4º Domingo da Quaresma – Ano A

Eu sou a luz do mundo. Quem me segue jamais andará nas trevas” (Jo 8,12)

No centro da liturgia do 4º Domingo da Quaresma, Ano A, encontra-se o tema da luz. O Evangelho (Jo 9,1-41) conta o episódio do homem cego de nascença, ao qual Jesus dá a vista. Este sinal milagroso é a confirmação da afirmação de Jesus que diz de si mesmo: “Eu sou a luz do mundo”, a luz que ilumina as nossas trevas.

Jesus opera a iluminação a dois níveis: ao nível físico e ao nível espiritual. O cego primeiro recebe a vista dos olhos e depois é levado à fé no “Filho do homem”, ou seja, em Jesus. Os prodígios realizados por Jesus não são gestos espectaculares, mas têm a finalidade de levar à fé através de um caminho de transformação interior.

Os fariseus e os doutores da lei obstinam-se em não admitir o milagre, e dirigem perguntas insidiosas ao homem curado, mas ele desconcerta-os com a força da realidade: “uma coisa eu sei: eu era cego e agora vejo”. No meio da indiferença e da hostilidade dos que o circundam e o interrogam incrédulos, ele realiza um itinerário que o leva gradualmente a descobrir a identidade d’Aquele que lhe abriu os olhos e a confessar a fé n’Ele. Primeiro considera-o um profeta; depois reconhece-o como alguém que vem de Deus; por fim, acolhe-o como o Messias e prostra-se diante d’Ele. Entendeu que tendo-lhe dado a vista Jesus manifestou as obras de Deus.

Com a luz da fé aquele que era cego descobre a sua nova identidade. Ele já é uma “nova criatura”, capaz de ver numa nova luz a sua vida e o mundo que o circunda, porque entrou em comunhão com Cristo. Não é mais um mendigo pedinte e marginalizado pela comunidade; não é mais escravo da cegueira e do preconceito. O seu caminho de iluminação é metáfora do percurso de libertação do pecado ao qual somos chamados.

O pecado é como um véu escuro que cobre o nosso rosto e nos impede de ver claramente a nós mesmos e ao mundo; o perdão do Senhor tira esse manto de sombra e de treva e restitui-nos nova luz.

O cego curado, que vê tanto com os olhos do corpo como com os da alma, é a imagem de todo o baptizado, que imerso na Graça foi arrancado das trevas e colocado na luz da fé. Mas não basta receber a luz, é preciso tornar-se luz. Cada um de nós é chamado a acolher a luz divina para manifestá-la com toda a própria vida. A semente de vida nova colocada em nós no Baptismo é como centelha de um fogo, que purifica antes de tudo a nós, queimando o mal que temos no coração, e nos permite brilhar e iluminar. Com a luz de Jesus.

Papa Francisco, Angelus (resumo), 22 de Março, 2020