Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor – Ano B

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 14, 1-15, 47)

Dada a extensão do Evangelho deste Domingo de Ramos, apenas é indicada a citação onde pode ser encontrado.

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Desde o meio-dia até às três da tarde a obscuridade total cobre a terra. Até a natureza sente o efeito da agonia e morte de Jesus. Pregado na cruz, privado de tudo, da sua boca sai um lamento: «Eli, Eli! Lama Sabactani!». Quer dizer: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?». É a primeira frase do salmo 22(21). Jesus entra na morte rezando, expressando o abandono que sente. Reza em hebraico. Os soldados que estavam perto d’Ele, e que faziam de guarda, dizem: «Está a chamar por Elias!». Os soldados eram estrangeiros, mercenários contratados pelos romanos. Não compreendiam a língua dos judeus. Pensavam que Eli queria dizer Elias. Jesus pregado na cruz encontra-se num abandono total. Mesmo que quisesse falar com alguém, não seria possível. Permaneceu completamente só: Judas atraiçoou-o, Pedro negou-o, os discípulos fugiram, as amigas estavam muito afastadas, as autoridades escarneciam-no, os que passavam insultavam-no, o próprio Deus o abandona e nenhuma língua serve para comunicar. Este foi o preço que pagou pela sua fidelidade à sua opção de seguir sempre o caminho do amor e do serviço para redimir os seus irmãos. Ele mesmo disse: «O Filho do homem não veio para ser servido mas para servir e dar a vida em resgate de muitos» (Mt 20, 28). No meio do abandono e da obscuridade, Jesus lança um forte grito e morre. Morre lançando o grito dos pobres, porque sabe que Deus escuta o clamor dos pobres (Ex 2, 24; 3, 7; 22, 22.26, etc.). Com esta fé, Jesus entra na morte, seguro de ser escutado. A Carta aos Hebreus comenta: «Ele ofereceu preces e súplicas com fortes gritos e lágrimas àquele que o podia libertar da morte e foi escutado pela sua piedade» (Heb 5, 7). Deus escutou o grito de Jesus e «exaltou-o» (Fil 2, 9). A ressurreição é a resposta de Deus à oração e ao oferecimento que Jesus faz da sua vida. Com a ressurreição de Jesus, o Pai anuncia a todo o mundo esta Boa Nova: «Quem vive a vida como Jesus servindo os irmãos, é vitorioso e viverá para sempre, ainda que morra, mesmo que o matem!». Esta é a Boa Nova do reino que nasce da Cruz.

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5º Domingo da Quaresma – Ano B

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Evangelho de Nossa Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 12, 20-33) 

Entre os que tinham subido a Jerusalém à Festa para a adoração, havia alguns gregos. Estes foram ter com Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e pediam-lhe: «Senhor, nós queremos ver Jesus!» Filipe foi dizer isto a André; André e Filipe foram dizê-lo a Jesus. Jesus respondeu-lhes: «Chegou a hora de se revelar a glória do Filho do Homem. Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto. Quem se ama a si mesmo, perde-se; quem se despreza a si mesmo, neste mundo, assegura para si a vida eterna. Se alguém me serve, que me siga, e onde Eu estiver, aí estará também o meu servo. Se alguém me servir, o Pai há-de honrá-lo. Agora a minha alma está perturbada. E que hei-de Eu dizer? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente para esta hora é que Eu vim! Pai, manifesta a tua glória!» Veio, então, uma voz do Céu: «Já a manifestei e voltarei a manifestá-la!» Entre as pessoas presentes, que escutaram, uns diziam que tinha sido um trovão; outros diziam: «Foi um Anjo que lhe falou!» Jesus respondeu: «Esta voz não veio por causa de mim, mas por amor de vós. Agora é o julgamento deste mundo; agora é que o dominador deste mundo vai ser lançado fora. E Eu, quando for erguido da terra, atrairei todos a mim.» Dizia isto dando a entender de que espécie de morte havia de morrer. 

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Uns peregrinos gregos que vieram celebrar a Páscoa dos judeus aproximaram-se de Filipe com um pedido: “Queremos ver Jesus”. Não é curiosidade. É um desejo profundo de conhecer o mistério que se encerra naquele Homem de Deus. Quando comunicam a Jesus o desejo dos peregrinos gregos, ele pronuncia umas palavras desconcertantes: “Chegou a hora de se revelar a glória do Filho do Homem”. Quando for crucificado, todos poderão ver com clareza onde está a sua verdadeira grandeza e a sua glória.

Provavelmente ninguém entendeu nada. Mas Jesus, pensando na forma de morte que o espera, insiste: “Quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim”. Que se esconde no crucificado para que tenha esse poder de atracção? Apenas uma coisa: o seu amor incrível a todos.

O amor é invisível. Só o podemos ver nos gestos, nos sinais e na entrega de quem nos quer bem. Por isso, em Jesus crucificado, na sua vida entregue até à morte, podemos perceber o amor insondável de Deus. Na realidade, só começamos a ser cristãos quando nos sentimos atraídos por Jesus. Só começamos a entender algo da fé quando nos sentimos amados por Deus.

Para explicar a força que se encerra na sua morte na cruz, Jesus utiliza uma imagem simples que todos podemos entender: “se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto”. Se o grão morre, germina e faz brotar a vida; mas se ele se fecha no seu pequeno invólucro e guarda para si a sua energia vital, permanece estéril.

Esta bela imagem revela-nos uma lei que atravessa misteriosamente a vida inteira: quem se agarra egoísticamente à sua vida, perde-a; quem sabe entregá-la com generosidade gera mais vida. Não é difícil comprová-lo. Quem vive exclusivamente para o seu bem-estar, o seu dinheiro, o seu êxito, a sua segurança, acaba vivendo uma vida medíocre e estéril: a sua passagem por este mundo não torna a vida mais humana. Quem se arrisca a viver de forma aberta e generosa difunde a vida, irradia alegria, ajuda a viver. Não há uma forma mais apaixonante de viver do que fazer a vida dos outros mais humana e leve.

Como poderemos seguir Jesus se não nos sentimos atraídos pelo seu estilo de vida? 

José Pagola

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Despojai-vos do homem velho

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Esta doutrina de morrer para si mesmo, que entretanto constitui a lei de toda a alma cristã, desde que Cristo disse: “Se alguém quiser vir após mim que tome a sua cruz e renuncie a si próprio”, esta doutrina, apesar de parecer tão austera, é duma suavidade deliciosa, quando se olha para o termo desta morte, que é a vida de Deus, colocada em vez da nossa vida de pecado e de misérias. É o que São Paulo queria dizer, quando escrevia: “Despojai-vos do homem velho e revesti-vos do novo, segundo a imagem d’Aquele que o criou.” Esta imagem é o próprio Deus.

Santa Isabel da Trindade

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4º Domingo da Quaresma – Ano B

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 3, 14-21)

Assim como Moisés ergueu a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja erguido ao alto, a fim de que todo o que nele crê tenha a vida eterna. Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna. De facto, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no Filho Unigénito de Deus. E a condenação está nisto: a Luz veio ao mundo, e os homens preferiram as trevas à Luz, porque as suas obras eram más. De facto, quem pratica o mal odeia a Luz e não se aproxima da Luz para que as suas acções não sejam desmascaradas. Mas quem pratica a verdade aproxima-se da Luz, de modo a tornar-se claro que os seus actos são feitos segundo Deus.»

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Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna”. Não se trata de uma frase mais, palavras que poderiam ser eliminadas do Evangelho sem que nada de importante acontecesse. É a afirmação que recolhe o núcleo essencial da fé cristã. Este amor de Deus é a origem e o fundamento da nossa esperança. Deus ama o mundo, ama-o tal como é: inacabado e incerto, cheio de conflitos e contradições, capaz do melhor e do pior. Este mundo não percorre o seu caminho sozinho, perdido e desamparado. Deus envolve-o com o seu amor.

Jesus é o “presente” que Deus Pai dá ao mundo, e não só aos cristãos. Só quem se aproxima de Jesus Cristo como o maior dom do Pai, pode fazer a descoberta da proximidade de Deus de todo o ser humano. A Igreja é chamada a recordar ao mundo este amor de Deus. Nada há de mais importante.

Segundo o evangelista, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo mas para que o mundo seja salvo por seu intermédio. Só no acolhimento podemos chamar uns aos outros à conversão. Se as pessoas sentem-se condenadas, não estamos a transmitir-lhes a mensagem de Jesus mas talvez outra coisa, como os nossos ressentimentos. Neste momento que estamos a viver, em que tudo parece confuso, incerto e desalentador, nada nos impede de introduzir um pouco de amor no mundo: “Onde não há amor, põe amor e colherás amor” (São João da Cruz).

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3º Domingo da Quaresma – Ano B

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Evangelho de Nossa Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 2, 13-25)

Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, ovelhas e pombas, e os cambistas nos seus postos. Então, fazendo um chicote de cordas, expulsou-os a todos do templo com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos cambistas pelo chão e derrubou-lhes as mesas; e aos que vendiam pombas, disse-lhes: «Tirai isso daqui. Não façais da Casa de meu Pai uma feira.»

Os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua casa me devora. Então os judeus intervieram e perguntaram-lhe: «Que sinal nos dás de poderes fazer isto?» Declarou-lhes Jesus, em resposta: «Destruí este templo, e em três dias Eu o levantarei!» Replicaram então os judeus: «Quarenta e seis anos levou este templo a construir, e Tu vais levantá-lo em três dias?» Ele, porém, falava do templo que é o seu corpo. Por isso, quando Jesus ressuscitou dos mortos, os seus discípulos recordaram-se de que Ele o tinha dito e creram na Escritura e nas palavras que tinha proferido.

Enquanto Ele estava em Jerusalém, durante as festas da Páscoa, muitos creram nele ao verem os sinais miraculosos que realizava. Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos e não precisava de que ninguém o elucidasse acerca das pessoas, pois sabia o que havia dentro delas.

Reflexão

Os quatro evangelistas fazem eco do gesto provocativo de Jesus que expulsa do Templo de Jerusalém os “vendedores” de animais e “cambistas” de dinheiro. Jesus enche-se de indignação. Com um chicote retira do recinto sagrado os animais, revira as mesas dos cambistas, esparramando por terra as suas moedas, e grita: “Tirai isso daqui. Não façais da Casa de meu Pai uma feira”.

João acrescenta um diálogo com os judeus no qual Jesus afirma de maneira solene que, após a destruição do Templo, ele “o levantará em três dias”. Ninguém entendeu o que ele disse. Por isso, o evangelista acrescenta: “Jesus falava do templo de seu corpo”.

O evangelista recorda aos seguidores de Jesus que eles não devem sentir saudades do velho templo, que já não existia quando o evangelista escreve o seu evangelho. Jesus, “destruído” pelas autoridades religiosas, porém “ressuscitado” pelo Pai, é o “novo templo”. Não é uma metáfora atrevida. É uma realidade que deve marcar para sempre a relação dos cristãos com Deus. As portas deste novo templo, que é Jesus, estão abertas a todos. Ninguém está excluído. O Deus que habita em Jesus é de todos e para todos.

Temos que transformar as nossas comunidades cristãs em espaço onde todos possam sentir-se na “casa do Pai”. Uma casa acolhedora que não fecha as portas a ninguém. Uma casa onde aprendamos a escutar o sofrimento dos filhos mais desvalidos de Deus e não somente o nosso próprio interesse. Uma casa onde possamos invocar Deus como Pai porque nos sentimos seus filhos e procuramos viver como irmãos.

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