«O seu nome é João!» – 24 de Junho

AII78336 The Birth of St. John the Baptist by Bugiardini, Giuliano (1475-1554); Galleria e Museo Estense, Modena, Italy; Italian, out of copyright

O oitavo dia do nascimento de um menino é uma grande festa em Israel. É nesse dia que o menino é circuncidado e recebe o seu nome. A casa de Isabel enche-se outra vez de familiares e vizinhos. O narrador diz-nos que aquela gente que veio para a festa queria dar ao menino o nome do seu pai, Zacarias (Lucas 1,59). Nem outra coisa era de supor, dado que, em contexto bíblico, o filho primogénito recebia habitualmente o nome do seu pai. Mas Isabel também estava atenta, e reagiu logo, dizendo: «Não, o menino chamar-se-á JOÃO (Lucas 1,60).

Os presentes ficaram atónitos com a reacção de Isabel, e fizeram questão de vincar tal incongruência, referindo que na família ninguém tinha esse nome (Lucas 1,61). Recorreram, pois, ao mudo Zacarias para que se pronunciasse sobre o assunto do nome do menino. Zacarias, porque estava mudo, pediu uma tabuinha de cera, e escreveu: «O seu nome é JOÃO!», o que provocou o espanto de todos os presentes (Lucas 1,62-63).

Porquê, então, o nome de JOÃO? O que significa o nome JOÃO? Em hebraico, JOÃO diz-se Yôhanan. Yôhanan significa literalmente «YHWH faz graça». E o que é fazer «fazer graça»? De forma plástica e concreta, é uma mãe que embala ternamente o seu bebé nos braços e baixa para ele o olhar carinhoso, bondoso, maravilhoso, gracioso, maternal. É este duplo gesto de carinho maternal que é a graça bíblica. Sobretudo aquele olhar belo, enternecido, embevecido, maternal, que enche o bebé de graça. É assim que Deus olha para nós, e nos acaricia.

O nome JOÃO não constava dos nomes das pessoas daquela família. O nome dado não é, portanto, da nossa colheita. Vem de Deus. Foi anunciado pelo Anjo. O que é que isto quer dizer? JOÃO é, por assim dizer, o último profeta do Antigo Testamento, e o primeiro do Novo Testamento. Sendo o último do Antigo Testamento, ele resume todo o Antigo Testamento. E o resumo é este: «Deus faz graça». Sendo o primeiro do Novo Testamento, ele constitui o sumário de todo o Novo Testamento. E o sumário é este: «Deus faz graça».

D. António Couto

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Para ajudar a recolher o espírito na oração

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Um modo de recolher facilmente o espírito durante o tempo da oração e de o ter em maior repouso é não o deixar ganhar asas durante o dia. É necessário mantê-lo rigorosamente na presença de Deus: e estando habituada a vos lembrar d’Ele de tempos a tempos, será mais fácil permanecer tranquila durante as vossas orações, ou pelo menos chamar o espírito dos seus devaneios.

Beato Francisco Palau

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12º Domingo do Tempo Comum – Ano B

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 4, 35-41)

Naquele dia, ao entardecer, disse Jesus: «Passemos para a outra margem.» Afastando-se da multidão, levaram-no consigo, no barco onde estava; e havia outras embarcações com Ele. Desencadeou-se, então, um grande turbilhão de vento, e as ondas arrojavam-se contra o barco, de forma que este já estava quase cheio de água. Jesus, à popa, dormia sobre uma almofada. Acordaram-no e disseram-lhe: «Mestre, não te importas que pereçamos?» Ele, despertando, falou imperiosamente ao vento e disse ao mar: «Cala-te, acalma-te!» O vento serenou e fez-se grande calma. Depois disse-lhes: «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» E sentiram um grande temor e diziam uns aos outros: «Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?»

Reflexão

A imagem de um barco cheio de discípulos convidados por Jesus a passar “à outra margem do lago” e a dar testemunho do Evangelho é uma boa definição de Igreja O nosso texto convida-nos a tomar consciência de que a comunidade que nasce de Jesus é uma comunidade missionária.

O caminho percorrido pela comunidade de Jesus em missão no mundo é, muitas vezes, um caminho marcado por duras tempestades. A comunidade de Jesus conhece, ao longo da sua caminhada, a oposição, a incompreensão, a perseguição, as calúnias e até a morte. No entanto, os discípulos devem estar conscientes de que esse cenário é inevitável e resulta da sua fidelidade ao caminho de Jesus.

Muitas vezes, ao longo da caminhada, os discípulos sentem uma tremenda solidão e, confrontados com a oposição e a incompreensão do mundo, experimentam a sua fragilidade e impotência. Parece que Jesus os abandonou; e o silêncio de Jesus desconcerta-os e angustia-os. O Evangelho deste domingo garante-nos que Jesus nunca abandona o barco dos discípulos. Nos momentos de crise, de desânimo, de medo, os discípulos têm de ser capazes de descobrir a presença – às vezes silenciosa, mas sempre amiga e reconfortante – de Jesus ao seu lado, no mesmo barco.

Ainda não tendes fé?” – pergunta Jesus aos discípulos. Se os discípulos tivessem fé, não teriam medo e não sentiriam a necessidade de “acordar” Jesus. Estariam conscientes da presença de Jesus ao seu lado em todos os momentos e não estariam à espera de uma intervenção mais ou menos mágica de Jesus para os livrar das dificuldades. O verdadeiro discípulo é aquele que aderiu a Jesus, que vive em permanente comunhão e intimidade com Jesus, que está em permanente escuta de Jesus, que caminha com Jesus, que a cada instante descobre a presença reconfortante de Jesus ao seu lado. Ele conta sempre com Jesus e não se lembra de Jesus apenas nos momentos de dificuldade e de crise.

Palavra para o caminho

Não nos esqueçamos que a popa é o lugar de comando da embarcação. Jesus permanece, portanto, no comando da nossa barca, da nossa vida, ainda que muitas vezes nem nos apercebamos da serenidade da sua condução. A presença da almofada na pobre embarcação e do sono sereno de Jesus marcam bem o tom doce e tranquilo deste condutor diferente da nossa vida agitada. Não é a nossa agitação que conta. É o seu sono tranquilo. Ainda que algumas vezes nós caiamos na tentação, como, de resto, sucede com aqueles discípulos, de julgar o sono de Jesus como indiferença (Mc 4, 38).

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Para o tempo de tribulação

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Em todas as nossas necessidades, sofrimentos e dificuldades, não há meio melhor e mais seguro do que a oração e a esperança de que Deus providenciará pelos meios que quiser. Este conselho é-nos dado pela Sagrada Escritura, onde se diz que o Rei Josafat, estando muitíssimo aflito e rodeado de inimigos, pondo-se em oração, disse a Deus: “Quando não sabemos o que fazer [e a razão não basta para prover às necessidades], só nos resta levantar os olhos para Ti, [para providenciares como mais Te agradar]” (2Cr 20,3-12).

São João da Cruz

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Jesus está sedento de ti. E tu?

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Ah! sinto mais do que nunca que Jesus está sedento. Não encontra senão ingratos e indiferentes entre os discípulos do mundo; e entre os seus próprios discípulos encontra, infelizmente, poucos corações que a Ele se entreguem sem reserva, que compreendam toda a ternura do seu Amor infinito.

Santa Teresa do Menino Jesus

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11º Domingo do Tempo Comum – Ano B

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 4, 26-34)

Naquele tempo, disse Jesus à multidão: “O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Quer esteja a dormir, quer se levante, de noite e de dia, a semente germina e cresce, sem ele saber como. A terra produz por si, primeiro o caule, depois a espiga e, finalmente, o trigo perfeito na espiga. E, quando o fruto amadurece, logo ele lhe mete a foice, porque chegou o tempo da ceifa”. Dizia também: “Com que havemos de comparar o Reino de Deus? Ou com qual parábola o representaremos? É como um grão de mostarda que, ao ser deitada à terra, é a mais pequena de todas as sementes que existem; mas, uma vez semeado, cresce, transforma-se na maior de todas as plantas do horto e estende tanto os ramos, que as aves do céu se podem abrigar à sua sombra”. Com muitas parábolas como estas, pregava-lhes a Palavra, conforme eram capazes de compreender. Não lhes falava senão em parábolas; mas explicava tudo aos discípulos, em particular.

Reflexão

No tempo de Jesus e das primeiras comunidades cristãs, os diversos grupos religiosos judaicos (com excepção dos ultra-conservadores e elitistas saduceus), esperavam a chegada do Reino de Deus e achavam que poderiam apressar a sua chegada: os fariseus através da observância da Lei, os essénios através da pureza ritual, os zelotas através de uma revolta armada. O texto de hoje  adverte-nos que não é nem possível e nem necessário tentar apressar a chegada ou o crescimento do Reino de Deus, pois ele possui uma dinâmica interna própria de crescimento. Como a semente semeada cresce independente do semeador e sem que ele saiba como, assim o Reino cresce onde plantado, pois também tem a sua própria força interna que, passo após passo, vai levá-lo à maturidade.

Uma das imagens que Jesus usa para caracterizar o Reino é a do grão de mostarda. Embora a semente seja minúscula, ela cresce até se tornar um arbusto frondoso. Assim Jesus quer lembrar-nos  que é importante começar com acções pequenas e simples, pois, pela acção do Espírito Santo, elas poderão dar frutos em abundância. Esta parábola adverte-nos para que não caiamos na tentação de olhar as coisas com os olhos da sociedade dominante, que valoriza muito a prepotência, o poder, a aparência externa. A nossa vocação é plantar e regar, nunca perdendo uma oportunidade de semear o Reinado de Deus – ou seja, criar situações onde realmente reine o projecto do Pai, projecto de solidariedade e amor, partilha e justiça, começando com sementes minúsculas, para que, não através do nosso esforço, mas da graça de Deus, eventualmente cresça uma árvore frondosa que abrigará muitos. O desafio do texto é de que valorizemos o gesto pequeno: um gesto amigável ao que vive desconcertado, um sorriso acolhedor a alguém que está só, um sinal de proximidade a quem começa a desesperar, um raio de pequena alegria num coração sobrecarregado… não são coisas grandes. São pequenas sementes do Reino de Deus que todos podemos semear numa sociedade complicada e triste que esqueceu o encanto das coisas simples e boas.

A primeira coisa e principal que os seguidores de Jesus devem saber é que a sua principal tarefa é semear, não colher. Não devem viver dependentes dos resultados, nem preocupados com a eficácia nem com o êxito imediatos. O texto deste Domingo pode ser também uma chave-de-leitura para aprendermos a ver e a viver doutra forma a nossa vida e a nossa relação com os outros.

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Se nós fossemos…

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Se nós fossemos como deveríamos ser, isto é, cheios do espírito de Deus, seríamos verdadeiramente felizes. Nem sempre tudo aquilo que nos causa tristeza vem de fora, antes, quase sempre a causa está em nós. Se nós fossemos humildes, pacientes, mansos, nada viria a ofuscar a nossa paz; se tivéssemos o verdadeiro amor a Deus, cada tribulação e enfermidade se transmutariam em alegria e gozo; e se nós amássemos verdadeiramente o nosso próximo, não nos ressentiríamos de todos os choques que tão frequentemente nos ofendem

Beata Maria Josefina de Jesus Crucificado

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Os cinco defeitos de Jesus

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Primeiro defeito: Jesus não tem memória. No Calvário, no auge da indescritível agonia, Jesus ouve a voz do ladrão à sua direita: “Jesus, lembra-te de mim quando estiveres no teu reino” (Lc 23,43). Se fosse eu, teria respondido: “Não te vou esquecer, mas os teus crimes devem ser pagos por longos anos no purgatório”. No entanto, Jesus respondeu-lhe: “…hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43). Jesus esqueceu todos os crimes desse homem. Semelhante atitude teve Jesus com a pecadora que banhou os seus pés com perfume… Não faz nenhuma pergunta sobre o seu escandaloso passado. Simplesmente diz: “Os seus inúmeros pecados estão perdoados, porque muito amor demonstrou” (Lc 7,47)…. A memória de Jesus não é igual à minha; ele não só perdoa, e perdoa a todos, mas esquece até mesmo que perdoou .

Segundo defeito: Jesus não “sabe” matemática. Se Jesus tivesse sido submetido a um exame de matemática, por certo teria sido reprovado… “Um pastor tinha cem ovelhas. Uma extravia-se. Ele, imediatamente, deixa as noventa e nove no redil e vai em busca da desgarrada. Reencontra-a, coloca-a aos ombros e volta feliz” (cf. Lc 15,4-7). Para Jesus, uma pessoa tem o mesmo valor de noventa e nove e, talvez, até mais. Quem aceita tal procedimento? A Sua misericórdia estende-se de geração em geração… Que simplicidade a sua, simplicidade que ignora os cálculos humanos; que amor pelos pecadores!

Terceiro defeito: Jesus desconhece a lógica. Uma mulher possuía dez dracmas. Perdeu uma. Acende a lâmpada; varre a casa… procura até encontrá-la. Quando a encontra convida as suas amigas para partilhar a sua alegria pelo reencontro da dracma… (Lc 15,8-10)… De facto, não tem lógica fazer festa por uma dracma… O coração tem motivações que a razão desconhece… Jesus deu uma pista: “Eu vos digo que haverá mais alegria diante dos anjos de Deus por um só pecador que se converte…” (Lc 15,10).

Quarto defeito: Jesus é aventureiro. Executivos, pessoas encarregadas do “marketing das empresas”, levam nas suas pastas projectos, planos cuidadosamente elaborados… Em todas as instituições, organizações civis ou religiosas não faltam programas prioritários; objectivos, estratégias… Nada de semelhante acontece com Jesus. Humanamente analisando, o seu projecto está destinado ao fracasso. Aos apóstolos, que deixaram tudo para o seguir, não garante sustento material, casa para morar, somente a partilha do seu estilo de vida. A alguém que deseja unir-se aos seus, responde: “As raposas têm tocas e as aves do céu ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8,20)… Os doze confiaram neste aventureiro. Milhões e milhões de outros igualmente. Já lá vão mais de dois mil anos e a incalculável multidão de seguidores continua a peregrinar.

Quinto defeito: Jesus não entende de finanças nem de economia. Se Jesus fosse o administrador da empresa, da comunidade, a falência seria uma questão de dias. Como entender um administrador que paga o mesmo salário a quem inicia o trabalho cedo e a outro que só trabalha uma hora? Um descuido? Jesus errou a conta?…

Por que Jesus tem esses defeitos? Porque é o Deus da Misericórdia e o Amor Encarnado. Deus Amor (cf. 1Jo 4,16). Portanto, não um amor racional, calculista, que condiciona, recorda ofensas recebidas. Mas um amor doação, serviço, misericórdia, perdão, compreensão, acolhimento… Em que medida? Infinita. Os defeitos de Jesus são o caminho da felicidade. Por isso, damos graças a Deus. Para alegria e esperança da humanidade, esses defeitos são incorrigíveis.

Cardeal Van Thuan

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Pensamentos sobre a Eucaristia

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– Com efeito, precisamente porque é Cristo que, na comunhão eucarística, nos transforma em si, neste encontro a nossa individualidade é aberta, libertada do seu egocentrismo e inserida na Pessoa de Jesus, que por sua vez está imersa na comunhão trinitária. Assim a Eucaristia, enquanto nos une a Cristo, abre-nos também aos outros, tornando-nos membros uns dos outros: já não estamos divididos, mas somos um só nele. A comunhão eucarística une-me à pessoa que está ao meu lado e com a qual, talvez, eu nem sequer tenho um bom relacionamento, mas também aos irmãos distantes, em todas as regiões do mundo (Bento XVI).

– Eucaristia, amor dos amores (São Bernardo).

– O dar-se Jesus Cristo a nós como alimento foi o último grau de amor. Deu-se a nós para unir-se totalmente connosco como se une o alimento diário com quem o toma (São Bernardino de Sena).

– Por meio deste sacramento, o homem é estimulado a fazer actos de amor e por eles se apagam os pecados veniais. Somos preservados dos pecados mortais, porque a comunhão confere o aumento da graça que nos preserva das culpas graves (São Tomás de Aquino).

– Jesus Cristo com a sua Paixão livrou-nos do poder do pecado, mas com a Eucaristia livra-nos do poder de pecar (Inocêncio III).

– Duas espécies de pessoas devem comungar com frequência: os perfeitos, para se conservarem na perfeição, e os imperfeitos, para chegarem à perfeição (São Francisco de Sales).

– Depois de morrer consumido de dores sobre um madeiro destinado aos maiores criminosos, colocastes-vos sob as aparências do pão, para vos fazerdes nosso alimento e assim, unir-vos todo a cada um de nós. Dizei-me: que mais podíeis inventar para vos fazer amar? (Santo Afonso de Ligório).

– Não ponhas em dúvida se é ou não verdade, mas aceita com fé as palavras do Salvador; sendo Ele a Verdade, não mente (São Cirilo).

– Vós, Jesus, partindo deste mundo, o que nos deixastes em memória do vosso amor? Não uma veste, um anel, mas o vosso corpo, o vosso sangue, a vossa alma, a vossa divindade, vós mesmo, todo, sem reservas (Santo Afonso de Ligório).

– A Eucaristia é o nosso tesouro mais precioso. Ela é o sacramento por excelência; introduz-nos antecipadamente na vida eterna; contém em si todo o mistério da nossa salvação; é a fonte e o ápice da acção e da vida da Igreja (Bento XVI).

– A participação na Eucaristia coloca os católicos num caminho de vida que não admite divisões. Desagregamo-nos quando não somos dóceis à Palavra do Senhor, quando não vivemos a fraternidade entre nós, quando corremos para ocupar os lugares da frente, quando não temos a coragem de testemunhar a caridade, quando não somos capazes de oferecer esperança (Papa Francisco).

 

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Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo – Ano B

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 14, 12-16.22-26)

No primeiro dia dos Ázimos, em que se imolava o cordeiro pascal, os discípulos perguntaram a Jesus: «Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?». Jesus enviou dois discípulos e disse-lhes: «Ide à cidade. Virá ao vosso encontro um homem com uma bilha de água. Segui-o, e onde ele entrar, dizei ao dono da casa: «O Mestre pergunta: ‘Onde está a sala, em que hei-de comer a Páscoa com os meus discípulos?’. Ele vos mostrará uma grande sala no andar superior, alcatifada e pronta. Preparai-nos lá o que é preciso». Os discípulos partiram e foram à cidade. Encontraram tudo como Jesus lhes tinha dito e prepararam a Páscoa. Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, recitou a bênção e partiu-o, deu-o aos discípulos e disse: «Tomai: isto é o meu corpo». Depois tomou um cálice, deu graças e entregou-lho. E todos beberam dele. Disse Jesus: «Este é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado pela multidão dos homens. Em verdade vos digo: não voltarei a beber do fruto da videira, até ao dia em que beberei do vinho novo no reino de Deus». Cantaram os salmos e saíram para o monte das Oliveiras.

Reflexão

A fé da Igreja na presença do seu Senhor ressuscitado no mistério da Eucaristia remonta à origem da comunidade cristã. São Paulo transmite o que recebeu da tradição, cerca de 25 anos depois da morte de Jesus. É a narração mais antiga da Eucaristia. Também o Evangelho de Marcos dá-nos hoje um relato semelhante da instituição da Eucaristia.

A festa do Corpo e Sangue de Cristo celebra-se normalmente numa quinta-feira para fazer referência à Quinta-feira Santa, dia da instituição da Eucaristia, dia da entrega de Cristo à humanidade num gesto de Amor infinito (em Portugal, actualmente, celebra-se no Domingo a seguir mais próximo). Foi no século XIII que se sentiu fortemente a necessidade de ressaltar esta festa, devido à importância da presença de Cristo em forma de pão e de vinho, forma tão humana, mas ao mesmo tempo tão rica de simbolismo. Foi o Papa Urbano IV quem instituiu a comemoração desta festa no ano 1264. No início, esta festa não teve muita repercussão no interior da Igreja. Após a sua instituição o Papa morre. Porém, aos poucos, foi tomando força e, hoje, é celebrada com grande solenidade em todo o mundo. O Sacramento da Eucaristia é levado às ruas como um gesto e expressão de fé e, ao mesmo tempo, como convite à renovação da própria fé. Através desta expressão os cristãos manifestam a sua adesão a Jesus Cristo, presente na forma permanente de pão e o seu reconhecimento pela presença amorosa do Senhor no meio do Seu Povo, que permanece silenciosa e ininterrupta nos sacrários das nossas Igrejas.

O Papa Francisco, na procissão do Corpo de Deus deste ano realizada nas ruas de Roma, afirmou que a presença de Cristo, “no sinal do pão e do vinho”, exige que a força do amor “ultrapasse qualquer ferida” e se torne “comunhão com o pobre, ajuda para o fraco, atenção fraterna para os que têm dificuldade em aguentar o peso da vida diária”. A participação na Eucaristia, prosseguiu, coloca os católicos num caminho de vida que “não admite divisões”. “Desagregamo-nos quando não somos dóceis à Palavra do Senhor, quando não vivemos a fraternidade entre nós, quando corremos para ocupar os lugares da frente, quando não temos a coragem de testemunhar a caridade, quando não somos capazes de oferecer esperança”, advertiu.

Terminamos esta breve partilha com uma afirmação de Santo Afonso Maria de Ligório: “Vós, Jesus, partindo deste mundo, o que nos deixastes em memória do vosso amor? Não uma veste, um anel, mas o vosso corpo, o vosso sangue, a vossa alma, a vossa divindade, vós mesmo, todo, sem reservas”.

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