30º Domingo do Tempo Comum – Ano B

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 10, 46-52)

Naquele tempo, quando Jesus ia a sair de Jericó com os seus discípulos e uma grande multidão, um mendigo cego, Bartimeu, o filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho. E ouvindo dizer que se tratava de Jesus de Nazaré, começou a gritar e a dizer: «Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim!» Muitos repreendiam-no para o fazer calar, mas ele gritava cada vez mais: «Filho de David, tem misericórdia de mim!» Jesus parou e disse: «Chamai-o.» Chamaram o cego, dizendo-lhe: «Coragem, levanta-te que Ele chama-te.» E ele, atirando fora a capa, deu um salto e veio ter com Jesus. Jesus perguntou-lhe: «Que queres que te faça?» «Mestre, que eu veja!» – respondeu o cego. Jesus disse-lhe: «Vai, a tua fé te salvou!» E logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho.

Reflexão

A cura do cego Bartimeu é narrada por Marcos para ajudar as comunidades cristãs a saírem da cegueira e mediocridade em que vivem. Somente deste modo, poderão seguir Jesus pelo caminho do Evangelho. O relato é de uma surpreendente actualidade para a Igreja dos nossos dias. Bartimeu é “um mendigo cego sentado à beira do caminho”. A sua vida é sempre noite. Ouviu falar de Jesus, porém não conhece o seu rosto. Não pode segui-lo. Está junto ao caminho por onde ele passa, porém, está fora. Entre nós é noite! Desconhecemos Jesus. Falta-nos luz para seguir o seu caminho.

Apesar da sua cegueira, Bartimeu percebe que Jesus está a passar perto dele. Não duvida um instante. Algo lhe diz que em Jesus está a sua salvação: “Jesus, Filho de David, tem misericórdia de mim”. Este grito repetido com fé desencadeará a sua cura. Hoje ouvem-se na Igreja queixas e lamentos, críticas, protestos… Não se escuta a oração humilde e confiante do cego. Esquecemo-nos que somente Jesus pode salvar esta Igreja. Não percebemos a sua presença no nosso meio. Somente cremos em nós.

O cego não vê, mas sabe escutar a voz de Jesus que lhe chega através dos seus enviados: “Coragem, levanta-te, que Ele chama-te”. Este é o clima que necessitamos de criar na Igreja: animar-nos mutuamente para reagirmos, voltarmos a Jesus que nos chama. Este é o primeiro objectivo da pastoral.

O cego reage de forma admirável: larga o manto que o impede de levantar-se, dá um salto mesmo ainda sem ver e aproxima-se de Jesus. Do seu coração brota somente um pedido: “Mestre, que eu veja”. Se os seus olhos se abrirem, tudo mudará. O relato conclui dizendo que o cego recobrou a vista e “seguiu Jesus pelo caminho”. Esta é a cura que nós cristãos e as nossas comunidades necessitamos hoje.

Palavra para o caminho

Quando Jesus pergunta a Bartimeu o que deseja dele, o cego não duvida. Sabe muito bem aquilo que necessita: “Mestre, que eu veja”. Isto é o mais importante. Quando alguém começa a ver as coisas de maneira nova, a sua vida transforma-se. Quando uma comunidade recebe a luz de Jesus, converte-se.

Felizes os que crêem, não porque um dia foram baptizados, mas porque descobriram por experiência que a fé faz viver, de uma forma mais alegre, mais intensa e mais jovem.

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Como era  Santa Teresa de Jesus?

Foi dito acerca de Teresa de Jesus que era bela, inteligente e santa, ainda que ela se descreva como “… enfim, mulher, e não boa, mas ruim” (V 18,4).

Era uma pessoa nobre, íntegra, que recusava toda a falsidade e hipocrisia: “Posso errar em tudo, mas não mentir, que, pela misericórdia de Deus, antes passaria mil mortes” (M 4 2, 7). Inclinada à amizade, extrovertida e graciosa na sua conversação, era delicada, generosa e sensível aos favores. Ela mesma afirma que “isto que tenho de ser agradecida, deve ser natural, que com uma sardinha que me dêem me subornarão” (Carta a Maria de São José, 1578). Dotada de um especial dom para atrair os melhores colaboradores, dizia dela o P. Graciano que era “tão aprazível e agradável, que a todos os que tratavam com ela, atraía atrás de si, e amavam-na e queriam”.

Era profundamente religiosa e, ao mesmo tempo, prática, enérgica, tenaz, trabalhadora e sacrificada. Dizia o bispo Mendoza que “se compromete de tal modo, que consegue o que começa”.

Foi amiga das letras e dos bons livros e buscava o conselho dos bons letrados. Era habilidosa nas tarefas caseiras, e até entre panelas capta também a presença de Deus. Foi uma mulher alegre; para ela “um santo triste é um triste santo”.

Foi uma pessoa de contrastes: contemplativa e activa, simples e sábia, enferma e forte, solitária e sempre acompanhada, perseguida e ditosa, pobre e esplêndida, pecadora e santa, e sobretudo muito humana. Quando passou pelo convento dos Anjos das franciscanas em Madrid, as monjas comentaram: “Bendito seja o Senhor, que nos deixou ver uma santa a quem todas podemos imitar, que dorme e fala como nós e anda sem cerimónias… e é grande a sua lhaneza!”.

Luis Javier Fernández Frontela, O. C. D. 

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Pensamentos de Santa Teresa de Jesus

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– Ó Senhor, experimento tanta alegria ao pensar que as minhas infidelidades fazem com que melhor se conheça a vossa misericórdia, que sinto suavizar-se a dor pelas graves ofensas que vos fiz.

– A oração é onde o Senhor ilumina para entender as verdades.

– Almejemos e pratiquemos a oração já não para desfrutar, mas para ter a força de servir ao Senhor.

– É um facto que, embora saibamos que estamos sempre na presença de Deus, muitas vezes negligenciamos em pensar nisso.

– Jamais creiais que adquiristes uma virtude, enquanto não a tiverdes provado com aquilo que lhe é contrário.

– No nosso próximo, procuremos ver tão somente as virtudes e as boas obras e cubramos os seus defeitos considerando os nossos pecados.

– Deus tem cuidado dos nossos interesses muito mais do que nós mesmos, sabendo o que convém a cada um.

– A coragem em sofrer muito ou sofrer pouco está sempre na proporção do amor.

– Ó Senhor! Como os cristãos pouco vos conhecem!

– Quem deveras ama a Deus, todo o bem ama, todo o bem quer, todo o bem favorece, todo o bem louva, com os bons se junta sempre e os favorece e defende; não ama senão verdades e coisa que seja digna de amar. Pensais que é possível, a quem mui deveras ama a Deus, amar vaidades, ou riquezas, ou coisas de deleites do mundo, ou honras, ou tenha contendas ou invejas? Não, que nem pode; e tudo, porque não pretende outra coisa senão contentar ao Amado.

– Muitas vezes o Senhor permite uma queda a fim de manter a alma na mais profunda humildade. Se ela se arrepende e volta a Ele com sinceridade, mais progredirá, conforme sabemos de muitos santos.

– Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa, Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem, nada lhe falta. Só Deus basta.

– A outros santos parece ter dado o Senhor graça para socorrer numa determinada necessidade. Ao glorioso São José tenho experiência de que socorre em todas.

– A oração é um tratar de amizade, estando muitas vezes a sós com Quem sabemos que nos ama.

 

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29.º Domingo do Tempo Comum – Ano B

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (10, 35-45)

Naquele tempo, Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se de Jesus e disseram-lhe: «Mestre, queremos que nos faças o que te pedimos.» Disse-lhes: «Que quereis que vos faça?» Eles disseram: «Concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda.» Jesus respondeu: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu bebo e receber o baptismo com que Eu sou baptizado?» Eles disseram: «Podemos, sim.» Jesus disse-lhes: «Bebereis o cálice que Eu bebo e sereis baptizados com o baptismo com que Eu sou baptizado; mas o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não pertence a mim concedê-lo: é daqueles para quem está reservado.» Os outros dez, tendo ouvido isto, começaram a indignar-se contra Tiago e João. Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis como aqueles que são considerados governantes das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas, e como os grandes exercem o seu poder. Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos. Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos.»

Reflexão

O mais importante na vida não é ter êxito e ser mais do que os outros. Verdadeiramente decisivo é ser autêntico e saber crescer como ser humano. Contudo, frequentemente, somos tentados a acreditar que para afirmar a nossa própria vida e assegurar a nossa pequena felicidade e liberdade, devemos necessariamente dominar os outros.

Insatisfeitos por não termos sempre o que queremos, temerosos de perder a felicidade, queremos impor-nos a tudo e a todos, procurando dominar a situação a partir de uma posição de superioridade e de poder sobre os outros. E assim, procuramos manipular de mil maneiras os que são mais débeis do que nós, esforçando-nos por mantê-los ao serviço das nossas expectativas e interesses. Basta observar com atenção as relações que se estabelecem entre chefes e subordinados, entre poderosos e economicamente débeis, entre professores e alunos, esposos e esposas. Dir-se-ia que não conseguimos ser algo se não for através do domínio e da opressão dos demais. Este caminho é próprio de neuróticos. Segundo Fritz Peris, “neurótico é todo o homem que utiliza o seu potencial para manipular os outros em vez de crescer ele mesmo”. Este desejo de ser grande dominando os outros, não provém da força que se possuiu mas mais precisamente da debilidade e do vazio pessoal.

O importante é darmo-nos conta de que existem outros caminhos orientadores da nossa vida e conseguirmos ser autenticamente grandes. Segundo Jesus, quem quiser ser grande, tem de renunciar ao desejo de poder sobre os outros e aprender com simplicidade a servir a partir de uma postura de amor fraterno.

Os que acertam a viver a partir da generosidade, o serviço e a solidariedade, são pessoas que irradiam uma autoridade única. Não necessitam de ameaçar, manipular, subornar, nem adular. São homens e mulheres que nos cativam pela sua generosidade e nobreza de vida. Nas suas vidas resplandece a grandeza do próprio Jesus que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em regate por todos” (Marcos 10, 45). A vida destas pessoas é grande porque sabem dá-la.

Palavra para o caminho

Na comunidade cristã não há donos, nem grupos privilegiados, nem pessoas mais importantes do que as outras, nem distinções baseadas no dinheiro, na beleza, na cultura, na posição social. Na comunidade cristã há irmãos iguais. Aquilo que nos deve mover é a vontade de servir, de partilhar com os irmãos os dons que Deus nos concedeu. O nosso exemplo é Jesus que viveu não “para ser servido, mas para servir”. Este é o melhor e o mais admirável resumo do que ele foi: pobre, despojado, feliz, apaixonado, ousado, próximo e dedicado.

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Santa Teresa de Jesus – 15 de Outubro

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Teresa de Ahumada nasceu no dia 28 de Março de 1515. De entre os seus 11 irmãos, Teresa evidenciou ser a mais inteligente e agradável no trato, daí a mais querida de seus pais. Desde criança se imprimiu no seu espírito um forte desejo do Céu e da eternidade. Com apenas 13 anos perdeu a mãe. A partir daí foi junto de uma imagem de Nossa Senhora, na sua igreja paroquial, pedindo-lhe que fosse a sua mãe. Ao entrar na adolescência e juventude, órfã de mãe, Teresa sente-se um pouco desorientada e, com os seus primos, perde-se em futilidades e vaidades próprias da idade, inspiradas pelos romances que adorava ler. O seu pai viu-se obrigado a interná-la no Colégio de Irmãs de Nossa Senhora da Graça. Uma jovem freira da comunidade, de quem Teresa se tornou amiga, foi a sua então educadora e ajudou-a a redescobrir os grandes valores humanos e cristãos. Começou a pensar na possibilidade de vir a ser também ela religiosa, e decidiu entrar no convento de Nossa Senhora da Encarnação, das carmelitas, onde já se encontrava uma das sumas amigas, Joana Soares. O seu pai não esteve de acordo, mas Teresa insistiu e ingressou neste convento de clausura, embora lhe custasse muito separar-se da casa paterna.

Depois da Profissão Religiosa, foi atingida por uma estranha e grave doença que a levou às portas da morte, ao ponto de se ter preparado a sepultura no cemitério do convento. O seu pai não desiste e acredita na recuperação de Teresa, encomenda-a a S. José e, passados quatro dias, sai dum coma profundo. Desde então, tornou-se grande devota de S. José, devoção que depois legou a todo o Carmelo reformado.

Teresa conheceu os segredos de Deus que lhe eram transmitidos pela oração. Recorreu aos melhores teólogos do seu tempo para que a ajudassem no seu itinerário orante e contemplativo. Entre os quais encontra-se S. João da Cruz, S. Francisco de Borja, S. Pedro de Alcântara, S. João de Ávila e outros de grande fama no seu tempo. Um dia ouviu a voz do Senhor que lhe dizia: «Já não quero que tenhas conversas com homens, mas com anjos». Deus revelou-lhe verdades e incutiu-lhe grandes desejos de santidade e de serviço à Igreja.

Quando a Igreja, por causa dos protestantes, proibiu as edições da Bíblia em língua que não fosse o latim, Teresa sentiu muita pena e ouviu Cristo que lhe disse: «Não te preocupes. Eu serei o teu livro vivo». Por esta altura, sentiu o impulso que a inspirava a renovar a Ordem do Carmo. Assim, passando por muitos sofrimentos e sempre com a ajuda de Deus, fundou o primeiro convento, o de S. José de Ávila, da nova família das carmelitas descalças. Nas obras do seu primeiro convento, muito a ajudaram amigos e familiares. Foi inaugurado a 24 de Agosto de 1562, dia em que Teresa se descalçou, mudou de hábito e começou a chamar-se Teresa de Jesus.

A cidade de Ávila quis destruir o convento por não concordar com a reforma por ela iniciada e por já existirem muitos nesta cidade abulense. Mas quando Deus quer e o homem colabora, nenhuma oposição faz parar uma boa obra. A sua segunda fundação foi em Medina del Campo, onde conheceu S. João da Cruz, ficando encantada com ele e pedindo-lhe que fosse o primeiro carmelita descalço.

Em 1571, foi nomeada pelos superiores, prioresa da comunidade onde havia estado, a do Convento da Encarnação. Começou o seu mandato colocando as chaves do convento nas mãos duma imagem de Nossa Senhora do Carmo, a quem colocou na cadeira priorial, e Teresa a seus pés. Assim conquistou a simpatia da comunidade de quase 200 freiras, até então enfurecida com as suas aventuras. É aqui, neste mesmo lugar, que um dia ouviu o Senhor dizer-lhe: «Teresa, se não tivesse criado o Céu, para ti e por tua causa o criaria agora».

Durante o seu priorato na Encarnação, chamou para Ávila S. João da Cruz, reconhecendo-o como o único capaz de a ajudar naquela difícil empresa, fazendo dele o confessor do convento. Quando o apresentou à comunidade disse: «Irmãs, trago-vos por confessor um Santo!».

Ao todo, fundou dezassete conventos. O último foi o de Burgos. O Inverno estava áspero e a saúde de Teresa muito débil. Mas no meio das maiores dificuldades, erigiu o último convento. Regressada a Ávila, mandaram-na para Alba de Tormes onde caiu de cama dizendo: «Não me lembro de me ter deitado tão cedo desde há muitos, muitos anos». Não se levantou mais. Nas suas últimas palavras de despedida disse: «Perdoem-me os maus exemplos que viram em mim, que sou má freira. Guardem a Regra e as Constituições, e não é preciso mais para as canonizar».

Perguntaram-lhe se, morrendo queria ser enterrada em Ávila, ao que respondeu perguntando: «Mas aqui não terão um pouco de terra que me emprestem até ao dia do Juízo?». E morreu, exclamando: «Por fim, Senhor, morro filha da Igreja!». Eram nove horas da noite do dia 4 de Outubro de 1582. Nesse ano, o calendário foi actualizado pelo que o dia seguinte seria o 15 de Outubro.

Teresa de Jesus foi uma mulher extremamente alegre, humilde e agradecida. A Frei João da Miséria que a pintou num quadro, respondeu: «Deus te perdoe, Frei João, que me pintaste feia e enrugada!». Era de grande simpatia e afabilidade no trato com todos. Relacionava-se com Deus como com Amigo. Pela sua experiência, vida e escritos tornou-se Mestra e Doutora da Igreja sobretudo pelos ensinamentos em matéria de oração.

Um dia disseram-lhe: «Madre, dizem que sois bonita, inteligente e santa. Que dizeis de vós mesma?». Teresa respondeu: «Bonita, vê-se bem. Inteligente, penso que nunca fui tonta. E santa, a veremos, assim Deus o queira!».

Deixou-nos preciosos livros espirituais, tais como: Livro da Vida, Caminho de Perfeição, Moradas ou Castelo Interior, Livro das Fundações, Poesias, Exclamações, e mais de 500 Cartas. O seu conteúdo espiritual e intuições teológicas são de tal maneira profundos que a Igreja a declarou Doutora da Igreja.

«Santa Teresa de Jesus é uma verdadeira mestra de vida cristã para os fiéis de todos os tempos. Na nossa sociedade, muitas vezes desprovida de valores espirituais, Santa Teresa ensina-nos a ser incansáveis testemunhas de Deus, da sua presença e da sua acção; ensina-nos a sentir realmente essa sede de Deus que existe no nosso coração, esse desejo de ver Deus, de buscá-lo, de ter uma conversa com Ele e de ser seus amigos. Esta é a amizade necessária para todos e que devemos buscar, dia após dia, novamente» (Bento XVI).

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A oração gera fraternidade

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Para a santa reformadora o caminho da oração transcorre na via da fraternidade no seio da Igreja mãe. Esta foi a sua resposta providencial, nascida da inspiração divina e da sua intuição feminina, aos problemas da Igreja e da sociedade do seu tempo: fundar pequenas comunidades de mulheres que, à imitação do “colégio apostólico”, seguiram Cristo vivendo simplesmente o Evangelho e sustendo toda a Igreja com uma vida feita oração. «Para isto vos juntou Ele aqui, irmãs» (Caminho 2,5) e tal foi a promessa: «que Cristo andaria connosco» (Vida 32,11). Que linda definição da fraternidade na Igreja: andar juntos com Cristo como irmãos! Para isso não recomenda Teresa de Jesus muitas coisas, simplesmente três: amar-se muito uns aos outros, desprender-se de tudo e verdadeira humildade, que «ainda que a digo por último é a base principal e as abraça todas» (Caminho 4,4). Como desejaria, nestes tempos, umas comunidades cristãs mais fraternas onde se faça este caminho: andar na verdade da humildade que nos liberta de nós mesmos para amar mais e melhor aos demais, especialmente aos mais pobres! Nada há mais belo do que viver e morrer como filhos desta Igreja mãe!

Papa Francisco

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Santa Teresa e o caminho da oração

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A Santa transitou também o caminho da oração, que definiu de forma bela como um «tratar de amizade estando muitas vezes a sós com quem sabemos que nos ama» (Vida 8,5). Quando os tempos são “difíceis”, são necessários «amigos fortes de Deus» para dar sustento aos fracos (Vida 15,5). Rezar não é uma forma de fugir, também não é evadir-se, nem isolar-se, mas sim avançar numa amizade que tanto mais cresce quanto mais se trata com o Senhor, «amigo verdadeiro» e «companheiro» fiel de viagem, com quem «tudo se pode sofrer», pois sempre «ajuda, dá esforço e nunca falta» (Vida 22,6). Para orar «não está a coisa em pensar muito mas sim em amar muito» (Moradas IV,1,7), em voltar os olhos para olhar aquele que não deixa de olhar-nos amorosamente e sofrer por nós pacientemente (cf. Caminho 26,3-4). Por muitos caminhos pode Deus conduzir as almas para si, mas a oração é o «caminho seguro» (Vida 213). Deixá-la é perder-se (cf. Vida 19,6). Estes conselhos da Santa têm uma actualidade perene. Sigam, pois, pelo caminho da oração, com determinação, sem deter-se, até ao fim! Isto vale particularmente para todos os membros da vida consagrada. Numa cultura do provisório, viva a fidelidade do «para sempre, sempre, sempre» (Vida 1,5); num mundo sem esperança, mostrem a fecundidade de um «coração enamorado» (Poesia 5); e numa sociedade com tantos ídolos, sejam testemunhas de que «só Deus basta» (Poesia 9).

Papa Francisco

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Santa Teresa de Jesus chama-nos à alegria

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Teresa de Jesus convida as suas monjas a «andar alegres servindo» (Caminho 18,5). A verdadeira santidade é alegria, porque “um santo triste é um triste santo”. Os santos, mais do que esforçados heróis são fruto da graça de Deus aos homens. Cada santo manifesta-nos um traço do multiforme rosto de Deus. Em santa Teresa contemplamos o Deus que, sendo «soberana Majestade, eterna Sabedoria» (Poesia 2), revela-se próximo e companheiro, tem as suas delícias em conversar com os homens: Deus alegra-se connosco. E, por sentir o seu amor, experimentava uma alegria contagiosa que não podia dissimular e que transmitia à sua volta. Esta alegria é um caminho que temos de andar durante toda a vida. Não é instantânea, superficial, barulhenta. É preciso procurá-la já «nos princípios» (Vida 13,l). Expressa o gozo interior da alma, é humilde e «modesta» (cf. Fundações 12,l). Não se alcança pelo atalho fácil que evita a renúncia, o sofrimento ou a cruz, mas que se encontra padecendo trabalhos e dores (cf. Vida 6,2; 30,8), olhando para o Crucificado e procurando o Ressuscitado (cf. Caminho 26,4). Daí que a alegria de santa Teresa não seja egoísta nem auto-referencial. Como a do céu, consiste em «alegrar-se que se alegrem todos» (Caminho 30,5), pondo-se ao serviço dos demais com amor desinteressado. Da mesma forma que disse a um dos seus mosteiros em dificuldades, a Santa diz-nos também hoje a nós, especialmente aos jovens: «Não deixem de andares alegres!» (Carta 284,4). O Evangelho não é uma bolsa de chumbo que se arrasta pesadamente, mas sim uma fonte de gozo que enche de Deus o coração e o leva a servir os irmãos!

Papa Francisco

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Se não entras ficas de fora

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Nós não acabamos de nos darmos a nós mesmos e é por isso que Deus não nos toma completamente.

Venerável Pe. Maria-Eugénio do Menino Jesus

Oração

Senhor, há muitas resistências em mim que não me deixam entregar inteiramente ao Teu amor. Há muitos medos, muitas inquietações, comodismo, intransigências… Ajuda-me e ensina-me a estar diante de Ti inteiramente abandonado e confiante no Teu amor “como criança ao colo da mãe”. Ensina-me a abrir-me totalmente ao Teu amor e a cooperar com a Tua vontade na minha vida. Assim seja!

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28º Domingo do Tempo Comum – Ano B

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 10, 17-30)

Naquele tempo, ia Jesus pôr-Se a caminho quando um homem se aproximou correndo e ajoelhou-se, perguntando: «Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?» Jesus disse: «Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão um só: Deus. Sabes os mandamentos: Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes, honra teu pai e tua mãe.» Ele respondeu: «Mestre, tenho cumprido tudo isso desde a minha juventude.» Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele e disse: «Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me.» Mas, ao ouvir tais palavras, ficou de semblante anuviado e retirou-se pesaroso, pois tinha muitos bens. Olhando em volta, Jesus disse aos discípulos: «Quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que têm riquezas!» Os discípulos ficaram espantados com as suas palavras. Mas Jesus prosseguiu: «Filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus.» Eles admiraram-se ainda mais e diziam uns aos outros: «Quem pode, então, salvar-se?» Fitando neles o olhar, Jesus disse-lhes: «Aos homens é impossível, mas a Deus não; pois a Deus tudo é possível.» Pedro começou a dizer-lhe: «Aqui estamos nós que deixámos tudo e te seguimos.» Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: quem deixar casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou campos por minha causa e por causa do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, no tempo presente, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, juntamente com perseguições, e, no tempo futuro, a vida eterna.»

Reflexão

A mudança fundamental para a qual Jesus nos chama é clara. Deixar de sermos uns egoístas que olham as demais pessoas em função dos seus próprios interesses para ousarmos corajosamente iniciar uma vida mais fraterna e solidária. Por isso, a um homem rico que observa fielmente todos os preceitos da lei, mas vive fechado na sua própria riqueza, falta-lhe algo essencial para ser discípulo: compartilhar o que possui com os necessitados.

Há algo muito claro no evangelho de Jesus. A vida não nos foi dada para fazermos dinheiro, para termos êxito ou para obtermos um bem-estar pessoal, mas para sermos irmãos. Se pudéssemos ver o projecto de Deus com a transparência com a qual Jesus o vê e compreender, com um único olhar, a profundidade última da existência, dar-nos-íamos conta de que a única coisa importante é criar fraternidade. O amor fraterno que nos leva a compartilhar o que é nosso com os necessitados é “a única força de crescimento”.

O ser humano melhor sucedido não é, como às vezes se pensa, aquele que consegue acumular mais quantidade de dinheiro, mas quem sabe conviver melhor e de maneira mais fraterna. Por isso, quando alguém renuncia, aos poucos, à fraternidade e se fecha nas suas próprias riquezas e interesses, sem resolver o problema do amor, termina por fracassar como ser humano.

Ainda que viva observando fielmente umas normas de conduta religiosa, ao encontrar-se com o Evangelho descobrirá que na sua vida não há verdadeira alegria, e se distanciará da mensagem de Jesus com a mesma tristeza daquele homem que “foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico”.

Palavra para o caminho

Há também pobres com mentalidade de rico. São pobres, mas não são “pobres de espírito” (Mt 5, 3). Não só a riqueza mas também o desejo de riqueza pode transformar a pessoa e torná-la escrava dos bens deste mundo, tornando difícil a aceitação do convite de Jesus: “Vai, vende tudo o que tens e dá-lo aos pobres e terás um tesouro no céu, e toma a tua cruz e segue-me” (Mc 10, 21). Não dará o passo que Jesus pede.

O grande perigo, a grande tentação, é tornarmo-nos auto-suficientes, ricos de nós próprios, ricos de bens, de teres. O Evangelho não está contra ter, está contra o modo como se tem, contra aquele que põe a confiança nos seus bens e espera daí a felicidade. Isto é, fechar-se sobre si próprio. É uma atitude com muitas consequências práticas, a de pôr o seu deus nos bens. Em quem pões a tua segurança, em Deus ou nos bens materiais? E o que é que estás disposto a largar da mão, o que tens e és ou só aquilo que te sobra? A riqueza é vista como um grande vício, porque é fazer daquilo que se tem, dos bens materiais, o seu deus… e até mesmo os bens espirituais se podem tornar uma riqueza neste sentido se penso que me são devidos, se fazem o meu orgulho.

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