Ano da Fé – LIX

PapaFrancisco

Creio na Igreja apostólica

Jesus chamou os apóstolos como seus colaboradores mais próximos. Eles eram as suas testemunhas oculares. Após a sua ressurreição, apareceu-lhes várias vezes, deu-lhes o Espírito Santo e enviou-os ao mundo como seus mensageiros plenipotenciários. Na Igreja jovem, eram a garantia da unidade. Através da imposição das mãos, transmitiram aos seus sucessores, os bispos, o seu envio e os seus plenos poderes. E foi assim até hoje. Este processo é designado por sucessão apostólica.

A Igreja é apostólica porque procede da missão confiada por Jesus aos apóstolos e porque acolhe na obediência da fé a Revelação que os apóstolos lhe transmitiram. Ela sente-se responsável por transmitir, de geração em geração, sob a acção do Espírito Santo, esta revelação, consignada na Sagrada Escritura.

A Igreja é apostólica porque a sua fé é apostólica, isto é, recebida dos apóstolos. A fé apostólica é um bem e uma responsabilidade, partilhados pelo conjunto do povo de Deus. À Igreja como tal é prometida a fidelidade a esta fé.

A Igreja é igualmente apostólica porque convocada e ordenada pelos sucessores dos apóstolos que são os bispos. A história da Igreja atesta a sucessão ininterrupta do ministério apostólico dos bispos e, ao mesmo tempo, do cuidado permanente pela transmissão fiel da fé recebida dos apóstolos.

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Ano da Fé – LV

m1-007

A Igreja, Corpo de Cristo

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje medito sobre uma outra expressão com que o Concílio Vaticano II indica a natureza da Igreja: a do corpo; o Concilio afirma que a Igreja é o Corpo de Cristo (cf. Lumen gentium, 7).

Gostaria de começar a partir de um texto dos Actos dos Apóstolos, que nós conhecemos bem: a conversão de Saulo, que depois se chamará Paulo, um dos maiores evangelizadores (cf. At 9, 4-5). Saulo é um perseguidor dos cristãos, mas enquanto percorre o caminho que leva à cidade de Damasco, é repentinamente envolvido por uma luz, cai no chão e ouve uma voz que lhe diz: «Saulo, Saulo, por que me persegues?». Ele pergunta: «Quem és, ó Senhor?», e aquela voz responde: «Sou Jesus, a quem tu persegues» (vv. 3-5). Esta experiência de São Paulo revela-nos como é profunda a união entre nós, cristãos, e o próprio Cristo. Quando Jesus subiu ao céu, não nos deixou órfãos, mas com o dom do Espírito Santo a união com Ele tornou-se ainda mais intensa. O Concílio Vaticano II afirma que, «comunicando o seu Espírito, [Jesus] fez misteriosamente de todos os seus irmãos, chamados de entre todos os povos, como que o seu próprio Corpo» (Const. Dogm. Lumen gentium, 7).

A imagem do corpo ajuda-nos a compreender este profundo vínculo Igreja-Cristo, que são Paulo desenvolveu de modo particular na Primeira Carta aos Coríntios (cf. cap. 12). Antes de tudo, o corpo chama-nos a uma realidade viva. A Igreja não é uma associação assistencial, cultural ou política, mas sim um corpo vivo, que caminha e age na história. E este corpo tem uma cabeça que o guia, alimenta e sustém. Este é um ponto que eu gostaria de frisar: se separarmos a cabeça do resto do corpo, a pessoa inteira não consegue sobreviver. Assim é na Igreja: devemos permanecer ligados de modo cada vez mais intenso a Jesus. Mas não só: como num corpo é importante que passe a linfa vital porque está viva, assim também devemos permitir que Jesus aja em nós, que a sua Palavra nos oriente, que a sua presença eucarística nos alimente e nos anime, que o seu amor infunda força no nosso amor ao próximo. E isto sempre! Sempre, sempre! Estimados irmãos e irmãs, permaneçamos unidos a Jesus, confiemos nele, orientemos a nossa vida segundo o seu Evangelho, alimentemo-nos com a oração quotidiana, com a escuta da Palavra de Deus e com a participação nos Sacramentos.

E chegamos assim a um segundo aspecto da Igreja como Corpo de Cristo. São Paulo afirma que, assim como os membros do corpo humano, embora sejam diferentes e numerosos, formam um único corpo, do mesmo modo todos nós fomos baptizados mediante um só Espírito, num único corpo (cf. 1 Cor 12, 12-13). Portanto, na Igreja existe uma variedade, uma diversidade de tarefas e de funções; não há uma uniformidade plana, mas a riqueza dos dons distribuídos pelo Espírito Santo. Há comunhão e unidade: todos estão em relação uns com os outros, e todos concorrem para formar um único corpo vital, profundamente ligado a Cristo. Recordemo-lo bem: fazer parte da Igreja quer dizer estar unido a Cristo e receber dele a vida divina que nos faz viver como cristãos, significa permanecer unido ao Papa e aos Bispos, que são instrumentos de unidade e de comunhão, e quer dizer também aprender a superar personalismos e divisões, a entender-se em maior medida uns aos outros, a harmonizar as variedades e as riquezas de cada um; em síntese, a amar mais Deus e as pessoas que estão ao nosso redor, em família, na paróquia e nas associações. Para viver, corpo e membros devem estar unidos! A unidade é superior aos conflitos, sempre! Se não se resolvem bem, os conflitos separam-nos uns dos outros, afastam-nos de Deus. O conflito pode ajudar-nos a crescer, mas também pode dividir-nos. Não percorramos o caminho das divisões, das lutas entre nós!

Todos unidos, todos unidos com as nossas diferenças, mas sempre unidos: este é o caminho de Jesus. A unidade é superior aos conflitos. A unidade é uma graça que devemos pedir ao Senhor, a fim de que nos liberte das tentações da divisão, das lutas entre nós, dos egoísmos e dos mexericos. Quanto mal fazem as bisbilhotices! Nunca murmuremos dos outros, jamais! Quanto dano causam à Igreja as divisões entre os cristãos, o partidarismo, os interesses mesquinhos!

As divisões entre nós, mas também entre as comunidades: cristãos evangélicos, cristãos ortodoxos e cristãos católicos, mas por que motivo divididos? Devemos procurar promover a unidade. Digo-vos uma coisa: hoje, antes de sair de casa, passei mais ou menos quarenta minutos, ou meia hora, com um Pastor evangélico e pudemos rezar juntos, procurando a unidade. Mas devemos rezar entre nós, católicos, e também com os outros cristãos; orar para que o Senhor nos conceda a unidade, a unidade entre nós. Mas como teremos a unidade entre os cristãos, se não somos capazes de a ter entre nós, católicos? De a ter em família? Quantas famílias lutam e se dividem! Procurai a unidade, a unidade que faz a Igreja. A unidade vem de Jesus Cristo. Ele envia-nos o Espírito Santo para realizar a unidade.

Estimados irmãos e irmãs, peçamos a Deus: ajudai-nos a ser membros do Corpo da Igreja, sempre profundamente unidos a Cristo; ajudai-nos a não fazer com com que o Corpo da Igreja sofra devido aos nossos conflitos, às nossas divisões e aos nossos egoísmos; ajudai-nos a ser membros vivos, ligados uns aos outros por uma única força, a do amor, que o Espírito Santo derrama nos nossos corações (cf. Rm 5, 5).

Papa Francisco

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Ano da Fé – LIV

 apy

A Igreja, povo de Deus

Caros irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje gostaria de meditar brevemente sobre outra expressão com a qual o Concílio Vaticano II definiu a Igreja: «Povo de Deus» (cf. Constituição dogmática Lumen Gentium 9; Catecismo da Igreja Católica, nº 782). E faço-o mediante algumas perguntas, acerca das quais cada um poderá reflectir.

O que quer dizer ser «Povo de Deus»? Antes de tudo, significa que Deus não pertence de modo próprio a qualquer povo, pois é Ele que nos chama, que nos convoca, que nos convida a fazer parte do seu povo, e este convite é dirigido a todos, sem distinção, porque a misericórdia de Deus «deseja que todos os homens se salvem» (1 Tm 2, 4). Jesus não diz aos Apóstolos e a nós que formemos um grupo exclusivo, um grupo de elite. Jesus diz: ide e ensinai todas as nações (cf. Mt 28, 19). São Paulo afirma que no povo de Deus, na Igreja, «Já não há judeu nem grego… pois todos vós sois um só em Cristo Jesus» (Gl 3, 28). Gostaria de dizer inclusive àqueles que se sentem distantes de Deus e da Igreja, a quem é medroso ou indiferente, a quantos pensam que já não podem mudar: o Senhor chama-te, também a ti, a fazer parte do seu povo, e fá-lo com grande respeito e amor! Ele convida-nos a fazer parte deste povo, do povo de Deus.

Como nos tornamos membros deste povo? Não é através do nascimento físico, mas mediante um novo nascimento. No Evangelho, Jesus diz a Nicodemos que é preciso nascer do alto, da água e do Espírito para entrar no Reino de Deus (cf. Jo 3, 3-5). É através do Baptismo que nós somos introduzidos neste povo, mediante a fé em Cristo, dom de Deus que deve ser alimentado e desenvolver-se em toda a nossa vida. Perguntemo-nos: como faço crescer a fé que recebi no meu Baptismo? Como faço crescer esta fé que recebi e que o povo de Deus possui?

Outra pergunta. Qual é a lei do Povo de Deus? É a lei do amor, amor a Deus e amor ao próximo, segundo o mandamento novo que o Senhor nos deixou (cf. Jo 13, 34). Mas trata-se de um amor que não é sentimentalismo estéril, nem algo de vago, mas sim o reconhecimento de Deus como único Senhor da vida e, ao mesmo tempo, o acolhimento do outro como verdadeiro irmão, superando divisões, rivalidades, incompreensões e egoísmos; são dois elementos que caminham juntos. Quanto caminho ainda temos que percorrer, para viver concretamente esta nova lei, a do Espírito Santo que age em nós, a da caridade, do amor! Lemos nos jornais ou vemos na televisão que há muitas guerras entre cristãos; como pode acontecer isto? Quantas guerras no seio do povo de Deus! Nos bairros, nos lugares de trabalho, quantas guerras por inveja, ciúmes! Até na mesma família, quantas guerras internas! Devemos pedir ao Senhor que nos faça compreender bem esta lei do amor. Como é bom amar-nos uns aos outros, como verdadeiros irmãos. Como é bom! Hoje façamos algo. Talvez todos nós tenhamos simpatias e antipatias; talvez muitos de nós tenhamos um pouco de raiva a alguém; então, digamos ao Senhor: Senhor, estou enraivecido com ele ou com ela; rezo a Ti por ele e por ela. Orar por aqueles com os quais estamos irados é um bom passo em frente nesta lei do amor. Façamo-lo? Façamo-lo, hoje mesmo!

Que missão tem este povo? A missão de levar ao mundo a esperança e a salvação de Deus: ser sinal do amor de Deus que chama todos à amizade com Ele; ser fermento que faz levedar toda a massa, sal que dá sabor e que preserva da corrupção, ser luz que ilumina. Ao nosso redor, é suficiente ler um jornal — como eu disse — para ver que a presença do mal existe, que o Diabo age. Mas gostaria de dizer em voz alta: Deus é mais forte! Vós acreditais nisto, que Deus é mais forte? Então digamo-lo juntos, digamo-lo todos juntos: Deus é mais forte! E sabeis por que motivo é mais forte? Porque Ele é o Senhor, o único Senhor! E gostaria de acrescentar também que a realidade às vezes obscura, marcada pelo mal, pode mudar, se formos os primeiros a transmitir a luz do Evangelho, principalmente através da nossa própria vida. Se num estádio, pensemos aqui em Roma no Olímpico, ou naquele de São Lourenço em Buenos Aires, numa noite escura, uma pessoa acende uma luz, mal se entrevê; mas se os mais de setenta mil espectadores acendem a própria luz, o estádio ilumina-se. Façamos com que a nossa vida seja uma luz de Cristo; juntos, levaremos a luz do Evangelho a toda a realidade.

Qual é a finalidade deste povo? A finalidade é o Reino de Deus, encetado na terra pelo próprio Deus e que deve ser ampliado até ao seu cumprimento, quando voltar Cristo, nossa vida (cf. Lumen gentium, 9). Então, a finalidade é a comunhão plena com o Senhor, a familiaridade com o Senhor, entrar na sua própria vida divina, onde viveremos a alegria do seu amor incomensurável, uma alegria plena.

Estimados irmãos e irmãs, ser Igreja, ser Povo de Deus, segundo o grande desígnio de amor do Pai, quer dizer ser o fermento de Deus nesta nossa humanidade, significa anunciar e levar a salvação de Deus a este nosso mundo, que muitas vezes se sente perdido, necessitado de respostas que animem, que infundam esperança e que dêem um vigor renovado ao caminho. A Igreja seja lugar da misericórdia e da esperança de Deus, onde cada qual possa sentir-se acolhido, amado, perdoado e encorajado a viver em conformidade com a vida boa do Evangelho. E para fazer com que o outro se sinta acolhido, amado, perdoado e encorajado, a Igreja deve manter as suas portas abertas, a fim de que todos possam entrar. E nós temos que sair através de tais portas e anunciar o Evangelho.

 

Papa Francisco

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