Ternura e compaixão

E finalmente a terceira linha: ternura e compaixão. O contemplativo tem um coração compassivo. Quando o amor enfraquece, tudo perde sabor. O amor, diligente e criativo, é bálsamo para os que estão cansados ​​e esgotados (cf. Mt 11,28), para os que sofrem o abandono, o silêncio de Deus, o vazio da alma, o amor despedaçado. Se um dia, à nossa volta, não houver mais pessoas doentes e famintas, abandonadas e desprezadas – os menores de que fala a vossa tradição mendicante – não é porque não se encontrem aí, mas simplesmente porque não as vemos. Os pequenos (cf. Mt 25, 31-46) e os descartados (cf. A Alegria do Evangelho, nº 53) sempre os teremos (cf. Jo 12,8), a oferecer-nos uma oportunidade para que a contemplação seja uma janela aberta à beleza, à verdade e à bondade. “Quem ama a Deus deve procurá-lo nos pobres”, nos “irmãos de Jesus”, como disse o Beato Angelo Paoli, de quem ireis celebrar brevemente o terceiro centenário da sua morte. Que possais ter sempre a bondade de os procurar! A confiança absoluta do Beato Angelo Paoli na providência divina fazia-o exclamar com alegria: “Tenho uma despensa na qual nada falta!”. Que a vossa despensa transborde compaixão diante de qualquer forma de sofrimento humano!

A contemplação seria apenas qualquer coisa momentânea se se reduzisse a arroubos e êxtases que nos afastasse das alegrias e das preocupações das pessoas. Devemos desconfiar do contemplativo que não é compassivo. A ternura, segundo o estilo de Jesus (cf. Lc 10,25-37), protege-nos da “pseudo-mística”, da “solidariedade de fim de semana” e da tentação de ficar longe das feridas do corpo de Cristo. Três perigos: a “pseudo-mistica”, o “fim de semana solidário” e a tentação de ficar longe das feridas do corpo de Cristo. As feridas de Jesus são também ainda hoje visíveis no corpo dos irmãos que são despojados, humilhados e escravizados. Tocando estas feridas, acariciando-as, é possível adorar o Deus vivo no meio de nós. Hoje é necessário fazer uma revolução da ternura (cf. A Alegria do Evangelho, nnº 88; 288) para que nos torne mais sensíveis diante das noites escuras e dos dramas da humanidade.

Caríssimos irmãos, agradeço-vos por este encontro. Que a Virgem do Carmelo sempre vos acompanhe e proteja todos aqueles que colaboram convosco e se inspiram na vossa espiritualidade. E, por favor, confiai-me também a mim à sua maternal protecção. Obrigado!

Papa Francisco aos participantes no Capítulo Geral da Ordem Carmelita