Mensagem para a Quaresma de 2017 do Papa Francisco (Resumo)

A Palavra é um dom. O outro é um dom

 Amados irmãos e irmãs!

A Quaresma é um novo começo, uma estrada que leva a um destino seguro: a Páscoa de Ressurreição, a vitória de Cristo sobre a morte. E este tempo não cessa de nos dirigir um forte convite à conversão: o cristão é chamado a voltar para Deus «de todo o coração» (Jl 2, 12), não se contentando com uma vida medíocre, mas crescendo na amizade do Senhor.

A Quaresma é o momento favorável para intensificarmos a vida espiritual através dos meios santos que a Igreja nos propõe: o jejum, a oração e a esmola. Na base de tudo isto, porém, está a Palavra de Deus, que somos convidados a ouvir e meditar com maior assiduidade neste tempo. Aqui queria deter-me, em particular, na parábola do homem rico e do pobre Lázaro (cf. Lc 16, 19-31).

1. O outro é um dom

A parábola inicia com a apresentação dos dois personagens principais, mas quem aparece descrito de forma mais detalhada é o pobre: encontra-se numa condição desesperada e sem forças para se solevar, jaz à porta do rico na esperança de comer as migalhas que caem da mesa dele, tem o corpo coberto de chagas, que os cães vêm lamber . Enfim, o quadro é sombrio, com o homem degradado e humilhado.

O próprio pobre à porta do rico não é um empecilho fastidioso, mas um apelo a converter-se e mudar de vida. O primeiro convite que nos faz esta parábola é o de abrir a porta do nosso coração ao outro, porque cada pessoa é um dom, seja ela o nosso vizinho ou o pobre desconhecido. A Quaresma é um tempo propício para abrir a porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo. Cada um de nós encontra-o no próprio caminho. Mas, para se poder fazer isto, é necessário tomar a sério também aquilo que o Evangelho nos revela a propósito do homem rico.

2. O pecado cega-nos

A parábola põe em evidência, sem piedade, as contradições em que vive o rico (cf. v. 19). Este personagem, ao contrário do pobre Lázaro, não tem um nome, é qualificado apenas como «rico». A sua opulência manifesta-se nas roupas, de um luxo exagerado, que usa. Assim, a riqueza deste homem é excessiva, inclusive porque exibida habitualmente: «Fazia todos os dias esplêndidos banquetes». Entrevê-se nele, dramaticamente, a corrupção do pecado, que se realiza em três momentos sucessivos: o amor ao dinheiro, a vaidade e a soberba.

O apóstolo Paulo diz que «a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro» (1 Tm 6, 10). Esta é o motivo principal da corrupção e uma fonte de invejas, contendas e suspeitas. O dinheiro pode chegar a dominar-nos até ao ponto de se tornar um ídolo tirânico. Em vez de instrumento ao nosso dispor para fazer o bem e exercer a solidariedade com os outros, o dinheiro pode-nos subjugar, a nós e ao mundo inteiro, numa lógica egoísta que não deixa espaço ao amor e dificulta a paz.

Depois, a parábola mostra-nos que a ganância do rico fá-lo vaidoso. A sua personalidade vive de aparências, fazendo ver aos outros aquilo que se pode permitir. Mas a aparência serve de máscara para o seu vazio interior. A sua vida está prisioneira da exterioridade, da dimensão mais superficial e efémera da existência.

O degrau mais baixo desta deterioração moral é a soberba. O homem veste-se como se fosse um rei, simula a posição dum deus, esquecendo-se que é um simples mortal. Para o homem corrompido pelo amor das riquezas, nada mais existe além do próprio eu e, por isso, as pessoas que o rodeiam não caiem sob a alçada do seu olhar. Assim o fruto do apego ao dinheiro é uma espécie de cegueira: o rico não vê o pobre esfomeado, chagado e prostrado na sua humilhação.

Olhando para esta figura, compreende-se por que motivo o Evangelho é tão claro ao condenar o amor ao dinheiro: «Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro».

3. A Palavra é um dom

Só no meio dos tormentos do Além é que o rico reconhece Lázaro e queria que o pobre aliviasse os seus sofrimentos com um pouco de água. Os gestos solicitados a Lázaro são semelhantes aos que o rico poderia ter feito, mas nunca fez. Abraão, porém, explica-lhe: «Recebeste os teus bens na vida, enquanto Lázaro recebeu somente males. Agora, ele é consolado, enquanto tu és atormentado» (v. 25). No Além, restabelece-se uma certa equidade, e os males da vida são contrabalançados pelo bem.

Mas a parábola continua, apresentando uma mensagem para todos os cristãos. De facto o rico, que ainda tem irmãos vivos, pede a Abraão que mande Lázaro avisá-los; mas Abraão respondeu: «Têm Moisés e os Profetas; que os oiçam» (v. 29). E, à sucessiva objeção do rico, acrescenta: «Se não dão ouvidos a Moisés e aos Profetas, tão-pouco se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dentre os mortos» (v. 31).

Deste modo se patenteia o verdadeiro problema do rico: a raiz dos seus males é não dar ouvidos à Palavra de Deus; isto levou-o a deixar de amar a Deus e, consequentemente, a desprezar o próximo. A Palavra de Deus é uma força viva, capaz de suscitar a conversão no coração dos homens e orientar de novo a pessoa para Deus. Fechar o coração ao dom de Deus que fala, tem como consequência fechar o coração ao dom do irmão.

Amados irmãos e irmãs, a Quaresma é o tempo favorável para nos renovarmos, encontrando Cristo vivo na sua Palavra, nos Sacramentos e no próximo. Que o Espírito Santo nos guie na realização dum verdadeiro caminho de conversão, para redescobrirmos o dom da Palavra de Deus, sermos purificados do pecado que nos cega e servirmos Cristo presente nos irmãos necessitados.

FRANCISCO

 

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Na tentação apoia-te na Palavra de Deus

(Nas tentações que Jesus sofre no deserto) Ele não dialoga com Satanás, como tinha feito Eva no paraíso terrestre. Jesus sabe bem que com Satanás não se pode dialogar, porque é muito astuto. Por isso Jesus, em vez de dialogar como tinha feito Eva, escolhe refugiar-se na Palavra de Deus e responde com a força desta Palavra. Recordemo-nos disto: no momento da tentação, das nossas tentações, nenhum diálogo com Satanás, mas defendidos sempre pela Palavra de Deus! E isto nos salvará.

Papa Francisco

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8º Domingo do Tempo Comum – Ano A

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (6, 24-34)

 Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.» «Por isso vos digo: Não vos inquieteis quanto à vossa vida, com o que haveis de comer ou beber, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Porventura não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestido? Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; e o vosso Pai celeste alimenta-as. Não valeis vós mais do que elas? Qual de vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? Porque vos preocupais com o vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam! Pois Eu vos digo: Nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã será lançada ao fogo, como não fará muito mais por vós, homens de pouca fé? Não vos preocupeis, dizendo: ‘Que comeremos, que beberemos, ou que vestiremos?’ Os pagãos, esses sim, afadigam-se com tais coisas; porém, o vosso Pai celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isso. Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo. Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã já terá as suas preocupações. Basta a cada dia o seu problema.»

Mensagem

Na liturgia de hoje (na primeira leitura) ressoa uma das palavras mais comovedoras da Sagrada Escritura. O Espírito Santo no-la doou pela mão do chamado «segundo Isaías», o qual, para confortar Jerusalém desanimada pelas desventuras, assim se expressa: «Acaso pode uma mulher esquecer-se do menino que amamenta, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, eu nunca te esqueceria» (Is 49, 15). Este convite à confiança no amor indefectível de Deus é posto em paralelo com a página, de igual modo sugestiva, do Evangelho de Mateus, na qual Jesus exorta os seus discípulos a confiar na providência do Pai celeste, o qual nutre os pássaros do céu e veste os lírios do campo, e conhece todas as nossas necessidades (cf. 6, 24-34). Assim se expressa o Mestre: «Não vos preocupeis dizendo: “que comeremos nós, que beberemos ou que vestiremos”? Os pagãos, esses sim, afadigam-se com tais coisas; porém, o vosso Pai celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isso».

Perante a situação de tantas pessoas, próximas e distantes, que vivem na miséria, este discurso de Jesus poderia parecer pouco realista, ou até evasivo. Na realidade, o Senhor deseja fazer compreender com clareza que não se pode servir a dois senhores: a Deus e à riqueza. Quem crê em Deus, Pai cheio de amor pelos seus filhos, põe em primeiro lugar a busca do seu Reino, da sua vontade. (…) De facto, a fé na Providência não dispensa da luta cansativa por uma vida digna, mas livre da fadiga pelos objectos e do receio do futuro. É claro que este ensinamento de Jesus, mesmo permanecendo sempre verdadeiro e válido para todos, é praticado de modos diversos de acordo com as várias vocações: um frade franciscano poderá segui-lo de modo mais radical, enquanto um pai de família deverá ter em conta os próprios deveres para com a esposa e os filhos. Contudo, o cristão distingue-se pela absoluta confiança no Pai celeste, como foi para Jesus. É precisamente a relação com Deus Pai que dá sentido a toda a vida de Cristo, às suas palavras, aos seus gestos de salvação, até à sua paixão, morte e ressurreição. Jesus demonstrou-nos o que significa viver com os pés bem firmes no chão, atentos às situações concretas do próximo, e ao mesmo tempo tendo sempre o coração no Céu, imerso na misericórdia de Deus (Bento XVI).

Palavra para o caminho

“Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. Quem escolhe ser servo do dinheiro, torna o seu coração um mealheiro sem fundo, no qual deposita tudo o que transformou em dinheiro, sem nunca o encher, pois o amor iguala, sob certo aspecto, os amantes.

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Pensamentos sobre o Espírito Santo de Santo António

– O Espírito Santo chama-se consolador, por consolar aqueles que encheu, a fim de gozarem da alegria eterna aqueles que perderam os bens temporais.

– A criatura humana não pode progredir sem a graça do Espírito Santo, assim como a palmeira não frutifica sem o pólen.

– O Espírito Santo fala tantas vezes quantos bons pensamentos tivermos.

– O mundo inteiro não enche a alma. O Espírito Santo enche-a sozinho.

– O Espírito Paráclito pode comparar-se ao orvalho. Assim como o orvalho humedece suavemente o solo, o Espírito Santo penetra e refrigera a alma.

– O Espírito Santo queima os pecados, limpa os corações, sacode o torpor e ilumina a ignorância.

– Chama-se Espírito Santo, porque sem Ele, nenhum espírito, nem angélico e nem humano, se torna santo.

– O Espírito Santo torna a alma obediente e paciente.

– O Espírito da verdade dá testemunho nos corações dos fiéis da Encarnação de Cristo, da sua Paixão e Ressurreição.

– O Espírito Santo enche com a consolação da sua graça aquele que carece da luz da glória mundana.

– O Espírito Santo Paráclito é inspirado pelo Pai e pelo Filho nos corações dos santos; graças a Ele se santificam, a ponto de merecerem ser santos.

Santo António

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A esperança cristã e a criação

Quando o ser humano quebra a comunhão com Deus, perde a sua beleza originária e acaba por desfigurar tudo ao seu redor. Resultado: um pranto geral! Tudo geme: geme a criação, gememos nós, seres humanos, e geme até o Espírito Santo dentro de nós. São Paulo convida-nos a ouvir com atenção estes gemidos, porque não se trata de lamentações estéreis ou desesperadas; lembram mais os gemidos duma mulher com as dores do parto: são gemidos de quem sofre, mas sabe que está para vir à luz uma nova vida. Na verdade, sofremos ainda as consequências do nosso pecado e, ao nosso redor, são palpáveis os efeitos dos abusos contra a criação. O cristão não vive fora do mundo, sabe reconhecer na própria vida e naquilo que o rodeia os sinais do mal, do egoísmo e do pecado. É solidário com quem sofre, com quem chora, com quem está marginalizado, com quem se sente desesperado. Ao mesmo tempo, porém, o cristão aprendeu a ler tudo isso à luz da Páscoa, com os olhos de Cristo Ressuscitado, e sabe que o presente é tempo de expetativa, tempo animado por um anseio que vai para além do presente. Na esperança, sabemos que o Senhor quer curar definitivamente, com a sua misericórdia, os corações feridos e humilhados e aquilo que o homem deturpou com a sua impiedade, tudo regenerando num mundo novo e numa humanidade nova reconciliados finalmente no seu amor. E, contudo, muitas vezes também nós, cristãos, somos tentados pelo desânimo, pelo pessimismo, caindo em inúteis lamentações ou ficando sem saber que pedir ou esperar. Então vem em nosso auxílio o Espírito Santo, respiração da nossa esperança, que mantém vivos os gemidos e anseios do nosso coração. O Espírito vê, por nós, para além das aparências negativas do presente e revela-nos já agora os novos céus e a nova terra que o Senhor está a preparar para a humanidade.

Papa Francisco, Resumo da Audiência Geral de 22 de Fevereiro de 2017

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Exame de consciência

Exame de consciência é aprender com tudo o que acontece, é tirar lições de vida. Mas há quem tenha medo de o fazer porque não quer enfrentar-se nem admitir os próprios erros. Assim continua a repeti-los sem se dar conta. A prática da avaliação ao fim de cada dia, ao fim de cada acontecimento, é o segredo do crescimento. Vê-se o que vai bem para continuar a melhorar, dá-se conta dos erros para os corrigir e não os repetir.

Vasco P. Magalhães, sj

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Homilia da missa da beatificação de Francisco Marto e Jacinta Marto

“Eu te bendigo, ó Pai, porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelastes aos pequeninos”. Com estas palavras, Jesus louva os desígnios do Pai celeste: “Sim, Pai, Eu Te bendigo, porque assim foi do Teu agrado”. Quiseste abrir o Reino aos pequeninos. Por desígnio divino, veio do céu a esta terra, à procura dos pequeninos privilegiados do Pai, uma mulher revestida com o Sol. Fala-lhes com voz e coração de Mãe: convida-os a oferecerem-se como vítimas de reparação, oferecendo-se ela para os conduzir, seguros, até Deus. Foi então que das suas mãos maternais saiu uma luz que os penetrou intimamente, sentindo-se imersos em Deus como quando uma pessoa – explicam eles – se contempla num espelho. Mais tarde, Francisco, um dos três privilegiados, exclamava: nós estávamos a arder naquela luz que é Deus e não nos queimávamos. Como é Deus? Não se pode dizer. Isto sim que a gente não pode dizer. Deus: uma luz que arde mas não queima. A mesma sensação teve Moisés quando viu Deus na sarça-ardente. Ao beato Francisco, o que mais o impressionava e absorvia era Deus naquela luz imensa que penetrara no íntimo dos três. Na sua vida, dá-se uma transformação que poderíamos chamar radical; uma transformação certamente não comum em crianças da sua idade. Entrega-se a uma vida espiritual intensa que se traduz em oração assídua e fervorosa, chegando a uma verdadeira forma de união mística com o Senhor. Isto mesmo leva-o a uma progressiva purificação do espírito através da renúncia aos seus gostos e até às brincadeiras inocentes de criança. Suportou os grandes sofrimentos da doença que o levou à morte, sem nunca se lamentar. Grande era no pequeno Francisco, o desejo de reparar as ofensas dos pecadores, esforçando-se por ser bom e oferecendo sacrifícios e oração. E Jacinta sua irmã, quase dois anos mais nova que ele, vivia animada pelos mesmos sentimentos. Na sua solicitude materna, a Santíssima Virgem veio a Fátima, pedir aos homens para não ofenderem mais a Deus Nosso Senhor, que já está muito ofendido. Dizia aos pastorinhos: Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver que se sacrifique e peça por elas. A pequena Jacinta sentiu e viveu como própria esta aflição de Nossa Senhora, oferecendo-se heroicamente como vítima pelos pecadores. Um dia – já ela e Francisco tinham contraído a doença que os obrigava a estarem de cama – a Virgem Maria veio visitá-los a casa, como conta a pequenita: Nossa Senhora veio-nos ver e diz que vem buscar o Francisco muito em breve para o céu. E a mim perguntou-me se queria ainda converter mais pecadores. Disse-lhe que sim. E, ao aproximar-se o momento da partida do Francisco, Jacinta recomenda-lhe: Dá muitas saudades minhas a Nosso Senhor e a Nossa Senhora e diz-lhes que sofro tudo quanto Eles quiserem para converter os pecadores. Jacinta ficara tão impressionada com a visão do inferno, durante a aparição de treze de Julho, que nenhuma mortificação e penitência era demais para salvar os pecadores.

João Paulo II, Homilia da Missa da Beatificação de Francisco e Jacinta Marto no dia 13 de Maio 2000, em Fátima

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Festa dos Beatos Francisco e Jacinta Marto – 20 de Fevereiro

Oração pela canonização dos Beatos Francisco e Jacinta Marto

Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e agradeço-Vos as aparições da Santíssima Virgem em Fátima.

Pelos méritos infinitos do Santíssimo Coração de Jesus e por intercessão do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos que, se for para Vossa maior glória e bem das nossas almas, Vos digneis glorificar diante de toda a Igreja os bem-aventurados Francisco e Jacinta, concedendo-nos, por sua intercessão, a graça que Vos pedimos (nomeá-la). Ámen.

Pai-Nosso. Ave-Maria. Glória

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“Não oponhais resistência ao mau” (Mt 5, 39)

Eu, porém, digo-vos: Não oponhais resistência ao mau. Mas se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda (Mt 5, 39). Foi esta passagem que levou Gandhi a optar pela não-violência (em sânscrito ahimsa, “não injúria”) para alcançar a independência da Índia (como Luther King, †1968, nos EUA; o 25 de Abril, 1974, em Portugal; o Solidariedade, 1980, na Polónia; a queda do muro de Berlim, 1989). Diz ele: “A não-violência não consiste em renunciar à luta real contra o mal. A não-violência leva a cabo uma campanha mais activa contra o mal do que a lei de talião que, por sua natureza, apenas traz em si o aumento da perversidade. Perante o imoral, eu ergo uma oposição moral. Apaziguo a espada do tirano, desferindo-a, não com um aço mais aguçado, mas defraudando a sua esperança: ao não lhe oferecer nenhuma resistência física, ele encontrará em mim uma resistência de alma que se subtrairá ao seu assalto. Essa resistência, a princípio, cegá-lo-á, mas pouco depois obrigá-la-á a dobrar-se. E o fato de se dobrar não o humilhará, mas antes o dignificará”. E anota: “Não conheço ninguém que mais tenha feito pela humanidade do que Jesus. De facto, no cristianismo não há nada de errado. O problema sois vós, cristãos, vós que nem sequer começastes ainda a viver segundo os vossos próprios ensinamentos”. O Evangelho é, de facto, a única força revolucionária capaz de regenerar o ser humano.

Pedro Bravo, O. Carm.

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“Amai os vossos inimigos” (Mt 5, 44): Margarida Barankitse

Chamam-na «anjo do Burundi». É uma mulher tutsi, que fez da integração entre tutsis e hutus a razão de ser da sua vida. Recusou resignar-se diante do conflito que opõe estes dois povos e fez da sua vida uma cruzada de amor e reconciliação, criando um futuro diferente para crianças de ambas as etnias.

Tenho 53 anos de idade e desde os meus seis anos que o meu país vive em guerra fratricida. Não deve haver outro país onde se mate assim, sem medo. Em 1961 mataram o príncipe, em 1965 o primeiro-ministro, em 1972, em 1988 e depois em 1993, hutus e tutsis mataram-se mutuamente numa tragédia que não tem nome. Eu sou tutsi e na minha família perdi 62 pessoas, entre tios e tias, primos e primas. Apesar disso, sempre me recusei a olhar para o meu irmão hutu como um criminoso. O baptismo que eu recebi converteu-me em filha de Deus e irmã de cada pessoa. O que agora faço para benefício das crianças e jovens hutus e tutsis é por estar convencida que eu pertenço a uma família muito grande e muito nobre.

Naquela noite do meu desespero, que se seguiu ao massacre das 70 pessoas (adultos e crianças), que eu escondia, na casa do Bispo onde até então trabalhava – enquanto eu chorando dizia ao Senhor «Tu não és um Deus de amor!» – ouvi na capela a voz das sete crianças que sobreviveram ao massacre, que diziam: «Sim… estamos aqui salvos milagrosamente.» Tinham-se escondido na sacristia. Nessa noite, compreendi o dom da fé que não engana. Eram quatro crianças hutus e três tutsis, todas órfãs, que eu então adoptei sem saber onde as colocar, para onde ir. Os hutus não queriam nada comigo e os tutsis recusavam receber-me com as crianças hutus. Fomos, assim, recusados pela sociedade burundesa. Acabámos por ser recolhidos por um cooperante alemão, que pouco tempo depois regressou ao seu país. Fiquei novamente sozinha, com as crianças, sem dinheiro e sem casa. Dirigi-me então de novo ao bispo, que me acolheu com as crianças. Pensava que a guerra acabaria brevemente. Mas a minha aventura com as crianças não acabou: depressa eram 25 e sete meses depois eram mais de 300, dois anos mais tarde chegaram a 4000… A guerra demorou demasiado tempo e deixou uma multidão de órfãos.

Recusei-me a ficar amargurada. Dizia: «Senhor, se me dás estas crianças, ensina-me a educá-las com amor!» Podeis dar-vos conta que elas e eles fizeram de mim uma rainha… Cresceram, alguns são hoje profissionais, médicos, políticos… até sou «avó» de mais de 50 netos! Tudo isto é motivo mais que suficiente para não chorar mais por causa da guerra. Se, cada um de nós, na nossa vida, nos levantássemos e resistíssemos, seríamos capazes de mudar a face da Terra. Porque, como cristãos, se acreditamos, então somos capazes de deslocar o ódio e o medo e colocar no centro da nossa vida o amor. 

Sempre peço às crianças que se sintam felizes porque somos todos criados à imagem de Deus. E quando me perguntam como é que perdoei às pessoas que mataram os meus familiares, costumo responder que, na cruz, um criminoso também se salvou.

Costumava, aos domingos, ir visitar os presos na prisão. Um dia, ao distribuir pelos presos a comida que levava, ouvi a voz de um que me chamava de uma cela de isolamento. Os funcionários da prisão responderam que não mo podiam mostrar. Como eu insisti para o ver, responderam-me que era a pessoa que tinha ateado fogo às minhas tias. «Precisamente por isso», respondi-lhes, «é que o quero ver.» Pensei que Jesus na cruz, quando o ladrão lhe disse que pensasse nele quando estivesse no paraíso, respondeu: «Esta tarde estarás comigo.» Quando cheguei junto do preso, fizemos-lhe a higiene, lavámo-lo. Ele perguntou-me: «Maggy, porque, depois de tudo o que fiz, me tratas assim?» Eu só lhe respondi: «Porque acredito em ti, que és pessoa!»

A pessoa que hoje comete um crime pode fazer coisas maravilhosas amanhã, porque Deus a salvou. E a imagem de Deus nunca nos é tirada. Somos nós que contribuímos para que os nossos irmãos acabem por cometer o mal. Se cada vez que nos encontramos com os nossos irmãos vemos e reconhecemos neles a imagem de Deus, o mundo mudaria para melhor, seria um paraíso. O assassino que encontrei na prisão converteu-se em meu irmão. Ajudei-o a encontrar trabalho e hoje é um pai de família, com esposa e filhos, que me disse reconhecido e arrependido: «O teu perdão ressuscitou-me e deu-me a dignidade que tinha perdido.»

Margarida Barankitse

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