Porventura nem sabemos o que é amar, e não me espantarei muito; porque não está no maior gosto, mas sim na maior determinação de desejar contentar a Deus em tudo e procurar, tanto quanto podermos, não O ofender.
Santa Teresa de Jesus
AbrirPorventura nem sabemos o que é amar, e não me espantarei muito; porque não está no maior gosto, mas sim na maior determinação de desejar contentar a Deus em tudo e procurar, tanto quanto podermos, não O ofender.
Santa Teresa de Jesus
AbrirMuitas vezes é impossível mudar de vida, abandonar o caminho do egoísmo, do mal, abandonar o caminho do pecado, porque concentramos o compromisso de conversão apenas em nós mesmos e nas próprias forças, e não em Cristo e no seu Espírito. Mas a nossa adesão ao Senhor não pode ser reduzida a um esforço pessoal, não. Pensar assim seria também um pecado de orgulho. A nossa adesão ao Senhor não pode ser reduzida a um esforço pessoal, mas deve ser expressa numa abertura confiante de coração e mente para acolher a Boa Nova de Jesus. É esta – a Palavra de Jesus, a Boa Nova de Jesus, o Evangelho – que muda o mundo e os corações! Somos chamados, portanto, a confiar na palavra de Cristo, a abrir-nos à misericórdia do Pai e a deixar-nos transformar pela graça do Espírito Santo.
Papa Francisco, Angelus, 26 de Fevereiro, 2020
Abrir«Convertei-vos, porque está próximo o Reino do Céu» (4, 17). Esta é a base de todos os seus discursos: dizer-nos que o Reino do Céu está próximo. E que significa isto? Por Reino do Céu, entende-se o reino de Deus, ou o seu modo de reinar, de situar-se relativamente a nós. Ora Jesus diz-nos que o Reino do Céu está próximo, que Deus está próximo… Deus não está longe, Aquele que habita nos céus desceu à terra, fez-Se homem. Removeu as barreiras, eliminou as distâncias. Não é mérito nosso: Ele desceu, veio ao nosso encontro…
Deus veio pessoalmente visitar-nos, fazendo-Se homem. Não tomou a nossa condição humana por um sentido de dever, mas por amor. Amorosamente tomou a nossa humanidade, porque toma-se aquilo que se ama. E Deus tomou a nossa humanidade, porque nos ama e, gratuitamente, quer-nos dar a salvação que, sozinhos, não poderíamos obter. Deseja estar connosco, dar-nos o encanto de viver, a paz do coração, a alegria de ser perdoados e nos sentirmos amados.
Deste modo compreendemos o convite que nos dirigiu Jesus: «convertei-vos», isto é, «mudai de vida». Mudai de vida, porque começou um modo novo de viver: acabou o tempo de viver para si mesmo, começou o tempo de viver com Deus e para Deus, com os outros e para os outros, com amor e por amor. Hoje Jesus repete o mesmo a ti: «Coragem, estou próximo de ti, dá-Me espaço e a tua vida mudará!» Jesus bate à porta. É para isto que o Senhor te dá a sua Palavra: para que a recebas como a carta de amor que escreveu para ti, para fazer-te sentir que Ele está junto de ti. A sua Palavra consola-nos e encoraja-nos; ao mesmo tempo provoca a conversão, abana connosco, liberta-nos da paralisia do egoísmo. Pois a sua Palavra tem este poder: o poder de mudar a vida, de fazer passar da escuridão à luz. Esta é a força da sua Palavra.
Papa Francisco, Citação da Homilia do “Domingo da Palavra de Deus”, 26 de Janeiro, 2020
AbrirVinde e segui-Me e farei de vós pescadores de homens
O Evangelho de hoje (Mateus 4,12-23) relativo ao 3º Domingo do Tempo Comum – Ano A, refere que quando Jesus soube que João Baptista foi preso, voltou para a Galileia e retomou a mesma mensagem de João: “Arrependei-vos, porque o Reino de Deus está próximo!”. A pregação do Evangelho traz riscos. Ao anotar a prisão de João Baptista, o narrador não só está a registar um facto histórico, mas também a desvendar já aquilo que um dia acontecerá também a Jesus. Mas Jesus não volta atrás. Deste modo, Mateus anima as comunidades cristãs (de ontem e de hoje) que corriam (correm) riscos de perseguição.
Jesus não parte de Jerusalém, com uma acção fulgurante, como seria de esperar, mas da periferia. Mateus justifica-o, citando o profeta Isaías: “Terra de Zabulão e terra de Neftali, estrada do mar, além do Jordão, Galileia dos gentios: o povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam na sombria região da morte uma luz se levantou”. A luz que havia de iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte é Jesus, o qual, como que em nova criação e em novo êxodo fará brilhar a luz da salvação, em primeiro lugar na região humilhada da Galileia, para depois a estender aos pagãos. Desde o início a missão de Jesus é universal.
Ainda antes de nos convidar a que nos interessemos por Deus, é Deus que se interessa primeiro por nós, tomando a iniciativa de percorrer as nossas estradas para nos vir visitar! Confirma-o Evangelho! Jesus caminha ao longo das praias do Mar da Galileia, e vê dois irmãos, Simão e André, ocupados nos trabalhos da pesca, e diz-lhes: “Vinde atrás de mim”. A resposta é imediata: “Deixaram logo as redes, e seguiram-no!”. E andando um pouco mais, viu outros dois irmãos, Tiago e João, que, com o pai, Zebedeu, remendavam as redes na barca. Também os chamou. E também eles deixaram logo a barca e o pai, e seguiram-no.
Jesus desce ao nosso mundo, caminha pelas nossas estradas e vem ter connosco aos nossos lugares de trabalho. E é aí que nos chama. Não espera por nós no cenário sagrado das nossas Igrejas! Não nos obriga a fazer uma inscrição, a preencher uma ficha, a aprender uma doutrina, nem sequer nos entrega um projecto de vida, um guião, uma regra, mas chama-nos a segui-lo (“vinde atrás de mim”), e partilha connosco a sua vida, como o Mestre faz com os seus discípulos.
Este 3º Domingo do Tempo Comum é, por vontade do Papa Francisco, o Domingo da Palavra de Deus. “A dedicação dum Domingo do Ano Litúrgico particularmente à Palavra de Deus permite, antes de mais nada, fazer a Igreja reviver o gesto do Ressuscitado que abre, também para nós, o tesouro da sua Palavra, para podermos ser no mundo arautos desta riqueza inexaurível (Papa Francisco, Aperuit illis, nº 2). Deixemos que a Palavra nos forme e não apenas nos informe, e desabroche num jardim de canteiros com toda a espécie de flores de todas as cores e de todos os odores pois: “Quem poderá compreender, Senhor, toda a riqueza duma só das tuas palavras? Como o sedento que bebe da fonte, muito mais é o que perdemos do que o que tomamos. A tua palavra apresenta muitos aspectos diversos, como diversas são as perspectivas daqueles que a estudam. O Senhor pintou a sua palavra com muitas belezas, para que aqueles que a perscrutam possam contemplar aquilo que preferirem. Escondeu na sua palavra todos os tesouros, para que cada um de nós se enriqueça em qualquer dos pontos que medita” (Santo Efrém).
Abrir
– A dedicação dum Domingo do Ano Litúrgico particularmente à Palavra de Deus permite, antes de mais nada, fazer a Igreja reviver o gesto do Ressuscitado que abre, também para nós, o tesouro da sua Palavra, para podermos ser no mundo arautos desta riqueza inexaurível (Aperuit illis, nº 2).
– Portanto estabeleço que o III Domingo do Tempo Comum seja dedicado à celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus. As comunidades encontrarão a forma de viver este Domingo como um dia solene. Entretanto será importante que, na celebração eucarística, se possa entronizar o texto sagrado, de modo a tornar evidente aos olhos da assembleia o valor normativo que possui a Palavra de Deus (Aperuit illis, nº 3).
– A Bíblia não pode ser património só de alguns e, menos ainda, uma colectânea de livros para poucos privilegiados. A Bíblia é o livro do povo do Senhor que, escutando-a, passa da dispersão e divisão à unidade. A Palavra de Deus une os crentes e faz deles um só povo (Aperuit illis, nº 4).
– Por isso, é preciso dedicar tempo conveniente à preparação da homilia. Nunca nos cansemos de dedicar tempo e oração à Sagrada Escritura, para que seja acolhida, «não como palavra de homens, mas como ela é realmente, palavra de Deus» (1 Ts 2, 13) (Aperuit illis, nº 5).
– É bom também que os catequistas, atendendo ao ministério que desempenham de ajudar a crescer na fé, sintam a urgência de se renovar através da familiaridade e estudo das Sagradas Escrituras, que lhes consintam promover um verdadeiro diálogo entre aqueles que os escutam e a Palavra de Deus (Aperuit illis, nº 5).
– O dia dedicado à Bíblia pretende ser, não «uma vez no ano», mas uma vez por todo o ano, porque temos urgente necessidade de nos tornar familiares e íntimos da Sagrada Escritura e do Ressuscitado, que não cessa de partir a Palavra e o Pão na comunidade dos crentes. Para tal, precisamos de entrar em confidência assídua com a Sagrada Escritura; caso contrário, o coração fica frio e os olhos permanecem fechados, atingidos, como somos, por inumeráveis formas de cegueira (Aperuit illis, nº 8)
– Se uma pessoa ouvir a sua voz e Lhe abrir a porta, Ele entra para cear junto com ela (cf. 3, 20). Cristo Jesus bate à nossa porta através da Sagrada Escritura; se ouvirmos e abrirmos a porta da mente e do coração, então Ele entra na nossa vida e permanece connosco (Aperuit illis, nº 8).
– A Bíblia não é uma colectânea de livros de história nem de crónicas, mas está orientada completamente para a salvação integral da pessoa. A inegável radicação histórica dos livros contidos no texto sagrado não deve fazer esquecer esta finalidade primordial: a nossa salvação. Tudo está orientado para esta finalidade inscrita na própria natureza da Bíblia, composta como história de salvação na qual Deus fala e age para ir ao encontro de todos os homens e salvá-los do mal e da morte (Aperuit illis, nº 9).
– Por isso, é necessário ter confiança na acção do Espírito Santo que continua a realizar uma sua peculiar forma de inspiração, quando a Igreja ensina a Sagrada Escritura, quando o Magistério a interpreta de forma autêntica (cf. ibid., 10) e quando cada crente faz dela a sua norma espiritual (Aperuit illis, nº 10).
– Quem se alimenta dia a dia da Palavra de Deus torna-se, como Jesus, contemporâneo das pessoas que encontra; não se sente tentado a cair em nostalgias estéreis do passado, nem em utopias desencarnadas relativas ao futuro (Aperuit illis, nº 12).
– Outra provocação que nos vem da Sagrada Escritura tem a ver com a caridade. A Palavra de Deus apela constantemente para o amor misericordioso do Pai, que pede a seus filhos para viverem na caridade. A vida de Jesus é a expressão plena e perfeita deste amor divino, que nada guarda para si, mas a todos se oferece sem reservas. Escutar as Sagradas Escrituras para praticar a misericórdia: este é um grande desafio lançado à nossa vida (Aperuit illis, nº 13).
Com o documento “Aperuit illis” (“Abriu-lhes”), o Papa Francisco estabelece que “o III Domingo do Tempo Comum” seja o “Domingo da Palavra de Deus”.
Decidimos fazer um “resumo” desta Carta para realçar algumas ideias fortes que o Santo Padre quer partilhar, para que “Possa o Domingo dedicado à Palavra fazer crescer no povo de Deus uma religiosa e assídua familiaridade com as Sagradas Escrituras, tal como ensinava o autor sagrado já nos tempos antigos: esta palavra «está muito perto de ti, na tua boca e no teu coração, para a praticares» (Dt 30, 14)”. O que é publicado é de responsabilidade única de “Caminhos Carmelitas”.
Aperuit illis (Abriu-lhes)
1. «ABRIU-LHES o entendimento para compreenderem as Escrituras» (Lc 24, 45). Trata-se de um dos últimos gestos realizados pelo Senhor ressuscitado, antes da sua Ascensão. Encontrando-se os discípulos reunidos, Jesus aparece-lhes, parte o pão com eles e abre-lhes o entendimento à compreensão das Sagradas Escrituras. Revela àqueles homens, temerosos e desiludidos, o sentido do mistério pascal, ou seja, que Ele, segundo os desígnios eternos do Pai, devia sofrer a paixão e ressuscitar dos mortos para oferecer a conversão e o perdão dos pecados (cf. Lc 24, 26.46-47); e promete o Espírito Santo que lhes dará a força para serem testemunhas deste mistério de salvação (cf. Lc 24, 49).
2. No termo do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, pedi que se pensasse num «Domingo dedicado inteiramente à Palavra de Deus, para compreender a riqueza inesgotável que provém daquele diálogo constante de Deus com o seu povo» (Carta ap. Misericordia et misera, 7). A dedicação dum Domingo do Ano Litúrgico particularmente à Palavra de Deus permite, antes de mais nada, fazer a Igreja reviver o gesto do Ressuscitado que abre, também para nós, o tesouro da sua Palavra, para podermos ser no mundo arautos desta riqueza inexaurível. A propósito, voltam à mente os ensinamentos de Santo Efrém: «Quem poderá compreender, Senhor, toda a riqueza duma só das tuas palavras? Como o sedento que bebe da fonte, muito mais é o que perdemos do que o que tomamos. A tua palavra apresenta muitos aspectos diversos, como diversas são as perspectivas daqueles que a estudam. O Senhor pintou a sua palavra com muitas belezas, para que aqueles que a perscrutam possam contemplar aquilo que preferirem. Escondeu na sua palavra todos os tesouros, para que cada um de nós se enriqueça em qualquer dos pontos que medita» (Comentários sobre o Diatessaron, 1, 18).
Assim, com esta Carta, pretendo dar resposta a muitos pedidos que me chegaram da parte do povo de Deus no sentido de se poder celebrar o Domingo da Palavra de Deus em toda a Igreja e com unidade de intenções.
3. Portanto estabeleço que o III Domingo do Tempo Comum seja dedicado à celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus. As comunidades encontrarão a forma de viver este Domingo como um dia solene. Entretanto será importante que, na celebração eucarística, se possa entronizar o texto sagrado, de modo a tornar evidente aos olhos da assembleia o valor normativo que possui a Palavra de Deus.
4. O regresso do povo de Israel à pátria, depois do exílio de Babilónia, foi assinalado de modo significativo pela leitura do livro da Lei. A Bíblia dá-nos uma comovente descrição daquele momento, no livro de Neemias. O povo está reunido em Jerusalém, na praça da Porta das Águas, a escutar a Lei. Aquele povo dispersara-se com a deportação, mas agora encontra-se reunido à volta da Sagrada Escritura «como um só homem» (Ne 8, 1). Durante a leitura do Livro sagrado, o povo «escutava com atenção» (Ne 8, 3), ciente de encontrar naquela palavra o sentido para os acontecimentos vividos. Em reacção à proclamação daquelas palavras, brotou a comoção e o pranto. Os levitas «liam, clara e distintamente, o livro da Lei de Deus e explicavam o seu sentido, de modo que se pudesse compreender a leitura. O governador Neemias, Esdras, sacerdote e escriba, e os levitas que instruíam o povo disseram a toda a multidão: “Este é um dia consagrado ao Senhor, vosso Deus; não vos entristeçais nem choreis”. Pois todo o povo chorava ao ouvir as palavras da Lei. (…) “Não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa força”» (Ne 8, 8-9.10).
Estas palavras encerram uma grande lição. A Bíblia não pode ser património só de alguns e, menos ainda, uma colectânea de livros para poucos privilegiados. A Bíblia é o livro do povo do Senhor que, escutando-a, passa da dispersão e divisão à unidade. A Palavra de Deus une os crentes e faz deles um só povo.
5. Nesta unidade gerada pela escuta, primariamente os Pastores têm a grande responsabilidade de explicar e fazer compreender a todos a Sagrada Escritura. Uma vez que é o livro do povo, todos os que têm a vocação de ser ministros da Palavra devem sentir fortemente a exigência de a tornar acessível à sua comunidade.
Com efeito, para muitos dos nossos fiéis, esta (a homilia) é a única ocasião que têm para captar a beleza da Palavra de Deus e a ver referida à sua vida diária. Por isso, é preciso dedicar tempo conveniente à preparação da homilia. Nunca nos cansemos de dedicar tempo e oração à Sagrada Escritura, para que seja acolhida, «não como palavra de homens, mas como ela é realmente, palavra de Deus» (1 Ts 2, 13).
É bom também que os catequistas, atendendo ao ministério que desempenham de ajudar a crescer na fé, sintam a urgência de se renovar através da familiaridade e estudo das Sagradas Escrituras, que lhes consintam promover um verdadeiro diálogo entre aqueles que os escutam e a Palavra de Deus.
7. É profundo o vínculo entre a Sagrada Escritura e a fé dos crentes. Sabendo que a fé vem da escuta, e a escuta centra-se na Palavra de Cristo (cf. Rm 10, 17), daí se vê a urgência e a importância que os crentes devem dar à escuta da Palavra do Senhor, tanto na acção litúrgica, como na oração e reflexão pessoais.
8. A «viagem» do Ressuscitado com os discípulos de Emaús conclui com a ceia. O misterioso Viandante acede ao pedido insistente que os dois Lhe dirigem: «Fica connosco, pois a noite vai caindo e o dia já está no ocaso» (Lc 24, 29). Sentam-se à mesa; Jesus toma o pão, pronuncia a bênção, parte-o e dá-o a eles. Naquele momento, abrem-se-lhes os olhos e reconhecem-No (cf. Lc 24, 31).
A partir desta cena, compreendemos como seja indivisível a relação entre a Sagrada Escritura e a Eucaristia. O Concílio Vaticano II ensina: «A Igreja venerou sempre as divinas Escrituras como venera o próprio Corpo do Senhor, não deixando jamais, sobretudo na sagrada Liturgia, de tomar e distribuir aos fiéis o pão da vida, quer da mesa da palavra de Deus quer da do Corpo de Cristo» (Dei Verbum, 21).
O dia dedicado à Bíblia pretende ser, não «uma vez no ano», mas uma vez por todo o ano, porque temos urgente necessidade de nos tornar familiares e íntimos da Sagrada Escritura e do Ressuscitado, que não cessa de partir a Palavra e o Pão na comunidade dos crentes. Para tal, precisamos de entrar em confidência assídua com a Sagrada Escritura; caso contrário, o coração fica frio e os olhos permanecem fechados, atingidos, como somos, por inumeráveis formas de cegueira.
Sagrada Escritura e Sacramentos são inseparáveis entre si. Quando os Sacramentos são introduzidos e iluminados pela Palavra, manifestam-se mais claramente como a meta dum caminho onde o próprio Cristo abre a mente e o coração ao reconhecimento da sua acção salvífica. Neste contexto, é preciso não esquecer um ensinamento que vem do livro do Apocalipse; lá se ensina que o Senhor está à porta e bate. Se uma pessoa ouvir a sua voz e Lhe abrir a porta, Ele entra para cear junto com ela (cf. 3, 20). Cristo Jesus bate à nossa porta através da Sagrada Escritura; se ouvirmos e abrirmos a porta da mente e do coração, então Ele entra na nossa vida e permanece connosco.
9. Na II Carta a Timóteo, que de certa forma constitui o testamento espiritual de Paulo, este recomenda ao seu fiel colaborador que frequente assiduamente a Sagrada Escritura. O Apóstolo está convencido de que «toda a Escritura é inspirada por Deus e adequada para ensinar, refutar, corrigir e educar na justiça» (3, 16).
Apelando-se, antes de mais nada, à recomendação de Paulo a Timóteo, a Dei Verbum sublinha que «os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que Deus, para nossa salvação, quis que fosse consignada nas Sagradas Escrituras» (n. 11). Porque estas instruem tendo em vista a salvação pela fé em Cristo (cf. 2 Tm 3, 15), as verdades nelas contidas servem para a nossa salvação. A Bíblia não é uma colectânea de livros de história nem de crónicas, mas está orientada completamente para a salvação integral da pessoa. A inegável radicação histórica dos livros contidos no texto sagrado não deve fazer esquecer esta finalidade primordial: a nossa salvação. Tudo está orientado para esta finalidade inscrita na própria natureza da Bíblia, composta como história de salvação na qual Deus fala e age para ir ao encontro de todos os homens e salvá-los do mal e da morte.
Para alcançar esta finalidade salvífica, a Sagrada Escritura, sob a acção do Espírito Santo, transforma em Palavra de Deus a palavra dos homens escrita à maneira humana (cf. Dei Verbum, 12).
10.Com Jesus Cristo, a revelação de Deus alcança a sua realização e plenitude; e, todavia, o Espírito Santo continua a sua acção. De facto, seria redutivo limitar a acção do Espírito Santo apenas à natureza divinamente inspirada da Sagrada Escritura e aos seus diversos autores. Por isso, é necessário ter confiança na acção do Espírito Santo que continua a realizar uma sua peculiar forma de inspiração, quando a Igreja ensina a Sagrada Escritura, quando o Magistério a interpreta de forma autêntica (cf. ibid., 10) e quando cada crente faz dela a sua norma espiritual.
11. Muitas vezes corre-se o risco de separar Sagrada Escritura e Tradição, sem compreender que elas, juntas, constituem a única fonte da Revelação. O carácter escrito da primeira, nada tira ao facto de ela ser plenamente palavra viva; assim como a Tradição viva da Igreja, que no decurso dos séculos a transmite incessantemente de geração em geração, possui aquele livro sagrado como a «regra suprema da fé» (Ibid., 21). Além disso, antes de se tornar um texto escrito, a Palavra de Deus foi transmitida oralmente e mantida viva pela fé dum povo que a reconhecia como sua história e princípio de identidade no meio de tantos outros povos. Por isso, a fé bíblica funda-se sobre a Palavra viva, não sobre um livro.
12. Quando a Sagrada Escritura é lida com o mesmo Espírito com que foi escrita, permanece sempre nova. O Antigo Testamento nunca é velho, uma vez que é parte do Novo, pois tudo é transformado pelo único Espírito que o inspira. O texto sagrado inteiro possui uma função profética: esta não diz respeito ao futuro, mas ao hoje de quem se alimenta desta Palavra. Afirma-o claramente o próprio Jesus, no início do seu ministério: «Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir» (Lc 4, 21). Quem se alimenta dia a dia da Palavra de Deus torna-se, como Jesus, contemporâneo das pessoas que encontra; não se sente tentado a cair em nostalgias estéreis do passado, nem em utopias desencarnadas relativas ao futuro.
13. Outra provocação que nos vem da Sagrada Escritura tem a ver com a caridade. A Palavra de Deus apela constantemente para o amor misericordioso do Pai, que pede a seus filhos para viverem na caridade. A vida de Jesus é a expressão plena e perfeita deste amor divino, que nada guarda para si, mas a todos se oferece sem reservas. Escutar as Sagradas Escrituras para praticar a misericórdia: este é um grande desafio lançado à nossa vida. A Palavra de Deus é capaz de abrir os nossos olhos, permitindo-nos sair do individualismo que leva à asfixia e à esterilidade enquanto abre a estrada da partilha e da solidariedade.
15. No caminho da recepção da Palavra de Deus, acompanha-nos a Mãe do Senhor, reconhecida como bem-aventurada por ter acreditado no cumprimento daquilo que Lhe dissera o Senhor (cf. Lc 1, 45). Lembra-o um grande discípulo e mestre da Sagrada Escritura, Santo Agostinho: «Uma pessoa do meio da multidão, cheia de entusiasmo, exclamou: “Bem-aventurado o ventre que Te trouxe”. E Ele: “Mais felizes são os que ouvem a palavra de Deus e a guardam”. Como que a dizer: também a minha mãe, a quem tu chamas bem-aventurada, é bem-aventurada justamente porque guarda a palavra de Deus, não porque n’Ela o Verbo Se fez carne e habitou entre nós, mas porque guarda o próprio Verbo de Deus por meio do Qual foi feita, e que n’Ela Se fez carne» (Sobre o Evangelho de São João, 10, 3).
Possa o Domingo dedicado à Palavra fazer crescer no povo de Deus uma religiosa e assídua familiaridade com as Sagradas Escrituras, tal como ensinava o autor sagrado já nos tempos antigos: esta palavra «está muito perto de ti, na tua boca e no teu coração, para a praticares» (Dt 30, 14).
Roma, 30 de Setembro de 2019
Francisco
Abrir
Penso que se levo no coração, com especial amor cada pessoa que Deus me confiou, no momento adequado, o Espírito me indicará o que cada uma necessita.
Santa Teresa Benedita da Cruz
AbrirO cordeiro não é um dominador, mas é dócil; não é agressivo, mas pacífico; não mostra as garras nem os dentes diante de qualquer ataque, mas suporta e é dócil. Assim é Jesus! Assim é Jesus, como um cordeiro!
Que significa para a Igreja, para nós hoje, ser discípulos de Jesus, Cordeiro de Deus? Significa pôr no lugar da malícia a inocência, no lugar da força o amor, no lugar da soberba a humildade, no lugar do prestígio o serviço. É uma boa obra! Nós, cristãos, temos que agir assim: pôr no lugar da malícia a inocência, no lugar da força o amor, no lugar da soberba a humildade, no lugar do prestígio o serviço. Ser discípulo do Cordeiro significa não viver como que numa «cidadela cercada», mas como numa cidade posta sobre o monte, aberta, hospitaleira e solidária.
Papa Francisco
AbrirEis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo
Este segundo Domingo do Tempo Comum está em continuidade com a Epifania e com a festa do Baptismo de Jesus. A passagem do Evangelho (Jo 1, 29-34) fala-nos da manifestação de Jesus: depois de ser baptizado no rio Jordão, ele foi consagrado pelo Espírito Santo, que repousava sobre ele e foi proclamado Filho de Deus pela voz do Pai celeste. O evangelista João, ao contrário dos outros três evangelistas, não descreve o acontecimento do Baptismo de Jesus, mas oferece-nos, antes, o testemunho de João Baptista. Ele foi a primeira testemunha de Cristo. Deus chamou-o e preparou-o para isso.
O Baptista não pode conter o desejo urgente de testemunhar Jesus e declara: «Eu vi e testemunhei». João viu algo de impressionante, isto é, o Filho amado de Deus solidarizando-se com os pecadores; e o Espírito Santo fê-lo entender a novidade inaudita e inesperada. De facto, enquanto em todas as religiões é o homem que oferece e sacrifica algo a Deus, no caso de Jesus é Deus que oferece o seu próprio Filho para a salvação da humanidade. João manifesta o seu espanto e a sua adesão a esta novidade com a expressão que dizemos em todas as Missas: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!».
O testemunho de João Baptista convida-nos a recomeçar sempre de novo a nossa caminhada de fé: recomeçar de Jesus Cristo, o Cordeiro cheio de misericórdia que o Pai nos deu. Deixemo-nos surpreender de novo pela escolha de Deus de estar do nosso lado, de ser solidário connosco que somos pecadores e de salvar o mundo do mal.
Aprendamos de João Baptista a não presumir que já conhecemos Jesus, que já sabemos tudo sobre ele. Não é assim. Detenhamo-nos no Evangelho e contemplemos até um ícone de Cristo, e contemplando com os olhos e ainda mais com o coração, deixemo-nos instruir pelo Espírito Santo, que nos diz no interior: É Ele! Ele é o Filho de Deus feito cordeiro, imolado por amor. Somente Ele carregou, sofreu, expiou o pecado de cada um de nós, o pecado do mundo, e também os meus próprios pecados. Tudo. Ele carregou todos eles em si mesmo e libertou-nos deles, para que pudéssemos finalmente ser livres, não mais escravos do mal. Sim, ainda somos pobres pecadores, mas não escravos, não, não escravos: somos filhos, filhos de Deus!
Papa Francisco, Angelus (resumo), 19 de Janeiro, 2020
AbrirO Papa Francisco deu início a uma série de catequeses sobre o Livro dos “Actos dos Apóstolos”, em 29 de Maio de 2019, com o tema “Esperar o cumprimento da Promessa do Pai”, concluindo com a catequese da Audiência Geral de 15 de Janeiro, onde falou sobre “A prisão de Paulo em Roma e a fecundidade do anúncio”.
2019
29 de Maio – Esperar o cumprimento da Promessa do Pai: https://is.gd/30Gbf7
12 de Junho – Matias, testemunha do ressuscitado, no lugar de Judas: https://is.gd/XE6cWh
19 de Junho –.Pentecostes e a dinâmica do Espírito que inflama a palavra humana e a torna Evangelho: https://is.gd/JkgLPZ
26 de Junho – As primeiras comunidades cristãs: https://is.gd/REcsNV
7 de Agosto – A comunhão integral na comunidade dos cristãos: https://is.gd/UtH6LD
21 de Agosto – koinonia, o novo modo de relacionamento entre os discípulos do Senhor: https://is.gd/mDMy9A
28 de Agosto – Entre os apóstolos, sobressai Pedro: https://is.gd/MYAlcm
18 de Setembro – Os critérios de discernimentos propostos pelo sábio Gamaliel: https://is.gd/wBa6DQ
25 de Setembro – Estêvão “cheio de Espírito Santo”, entre diakonia e martyria: https://is.gd/uGPLzm
2 de Outubro – Filipe anuncia o Evangelho: https://is.gd/Csp98p
9 de Outubro – “É um instrumento escolhido por mim”: https://is.gd/uY3gDk
16 de Outubro – “Em verdade reconheço que Deus não faz distinção de pessoas”: https://is.gd/0qQrol
30 de Outubro – A fé cristã chega à Europa: https://is.gd/lJFn9e
6 de Novembro – Paulo no Aerópago, exemplo de inculturação da fé em Atenas: https://is.gd/qCOApc
13 de Novembro – Priscila e Áquila, um casal a serviço do Evangelho: https://is.gd/pnqCVE
4 de Dezembro – O ministério de Paulo e a despedida dos anciãos: https://is.gd/t1GpuP
11 Dezembro – Paulo prisioneiro diante do Rei Agripas: https://is.gd/b9eH3k
2020
8 Janeiro – A provação do naufrágio: https://is.gd/7qNHxp
15 de Janeiro – A prisão de Paulo em Roma e a fecundidade do anúncio: https://is.gd/G2Bzab – https://is.gd/3YMRPk