Ano da Fé – LXII

sem nome

A morte Jesus e a morte do cristão

Será que a morte terá sentido, ou melhor, fará sentido um homem morrer? Aparentemente, dir-se-ia que não. O homem é todo ele desejo de viver e com todo o seu ser recusa a morte, mas ela aproxima-se inevitavelmente. Somos por natureza transitórios.

Embora a caducidade seja natural, a morte, vivida como solidão angustiada e impotente, não faz pare do desígnio da criação: “Deus não é o autor da morte, e a perdição dos vivos não Lhe dá nenhuma alegria” (Sab 1, 13). Pelo contrário, pertence à condição histórica da humanidade pecadora, afastada da comunhão original com Deus: “O pecado entrou no mundo e, com o pecado, a morte” (Rom 5, 12). Deste facto derivam o seu carácter de violência e de ameaça e o seu ferrão venenoso.

Jesus, embora não tivesse pecado, tomou a condição humana comum. Sentiu “pavor e angústia” (Mc 14, 33), “com grande clamor e lágrimas” (Heb 5, 7). Mas entregou-se confiadamente à vontade do Pai, ofereceu-se inteiramente pelo bem dos homens. Fez da sua morte um acto pessoal cheio de sentido. A ressurreição revelou a fecundidade da sua doação e deu um fundamento sólido à esperança dos crentes. O seu testemunho impele-os a segui-lo, confiantes no Pai omnipotente e misericordioso, cheios de amor pelos irmãos, preparados para acreditar na vida, mesmo nas trevas da morte.

O cristão teme a morte como todos os homens e como o próprio Jesus. A fé não o livra desta condição mortal. Todavia, sabe que já não está só. Obediente ao último chamamento do Pai, associado a Cristo crucificado e ressuscitado, confortado pelo Espírito Santo, pode vencer a angústia, muitas vezes, até transformá-la em alegria. Pode exclamar com o apóstolo Paulo: “A morte foi tragada pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória?” (1Cor 15, 54-55). Então, a morte assume o significado de um acto supremo de confiança na vida e de amor a Deus e a todos os homens.

Quero ver Deus, e para O ver é preciso morrer (Santa Teresa de Jesus).

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