2º Domingo da Quaresma – Ano B

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 9, 2-10)

Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e levou-os, só a eles, a um monte elevado. E transfigurou-se diante deles. As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que lavadeira alguma da terra as poderia branquear assim. Apareceu-lhes Elias, juntamente com Moisés, e ambos falavam com Ele. Tomando a palavra, Pedro disse a Jesus: «Mestre, bom é estarmos aqui; façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias.» Não sabia que dizer, pois estavam assombrados. Formou-se, então, uma nuvem que os cobriu com a sua sombra, e da nuvem fez-se ouvir uma voz: «Este é o meu Filho muito amado. Escutai-o.» De repente, olhando em redor, já não viram ninguém, a não ser só Jesus, com eles. Ao descerem do monte, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que tinham visto, senão depois de o Filho do Homem ter ressuscitado dos mortos. Eles guardaram a recomendação, discutindo uns com os outros o que seria ressuscitar de entre os mortos.

Reflexão

O relato da Transfiguração de Jesus é antecedido do primeiro anúncio da paixão e de uma instrução sobre as atitudes próprias do discípulo (convidado a renunciar a si mesmo, a tomar a sua cruz e a seguir Jesus no seu caminho de amor e de entrega da vida ).

O anúncio da paixão submergiu os discípulos numa crise profunda. Nas suas cabeças tudo era confusão porque o que era ensinado era que o Messias seria glorioso e vitorioso. É por causa disto que Pedro reage com muita força contra a cruz. Um condenado à morte de cruz não podia ser o Messias, mas pelo contrário, segundo a Lei de Deus, devia ser considerado como um “maldito de Deus” (Dt 21, 22-23). Perante isto, a experiência da Transfiguração de Jesus podia ajudar os discípulos a superar o trauma da cruz. Com efeito, na Transfiguração, Jesus aparece na glória, e fala com Moisés e Elias acerca da sua paixão e morte. O caminho da glória passa portanto pela cruz.

Nos anos 70, quando Marcos escreveu o seu evangelho, a cruz constituía um grande impedimento para os judeus aceitarem Jesus como Messias. Como podia ser que um crucificado, morto como um marginal, pudesse ser o grande Messias esperado durante séculos pelos povos? A cruz era um impedimento para acreditar em Jesus. “A cruz é um escândalo”, diziam (1Cor 1, 23). As comunidades não sabiam como responder às perguntas críticas dos judeus. Um dos esforços maiores por parte dos primeiros cristãos consistiu em ajudar as pessoas a compreender que a cruz não era um escândalo, nem loucura, mas era antes a expressão do poder e da sabedoria de Deus (1Cor 1, 22-31). O evangelho de Marcos é um contributo para este esforço. Serve-se de textos do Antigo Testamento para descrever a cena da Transfiguração. Ilumina os acontecimentos da vida de Jesus e mostra que em Jesus são realizadas as profecias e que a cruz é o caminho que conduz à glória. E não só a cruz era um problema! Nos anos 70, a cruz da perseguição fazia parte da vida dos cristãos. Com efeito, pouco tempo antes, Nero desencadeara a perseguição e houve muitos mortos. Também hoje são-nos oferecidas oportunidades de viver como cristãos “crucificados”, podendo estas provações ajudar-nos a recuperar a nossa identidade cristã.

Palavra para o caminho

O texto do Evangelho deste Domingo pode ensinar-nos a valorizar os momentos de “Tabor”, os momentos de paz, de reflexão, de oração. Mas, se formos coerentes com a nossa fé, teremos muitas vezes de fazer a experiência de “Calvário”. Para os momentos de dúvida e dificuldade, o texto traz-nos o melhor conselho possível, através da voz que saiu da nuvem: “Este é o meu Filho muito amado. Escutai-o!”. Façamos isto, e venceremos os nossos Calvários, como Jesus venceu, e mais tarde, os seus discípulos.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *