20º Domingo do Tempo Comum – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 12, 49-53)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Eu vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado! Tenho de receber um baptismo, e que angústias as minhas até que ele se realize! Julgais que Eu vim estabelecer a paz na Terra? Não, Eu vo-lo digo, mas antes a divisão. Porque, daqui por diante, estarão cinco divididos numa só casa: três contra dois e dois contra três; vão dividir-se: o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra.»

Ressonâncias da Palavra

Eu vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado… Julgais que Eu vim estabelecer a paz na Terra? Não, Eu vo-lo digo, mas antes a divisão”.

Não é fácil para nós ver Jesus como alguém que traz um fogo destinado a destruir tanta mentira, violência e injustiça; um Espírito capaz de transformar o mundo, de forma radical, mesmo à custa de enfrentar e dividir as pessoas.

O crente em Jesus não é uma pessoa fatalista que se resigna perante a situação, procurando, sobretudo, tranquilidade e falsa paz. Não é um imobilista que justifica a ordem actual das coisas, sem trabalhar com ânimo criador e solidário por um mundo melhor. Tampouco é um rebelde que, movido pelo ressentimento, deita abaixo tudo para assumir ele mesmo o lugar daqueles que derrubou.

Quem segue Jesus, vive procurando ardentemente que o fogo acesso por Ele arda cada vez mais neste mundo. Mas, antes de mais nada, exige-se a si mesmo uma transformação radical: “só se pede aos cristãos que sejam autênticos. Esta é verdadeiramente a revolução” (E. Mounier).

Julgais que Eu vim estabelecer a paz na Terra? Não, Eu vo-lo digo, mas antes a divisão”. “Seguir Jesus comporta a renúncia ao mal, ao egoísmo, e a escolha do bem, da verdade e da justiça, mesmo quando isto exige sacrifício e renúncia aos próprios interesses. E isto sim, divide; como sabemos, divide até os vínculos mais estreitos. Mas atenção: não é Jesus que divide! Ele propõe o critério: viver para si mesmo, ou para Deus e para o próximo; ser servido, ou servir; obedecer ao próprio eu, ou obedecer a Deus. Eis em que sentido Jesus é «sinal de contradição” (Lc 2, 34) (Papa Francisco).

Palavra para o caminho                               

A Virgem Maria, Rainha da Paz, partilhou até ao martírio da alma a luta do seu Filho Jesus contra o maligno, e continua a partilhá-la até ao fim dos tempos. Invoquemos a sua protecção materna, para que nos ajude a ser sempre testemunhas da paz de Cristo, sem nunca descer a compromissos com o mal” (Bento XVI).

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Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) – 9 de Agosto

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Santa Edith Stein nasceu a 12 de Outubro de 1891, no seio de uma família de judeus. A cidade que a viu nascer chama-se Breslau, na Alemanha. Apaixonadíssima pela busca e conhecimento da verdade, procurou-a com toda a força da sua alma, desde a sua juventude. Não encontrou a verdade, nem na religião judaica nem na filosofia que entretanto estudou e ensinou como professora na Universidade de Gottingen. Um dia, encontrando o Livro da Vida, escrito por Santa Teresa de Jesus, exclamou entusiasmada: «Esta é a verdade!», e não parou de ler enquanto não terminou o livro.

Baptizou-se em 1922, tomando o nome de Teresa. Em 1933 entrou no Carmelo da Cidade de Colónia, tomando o nome de Teresa Benedita da Cruz; pois, como dizia, foi Santa Teresa quem a despertou para a Verdade e, em S. João da Cruz encontrou a perfeita vivência do mistério da Paixão, a razão do seu viver. Imitando-o tomou o nome da Cruz. Ofereceu-se como vítima de Deus, pelo seu povo e pela paz.

Antes de ingressar no Carmelo, algumas pessoas influentes tentaram demovê-la da sua decisão, dizendo-lhe que era mais útil na Universidade que no convento. Ao que Edith Stein respondeu dizendo: «Não é a actividade humana que nos há-de salvar, mas a Paixão de Cristo. Tomar parte nela é a minha aspiração». E depois de se ter tornado carmelita acrescentou: «A oração e o sacrifício valem muito mais do que se possa pensar… Por toda e qualquer oração, mesmo pela mais pequenina, acontece algo na Igreja… Aprendamos a servir-nos da oração, para que à hora, de cada dia, fazermos uma obra de eternidade».

A perseguição anti-semita punha a sua vida em perigo. Os superiores decidiram, por isso, que deixasse a Alemanha, e transferiram-na para um Carmelo na Holanda. Foi-lhe muito difícil abandonar o Carmelo de Colónia onde entrara na Festa de Santa Teresa, a 15 de Outubro de 1933. Acerca do Carmelo escreveu dizendo: «É o santuário mais íntimo que a Igreja tem. Sempre me pareceu que Deus me tinha reservado, no Carmelo, alguma coisa que em nenhuma outra parte do mundo me poderia dar».

Após a invasão da Holanda por Hitler, a terrível polícia SS foi arrancá-la à clausura do Carmelo. A Irmã Teresa da Cruz saudou os polícias com a saudação cristã «Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo», porque como disse, estava convencida que com «aquela saudação não saudava a polícia alemã, antes os representantes daquela luta antiga entre Cristo e o Demónio». No dia 9 de Agosto de 1942, foi conduzida à câmara de gás, repetindo pela última vez o que já deixara escrito antes: «Não sou nada e nada valho, mas… quero oferecer-me ao Coração de Jesus como vítima pela verdadeira paz. Que seja derrubado o poder do Anti-Cristo e a ordem se volte a estabelecer». Diante da morte soube manter-se serena até ser acolhida pelas mãos de Deus, das quais deixou dito: «Aquelas mãos dão e pedem ao mesmo tempo. Vós sábios, deponde a vossa sabedoria e tornai-nos simples como crianças. Segui-me porque é preciso decidir entre a luz e as trevas». Morreu no campo de concentração de Aushwitz, repetindo a sua doação como vitima pela paz e pelo seu povo de Israel.

Mulher de singular inteligência e cultura, afamada professora universitária de Filosofia, deixou-nos numerosos escritos de elevada doutrina e profunda espiritualidade. O centro da sua vida e da sua contemplação na oração, pode comprovar-se pelos seus escritos, era o mesmo de S. João da Cruz: o mistério grandioso de Cristo Crucificado. 

Frases de Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein)

* Quanto mais alguém está imerso em Deus tanto mais deve sair de si, isto é, ir para o mundo a fim de levar a este a vida divina.

* Quanto mais é elevado o grau de união amorosa ao qual Deus destina a alma, tanto mais profunda e persistente deverá ser a sua purificação.

* A actividade humana não nos pode ajudar, mas unicamente a Paixão de Cristo. O meu desejo é participar nela.

* A Igreja é inabalável justamente porque une a absoluta defesa da verdade eterna a uma inigualável elasticidade em adaptar-se às situações e exigências de cada tempo.

* Nenhuma obra espiritual vem ao mundo sem grandes sofrimentos. Ela desafia sempre o homem inteiro.

* O lugar de cada um de nós depende unicamente da nossa vocação. A vocação não se encontra simplesmente depois de ter reflectido e examinado os vários caminhos: é uma resposta que se obtém com a oração.

* Quanto mais escuridão se faz ao nosso redor, mais devemos abrir o coração à luz que vem do alto.

* Quem pertence a Cristo, deve viver a vida inteira de Cristo, deve atingir a maturidade de Cristo, deve, finalmente, abraçar a cruz, encaminhar-se para o Getsémani e o Gólgota.

* A essência mais íntima do amor é a doação. Deus, que é amor, dá-se à criatura que Ele mesmo criou por amor.

* O Senhor está presente no tabernáculo com divindade e humanidade. Ele está ali, não para si mesmo, mas para nós: porque a sua alegria consiste em estar com os homens. E porque sabe que nós, como somos, temos necessidade da sua proximidade pessoal. A consequência, para quantos pensam e sentem normalmente, é sentir-se atraídos e de parar ali de vez em quando, na medida em que lhes for possível.

 

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Não temerei nenhum mal porque Vós estais comigo

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Às almas mais generosas costumam apresentar-se outras feras mais interiores e espirituais, como sejam, dificuldades e tentações, tribulações e trabalhos de várias espécies pelos quais é conveniente passar. Deus manda-os aos que quer elevar a grande perfeição, provando-os e examinando-os como ouro no fogo, conforme diz David: “Muitas são as tribulações dos justos, mas de todas elas os livrará o Senhor”. Contudo, a alma enamorada, que estima o seu Amado acima de todas as coisas, confiando no seu amor e no seu auxílio, não tem grande dificuldade em dizer: “Nem temerei as feras, e passarei os fortes e fronteiras”.

São João da Cruz

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19º Domingo do Tempo Comum – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 12, 32-48)

Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino.» «Vendei os vossos bens e dai-os de esmola. Arranjai bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável no Céu, onde o ladrão não chega e a traça não rói. Porque, onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.» «Estejam apertados os vossos cintos e acesas as vossas lâmpadas. Sede semelhantes aos homens que esperam o seu senhor ao voltar da boda, para lhe abrirem a porta quando ele chegar e bater. Felizes aqueles servos a quem o senhor, quando vier, encontrar vigilantes! Em verdade vos digo: Vai cingir-se, mandará que se ponham à mesa e há-de servi-los. E, se vier pela meia-noite ou de madrugada, e assim os encontrar, felizes serão eles. Ficai a sabê-lo bem: se o dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, não teria deixado arrombar a sua casa. Estai preparados, vós também, porque o Filho do Homem chegará na hora em que menos pensais.»

Pedro disse-lhe: «Senhor, é para nós que dizes essa parábola, ou é para todos igualmente?» O Senhor respondeu: «Quem será, pois, o administrador fiel e prudente a quem o senhor pôs à frente do seu pessoal para lhe dar, a seu tempo, a ração de trigo? Feliz o servo a quem o senhor, quando vier, encontrar procedendo assim. Em verdade vos digo que o porá à frente de todos os seus bens.

Mas, se aquele administrador disser consigo mesmo: ‘O meu senhor tarda em vir’ e começar a espancar servos e servas, a comer, a beber e a embriagar-se, o senhor daquele servo chegará no dia em que ele menos espera e a uma hora que ele não sabe; então, pô-lo-á de parte, fazendo-o partilhar da sorte dos infiéis. O servo que, conhecendo a vontade do seu senhor, não se preparou e não agiu conforme os seus desejos, será castigado com muitos açoites. Aquele, porém, que, sem a conhecer, fez coisas dignas de açoites, apenas receberá alguns. A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito será pedido.»

Horizontes da Palavra

A comunidade cristã é caracterizada como “pequeno rebanho”. A sua pequenez é tão evidente, não só em termos numéricos como também em termos da sua importância e força dentro da sociedade de então do império romano, que devia ter provocado insegurança e medo em muitos cristãos. Por isso, as palavras de encorajamento: “Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino”.  Assim começa o Evangelho deste 19º Domingo do Tempo Comum, retirado de Lucas 12,32-48. O “pequeno Rebanho” lembra o “pequeno Resto” da literatura profética, que não confia no ódio e na violência, no poder, na mentira e na corrupção, mas põe toda a sua confiança em Deus, no respeito de cada ser humano, na liberdade, na responsabilidade e no amor. Com este PAI NOSSO, fica mal agarrarmo-nos ciosamente às coisas, fica bem dar de graça, dado que de graça recebemos. Amor novo, coração novo, tesouro novo. A traça só corrói, a graça só constrói. “De facto, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração”.

Este versículo desafia-nos a fazermos uma meditação mais profunda sobre os valores da nossa vida. Onde, realmente, e não teoricamente, está o meu tesouro? Em que é que eu de facto ponho a minha confiança? Quais são os verdadeiros tesouros da minha vida?

Em seguida, Lucas coloca-nos diante das exigências da vigilância e responsabilidade: “Ficai a sabê-lo bem: se o dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, não teria deixado arrombar a sua casa. Estai preparados, vós também, porque o Filho do Homem chegará na hora em que menos pensais”.  Embora muitas vezes se interprete este trecho sobre a vinda do Senhor em termos do “fim do mundo”, ou referindo-se ao momento da nossa morte, realmente esses versículos têm uma abrangência muito maior. A ênfase não está no fim, mas na atitude que sempre devemos ter na nossa caminhada. Devemos estar sempre despertos, para não perdermos o momento de Jesus passar na nossa vida. Ele  vem até nós todos os dias, nas pessoas, nos acontecimentos da nossa realidade, na comunidade em que vivemos.

Jesus fala também aos dirigentes das comunidades cristãs. Os dirigentes cristãos não têm os seus ofícios para exercer um poder, para dominar, mas, muito pelo contrário, para melhor servir. Somos alertados para que não deixemos a corrupção do poder tomar conta da nossa vida. Como os dirigentes das comunidades têm consciência dos seus deveres, muito mais ainda é a sua responsabilidade: “A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito será pedido”.

Lucas convida a todos, especialmente os dirigentes, à vigilância, para que o nosso verdadeiro tesouro seja o serviço fraterno, como concretização do projecto de Jesus, e não a ganância, o poder, a dominação.

Palavra para o caminho

Estejam apertados os vossos cintos e acesas as vossas lâmpadas”. Estas palavras de Jesus são também hoje um apelo para viver com lucidez e responsabilidade, sem cair na passividade ou na letargia. Na história da Igreja há momentos em que cai a noite. No entanto, não é a hora de apagar as luzes e pormo-nos a dormir. É a hora de reagirmos, despertar a nossa fé e seguir caminhando para o futuro.

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Pensamentos sobre a Sagrada Escritura

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* Quando tomamos a Bíblia nas mãos e a lemos com fé, voltamos a passear com Deus no paraíso (Santo Ambrósio).

* Ler a Sagrada Escritura significa pedir o conselho de Cristo (São Francisco de Assis).

* Devemos estar abertos e disponíveis à Palavra de Deus, para fazer que a nossa vida quotidiana – a nível pessoal, familiar e profissional – esteja sempre em perfeita sintonia e em harmoniosa coerência com a mensagem de Jesus, com o ensinamento da Igreja e com os exemplos dos Santos (São João Paulo II).

* As escrituras manifestam a predilecção de Deus pelos pobres e necessitados. Os primeiros que têm direito ao anúncio do Evangelho são precisamente os pobres, necessitados não só de pão mas também de palavras de vida (Bento XVI).

* Desconhecer a Escritura é desconhecer Cristo (São Jerónimo).

* O próprio Jesus é a Palavra divina que se fez carne no seio virginal de Maria: nele, Deus revelou-se plenamente, disse-nos e deu-nos tudo, abrindo-nos os tesouros da sua verdade e da sua misericórdia (Bento XVI).

* Quando rezamos, falamos com Deus. Quando lemos a Sagra Escritura, Deus fala connosco (Santo Isidoro).

* Do Evangelho fiz o meu tesouro mais precioso (Santa Teresa do Menino Jesus).

* O padre deve ser o primeiro a desenvolver uma familiaridade com a Palavra de Deus: abeirar-se da Palavra com o coração dócil e orante, a fim de que ela penetre a fundo nos seus pensamentos e sentimentos e gere nele uma nova mentalidade, o pensamento de Cristo (Bento XVI).

 

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Frases sobre a Confissão

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* Confessar-se com um sacerdote é uma forma de colocar a minha vida nas mãos e no coração de outra pessoa, que naquele momento age no lugar e em nome de Jesus.

* Como confessor, mesmo quando me deparei com uma porta fechada, procurei sempre uma abertura, uma fresta para abrir aquela porta e poder conceder o perdão, a misericórdia.

* O simples facto de uma pessoa procurar o confessionário indica já um início de arrependimento, ainda que não seja consciente.

* O simples facto de estar ali (no confessionário) pode testemunhar o desejo de uma mudança.

* É importante que eu vá ao confessionário, que me coloque diante de um sacerdote, que personifica Jesus, que me ajoelhe perante a Mãe Igreja, chamada a distribuir a misericórdia de Deus.

* Os confessores têm à sua frente as ovelhas perdidas que Deus ama tanto; se não lhes demonstrarmos o amor e a misericórdia de Deus, afastam-se e talvez nunca mais voltem.

* Há muitas pessoas humildes que confessam as suas recaídas. O importante, na vida de cada homem e de cada mulher, não é nunca voltar a cair pelo caminho. O importante é levantar-se sempre, não ficar no chão a lamber as feridas. O Senhor da misericórdia perdoa-me sempre, de maneira que me oferece a possibilidade de voltar a começar sempre.

Papa Francisco

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18º Domingo do Tempo Comum – Ano C

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 12, 13-21)

Dentre a multidão, alguém lhe disse: «Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo.» Ele respondeu-lhe: «Homem, quem me nomeou juiz ou encarregado das vossas partilhas?»  E prosseguiu: «Olhai, guardai-vos de toda a ganância, porque, mesmo que um homem viva na abundância, a sua vida não depende dos seus bens.»

Disse-lhes, então, esta parábola: «Havia um homem rico, a quem as terras deram uma grande colheita. E pôs-se a discorrer, dizendo consigo: ‘Que hei-de fazer, uma vez que não tenho onde guardar a minha colheita?’ Depois continuou: ‘Já sei o que vou fazer: deito abaixo os meus celeiros, construo uns maiores e guardarei lá o meu trigo e todos os meus bens. Depois, direi a mim mesmo: Tens muitos bens em depósito para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te.’ Deus, porém, disse-lhe: ‘Insensato! Nesta mesma noite, vai ser reclamada a tua vida; e o que acumulaste para quem será?’ Assim acontecerá ao que amontoa para si, e não é rico em relação a Deus.»

Reflexão

Mais uma vez encontramo-nos com um dos temas favoritos de Lucas: o combate à ganância, em todas as suas formas, especialmente dentro da comunidade dos discípulos de Jesus. A parábola de hoje só se encontra neste Evangelho, sublinhando assim o interesse de Lucas pelo assunto.

Ressoa com todas as letras a advertência de Jesus dirigida os seus discípulos: “Olhai, guardai-vos de toda a ganância”. Com certeza, a caminhada de mais ou menos cinquenta anos das comunidades cristãs, até à data do escrito de Lucas, tinha mostrado que os cristãos não estavam isentos da tentação da acumulação de bens, e do individualismo. Importa realçar que o Evangelho não nega o valor nem a necessidade dos bens materiais. Afinal, sem eles não seria possível ter uma vida digna e humana, o que Deus quer para todos os seus filhos e filhas. A luta não é contra os bens, mas contra a ganância, o egoísmo, a acumulação, a confiança no aumento dos bens como valor supremo das nossas vidas.

A pergunta que Jesus faz: “E e o que acumulaste para quem será?”, levanta a pergunta fundamental que todos nós temos que responder: qual é o sentido da nossa vida? O que é realmente importante? Sobre o que baseamos a nossa felicidade? Tudo passará, tudo acabará. É uma tolice fundamentar a nossa felicidade sobre algo que necessariamente vai acabar. Podemos construir as nossas vidas sobre areia movediça, sem firmeza, ou sobre a rocha firme e imutável. Sobre coisas efémeras, ou sobre Deus e o seu projecto de solidariedade, fraternidade e partilha. A escolha é nossa!

Palavra para o caminho

A orientação da nossa vida é PARA NÓS MESMOS ou PARA DEUS? Recebemos a vida, os outros, a riqueza como um DOM e um EMPRÉSTIMO, de que devemos responder a cada momento, ou pensamos que somos DONOS de todos e de tudo?

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Beato Tito Brandsma – 27 de Julho

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Para o Beato Tito Brandsma a experiência de Deus não é privilégio de uma elite espiritual: todos estão chamados a gozar a comunhão e a união íntima com o Deus misericordioso. Ele dá-Se sem medida e só espera o acolhimento do coração humano, adaptando-se às nossas condições concretas, sem recusar nada da nossa natureza assumindo inclusivamente o pecado para nos redimir e nos exaltar, como nos mostrou na Encarnação. É necessário crescer cada dia na compreensão deste Mistério para poder adorá-lo não só no nosso interior, mas em tudo o que existe e, principalmente, no próximo, a cujo serviço devemos estar nas realidades concretas.

Tito dá exemplo disto mesmo com a sua própria vida: apesar de ser chamado a desempenhar importantes cargos, nada foi mais primordial para ele do que prestar atenção aos que necessitavam de ajuda, através do diálogo, a capacidade de reconciliação e a dedicação pastoral, entendida como desejo de levar Cristo aos mais necessitados.

A sua solidariedade com o povo judeu quando o governo de ocupação alemão estabeleceu na Holanda medidas anti-semitas, funda-se no seu amor à misericórdia e à justiça. Sem temer as consequências, põe-se do lado dos desesperados, quer dar voz àqueles a quem lhes foi tirada, defende igualmente a liberdade da imprensa católica frente às imposições totalitaristas do nazismo.

Tudo isto conduziu-o, por fim, também a ele a ser levado para os campos de concentração, onde sofre, padecimentos e humilhações, mas continua também aí a ser apóstolo da compaixão e reconciliação: partilhando a escassa ração de comida com os outros, animando todos, escutando confissões, inclusivamente de alguns dos seus guardas. Como afirmara: “meditar sobre a inesgotável misericórdia de Deus prevenir-nos de cair no desespero”.

No fim da sua vida, imitando Jesus misericordioso que pregado na cruz perdoou aos seus inimigos, Tito foi também o rosto da misericórdia mesmo para com a enfermeira que acabou com a sua vida, como ela mesma confessou anos mais tarde na sua declaração feita sob segredo, oferecendo-lhe o seu terço antes de morrer.

Fernando Millán, O.Carm. e Saverio Cannistrà, O.C.D.

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10 frases sobre o perdão e a misericórdia

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1. Redescubramos as obras de misericórdia corporais: dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos doentes, visitar os presos, enterrar os mortos. E não esqueçamos as obras de misericórdia espirituais: aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes, corrigir os que erram, consolar os tristes, perdoar as ofensas, suportar com paciência as pessoas molestas, rezar a Deus pelos vivos e defuntos.

2. Comove-nos a atitude de Jesus: não escutamos palavras de desprezo, não escutamos palavras de condenação, apenas palavras de amor, de misericórdia, que convidam à conversão.

3. Como é difícil muitas vezes perdoar! E, no entanto, o perdão é o instrumento colocado nas nossas frágeis mãos para alcançar a serenidade do coração. Deixar cair o rancor, a raiva, a violência e a vingança são condições necessárias para viver felizes.

4. O perdão é uma força que ressuscita para uma vida nova e infunde a valentia para olhar o futuro com esperança.

5. O sofrimento do outro constitui um apelo à conversão, porque a necessidade do irmão recorda-me a fragilidade da minha vida, a minha dependência de Deus e dos irmãos.

6. Quanto desejo que (…) as nossas paróquias e as nossas comunidades, cheguem a ser ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença.

7. A mensagem da Divina Misericórdia constitui um programa de vida muito concreto e exigente, pois implica as obras.

8. Ter um coração misericordioso não significa ter um coração débil. Quem deseja ser misericordioso necessita de um coração forte, firme, fechado ao tentador, mas aberto a Deus.

9. Não se pode viver sem perdoar ou, pelo menos, não se pode viver bem, especialmente em família.

10. A misericórdia para a qual somos chamados abraça toda a criação que Deus nos confiou para sermos cuidadores e não exploradores, ou pior ainda, destruidores.

Papa Francisco

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