Três exigências do amor adulto

Toda a gente usa a palavra “amor”. Mas tantas vezes abusa! Estamos sempre a cair na conta de que não estamos a falar do mesmo. Pode dizer-se que, muito para além das simpatias e das antipatias, o amor adulto é querer e fazer o bem do outro. E isso exige três coisas: ser inteligente, ser gratuito e ser eficaz! Inteligente para perceber bem do que o outro precisa: que lhe fale, que me cale, que exija, peça, dê… Gratuito, porque a busca da retribuição tira a liberdade ao outro, compra-o! Eficaz, porque só com intenções o mundo não cresce, confunde-se e decresce.

Vasco P. Magalhães, sj

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Beata Maria Felícia de Jesus Sacramentado (Chiquitunga)

Maria Felícia Guggiari Echeverría nasceu a 12 de Janeiro de 1925 em Villarrica del Espíritu Santo, no Paraguai, sendo a primogénita de sete filhos. Era fisicamente pequena, motivo pelo qual o seu pai apelidou-a, carinhosamente, de “Chiquitunga” (pequerrucha, em guarani). Foi baptizada, quando tinha três anos, no dia 28 de Março de 1928. 

A sua mãe contou que, num dia de muito frio, “Chiquitunga” voltou da escola a tremer de frio porque tinha dado o seu agasalho a uma menina pobre. Uma das suas irmãs denunciou-a ao pai, porém ela respondeu: «Estás a ver, paizinho! Eu não sinto frio!». E repetia esfregando as mãozinhas nos seus braços nus e tiritantes. Numa outra vez chegou a casa com umas sandálias disformes e gastas porque tinha dado, em troca, os seus sapatos a uma menina necessitada. Episódios comoventes e significativos, que revelam o carácter desta menina que encontrava a sua felicidade na partilha com os outros. 

A 8 de Dezembro de 1932, recebeu pela primeira vez Jesus Eucaristia na Catedral de Villarrica. Deste dia recordará anos mais tarde: «Nunca se apagará da minha mente a lembrança do dia mais feliz da minha vida, o dia da primeira união com o meu Deus e o ponto de onde surge a minha resolução de ser cada dia melhor». 

Ingressou na Acção Católica em 1941, onde foi uma militante empenhada e destacada. Dotada de esplêndidas qualidades humanas e espirituais, não passava despercebida a ninguém, sendo estimada por todos. Era muito alegre, sociável, prestável, modesta e muito simples. Na Acção Católica “Chiquitunga” encontrou um ideal e um objectivo que orientou toda a sua vida, tendo trabalhado, incansavelmente, num apostolado activo, abrangente, de evangelização e de partilha com os mais desfavorecidos. 

O seu lema de vida era : «TUDO TE OFEREÇO, SENHOR!», que ela representava por T2OS, qual forma química para a felicidade, sintetiza a sua entrega a Deus, numa consagração total do seu ser. 

Em 1950, Maria Felícia conheceu Ángel Sauá Llanes, um jovem estudante de medicina e dirigente da Acção Católica e foi tal a comunhão de almas, partilhando o mesmo ideal, que surgiu entre eles uma profunda amizade e um amor pleno e puro. Contudo, buscando, em primeiro lugar, cumprir a vontade de Deus, os dois, de comum acordo, decidiram abdicar do seu amor humano para se consagrarem totalmente ao Senhor: ele no sacerdócio e ela na vida religiosa. 

Na manhã do dia 2 de Fevereiro de 1955, ingressou no Mosteiro das Carmelitas Descalças de Assunção. Recebeu o hábito no dia 14 de Agosto de 1955 e tomou o nome de Irmã Maria Felícia de Jesus Sacramentado. Fez a sua Profissão simples foi no dia 15 de Agosto de 1956. A Madre Teresa Margarida resumiu em poucas palavras as atitudes da Irmã Felícia desde o início da sua entrada no Carmelo: «Tinha um grande espírito de sacrifício, caridade e generosidade, tudo envolvido em grande mansidão e comunicativa alegria, sempre viva e brincalhona». 

No dia 9 de Janeiro de 1959 foi internada por se encontrar doente com uma hepatite infecciosa, a mesma doença com que na antevéspera falecera a sua irmã Manhica. Em meados de Fevereiro pôde regressar ao mosteiro e no dia 22 de Março teve alta dos médicos, com o júbilo das irmãs que já a consideravam curada. Porém, no dia 26, Domingo de Páscoa, o seu irmão, que era médico, diagnosticou-lhe “Púrpura” e foi novamente hospitalizada. 

Morreu na madrugada do dia 28 de Abril de 1959, depois de lhe lerem o poema “”Morro, porque não morro””, de Santa Teresa de Jesus. As suas últimas palavras foram: «Jesus eu amo-Te! Que doce encontro! Virgem Maria!» 

Em 24 de Setembro 2011 foi feita a exumação dos restos mortais da Irmã Maria Felícia e, após a limpeza dos ossos, foi descoberto o seu cérebro incorrupto. 

Foi solenemente beatificada no dia 23 de Junho de 2018, aquela que é a primeira Beata paraguaia, no estádio Pablo Rojas, em Assunção, numa cerimónia presidida pelo Cardeal Ângelo Amato, como delegado do Papa.

www.carmelitas.pt

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Nascimento de São João Baptista – 24 de Junho

Hoje, 24 de Junho, celebramos a solenidade do Nascimento de São João Baptista. Com a excepção da Virgem Maria, o Baptista é o único santo do qual a liturgia festeja o nascimento, e isto porque ele está estreitamente relacionado com o mistério da Encarnação do Filho de Deus. Com efeito, desde o seio materno João é o precursor de Jesus: a sua concepção prodigiosa é anunciada pelo Anjo a Maria como sinal de que «nada é impossível a Deus» (Lc 1, 37), seis meses antes do grande prodígio que nos dá a salvação, a união de Deus com o homem por obra do Espírito Santo. Os quatro Evangelhos dão grande realce à figura de João Baptista, como profeta que conclui o Antigo Testamento e inaugura o Novo, indicando em Jesus de Nazaré o Messias, o Ungido do Senhor. Com efeito, será o próprio Jesus quem falará de João nestes termos: «É aquele do qual está escrito: “Eis que envio o Meu mensageiro diante de Ti, para Te preparar o caminho”. Em verdade vos digo: Entre os nascidos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Baptista; e, no entanto, o mais pequeno no reino dos Céus é maior do que ele» (Mt 11, 10-11).

O pai de João, Zacarias — marido de Isabel, parente de Maria — era sacerdote do culto judaico. Ele não acreditou imediatamente no anúncio de uma paternidade já inesperada, e por isso ficou mudo até ao dia da circuncisão do menino, ao qual ele e a esposa deram o nome indicado por Deus, ou seja, João, que significa «o Senhor concede graças». Animado pelo Espírito Santo, Zacarias falou assim da missão do filho: «E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás adiante do Senhor a preparar os seus caminhos. Para dar a conhecer ao Seu povo a Sua salvação pela remissão dos pecados» (Lc 3, 1-6). Quando um dia veio de Nazaré o próprio Jesus para se fazer baptizar, João inicialmente recusou-se, mas depois consentiu, e viu o Espírito Santo pairar sobre Jesus e ouviu a voz do Pai celeste que o proclamava seu Filho (cf. Mt 3, 13-17). Mas a sua missão ainda não estava completada: pouco tempo mais tarde, foi-lhe pedido que precedesse Jesus também na morte violenta: João foi decapitado na prisão do rei Herodes, e assim deu pleno testemunho do Cordeiro de Deus, que ele foi o primeiro a reconhecer e a indicar publicamente.

Bento XVI, Angelus, 24 de Junho de 2012

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Catequese sobre os Mandamentos – 2

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

Esta audiência realiza-se em dois lugares: nós, aqui na praça; e na sala Paulo VI há mais de 200 doentes, que acompanham a audiência através do grande ecrã. Todos juntos formamos uma comunidade. Saudemos com um aplauso quantos estão na Sala.

Na quarta-feira passada demos início a um novo ciclo de catequeses sobre os mandamentos. Vimos que o Senhor Jesus não veio para abolir a Lei, mas para a cumprir. Contudo, devemos entender melhor esta perspetiva.

Na Bíblia, os mandamentos não vivem por si sós, mas fazem parte de um relacionamento, de uma relação. O Senhor Jesus não veio para abolir a Lei, mas para a cumprir. Existe esta relação da Aliança entre Deus e o seu Povo. No início do capítulo 20 do livro do Êxodo lemos — e isto é importante — «Deus pronunciou todas estas palavras» (v. 1).

Parece uma abertura como outras, mas na Bíblia nada é banal. O texto não diz: “Deus pronunciou estes mandamentos”, mas «estas palavras». A tradição judaica chamará sempre ao Decálogo “as dez Palavras”. E o termo “decálogo” quer dizer exatamente isto.Contudo, têm forma de leis, objetivamente são mandamentos. Portanto, por que o Autor sagrado usa, precisamente aqui, o termo “dez palavras”? Por que não diz “dez mandamentos”?

Que diferença existe entre um comando e uma palavra? O comando é uma comunicação que não requer o diálogo. A palavra, ao contrário, é o meio essencial do relacionamento como diálogo. Deus Pai cria por meio da sua palavra, e o seu Filho é a Palavra que se fez carne. O amor alimenta-se de palavras,como também a educação, ou a colaboração. Duas pessoas que não se amam, não conseguem comunicar-se. Quando alguém fala ao nosso coração, a nossa solidão acaba. Recebe uma palavra, verifica-se a comunicação, e os mandamentos são palavras de Deus: Deus comunica-se nestas dez Palavras e aguarda a nossa resposta.

Uma coisa é receber uma ordem, outra coisa é sentir que alguém procura falar connosco. Um diálogo é muito mais que a comunicação de uma verdade. Eu posso dizer-vos: “Hoje é o último dia de primavera, primavera quente, mas hoje é o último dia”. Esta é uma verdade, não um diálogo. Mas se eu vos disser: “Que pensais desta primavera?”, começo um diálogo. Os mandamentos são um diálogo. A comunicação realiza-se pelo prazer de falar e pelo bem concreto que se comunica entre aqueles que se amam por meio das palavras. É um bem que não consiste em coisas, mas nas próprias pessoas que doam reciprocamente no diálogo (cf. Exort. Apost. Evangelii gaudium, 142).

Mas esta diferença não é algo artificial. Vejamos o que aconteceu no início. O tentador, o diabo, quer enganar o homem e a mulher neste ponto: quer convencê-los de que Deus lhes proibiu comer o fruto da árvore do bem e do mal, para os manter submissos. O desafio consiste exatamente nisto: a primeira norma que Deus ofereceu ao homem foi a imposição de um déspota que proíbe e obriga, ou foi o esmero de um pai que cuida dos seus filhos e os protege contra a autodestruição? É uma palavra, ou um comando? A mais trágica das várias mentiras que a serpente diz a Eva é a sugestão de uma divindade invejosa — “Mas não, Deus é invejoso de vós” — de uma divindade possessiva — “Deus não quer que tenhais liberdade”. Os acontecimentos demonstram dramaticamente que a serpente mentiu (cf. Gn 2, 16-17; 3, 4-5), levando a crer que uma palavra de amor fosse uma ordem.

O homem está diante desta encruzilhada: Deus impõe-me as coisas, ou cuida de mim? Os seus mandamentos são apenas uma lei, ou contêm uma palavra, para cuidar de mim? Deus é patrão ou Pai? Deus é Pai: nunca vos esqueçais disto! Até nas situações mais negativas, pensai que temos um Pai que ama todos nós. Somos vassalos ou filhos? Este combate, dentro e fora de nós, apresenta-se continuamente: temos que escolher muitas vezes entre uma mentalidade de escravos e uma mentalidade de filhos. A ordem é do patrão, a palavra é do Pai.

O Espírito Santo é um Espírito de filhos, é o Espírito de Jesus. Um espírito de escravos não pode deixar de receber a Lei de modo opressivo, e pode produzir dois resultados opostos: ou uma vida feita de deveres e de obrigações, ou então uma reação violenta de rejeição. Todo o Cristianismo é a passagem da letra da Lei para o Espírito que vivifica (cf. 2 Cor 3, 6-17). Jesus é a Palavra do Pai, não a condenação do Pai. Jesus veio para salvar com a sua Palavra, não para nos condenar.

Vê-se quando um homem ou uma mulher viveram ou não esta passagem. As pessoas dão-se conta quando o cristão raciocina como filho ou como escravo. E nós mesmos recordamos que os nossos educadores cuidaram de nós como pais e mães, ou se somente nos impuseram regras. Os mandamentos são o caminho para a liberdade, porque constituem a palavra do pai que nos liberta neste caminho.

O mundo não tem necessidade de legalismo, mas de cuidado. Precisa de cristãos com coração de filhos. Há necessidade de cristãos com coração de filhos: não vos esqueçais disto!

Papa Francisco, Audiência Geral, 20 de Junho de 2018

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A nossa oração é pública e universal

Em primeiro lugar, o Doutor da paz e Mestre da unidade não quis que a oração fosse exclusivamente individual e privada, a fim de não pedir só para si aquele que ora. Não dizemos: Meu Pai que estais nos Céus; nem: Dai-me hoje o meu pão; nem pede cada um que lhe seja perdoado apenas o seu pecado ou que não o deixe cair em tentação, ou que só ele seja livre do mal. A nossa oração é pública e universal; e quando rezamos, não rezamos por um só, mas por todos, porque formamos um só povo.
O Deus da paz e Mestre da concórdia, que nos ensinou a unidade, quis que cada um orasse por todos, assim como Ele a todos assumiu na pessoa de um só.

São Cipriano, Sobre a Oração Dominical

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A santidade

Para nós, a santidade não é outra coisa senão a posse completa do Espírito Santo, o Seu domínio sobre todo o nosso ser.

Beato Pe. Eugénio Maria do Menino Jesus, OCD

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11º Domingo do Tempo Comum – Ano B

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. Marcos (4, 26-34)

Naquele tempo, disse Jesus à multidão: «O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Dorme e levanta-se, de noite e de dia, enquanto a semente germina e cresce, sem que ele saiba como. A terra por si mesma frutifica primeiro a planta, depois a espiga e, por fim, o grão cheio na espiga. E, quando o trigo o permite, logo se mete a foice, porque chegou a ceifa». Jesus dizia ainda: «A que havemos de comparar o Reino de Deus? Ou com que parábola o havemos de apresentar? É como um grão de mostarda, que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes que há sobre a terra; mas, uma vez semeado, começa a crescer e torna-se a maior de todas as plantas da horta, estendendo de tal forma os seus ramos que as aves do céu podem aninhar-se à sua sombra». Jesus anunciava-lhes a Palavra com muitas parábolas como estas, conforme eram capazes de entender. E não lhes falava senão em parábolas; mas, em particular, tudo explicava aos seus discípulos.

Reflexão

É bonito ver como Jesus procurava na vida e nos acontecimentos elementos e imagens que pudessem ajudar o povo a perceber e a experimentar a presença do Reino de Deus. No evangelho de hoje ele conta duas pequenas histórias que acontecem todos os dias na vida de todos nós: a da semente que cresce sozinha e a da pequena semente de mostarda que lançada à terra dá um grande arbusto.

O agricultor que semeia conhece o processo ou fases desde a sementeira até à colheita: semente, fiozinho verde, folha, espiga, grão. Ele não mete a foice antes do tempo. Sabe esperar. Mas não sabe como a terra, a chuva, o sol e a semente têm esta força de fazer crescer uma planta do nada até dar fruto. Assim é o Reino de Deus. Tem processo, tem etapas e prazos, tem crescimento. Vai acontecendo. Produz fruto no tempo marcado. Mas ninguém sabe explicar a sua força misteriosa. Ninguém é dono. Só Deus!

A semente de mostarda é pequena, mas ela cresce e, no fim, os passarinhos vêm fazer o seu ninho nos ramos. Assim é o Reino de Deus. Começa muito pequenino, cresce e estende os seus ramos para que os passarinhos possam fazer os seus ninhos. Começou com Jesus e uns poucos discípulos e discípulas. Foi perseguido e caluniado, preso e crucificado. Mas cresceu e foi estendendo os seus ramos. A parábola deixa uma pergunta no ar que vai ter resposta mais adiante no evangelho: “Quem são os passarinhos?”. O texto sugere que se trata dos pagãos que vão poder entrar na comunidade e ter parte no Reino.

Jesus contava muitas parábolas. Tudo tirado da vida do povo! Assim ele ajudava as pessoas a descobrir as coisas de Deus no quotidiano. Tornava o quotidiano transparente. Pois o extraordinário de Deus esconde-se nas coisas ordinárias e comuns da vida de cada dia. O povo entendia da vida. Nas parábolas recebia a chave para abri-la e encontrar dentro dela os sinais de Deus.

O Senhor sempre nos surpreende

No Evangelho de hoje, Jesus fala à multidão do Reino de Deus e da dinâmica do seu crescimento, contando duas breves parábolas. Na primeira parábola, o Reino de Deus é comparado ao crescimento misterioso da semente. A mensagem que esta parábola nos dá é esta: por meio da pregação e da acção de Jesus, o Reino de Deus é anunciado, irrompe no campo do mundo e, como a semente, cresce e se desenvolve por si só, por força própria e segundo critérios humanamente não decifráveis. Ele, no seu crescimento é acima de tudo expressão do poder e da bondade de Deus, da força do Espírito Santo que leva em frente a vida cristã no Povo de Deus.

Às vezes, a história, com os seus acontecimentos e os seus protagonistas, parece ir na direcção oposta ao plano do Pai celeste, que deseja para todos os seus filhos a justiça, a fraternidade, a paz. Mas nós somos chamados a viver esses períodos como estações de provação, de esperança e de espera vigilante da colheita. De facto, ontem como hoje, o Reino de Deus cresce no mundo de maneira misteriosa e surpreendente, revelando o poder escondido da pequena semente, a sua vitalidade vitoriosa. Por isto, nos momentos de escuridão e de dificuldades, nós não devemos nos abater, mas permanecer ancorados à fidelidade de Deus. Deus sempre salva, é o salvador.

Na segunda parábola, Jesus compara o Reino de Deus a um grãozinho de mostarda. É uma semente muito pequenina, mas desenvolve-se tanto que se torna a maior de todas as plantas do jardim: um crescimento surpreendente e imprevisível. Não é fácil para nós entrar nesta lógica da imprevisibilidade de Deus e aceitá-la nas nossas vidas. O Senhor sempre nos surpreende. É um convite para nos abrirmos com mais generosidade aos planos de Deus, tanto a nível pessoal como comunitário.

A autenticidade da missão da Igreja não é dada pelo sucesso ou pela gratificação dos resultados, mas pelo ir em frente com a coragem da confiança e o humilde abandono em Deus. É a consciência de ser instrumentos pequenos e fracos, que nas mãos de Deus e com a sua graça podem realizar grandes obras, fazendo progredir o seu Reino que é “justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Papa Francisco, Resumo do Angelus de 17 de Junho de 2018).

Palavra para o caminho

Na linguagem evangélica, a semente é símbolo da Palavra de Deus (…). Do mesmo modo como a semente humilde se desenvolve na terra, também a Palavra age com o poder de Deus no coração de quem a ouve. (…) E aqui gostaria de vos recordar mais uma vez a importância de ter o Evangelho, a Bíblia, ao alcance – o Evangelho pequeno na bolsa, no bolso – e de nos alimentarmos todos os dias com esta Palavra viva de Deus: ler todos os dias um excerto do Evangelho, um trecho da Bíblia. Nunca vos esqueçais disto, por favor. Porque é esta a força que faz germinar em nós a vida do Reino de Deus (Papa Francisco).

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Pedir o dom da saudável inquietação

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje é a festa de Santo António de Pádua. Quem de vós se chama António? Um aplauso a todos os “Antónios”. Hoje começamos um novo itinerário de catequeses sobre o tema dos mandamentos. Os mandamentos da lei de Deus. Para o introduzir, inspiramo-nos no trecho que acabamos de ouvir: o encontro entre Jesus e um homem — é um jovem — que, de joelhos, lhe pergunta como pode herdar a vida eterna (cf. Mc 10, 17-21). E naquela pergunta há o desafio de cada existência, também da nossa: o desejo de uma vida plena, infinita. Mas como fazer para a alcançar? Que caminho percorrer? Viver verdadeiramente, viver uma existência nobre… Quantos jovens procuram “viver” e depois destroem-se, indo atrás de coisas efémeras.

Alguns pensam que é melhor suprimir este impulso — o impulso de viver — porque é perigoso. Gostaria de dizer, especialmente aos jovens: o nosso pior inimigo não são os problemas concretos, por mais sérios e dramáticos que sejam: o maior perigo da vida é um mau espírito de adaptação, que não é mansidão nem humildade, mas mediocridade, pusilanimidade. Um jovem medíocre tem futuro ou não? Não! Permanece ali, não cresce, não terá sucesso. A mediocridade ou a pusilanimidade. Aqueles jovens que têm medo de tudo: “Não, eu sou assim…”. Estes jovens não irão em frente. Mansidão, fortaleza e nenhuma pusilanimidade, nenhuma mediocridade. O Beato Pier Giorgio Frassati — que era um jovem — dizia que é preciso viver, não ir vivendo. Os medíocres vão vivendo. Viver com a força da vida. É necessário pedir ao Pai celeste para os jovens de hoje o dom da saudável inquietação. Mas em casa, nos vossos lares, em cada família, quando se vê um jovem sentado o dia inteiro, às vezes a mãe e o pai pensam: “Mas ele está doente, tem algo”, e levam-no ao médico. A vida do jovem é ir em frente, ser desassossegado, a saudável inquietação, a capacidade de não se contentar com uma vida sem beleza, sem cor. Se os jovens não forem famintos de vida autêntica, pergunto-me, que fim terá a humanidade? Onde vai parar a humanidade com jovens quietos, e não inquietos?

A pergunta daquele homem do Evangelho que ouvimos ressoa dentro de cada um de nós: como se encontra a vida, a vida em abundância, a felicidade? Jesus responde: «Tu conheces os mandamentos» (v. 19), e cita uma parte do Decálogo. É um processo pedagógico, com o qual Jesus quer orientar para um lugar específico; com efeito, da sua pergunta já é claro que aquele homem não tem a vida plena, procura mais, está inquieto. Portanto, o que deve entender? Diz: «Mestre, «tenho observado tudo isto desde a minha mocidade!» (v. 20).

Como se passa da mocidade para a maturidade? Quando se começa a aceitar os próprios limites. Tornamo-nos adultos quando nos relativizamos e adquirimos a consciência daquilo «que falta» (cf. v. 21). Este homem é obrigado a reconhecer que tudo o que pode “fazer” não supera um “teto”, não vai além de uma margem.

Como é bom ser homens e mulheres! Como é preciosa a nossa existência! E no entanto, existe uma verdade que na história dos últimos séculos o homem rejeitou frequentemente, com consequências trágicas: a verdade dos seus limites.

No Evangelho, Jesus diz algo que nos pode ajudar: «Não julgueis que vim abolir a Lei ou os Profetas. Não vim para os abolir, mas sim para os levar a cumprimento» (Mt 5, 17). O Senhor Jesus concede o cumprimento, Ele veio para isto. Aquele homem devia chegar ao limiar de um salto, onde se abre a possibilidade de deixar de viver de si mesmo, das próprias obras, dos próprios bens e — precisamente porque falta a vida plena — deixar tudo para seguir o Senhor. Analisando bem, no convite final de Jesus — imenso, maravilhoso — não há a proposta da pobreza, mas da verdadeira riqueza: «Só te falta uma coisa; vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!» (v. 21).

Quem, podendo escolher entre um original e uma cópia, escolheria a cópia? Eis o desafio: encontrar o original da vida, não a cópia. Jesus não oferece sucedâneos, mas vida verdadeira, amor verdadeiro, riqueza verdadeira! Como poderão os jovens seguir-nos na fé, se não nos virem escolher o original, se nos virem habituados às meias-medidas? É desagradável encontrar cristãos medianos, cristãos — permiti-me a palavra — “anões”; crescem até a uma certa estatura e depois não; cristãos com o coração reduzido, fechado. É desagradável encontrar isto. É necessário o exemplo de alguém que me convida a um “além”, a um “acréscimo”, a crescer um pouco. Santo Inácio denominava-o “magis”, «o fogo, o fervor da ação, que desperta os sonolentos».

O caminho do que falta passa por aquilo que existe. Jesus não veio para abolir a Lei ou os Profetas, mas para levar a cumprimento. Devemos partir da realidade para dar o salto naquilo “que falta”. Temos que sondar o ordinário para nos abrirmos ao extraordinário.

Nestas catequeses pegaremos nas duas tábuas de Moisés como cristãos, de mãos dadas com Jesus, a fim de passar das ilusões da juventude para o tesouro que está no céu, caminhando atrás dele. Em cada uma daquelas leis, antigas e sábias, descobriremos a porta aberta pelo Pai que está nos céus para que o Senhor Jesus, que a cruzou, nos conduza à vida verdadeira. A sua vida. A vida dos filhos de Deus!

Papa Francisco, Audiência Geral, 13 de Junho de 2018

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Santo António -13 de Junho

Nasceu em Lisboa (Portugal) no final do século XII. Foi recebido entre os Cónegos Regulares de Santo Agostinho e pouco depois da sua ordenação sacerdotal ingressou na Ordem dos Frades Menores (Franciscanos) com a intenção de se dedicar à propagação da fé entre os povos da África. Mas foi na França e na Itália que ele exerceu com grande fruto o ministério da pregação e converteu muitos hereges. Foi o primeiro professor de teologia na sua Ordem. Escreveu vários sermões, cheios de doutrina e de unção espiritual. Morreu em Pádua no ano 1231.

Pensamentos de Santo António

– O Espírito Santo fala tantas vezes quantos os bons pensamentos que tivermos.

– O Espírito Santo queima os pecados, limpa os corações, sacode o torpor e ilumina a ignorância.

– Feliz aquele que arranca de si o coração de pedra e toma um coração de carne, capaz de se doer compungido das misérias dos pobres, de modo que a sua compaixão lhe sirva de consolo e este consolo lhe dissipe a avareza.

– Acredita o estulto no conselho da raposa, fiado em que o bem transitório e mutável seja verdadeiro e duradouro.

– Quem ama não conhece nada que seja difícil.

– O sol da glória mundana deve escurecer-se ao lembrarmo-nos da Paixão do Senhor.

– A esmola extingue a avareza.

– Quando te sorriem prosperidade mundana e prazeres, não te deixes encantar; não te apegues a eles; brandamente entram em nós, mas quando os temos dentro de nós, mordem-nos como serpentes.

– A paciência é a melhor maneira de vencer.

– Maria não afugenta nenhum pecador, antes, recebe a todos os que se refugiam nela e, por isso, é chamada Mãe de Misericórdia: é misericordiosa para com os miseráveis, é esperança para os desesperados.

– Assim como a flor, quando espalha o odor, não se corrompe, também o verdadeiramente humilde não se eleva quando louvado pelo perfume da sua vida de bondade.

– A caridade é a alma da fé. Se perdida, a fé morre.

Oração: Deus eterno e todo-poderoso, que em Santo António destes ao vosso povo um pregador insigne do Evangelho e um poderoso intercessor junto de Vós, concedei que, pelo seu auxílio, sigamos fielmente os ensinamentos da vida cristã e mereçamos a vossa protecção em todas as adversidades. Por Nosso Senhor Jesus Cristo vosso Filho que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo. Amen.

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10º Domingo do Tempo Comum – Ano B

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. Marcos (Mc 3, 20-35)

Naquele tempo, Jesus vem para casa com os seus discípulos. E de novo acorreu tanta gente, que eles nem sequer podiam comer um pedaço de pão. Ouvindo isto, os parentes de Jesus puseram-se a caminho para O deter, pois diziam: «Está fora de Si». Os escribas que tinham descido de Jerusalém diziam: «Está possesso de Belzebu», e ainda: «É pelo chefe dos demónios que Ele expulsa os demónios». Mas Jesus chamando-os a si, disse-lhes em parábolas: «Como pode Satanás expulsar Satanás? Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode subsistir. E se uma casa estiver dividida contra si mesma, tal casa não pode subsistir. E se Satanás se levantou contra si mesmo, está dividido e não pode subsistir, está para acabar. Ninguém pode entrar em casa de alguém forte e roubar-lhe os bens, sem primeiro o amarrar: só então poderá saquear a casa. Em verdade vos digo: Tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e blasfémias que tiverem proferido; mas quem blasfemar contra o Espírito Santo jamais tem perdão, pois é réu de pecado eterno». Referia-Se aos que diziam: «Está possesso de um espírito impuro». Entretanto, chegam a sua Mãe e os seus irmãos, que, estando fora, O mandaram chamar. A multidão estava sentada em volta d’Ele, quando Lhe dizem: «Eis que a tua Mãe e os teus irmãos estão lá fora à tua procura». Mas Jesus respondeu-lhes: «Quem é a minha Mãe e os meus irmãos?». E, olhando em redor para os que estavam sentados à sua volta, diz: «Eis a minha Mãe e os meus irmãos. Pois quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, irmã e Mãe».

Reflexão

O Evangelho deste domingo (cf. Mc 3, 20-35) mostra-nos dois tipos de incompreensão que Jesus teve que enfrentar: a dos escribas e a dos seus próprios familiares.

A primeira incompreensão. Os escribas eram homens instruídos nas Sagradas Escrituras e encarregados de as explicar ao povo. Alguns deles são enviados de Jerusalém à Galileia, onde a fama de Jesus começava a difundir-se, a fim de o desacreditar aos olhos do povo; para desempenhar a função de linguarudos, desacreditar o outro, privar da autoridade, que coisa feia! E eles foram enviados para fazer isto. Estes escribas chegam com a acusação clara e terrível — eles não poupam meios, vão ao centro e dizem o seguinte: «Ele tem Belzebu, é pelo príncipe dos demónios que expulsa os demónios» (v. 22). Ou seja, é o chefe dos demónios que O impele; que equivale a dizer mais ou menos: “ele é um endemoninhado”. Com efeito, Jesus curava muitos doentes, e eles pretendem fazer crer que não o faz com o Espírito de Deus — como fazia Jesus — mas com o do Maligno, com a força do diabo. Jesus reage com palavras fortes e claras, não tolera isto, pois aqueles escribas, talvez sem se darem conta, estão a cair no pecado mais grave: negar e blasfemar o Amor de Deus que está presente e age em Jesus. E a blasfema, o pecado contra o Espírito Santo, é o único pecado imperdoável — assim diz Jesus — porque parte de um fechamento do coração à misericórdia de Deus que age em Jesus.

Mas este episódio contém uma admoestação que serve a todos nós. Com efeito, pode acontecer que uma grande inveja pela bondade e pelas boas obras de uma pessoa possa levar a acusá-la falsamente. Há nisto um grande veneno mortal: a maldade com que, de maneira intencional se pretende destruir a boa fama do outro. Deus nos livre desta terrível tentação! E se, examinando a nossa consciência, nos apercebemos que esta erva daninha está a germinar dentro de nós, vamos imediatamente confessá-lo no sacramento da Penitência, antes que se desenvolva e produza os seus efeitos malvados, que são incuráveis. Estai atentos, pois esta atitude destrói as famílias, as amizades, as comunidades e até a sociedade.

O Evangelho de hoje fala-nos também de outra incompreensão, muito diversa, em relação a Jesus: a dos seus familiares. Eles estavam preocupados, porque a sua nova vida itinerante lhes parecia uma loucura (cf. v. 21). Com efeito, Ele mostrava-se muito disponível com o povo, sobretudo com os doentes e os pecadores, a ponto de não ter tempo nem sequer para comer. Jesus era assim: primeiro as pessoas, servir o povo, ajudar o povo, ensinar ao povo, curar as pessoas. Era para as pessoas. Não tinha tempo nem sequer para comer. Por conseguinte, os seus familiares decidem reconduzi-lo a Nazaré, a casa. Chegam ao lugar onde Jesus está a pregar e mandam chamá-lo. Disseram-lhe: «Estão ali fora, Tua mãe e Teus irmãos que te procuram» (v. 32). Ele respondeu: «Quem são Minha mãe e Meus irmãos?», e olhando para as pessoas que estavam em seu redor a ouvi-lo, acrescentou: «Aí estão Minha mãe e Meus irmãos. Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é Meu irmão, Minha irmã e Minha mãe» (vv. 33-34). Jesus formou uma nova família, já não baseada nos vínculos de sangue, mas na fé n’Ele, no seu amor que nos acolhe e nos une, no Espírito Santo. Todos aqueles que acolherem a palavra de Jesus são filhos de Deus e irmãos entre si. Acolher a palavra de Jesus torna-nos irmãos entre nós, faz de nós a família de Jesus. Falar mal dos outros, destruir a fama dos outros, torna-nos a família do diabo.

Aquela resposta de Jesus não é uma falta de respeito para com a sua mãe e os seus familiares. Aliás, para Maria é o maior reconhecimento, pois precisamente ela é a discípula perfeita que obedeceu em tudo à vontade de Deus. Que a Virgem Mãe nos ajude a viver sempre em comunhão com Jesus, reconhecendo a obra do Espírito Santo que age n’Ele e na Igreja, regenerando o mundo para a vida nova.

Papa Francisco, Angelus, 10 de Junho de 2018

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