Acompanhamento e oração

A segunda linha é acompanhamento e oração. O Carmelo é sinónimo de vida interior. Os místicos e os escritores carmelitas entenderam que “estar em Deus” e “estar nas suas coisas” nem sempre coincidem. Se nos tornarmos agitados por causa de fazer mil coisas por Deus sem estar enraizados n’Ele (cfr. Lc 10,38-42), mais cedo ou mais tarde a conta é-nos apresentada: damo-nos conta de que O perdemos durante o caminho. Santa Maria Madalena de’ Pazzi, nas suas famosas cartas de Renovamento da Igreja (1586), prevê que a “tibieza” pode infiltrar-se na vida consagrada quando os conselhos evangélicos se tornam apenas uma rotina e o amor de Jesus deixa de ser o centro da vida (cf. Exortação Apostólica A Alegria do Evangelho, nº 264). Do mesmo modo, também o mundanismo pode infiltrar-se, que é a tentação mais perigosa da Igreja, especialmente para nós, homens da Igreja. Sei muito bem, irmãos, que esta tentação entrou e causou sérios danos também entre vós. Rezei e rezo para que o Senhor vos ajude. E este Capítulo é uma ocasião providencial para receber do Espírito Santo a força para lutar juntos contra essas armadilhas.

Gerações de carmelitas e carmelitas ensinaram-nos com o exemplo, a viver mais “dentro” do que “fora” de nós mesmos, e a seguir para “o mais profundo centro”, como diz São João da Cruz (Chama viva de amor B, 1,11-12), porque aí habita Deus, e aí Ele nos convida a procurá-lo. O verdadeiro profeta na Igreja é aquele e aquela que vem do “deserto”, como Elias, cheio do Espírito Santo, com aquela autoridade que têm os que escutaram no silêncio a voz subtil de Deus (cf. 1 Rs 19,12).

Encorajo-vos a acompanhar as pessoas a “fazer amizade” com Deus. Santa Teresa dizia: “De falar ou ouvir falar de Deus quase nunca me cansava”. O nosso mundo tem sede de Deus e vós carmelitas, mestres de oração, podeis ajudar muitos a sair do barulho, da pressa e da aridez espiritual. Não se trata naturalmente de ensinar as pessoas a coleccionar orações, mas a serem homens e mulheres de fé, amigos de Deus, que sabem percorrer os caminhos do espírito.

Do silêncio e da oração nascerão comunidades renovadas e ministérios autênticos (cf. Const., nº 62). Como bons artesãos de fraternidade ponde a vossa confiança no Senhor vencendo a inércia do imobilismo e evitando a tentação de reduzir a comunidade religiosa a “grupos de trabalho” que acabariam por diluir os elementos fundamentais da vida religiosa. A beleza da vida comunitária é em si mesma um ponto de referência que gera serenidade, atrai o povo de Deus e contagia a alegria de Cristo Ressuscitado. O verdadeiro carmelita transmite a alegria de ver no outro um irmão que deve ser apoiado e amado e com quem se partilha a vida.

Papa Francisco aos participantes no Capítulo Geral da Ordem Carmelita

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Santa Teresa de Jesus – 15 de Outubro

– Por males que faça, quem começou a ter oração, não a deixe, pois é o meio por onde pode tornar a emendar-se e, sem ela, será muito mais dificultoso. […] A quem ainda não a começou, por amor do Senhor lhe rogo, não careça de tanto bem. Não há aqui que temer senão que desejar. […] Outra coisa não é, a meu parecer, oração mental, senão tratar de amizade, estando muitas vezes tratando a sós com quem sabemos que nos ama (Santa Teresa de Jesus).

– Almejemos e pratiquemos a oração já não para desfrutar, mas para ter a força de servir o Senhor (Santa Teresa de Jesus).

Preces

Aclamemos com alegria o Senhor da Glória, a Coroa de todos os Santos, que nos concedeu hoje a graça de celebrarmos Santa Teresa, e digamosGlória a vós, Senhor!

* Senhor, fonte de vida e de santidade, que manifestais nos vossos Santos as maravilhas da vossa graça, queremos com Santa Teresa cantar eternamente as vossas misericórdias. Glória a vós, Senhor!

* Vós, que desejais abrasar todo o mundo com o fogo do vosso Amor, fazei que sejamos, como Santa Teresa, servidores do vosso Amor entre os nossos irmãos. Glória a vós, Senhor!

* Vós, que revelais aos vossos Anjos os mistérios do vosso coração, associai-nos mais a vós, para que, tendo experimentado melhor o vosso amor em nós, conduzamos os irmãos para vós. Glória a vós, Senhor!

* Vós, que proclamastes bem-aventurados os puros de coração e prometestes que haveriam de ver-vos, purificai o nosso olhar, para que vos descubramos em todas as criaturas e nos elevemos sempre para vós. Glória a vós, Senhor!

* Vós, que resistis aos soberbos e dais inteligência aos simples, fazei que sejamos humildes de coração, para adquirirmos em benefício de toda a Igreja a sabedoria, que nos enriquece. Glória a vós, Senhor!

* Vós, que suscitastes na Igreja a família do Carmelo, concedei aos Carmelitas a graça da fidelidade ao espírito de oração e de zelo apostólico, a exemplo de Santa Teresa. Glória a vós, Senhor!

Oração

Senhor, que por meio de Santa Teresa de Jesus, inspirada pelo Espírito Santo, manifestastes à vossa Igreja o caminho da perfeição, concedei-nos a graça de encontrar alimento na sua doutrina espiritual e de nos inflamarmos no desejo da verdadeira santidade. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo. Amen.

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Cura a lepra do meu coração e dá-me um coração de filho

Dá-me um coração de filho! Sim, Pai, dá-me um coração de filho, um coração que confie e que se abandone, um coração manso e humilde, um coração que se entregue e se renda, e, sobretudo, um coração humilde e agradecido.

Desejo aprender a ser filho no Filho, unir-me cada vez mais a Cristo para viver como teu verdadeiro filho. Quantas infidelidades!. Mas Tu permaneces fiel, porque não podes negar-te a ti mesmo, não podes nunca deixar de ser Pai.

Quantas lepras impedem o meu agradecimento! Desejo agradecer-te, Pai, por tudo o que me dás, agradecer aos meus irmãos, simplesmente por estarem comigo. Mas não posso, Senhor, tem compaixão de mim. Cura a lepra do meu coração e dá-me um coração de filho.

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28º Domingo do Tempo Comum – Ano C

“A tua fé te salvou” (Lc 17, 19)

«A tua fé te salvou» (Lc 17, 19). É o ponto de chegada do Evangelho de hoje, que nos mostra o caminho da fé. Neste percurso de fé, vemos três etapas: invocar, caminhar e agradecer.

Primeiro, invocar. Os leprosos encontravam-se numa condição terrível não só pela doença em si mas também pela exclusão social. Embora a sua condição os coloque de lado, todavia diz o Evangelho que invocam Jesus «gritando» (17, 13) em voz alta. Não se deixam paralisar pelas exclusões dos homens e gritam a Deus, que não exclui ninguém… porque o Senhor ouve o grito de quem está abandonado.

Também nós – todos nós – necessitamos de cura, como aqueles leprosos. Precisamos de ser curados da pouca confiança em nós mesmos, na vida, no futuro; curados de muitos medos; dos vícios de que somos escravos; de tantos fechamentos, dependências e apegos: ao jogo, ao dinheiro, à televisão, ao telemóvel, à opinião dos outros. O Senhor liberta e cura o coração, se O invocarmos, se lhe dissermos: «Senhor, eu creio que me podeis curar; curai-me dos meus fechamentos, livrai-me do mal e do medo, Jesus».

Caminhar é a segunda etapa. Neste breve Evangelho de hoje… o mais impressionante é sobretudo o facto de os leprosos serem curados, não quando estão diante de Jesus, mas depois enquanto caminham, como diz o texto: «Enquanto iam a caminho, ficaram purificados» (17, 14). São curados enquanto vão para Jerusalém, isto é, palmilhando uma estrada a subir. É no caminho da vida que a pessoa é purificada, um caminho frequentemente a subir, porque leva para o alto. A fé requer um caminho, uma saída; faz milagres, se sairmos das nossas cómodas certezas, se deixarmos os nossos portos serenos, os nossos ninhos confortáveis. A fé aumenta com o dom, e cresce com o risco. A fé actua, quando avançamos equipados com a confiança em Deus. A fé abre caminho através de passos humildes e concretos, como humildes e concretos foram o caminho dos leprosos e o banho de Naaman no rio Jordão, que ouvimos na primeira Leitura (cf. 2 Re 5, 14-17). O mesmo se passa connosco: avançamos na fé com o amor humilde e concreto, com a paciência diária, invocando Jesus e prosseguindo para diante.

Outro aspecto interessante no caminho dos leprosos é que se movem juntos. Refere o Evangelho, sempre no plural, que «iam a caminho» e «ficaram purificados» (Lc 17, 14): a fé é caminhar juntos, jamais sozinhos. Mas, uma vez curados, nove continuam pela sua estrada e apenas um regressa para agradecer. E Jesus desabafa a sua mágoa assim: «Onde estão os outros nove?» (17, 17). Quase parece perguntar pelos outros nove, ao único que voltou. É verdade! Constitui tarefa nossa – de nós que estamos aqui a «fazer Eucaristia», isto é, a agradecer –, constitui nossa tarefa ocuparmo-nos de quem deixou de caminhar, de quem se extraviou: somos guardiões dos irmãos distantes. Somos intercessores por eles, somos responsáveis por eles, isto é, chamados a responder por eles, a tê-los a peito. Queres crescer na fé? Ocupa-te dum irmão distante, duma irmã distante.

Invocar, caminhar e… agradecer: esta é a última etapa. Só àquele que agradece é que Jesus diz: «A tua fé te salvou» (17, 19). Não se encontra apenas curado; também está salvo. Isto diz-nos que o ponto de chegada não é a saúde, não é o estar bem, mas o encontro com Jesus. A salvação não é beber um copo de água para estar em forma; mas é ir à fonte, que é Jesus. Só Ele livra do mal e cura o coração; só o encontro com Ele é que salva, torna plena e bela a vida. Quando se encontra Jesus, brota espontaneamente o «obrigado», porque se descobre a coisa mais importante da vida: não o receber uma graça nem o resolver um problema, mas abraçar o Senhor da vida.

É encantador ver como aquele homem curado, que era um samaritano, manifesta a alegria com todo o seu ser: louva a Deus em voz alta, prostra-se, agradece (cf. 17, 15-16). O ponto culminante do caminho de fé é viver dando graças. Podemos perguntar-nos: Nós, que temos fé, vivemos os dias como um peso a suportar ou como um louvor a oferecer? Ficamos centrados em nós mesmos à espera de pedir a próxima graça, ou encontramos a nossa alegria em dar graças? Quando agradecemos, o Pai deixa-Se comover e derrama sobre nós o Espírito Santo. Agradecer não é questão de cortesia, de etiqueta, mas questão de fé. Um coração que agradece, permanece jovem. Dizer «obrigado, Senhor», ao acordar, durante o dia, antes de deitar, é antídoto ao envelhecimento do coração. E o mesmo se diga em família, entre os esposos: lembrem-se de dizer obrigado. Obrigado é a palavra mais simples e benfazeja.

Papa Francisco, Homilia (resumo), 13 de Outubro, 2019

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Peregrinação internacional aniversária de Outubro

Nos dias 12 e 13 de Outubro realiza-se a Peregrinação internacional aniversária de Outubro à Cova da Iria que evoca a 6ª aparição de Nossa Senhora do Rosário de Fátima aos pastorinhos em 1917.

O que tenho dito da escolha que Deus fez do local, digo-o da escolha que fez o Senhor dos instrumentos dos quais quis servir-Se para realizar os planos da Sua imensa misericórdia para com a Humanidade decaída. Escolhe tão pobres crianças ignorantes, que os homens teriam rejeitado, como incapazes de servir para a realização de tal projecto. Mas Deus opera ao contrário dos homens, escolhe o que não serve para dele se servir, porque Sua é a sabedoria, a ciência, o poder e o querer, para comunicá-lo a quem Lhe apraz. O que quer é corações puros, para neles actuar a seu bel-prazer: Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus.

É a esses que o Senhor Se comunica, Se manifesta e para transformá-los segundo os planos da Sua misericórdia, e assim mostrar que não são eles, mas a graça de Deus que neles opera. Assim, o Senhor mostra que a obra é Sua e não dos fracos instrumentos que escolheu.

Serva de Deus Irmã Lúcia de Jesus

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Fidelidade e contemplação

Deus abençoou o Carmelo com um carisma original para enriquecer a Igreja e para comunicar ao mundo a alegria do Evangelho, partilhando o que recebestes com entusiasmo e generosidade: “De graça recebestes, de graça dai” (Mt 10, 8). Gostaria de vos encorajar acerca disto indicando-vos três linhas orientativas para o caminho.

A primeira linha é fidelidade e contemplação. A Igreja aprecia-vos e, quando pensa no Carmelo, pensa numa escola de contemplação. Como atesta uma rica tradição espiritual, a vossa missão é fecunda, na medida em que está enraizada na relação pessoal com Deus. O Beato Tito Brandsma, mártir e místico, afirmou: “É próprio da Ordem do Carmelo, embora seja uma Ordem mendicante de vida activa e que vive no meio das pessoas, conservar uma grande estima pela solidão e desapego do mundo, considerando a solidão e a contemplação como a melhor parte da sua vida espiritual”. As Constituições de 1995, que por estes dias estais a rever, sublinham-no: “A esta vocação contemplativa referem-se sempre os grandes mestres espirituais da família carmelita” (nº 17). O modo carmelita de viver a contemplação prepara-vos para servir o povo de Deus através de qualquer ministério e apostolado. O certo é que, qualquer que seja o que façais, sereis fiéis ao vosso passado e abertos ao futuro com esperança se, “vivendo em obséquio de Jesus Cristo” (Regra, nº 2), tiverdes especialmente no coração o caminho espiritual das pessoas.

Papa Francisco aos participantes no Capítulo Geral da Ordem Carmelita

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O Senhor pintou a sua palavra com muitas belezas

Quem poderá compreender, Senhor, toda a riqueza duma só das tuas palavras? Como o sedento que bebe da fonte, muito mais é o que perdemos do que o que tomamos. A tua palavra apresenta muitos aspectos diversos, como diversas são as perspectivas daqueles que a estudam. O Senhor pintou a sua palavra com muitas belezas, para que aqueles que a perscrutam possam contemplar aquilo que preferirem. Escondeu na sua palavra todos os tesouros, para que cada um de nós se enriqueça em qualquer dos pontos que medita.

 Santo Efrém

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27º Domingo do Tempo Comum – Ano C

Senhor, aumenta a nossa fé

Na alocução que precedeu a oração mariana do Angelus, o Papa Francisco baseou-se no Evangelho do 27º Domingo do Tempo Comum – Ano C (Lc 17,5-10), que apresenta o tema da fé. Os Apóstolos fazem a Jesus o seguinte pedido: “aumenta a nossa fé”. Este pedido é uma bela oração que podemos fazer muitas vezes ao longo do nosso dia: “Senhor, aumenta a minha fé!”.

Jesus responde com duas imagens: o grão de mostarda e o servo disponível.”Se tivésseis fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te daí e vai plantar-te no mar’ e ela obedecer-vos-ia” (v. 6). A amoreira é uma árvore robusta, bem enraizada na terra e resistente aos ventos. Jesus quer deixar claro que a fé, mesmo que pequena, pode ter força para arrancar até uma amoreira, e depois transplantá-la para o mar, o que é algo ainda mais improvável: mas nada é impossível para quem tem fé, porque não confia na sua própria força, mas em Deus, que tudo pode fazer.

A fé comparável à semente de mostarda é uma fé que não é soberba e auto-suficiente; não finge ser a de um grande crente que às vezes engana! É uma fé que na sua humildade sente uma grande necessidade de Deus e na sua pequenez abandona-se com total confiança a Ele. É a fé que nos dá a capacidade de olhar com esperança as vicissitudes da vida, que nos ajuda a aceitar também as derrotas, os sofrimentos, na consciência de que o mal nunca terá a última palavra.

Como sabemos se realmente temos fé, isto é, se a nossa fé, embora pequena, é verdadeira, autêntica? Jesus dá-nos a resposta ao indicar-nos qual é a medida da fé: o serviço. E fá-lo com uma parábola que, à primeira vista, é um pouco desconcertante, porque apresenta a figura de um patrão prepotente e indiferente. Mas, precisamente, esse modo de agir do patrão realça o verdadeiro centro da parábola: a atitude de disponibilidade do servo. Jesus quer-nos dizer que assim é o homem de fé perante Deus: submete-se completamente à sua vontade sem cálculos nem pretextos.

Esta atitude em relação a Deus também se reflecte na maneira de se comportar em comunidade: reflecte-se na alegria de estar ao serviço uns dos outros, encontrando já nisto a própria recompensa e não nos reconhecimentos e nos ganhos que dela possam resultar. É isto o que Jesus ensina no final desta história: “Assim também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ‘Somos servos inúteis: fizemos o que devíamos fazer'” (v. 10). Somos servos inúteis é uma expressão de humildade e de disponibilidade que faz muito bem à Igreja e que remete para a atitude certa no modo de agir: o serviço humilde do qual Jesus nos deu o exemplo, lavando os pés dos discípulos (Jo 13 : 3-17).

Papa Francisco, Angelus (resumo), 6 de Outubro, 2019

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Santa Teresinha do Menino Jesus – 1 de Outubro

A “confiança sem limites” de Santa Teresinha do Menino Jesus

Teresa via com desassossego os retiros anuais da comunidade. Os pregadores de então aterrorizavam as almas insistindo no pecado, que viam em tudo, nos tormentos do inferno que nos esperam e no sofrimento como único caminho de purificação.

O capelão da comunidade carmelita de Teresa era muito escrupuloso. Um dia a irmã Teresa de Santo Agostinho, uma religiosa muito observante, saiu do confessionário toda desfeita em lágrimas e comentou com a sua priora: “Madre, o capelão acaba de me dizer que eu já tenho um pé no inferno”. Ao que a priora respondeu: “Fique tranquila, irmã, que a mim disse-me que eu já tenho os dois lá”.

No retiro de 1891, quando Teresa tinha 19 anos, deveria orientá-lo o Pe. Benigno, provincial dos franciscanos, mas viu-se impedido de o pregar e mandou em sua vez o Pe. Prou que se dedicava a pregar nas fábricas às multidões e não estava habituado a tratar com as monjas contemplativas. Contudo, Teresa encontrou nele uma grande ajuda. Ela não fala do conteúdo das conferências apresentadas pelo pregador do retiro, mas sim de um encontro pessoal com o sacerdote, quando se confessou com ele, que a confirmou relativamente a algumas intuições que então estava a amadurecer: “Deus serviu-se precisamente dessa padre, a quem só eu apreciei na comunidade. Eu sofria por essa altura de grandes inquietações interiores de toda a espécie e estava disposta a nada dizer acerca do meu estado por não saber como deveria expressar-me, mas apenas entrei no confessionário, senti que a minha alma se dilatava. Depois de ter dito algumas palavras, fui compreendida de um modo maravilhoso. O padre lançou-me a velas desfraldadas pelos mares da confiança e do amor, que me atraíam tão fortemente, mas pelos quais não me atrevia a navegar. Disse-me que as minhas faltas não desagradavam a Deus. Que felicidade experimentei ao ouvir estas palavras consoladoras. Nunca tinha ouvido dizer que as faltas pudessem não desagradar a Deus. Esta segurança encheu-me de alegria e fez-me suportar pacientemente o desterro da vida. No fundo do meu coração estava convencida de que era assim mesmo, visto que Deus é mais terno do que uma mãe”.

Teresa sabe que uma mãe não se aborrece quando o seu pequeno filho cai ao chão quando está a aprender a andar. Preocupa-se antes se ele se aleijou e levanta-o com afecto, animando-o a tentar de novo a caminhar. Deus faz o mesmo: ele sabe que estamos a aprender a ser santos e não se aborrece pelas nossas faltas porque nos ama e só deseja o nosso bem. Por isso ajuda-nos a levantar-nos depois de cada queda e anima-nos.

As últimas palavras que Teresa escreve nos seus manuscritos autobiográficos, são muito significativas: “Sim, estou segura de que ainda que tivesse na consciência todos os pecados que se possam cometer, iria, com o coração despedaçado pelo arrependimento, lançar-me nos braços de Jesus, porque sei muito bem quanto ele ama o filho pródigo que retorna para ele. Deus na sua misericórdia, preveniente, preservou a minha alma do pecado mortal, mas não é isso que me eleva até ele, mas antes a confiança e o amor”.

Falando às suas Irmãs poucos dias antes de morrer, propõe-lhes este exemplo: “Vejam as crianças pequenas: não cessam de romper e rasgar coisas, cair, apesar de amarem muito os seus pais. Quando caio sou como uma criança. Então toco com o dedo o meu próprio nada e a minha debilidade e penso: ‘Que seria de mim, que faria se me apoiasse nas minhas próprias forças’”. Contudo ela está convencida de que o Pai celeste sempre se debruça sobre nós para nos levantarmos sempre que caímos.

Oração

Deus de infinita bondade, que abris as portas do vosso reino aos pequeninos e humildes, fazei que sigamos confiadamente o caminho espiritual de Santa Teresa do Menino Jesus, para que, por sua intercessão, cheguemos à revelação da vossa glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

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26º Domingo do Tempo Comum – Ano C

Segundo Lucas, quando Jesus gritou: «não se pode servir a Deus e ao dinheiro», alguns fariseus que o ouviam e eram amigos do dinheiro «riram-se dele». Jesus não recua. De imediato, conta uma parábola comovente para que aqueles que vivem escravos da riqueza possam abrir os olhos.

Jesus descreve em poucas palavras uma situação dramática. Um homem rico e um mendigo pobre que vivem perto um do outro, estão separados pelo abismo que há entre a vida de opulência insultante do rico e a miséria extrema do pobre.

A história descreve os dois personagens enfatizando fortemente o contraste entre os dois. O homem rico está vestido de púrpura e linho fino, o corpo do pobre está coberto de feridas. O rico banqueteia-se esplendidamente não apenas nos dias de festa, mas diariamente; o pobre está deitado na sua porta, incapaz de levar à boca o que cai da mesa do homem rico. Apenas os cachorros que procuram algo no lixo vêm lamber as suas feridas.

Não se fala em nenhum momento que o homem rico tenha explorado o pobre ou que o tenha maltratado ou desprezado. Diria-se que não fez nada de mal. No entanto, toda a sua vida é desumana, pois só vive para o seu próprio bem-estar. O seu coração é de pedra. Ignora totalmente o pobre. Tem-no à sua frente, mas ele não o vê. Está ali mesmo, doente, faminto e abandonado, mas não consegue atravessar a porta para tomar conta dele.

Não nos enganemos. Jesus não está a denunciar apenas a situação da Galileia dos anos trinta. Está a tentar abanar a consciência daqueles que se acostumaram a viver na abundância, tendo junto ao nosso portal, apenas a algumas horas de voo, povos inteiros vivendo e morrendo na miséria mais absoluta.

É desumano fechar-nos na nossa «sociedade do bem-estar» ignorando totalmente essa outra «sociedade do mal estar». É cruel continuar a alimentar essa «secreta ilusão de inocência» que nos permite viver com a consciência tranquila, pensando que a culpa é de todos e de ninguém.

A nossa primeira tarefa é quebrar a indiferença. Resistirmos a continuar desfrutando de um bem-estar vazio de compaixão. Não continuar a isolar-nos mentalmente para deslocar a miséria e a fome que há no mundo em direcção a um afastamento abstracto, para poder assim viver sem ouvir nenhum clamor, gemido ou choro.

O Evangelho pode ajudar-nos a viver vigilantes, sem nos tornarmos cada vez mais insensíveis aos sofrimentos dos abandonados, sem perder o sentido da responsabilidade fraterna e sem permanecermos passivos quando podemos agir.

José Antonio Pagola

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