da fonte, muito mais é o que perdemos do que o que tomamos. A palavra do Senhor apresenta aspectos muito diversos, segundo as diversas perspectivas dos que a estudam. O Senhor pintou a sua palavra com muitas cores, a fim de que cada um dos que a escutam possa descobrir nela o que mais lhe agrada. Escondeu na sua palavra muitos tesouros, para que cada um de nós se enriqueça em qualquer dos pontos que medita.

(…) Aquele que chegou a alcançar uma parte deste tesouro, não pense que nessa palavra está só o que encontrou, mas saiba que apenas viu alguma coisa entre o muito que lá está. E porque apenas chegou a entender essa pequena parte, não considere pobre e estéril esta palavra; incapaz de apreender toda a sua riqueza, dê graças pela sua imensidade inesgotável. Alegra-te pelo que alcançaste, e não te entristeças pelo que ficou por alcançar. O que tem sede alegra-se quando bebe, e não se entristece por não poder esvaziar a fonte. (…) se saciada a sede, secasse a fonte, a tua vitória seria a tua desgraça. (…)

O que não podes receber imediatamente por causa da tua fraqueza, poderás recebê-lo noutra altura, se perseverares. E não tentes avaramente tomar de um só fôlego o que não podes abarcar duma vez, nem desistas, por preguiça, do que podes ir conseguindo pouco a pouco.

Santo Efrém

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4º Domingo do Tempo Comum – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 4, 21-30)

Naquele tempo, Jesus começou a falar na sinagoga de Nazaré, dizendo: «Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir.» Todos davam testemunho em seu favor e se admiravam com as palavras repletas de graça que saíam da sua boca. Diziam: «Não é este o filho de José?» Disse-lhes, então: «Certamente, ides citar-me o provérbio: ‘Médico, cura-te a ti mesmo.’ Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaúm, fá-lo também aqui na tua terra.» Acrescentou, depois: «Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria. Posso assegurar-vos, também, que havia muitas viúvas em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande fome em toda a terra; contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas sim a uma viúva que vivia em Sarepta de Sídon. Havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi purificado senão o sírio Naaman.» Ao ouvirem estas palavras, todos, na sinagoga, se encheram de furor. E, erguendo-se, lançaram-no fora da cidade e levaram-no ao cimo do monte sobre o qual a cidade estava edificada, a fim de o precipitarem dali abaixo. Mas, passando pelo meio deles, Jesus seguiu o seu caminho.

Reflexão

Na sinagoga de Nazaré, inicialmente, os ouvintes de Jesus, “Todos davam testemunho em seu favor e se admiravam com as palavras repletas de graça que saíam da sua boca”. Com certeza, essa reacção não foi causada pela oratória de Jesus, nem porque soubesse usar “artifícios para seduzir os ouvintes” (1Cor 1, 4), como fazem hoje tantos manipuladores interesseiristas, buscadores de fama e de endeusamento. Foram palavras cheias de encanto porque brotaram da sua intimidade com o Pai, da sua espiritualidade profunda, da sua capacidade de compaixão, da coerência entre o que dizia e fazia. Aqui há um desafio para todos nós: de deixar que sejamos tomados pela Palavra de Deus, de tal maneira que a nossa palavra não seja mais a nossa, mas, a manifestação do Espírito. Refere, a propósito, um antigo conto judaico: “Vira e revira a Palavra de Deus, porque nela está tudo. Contempla-a, envelhece e consome-te nela. Não te afastes dela, porque não há coisa melhor do que ela”.

Jesus cita o texto de Isaías até onde é dito: “proclamar um ano de graça do Senhor”, e corta o resto da frase que diz: “e um dia de vingança do nosso Deus, para consolar todos os aflitos” (Is 62, 2b). As pessoas de Nazaré não estão de acordo que a frase sobre a vingança contra os opressores do povo tenha sido cortada. Eles queriam que o Dia da vinda do Reino fosse um dia de vingança contra os opressores do povo. Os aflitos veriam assim restabelecidos os seus direitos. Mas neste caso, a vinda do Reino não traria uma mudança real do sistema injusto. Jesus não aceita este modo de pensar, não aceita a vingança. A sua experiência de Deus como Pai ajudava-o melhor a entender o significado exacto das profecias. A sua reacção, contrária à das pessoas de Nazaré, faz-nos ver que a antiga imagem de Deus, como juiz severo e vingativo, era mais forte do que a Boa Nova de Deus, Pai amoroso que acolhe os excluídos.

Jesus é rejeitado pelos seus conterrâneos a ponto de lhes dizer: “Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria”. Jesus é rejeitado por ser considerado o filho de José, um simples carpinteiro de Nazaré. Hoje acontece também o mesmo em muitas das nossas comunidades: quantos cristãos, que não têm “títulos”, doam-se à comunidade e aos irmãos e são os próprios companheiros de comunidade que os rejeitam por não serem “doutores”, por não saberem “falar bonito”, como sabem muito bem os manipuladores interesseiristas! Parece que às vezes no seio das comunidades cristãs há gente que sente prazer em destruir e deitar abaixo quem se compromete no serviço à comunidade.

Se os de dentro do seu povo não o aceitam, Jesus deixa claro que encontrará fé e adesão entre os de fora. Jesus serve-se de duas passagens da Bíblia muito conhecidas: a história de Elias e de Eliseu. As duas realçam e criticam o fechamento mental das pessoas de Nazaré. No tempo de Elias existiam muitas viúvas em Israel mas o profeta foi enviada a uma viúva estrangeira de Sarepta (1Re 17, 7-16). No tempo de Eliseu havia muitos leprosos em Israel mas Eliseu foi enviado a ocupar-se de um leproso estrangeiro da Síria (2Re 5, 14). Aqui aparece novamente a preocupação de Lucas em mostrar que a abertura aos pagãos vem do próprio Jesus. Jesus teve as mesmas dificuldades que as comunidades do tempo de Lucas tiveram.

A utilização destas duas passagens da Bíblia causa entre as pessoas ainda mais raiva, a ponto de quererem matar Jesus. Jesus dá-nos o exemplo de como enfrentar estas situações: Ele “continuou o seu caminho” (Lc 4, 20). Jesus sofreu com a incompreensão e rejeição dos seus conterrâneos mas não se deixou abalar, pois a sua convicção não se baseava na opinião, aprovação e aceitação dos outros, mas na oração, na interiorização da Palavra. É bom ter sempre presente esta recomendação contida na Carta aos Hebreus: “Considerai, pois, aquele que sofreu tal oposição por parte pecadores, para que não desfaleçais, perdendo o ânimo” (Hb 12, 3).

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Bem-aventuranças de Mateus em perspectiva catequética

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Bem-aventurados os humildes que apenas confiam em Deus, porque para eles está reservado o seu reino. / Bem-aventurados aqueles que se afligem com o mal presente no mundo e em si próprios, porque Deus os consolará. / Bem-aventurados os mansos, aqueles que são acolhedores, cordiais, pacientes e renunciam a impor-se aos outros pela força, porque Deus lhes permitirá conquistar o mundo. / Bem-aventurados aqueles que desejam ardentemente a vontade de Deus para si e para os outros, porque Deus os saciará à sua mesa. / Bem-aventurados os misericordiosos, que sabem perdoar e realizar obras de caridade, porque Deus será misericordioso para com eles. / Bem-aventurados os puros de coração, que têm uma consciência recta, porque Deus os admitirá à sua presença na liturgia celeste. / Bem-aventurados aqueles que constroem uma convivência pacífica, justa e fraterna, porque Deus os acolherá como filhos. / Bem-aventurados os perseguidos por causa da nova justiça evangélica, porque Deus, rei justo, os salvará”.

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3º Domingo do Tempo Comum – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 1, 1-4; 4, 14-21)

Visto que muitos empreenderam compor uma narração dos factos que entre nós se consumaram, como no-los transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares e se tornaram “Servidores da Palavra”, resolvi eu também, depois de tudo ter investigado cuidadosamente desde a origem, expô-los a ti por escrito e pela sua ordem, caríssimo Teófilo, a fim de reconheceres a solidez da doutrina em que foste instruído. Impelido pelo Espírito, Jesus voltou para a Galileia e a sua fama propagou-se por toda a região. Ensinava nas sinagogas e todos o elogiavam. Veio a Nazaré, onde tinha sido criado. Segundo o seu costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para ler. Entregaram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando-o, deparou com a passagem em que está escrito: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar um ano favorável da parte do Senhor.» Depois, enrolou o livro, entregou-o ao responsável e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Começou, então, a dizer-lhes: «Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir.»

Reflexão

O Evangelho de hoje é constituído por dois textos diferentes. No primeiro (1,1-4), temos um prólogo literário onde Lucas, imitando o estilo dos escritores helénicos da altura, apresenta o seu trabalho: trata-se de uma investigação cuidada dos “factos que se realizaram entre nós”, a fim de que os crentes de língua grega (a quem o Evangelho de Lucas se dirige) verifiquem “a solidez da doutrina em que foram instruídos”. Na segunda parte (4,14-21), apresenta-se o início da pregação de Jesus, que Lucas coloca em Nazaré.

A finalidade da obra de Lucas é recordar aos crentes das comunidades de língua grega as suas raízes e a sua referência a Jesus. Neste texto em concreto, Lucas vai apresentar o programa que Jesus se propõe realizar no meio dos homens, como uma proposta de libertação dirigida a todos os oprimidos.

O ponto de partida é a leitura do texto de Is 61,1-2. Esse texto apresenta o profeta anónimo que, em Jerusalém, consola os exilados, como um “ungido de Deus”, que possui o Espírito de Deus; a sua missão consiste em gritar a “boa notícia” de que a libertação chegou ao coração e à vida de todos os prisioneiros do sofrimento, da opressão, da injustiça, do desânimo, do medo. O que é mais significativo, no entanto, é a “actualização” que Jesus faz desta profecia: Ele apresenta-Se como o “profeta” que Deus ungiu com o seu Espírito, a fim de concretizar essa missão libertadora.

O projecto libertador de Deus em favor dos homens começa, portanto, a cumprir-se na acção de Jesus (“cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir” – vers. 21). Na sequência, Lucas vai descrever a actividade de Jesus na Galileia como o anúncio (em palavras e em gestos) de uma “boa notícia” dirigida preferencialmente aos pobres e marginalizados (aos leprosos, aos doentes, aos publicanos, às mulheres), anunciando-lhes que chegou o fim de todas as escravidões e o tempo novo da vida e da liberdade para todos.

Lucas anuncia também, neste texto programático, o caminho futuro da Igreja e as condições da sua fidelidade a Cristo. A comunidade crente toma consciência, através deste texto, de que a sua missão é a mesma de Cristo: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar um ano favorável da parte do Senhor”.

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O Senhor é misericordioso

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Na Sagrada Escritura, o Senhor é apresentado como «Deus misericordioso». Este é o seu nome, através do qual Ele nos revela, por assim dizer, a sua face e o seu coração. Como narra o Livro do Êxodo, revelando-se a Moisés, Ele mesmo assim se define: “Deus compassivo e misericordioso, lento para a ira, rico em bondade e em fidelidade» (34, 6)…

O Senhor é «misericordioso»: este vocábulo evoca uma atitude de ternura, como a de uma mãe pelo seu filho. Com efeito, o termo hebraico usado pela Bíblia leva a pensar nas vísceras, ou então no ventre materno. Por isso, a imagem que sugere é a de um Deus que se comove e sente ternura por nós, como uma mãe quando pega o seu filho ao colo, unicamente desejosa de amar, proteger e ajudar, pronta a doar tudo, até a si mesma. Esta é a imagem que este termo sugere. Portanto, um amor que se pode definir, no bom sentido, «visceral».

Papa Francisco

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Só conta o que nos leva para Deus

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É inato na criatura o desejo de sobressair. Mas se pensarmos de que servem esses triunfos sociais que da noite para o dia se dissipam… Esses aplausos fingidos o mais das vezes o que são? O que fica de proveito senão um orgulho secreto na alma?
Não. Nada disso serve, pois só o que vale aqui na terra é aquilo que nos leva para Deus. Ele é o único que poderá encher e satisfazer a tua alma.

Santa Teresa dos Andes

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2º Domingo do Tempo Comum – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 2, 1-12)

Ao terceiro dia, celebrava-se uma boda em Caná da Galileia e a mãe de Jesus estava lá. Jesus e os seus discípulos também foram convidados para a boda. Como viesse a faltar o vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: «Não têm vinho!» Jesus respondeu-lhe: «Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo? Ainda não chegou a minha hora.» Sua mãe disse aos serventes: «Fazei o que Ele vos disser!» Ora, havia ali seis vasilhas de pedra preparadas para os ritos de purificação dos judeus, com capacidade de duas ou três medidas cada uma. Disse-lhes Jesus: «Enchei as vasilhas de água.» Eles encheram-nas até cima. Então ordenou-lhes: «Tirai agora e levai ao chefe de mesa.» E eles assim fizeram. O chefe de mesa provou a água transformada em vinho, sem saber de onde era – se bem que o soubessem os serventes que tinham tirado a água; chamou o noivo e disse-lhe: «Toda a gente serve primeiro o vinho melhor e, depois de terem bebido bem, é que serve o pior. Tu, porém, guardaste o melhor vinho até agora!» Assim, em Caná da Galileia, Jesus realizou o primeiro dos seus sinais miraculosos, com o qual manifestou a sua glória, e os discípulos creram nele. Depois disto, desceu a Cafarnaúm com sua mãe, os irmãos e os seus discípulos, e ficaram ali apenas alguns dias.

Reflexão

A primeira parte do Quarto Evangelho é comummente chamada “o livro dos sinais”, pois o evangelista relata uma série de sete sinais que, gradualmente, revelam quem é Jesus, e qual é a sua missão. O primeiro desses sinais aconteceu no contexto das bodas de Caná. Para São João, os “milagres” são sempre “sinais” que nos reenviam para além da materialidade dos factos.

Será bom olhar com mais atenção esta água mudada em vinho. A água é um elemento vital. Mas é, antes de mais, um elemento da nossa vida diária e que a natureza a dá, sem que que o homem tenha de fazer nada. A água encontra-se na natureza, não precisa de ser fabricada. O vinho é fruto da vinha, mas também do trabalho do homem, como dizemos na Eucaristia. Jesus manda encher as talhas de água, a água que é símbolo da nossa vida de todos os dias. Jesus toma esta água para a transformar. Não com uma varinha mágica, mas com a força do Espírito Santo, com a força do amor. Por este “sinal”, Jesus quer vir ter connosco na nossa vida de todos os dias, para aí colocar a sua presença de amor, o amor do Pai, o Espírito Santo. Toma a nossa vida, com as nossas alegrias, os nossos amores, as nossas conquistas humanas, importantes mas tantas vezes efémeras, com os nossos tédios, os nossos dias sem gosto e sem cor, os nossos fracassos e mesmo os nossos pecados, também eles fazendo parte do nosso viver diário. E aí, Ele “trabalha-nos” pelo seu amor, no segredo, para fazer brotar em nós a vida que tem o sabor do vinho do Reino.

Maria aparece também neste relato evangélico das bodas de Caná. Ela é a mãe atenta às dificuldades e necessidades dos homens, que apresenta ao Filho para que não falte a alegria do Evangelho, da ternura e da misericórdia. É simultâneamente porta-voz e intercessora do povo e porta-voz da vontade do Filho, em cujas mãos põe tudo e n’Ele confia.

Palavra para o caminho

Nas aldeias pobres da Galileia, a festa de casamento era a mais apreciada de todas. Durante vários dias, familiares e amigos acompanhavam os noivos, comendo e bebendo com eles, dançando danças festivas e cantando músicas de amor. O evangelho de João diz-nos que foi numa destas festas de casamento, que Jesus fez seu “primeiro sinal”. Este sinal oferece-nos a chave para entender toda a sua actuação e o sentido profundo da sua missão salvadora: Jesus veio revelar-nos Deus como um Pai bondoso e terno, que fica feliz quando pode amar os seus filhos. É esse o “vinho” que Jesus veio trazer: o “vinho” do amor de Deus, que produz alegria e que nos leva à festa do encontro com o Pai e com os irmãos.

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O santo não é o impecável

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O santo não é o impecável. É aquele que, com as suas fraquezas, não desiste de recomeçar, que vive as bem-aventuranças em plenitude, que realiza as obras de misericórdia, que está ao serviço dos outros, completamente entregue a Deus e ao próximo. A santidade é precisamente esta síntese de ser todo de Deus para poder ser todo para os outros.

Vasco P. Magalhães, sj

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Festa do Baptismo do Senhor – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 3, 15-16.21-22)

Estando o povo na expectativa e pensando intimamente se ele não seria o Messias, João disse a todos: «Eu baptizo-vos em água, mas vai chegar alguém mais forte do que eu, a quem não sou digno de desatar a correia das sandálias. Ele há-de baptizar-vos no Espírito Santo e no fogo. Todo o povo tinha sido baptizado; tendo Jesus sido baptizado também, e estando em oração, o Céu rasgou-se e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea, como uma pomba. E do Céu veio uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado; em ti pus todo o meu agrado.»

Reflexão

Para que a nossa vida seja humana, tem que ter interioridade. Se falta a vida interior, facilmente caiamos na agitação e na pressa, sem nos determos em nada nem em ninguém, e a felicidade não tem tempo para penetrar até à nossa alma. Passamos, rapidamente, por tudo e permanecemos, quase sempre, na superfície das coisas.

Privados de vida interior, sobrevivemos fechando os olhos, esquecendo a nossa alma, revestindo-nos de capas e mais capas, de projectos, ocupações, ilusões e planos. Num mundo que optou pelo “exterior”, não é de estranhar que muitos homens e mulheres “passem por Deus” e o ignorem, não sabem de quem se trata, e vivem sem ter necessidade dele.

Os evangelistas apresentam Jesus como aquele que vem “baptizar no Espírito Santo”, isto é, como alguém que pode limpar a nossa existência e curá-la com a força do Espírito. Necessitamos desse Espírito para que nos ensine a passar do puramente exterior ao que há de mais íntimo no homem, no mundo e na vida. Um Espírito que nos ensine a acolher Deus que habita no interior das nossas vidas.

Os textos que nos deixaram os primeiros cristãos mostram-nos pessoas habitadas pelo Espírito de Jesus. Animadas por esse Espírito, vivem de maneira nova. O que se verifica, em primeiro lugar, é a nova experiência que fazem de Deus. Não vivem já com um “espírito de escravos”, oprimidos pelo medo a Deus, mas com “espírito de filhos” que se sentem amados de maneira incondicional e sem limites por um Pai. O Espírito de Jesus faz-lhes gritar a partir do fundo do coração: Abba, Pai! Esta experiência é um desafio para as nossas comunidades cristãs.

Paulo dizia: “Não apagueis o Espírito”. Uma Igreja vazia do Espírito de Cristo, é uma Igreja triste, apagada, imóvel, medrosa, defensiva e cega, porque não vê nem descobre a sua Novidade mais íntima que a vivifica e a edifica.

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