A Santíssima Virgem e nós

O que a Santíssima Virgem tem a mais do que nós, é que não podia pecar, estava isenta do pecado original; mas, por outro lado, teve muito menos sorte do que nós, porque não teve uma Santíssima Virgem para amar. É uma doce consolação a mais para nós, e a menos para ela!

Santa Teresinha do Menino Jesus

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Santa Teresinha e Nossa Senhora

Sabemos muito bem que a Santíssima Virgem é a Rainha do Céu e da terra, mas ela é mais mãe do que rainha, e não se deve dizer, por causa dos seus privilégios, que ela eclipsa a glória dos santos todos, como o sol, ao surgir, faz desaparecer as estrelas. Meu Deus! que estranho! Uma Mãe que faz desaparecer a glória dos filhos! Eu, por mim, penso absolutamente o contrário; acredito que ela engrandecerá muito o esplendor dos eleitos.

Santa Teresinha do Menino Jesus

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Santa Teresinha do Menino Jesus – 1 de Outubro

Padroeira das missões e doutora da Igreja, Santa Teresa de Lisieux, apesar da sua vida breve, que terminou em 1897, tornou-se uma das santas mais conhecidas e amadas. Um ano após a sua morte, foi publicada a sua obra autobiográfica, “História de uma alma”. Trata-se de uma maravilhosa história de amor que encheu toda a vida de Teresa; este amor tem um rosto e um Nome: é Jesus. Recebida a autorização papal, pôde, aos dezesseis anos, entrar no Carmelo de Lisieux, assumindo o nome de Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face. Era movida pelo desejo de salvar almas e rezar pelos sacerdotes. Um ano antes da sua morte, iniciou a sua paixão pessoal que viveu em profunda união com a Paixão de Cristo. Tratou-se de uma paixão do corpo, com a doença que acabaria por levá-la à morte, mas, sobretudo, tratou-se de uma paixão na alma com uma dolorosa prova da fé, a qual ofereceu pela salvação de todos os ateus do mundo. Neste contexto de sofrimento, vivendo o maior amor nas pequenas coisas da vida diária, Teresa realizou a sua vocação de ser o Amor no coração da Igreja. De facto, as palavras “Jesus, eu Vos amo” estão no centro de todos os seus escritos, nos quais ressalta o “pequeno caminho de confiança e amor” que ela percorreu e procurou inculcar aos demais. 

Papa Bento XVI

Oração

Deus de infinita bondade, que abris as portas do vosso reino aos pequeninos e humildes, fazei que sigamos confiadamente o caminho espiritual de Santa Teresa do Menino Jesus, para que, por sua intercessão, cheguemos à revelação da vossa glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

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26º Domingo do Tempo Comum – Ano A

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (21, 28-32)

Naquele tempo, disse Jesus aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: «Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Foi ter com o primeiro e disse-lhe: ‘Filho, vai hoje trabalhar na vinha’. Mas ele respondeu-lhe: ‘Não quero’. Depois, porém, arrependeu-se e foi. O homem foi ter com o outro e falou-lhe do mesmo modo. Ele respondeu: ‘Eu vou, senhor’. Mas não foi. Qual dos dois fez a vontade ao pai?». Responderam: «O primeiro». Retorque-lhes Jesus: «Em verdade vos digo: os publicanos e as prostitutas precedem-vos no Reino de Deus. De facto, João Baptista veio até vós no caminho da justiça, e não acreditastes nele; mas os publicanos e as prostitutas acreditaram nele. E vós, que o vistes, afinal nem sequer vos arrependestes, para acreditardes nele».

Mensagem

A presente parábola situa-nos em Jerusalém, no Templo, na semana final do percurso terreno de Jesus. Pouco antes, Jesus entrara na Cidade Santa e fora aclamado pela multidão, mas a aclamação e o entusiasmo inicial das multidões não tardará a transformar-se numa violenta rejeição e condenação à morte de Jesus.

Os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo (os dirigentes religiosos e políticos de Israel) assumem-se então como o motor da oposição a Jesus. Eles não estão dispostos a reconhecê-lo como Messias, nem a aceitar o Reino que Ele prega. Jesus apresenta-lhes então três parábolas que ilustram a recusa do seu povo em acolher o Reino, aproveitando para os chamar à conversão. O texto de hoje é a primeira dessas parábolas.

Jesus ilustra então nesta parábola duas atitudes opostas perante a novidade do Reino por Ele pregado. Um homem tinha dois filhos. Convidou um a trabalhar “hoje” na vinha, símbolo do Povo de Deus. A sua primeira resposta foi negativa: “Não quero”. Na época, esta era uma atitude totalmente reprovável. No entanto, o filho acabou por reconsiderar e foi trabalhar para a vinha.

O outro filho, perante o mesmo convite, respondeu logo com veneração: “Eu vou, senhor”. Deu ao pai a resposta que este queria ouvir, não pôs em causa a autoridade deste e ficou bem visto por todos, que o consideraram um filho exemplar. Mas «não basta dizer ‘Senhor, Senhor’ para entrar no Reino dos céus», pois só aquele que faz a vontade do Pai é que nele entrará. Tal como os fariseus que dizem e não fazem, este filho só honrava o pai com a boca e não com o coração e, de facto, não foi trabalhar na vinha. Jesus pergunta então: “Qual dos dois fez a vontade do pai?” A resposta é óbvia: “O primeiro”.

Os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo – os representantes oficiais de Israel –, que à partida diziam “sim” a Deus, aceitando a sua Lei com todas as normas, preceitos e estatutos, orgulhando-se, por isso, de ser filhos de Abraão e reputando-se como o verdadeiro Israel, acabaram por rejeitar o chamamento à conversão que Deus lhes dirigiu pessoalmente através de João Baptista e de Jesus, não acreditando neles.

Foram os que se sabiam pecadores e como tal se reconheceram, que corresponderam à vontade do Pai: acolheram o convite de João, converteram-se e aderiram pela fé à pessoa e à mensagem de Jesus, entrando assim no Reino de Deus, participando da vida eterna. Paradoxalmente, passaram a ser os verdadeiros filhos de Abraão, o autêntico Israel, ao passo que os representantes do povo ao rejeitaram ambos, recusaram a vontade de Deus e o seu desígnio, auto-excluindo-se do Reino de Deus. Esta situação viria depois a repetir-se de forma mais alargada quando os pagãos acreditaram no Evangelho e se converteram, ao passo que Israel rejeitou Jesus, cumprindo-se assim o que Ele anunciara na parábola dos trabalhadores da vinha, dizendo: “Os últimos serão primeiros e os primeiros últimos”.

Palavra para o caminho

Quantos santos e santas veneramos que foram do “Não, mas depois foram”: Santo Agostinho, Santa Maria Madalena, Santo Inácio de Loiola…! E também temos santos do “Sim e foram”: Santa Teresa do Menino Jesus, Santa Teresa de Jesus, São João XXIII, São João Paulo II… Porém, não temos santos do “Sim, mas não foi”.

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Arcanjos São Miguel, São Gabriel e São Rafael – 29 de Setembro

Deveis saber que a palavra «Anjo» designa uma função, não uma natureza. Na verdade, aqueles santos espíritos da pátria celeste são sempre espíritos, mas nem sempre se podem chamar Anjos. Só são Anjos quando exercem a função de mensageiros. Os que transmitem mensagens de menor importância chamam-se Anjos; os que transmitem mensagens de maior transcendência chamam-se Arcanjos. (….)

Miguel significa «Quem como Deus?»; Gabriel, «Fortaleza de Deus»; e Rafael, «Medicina de Deus». Quando se trata de realizar algum mistério que exige um poder especial, verifica-se que é Miguel o enviado, para dar a entender, pela sua acção e pelo seu nome, que ninguém pode actuar como Deus. (…) A Maria foi enviado Gabriel, que significa «Fortaleza de Deus», porque veio anunciar Aquele que, apesar da sua aparência humilde, havia de triunfar sobre os poderes superiores. Convinha, de facto, ser anunciado pela «Fortaleza de Deus» Aquele que vinha ao mundo como Senhor dos Exércitos e poderoso nas batalhas. Rafael, como dissemos, quer dizer «Medicina de Deus», como se compreende na missão que teve junto de Tobias: tocou-lhe os olhos como um médico e dissipou as trevas da sua cegueira. Por isso, aquele que foi enviado para curar é chamado «Medicina de Deus».

São Gregório Magno

Oração

Senhor Deus do universo, que estabeleceis com admirável providência as funções dos Anjos e dos homens, concedei, propício, que a nossa vida seja protegida na terra por aqueles que eternamente Vos assistem e servem no Céu. Por Nosso Senhor Jesus Cristo vosso Filho que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo. Amen.

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Aniversário da morte do Papa João Paulo I – 28 de Setembro

Faz hoje 39 anos que o Papa João Paulo I (Albino Luciani) faleceu (28 de Setembro de 1978). Ficou conhecido como o “Papa do sorriso”. Governou a Santa Sé apenas durante 33 dias, entre 26 de Agosto de 1978 até à data da sua morte.

No dia de aniversário do seu falecimento publicamos este testemunho do Papa Bento XVI pronunciado no “Angelus” de 28 de Setembro de 2008.

Reflectindo sobre estes textos bíblicos, pensei imediatamente no Papa João Paulo I, do qual precisamente hoje se celebra o trigésimo aniversário da morte. Ele escolheu como mote episcopal o mesmo de São Carlos Borromeu: Humilitas. Uma só palavra que sintetiza o essencial da vida cristã e indica a virtude indispensável de quem, na Igreja, está chamado ao serviço da autoridade. Numa das quatro audiências concedidas durante o seu brevíssimo pontificado disse, entre outras coisas, com aquele tom familiar que o distinguia: “Limito-me a recomendar uma virtude, tão querida ao Senhor: disse: aprendei de mim que sou manso e humilde de coração… Mesmo se fizerdes coisas grandiosas, dizei: somos servos inúteis”. E observou: “Mas todos nós tendemos antes para o contrário: pôr-nos em evidência” (Insegnamenti di Giovanni Paolo I, p. 51-52). A humildade pode ser considerada o seu testamento espiritual.

Graças precisamente a esta sua virtude, foram suficientes 33 dias para que o Papa Luciani entrasse no coração do povo. Nos discursos usava exemplos tirados de acontecimentos de vida concreta, das suas recordações de família e da sabedoria popular. A sua simplicidade era veículo de um ensinamento sólido e rico, que, graças ao dom de uma memória excepcional e de uma vasta cultura, ele enriquecia com numerosas citações de escritores eclesiásticos e profanos. Deste modo foi um inigualável catequista, nas pegadas de São Pio X, seu conterrâneo e predecessor, primeiro na cátedra de São Marcos e depois na de São Pedro. “Devemos sentir-nos pequenos diante de Deus”, disse naquela mesma Audiência. E acrescentou: “Não me envergonho de me sentir como uma criança diante da mãe: acredita-se na mãe, eu creio no Senhor, naquilo que me revelou” (ibid., p. 49). Estas palavras mostram toda a consistência da sua fé. Ao agradecermos a Deus por tê-lo concedido à Igreja e ao mundo, valorizemos o seu exemplo, comprometendo-nos a cultivar a sua mesma humildade, que o tornou capaz de falar a todos, sobretudo aos pequeninos e aos chamados distantes. Invoquemos por isto Maria Santíssima, humilde Serva do Senhor.

Bento XVI

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Jesus não deixará que nos roubem a esperança

Bom dia, prezados irmãos e irmãs!

Neste tempo falamos sobre a esperança; mas hoje eu gostaria de refletir convosco sobre os inimigos da esperança. Pois a esperança tem os seus inimigos: como cada bem neste mundo, ela tem os seus inimigos.

E veio-me à mente o antigo mito da caixa de Pandora: a abertura da caixa desencadeia muitas desgraças para a história do mundo. No entanto, poucos se recordam da última parte da história, que abre uma espiral de luz: depois que todos os males saíram da caixa, um minúsculo dom parece ter a desforra diante de todo o mal que se propaga. Pandora, a mulher que conservava o jarro, vê-o por último: os gregos chamam-lhe elpís que significa esperança.

Este mito narra-nos por que razão a esperança é tão importante para a humanidade. Não é verdade que “enquanto houver vida, haverá esperança”, como se costuma dizer. Talvez o contrário: é a esperança que mantém em pé a vida, que a protege, que a conserva, que a faz crescer. Se os homens não tivessem cultivado a esperança, se não tivessem sido animados por esta virtude, nunca teriam saído das cavernas, nem teriam deixado vestígios na história do mundo. É o que de mais divino possa existir no coração do homem.

Um poeta francês — Charles Péguy — deixou-nos páginas maravilhosas sobre a esperança (cf. O pórtico do mistério da segunda virtude). Ele diz poeticamente que Deus não se admira tanto com a fé dos seres humanos, e nem sequer com a sua caridade; mas o que realmente o enche de admiração e emoção é a esperança das pessoas: «Que aqueles pobres filhos — escreve — vejam como vão as coisas e que acreditem que será melhor amanhã de manhã». A imagem do poeta evoca o rosto de muitas pessoas que passaram por este mundo — camponeses, pobres operários, migrantes em busca de um futuro melhor — que lutaram tenazmente, não obstante a amargura de um presente difícil, cheio de numerosas provações, mas animada pela confiança de que os filhos teriam uma vida mais justa e mais tranquila. Pelejavam pelos filhos, lutavam na esperança.

A esperança é o impulso no coração de quem parte, deixando a casa, a terra, às vezes familiares e parentes — penso nos migrantes — em busca de uma vida melhor, mais digna para si e para os próprios entes queridos. E é também o ímpeto no coração de quem acolhe: o desejo de se encontrar, de se conhecer, de dialogar… A esperança é o impulso a “compartilhar a viagem”, porque a viagem se faz em dois: aqueles que vêm à nossa terra, e nós que vamos rumo ao seu coração, para os entender, para compreender a sua cultura, a sua língua. É uma viagem em dois, mas sem esperança aquela viagem não se pode realizar. A esperança é o ímpeto a compartilhar a viagem da vida, como nos recorda a Campanha da Cáritas que hoje inauguramos. Irmãos, não tenhamos receio de compartilhar a viagem! Não tenhamos medo! Não temamos compartilhar a esperança!

A esperança não é uma virtude para pessoas de barriga cheia. Eis por que motivo, desde sempre, os pobres são os primeiros portadores de esperança. E neste sentido podemos dizer que os pobres, até os mendigos, são os protagonistas da História. Para entrar no mundo, Deus teve necessidade deles: de José e de Maria, dos pastores de Belém. Na noite do primeiro Natal havia um mundo que dormia, acomodado em tantas certezas adquiridas. Mas em segredo os humildes preparavam a revolução da bondade. Eram totalmente pobres, alguns flutuavam pouco acima do limiar da sobrevivência, mas eram ricos do bem mais precioso que existe no mundo, ou seja, a vontade de mudança.

Por vezes, ter tudo na vida é uma desventura. Pensai num jovem ao qual não foi ensinada a virtude da espera e da paciência, que não teve de suar por nada, que queimou etapas e com vinte anos “já sabe como vai o mundo”; foi destinado à pior condenação: não desejar mais nada. Eis a pior condenação, fechar a porta aos desejos, aos sonhos. Parece um jovem, mas no seu coração o outono já chegou. São os jovens de outono.

Ter uma alma vazia é o pior obstáculo para a esperança. Trata-se de um risco do qual ninguém se pode dizer excluído; porque podemos ser tentados contra a esperança até quando se percorre o caminho da vida cristã. Os monges da antiguidade denunciavam um dos piores inimigos do fervor. Diziam assim: aquele “demónio do meio-dia” que vai debilitar uma vida de compromissos, exatamente quando o sol arde lá no alto. Esta tentação surpreende-nos, quando menos esperamos: os dias tornam-se monótonos e tediosos, quase nenhum valor parece digno de esforço. Esta atitude chama-se acídia, que corrói a vida a partir de dentro, até a deixar como um invólucro vazio.

Quando isto acontece, o cristão sabe que aquela condição deve ser ser combatida, nunca aceite passivamente. Deus criou-nos para a alegria e a felicidade, não para nos remoermos em pensamentos melancólicos. Eis por que razão é importante preservar o próprio coração, opondo-nos às tentações de infelicidade, que certamente não derivam de Deus. E quando as nossas forças parecem frágeis e a batalha contra a angústia particularmente árdua, podemos recorrer sempre ao nome de Jesus. Podemos repetir aquela oração simples, da qual encontramos vestígios inclusive nos Evangelhos, e que se tornou o fulcro de muitas tradições espirituais cristãs: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, tende piedade de mim, pecador!”. Uma linda oração! “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, tende piedade de mim, pecador!”. Trata-se de uma prece de esperança, porque me dirijo Àquele que pode abrir de par em par as portas e resolver o problema e levar-me a fitar o horizonte, o horizonte da esperança.

Irmãos e irmãs, não lutamos sozinhos contra o desespero. Se Jesus venceu o mundo, é capaz de derrotar em nós tudo aquilo que se opõe ao bem. Se Deus estiver connosco, ninguém nos roubará aquela virtude, da qual temos absolutamente necessidade para viver. Ninguém nos furtará a esperança. Vamos em frente!

Papa Francisco, Audiência Geral, 27 de Setembro de 2017

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Como amamos?

Interessa perceber como amamos. Porque há formas de amar que são negativas, ou até destrutivas, e que, no fundo, não são verdadeiro amor. Eis a grande diferença: amar para libertar e promover, ou “amar” para possuir e degradar. Ser imagem de Deus não é só amar: é também a maneira como se ama. Ser imagem de Deus é dar espaço ao outro para que seja ele próprio.

Vasco P. Magalhães, sj

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Parábola do senhor da vinha (Mt 20, 16a)

Jesus narra precisamente a parábola do senhor da vinha que em diversas horas do dia chama trabalhadores para a sua vinha. E à tarde dá a todos o mesmo salário, uma moeda, suscitando o protesto daqueles da primeira hora. É claro que aquela moeda representa a vida eterna, dádiva que Deus reserva a todos. Aliás, precisamente aqueles que são considerados os “últimos”, se o aceitarem, serão os “primeiros”, enquanto os “primeiros” podem correr o risco de ser os “últimos”. Uma primeira mensagem desta parábola está no próprio facto de que o senhor não tolera, por assim dizer, o desemprego: quer que todos estejam ocupados na sua vinha. E na realidade ser chamado é já a primeira recompensa: poder trabalhar na vinha do Senhor, pôr-se ao seu serviço, colaborar para a sua obra, constitui por si mesmo um prémio inestimável, que recompensa todo o esforço. Mas só o compreende quem ama o Senhor e o seu Reino; pelo contrário, quem trabalha unicamente pelo salário nunca se dará conta do valor deste tesouro inestimável (…).

Quem narra a parábola é São Mateus, Apóstolo e Evangelista (…). Apraz-me sublinhar que Mateus, pessoalmente, viveu esta experiência (cf. Mt 9, 9). Com efeito, antes que Jesus o chamasse, ele desempenhava a profissão de publicano e por isso era considerado público pecador, excluído da “vinha do Senhor”. Mas tudo muda quando Jesus, passando ao lado da sua mesa de impostos, o fixa e diz: “Segue-me!”. Mateus levantou-se e seguiu-O. De cobrador de impostos tornou-se imediatamente discípulo de Cristo. De “último” passou a ser “primeiro”, graças à lógica de Deus que por nossa sorte! é diferente da lógica do mundo. “Os meus projectos não são os vossos projectos diz o Senhor através do profeta Isaías e os vossos caminhos não são os meus caminhos”

 Papa Bento XVI, Angelus, 21 de Setembro de 2008

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25º Domingo do Tempo Comum – Ano A

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 20, 1-16a)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: “O Reino dos Céus é semelhante a um proprietário que saiu ao romper da manhã, a fim de contratar trabalhadores para a sua vinha. Ajustou com eles um denário por dia e enviou-os para a sua vinha. Saiu depois pelas nove horas, viu outros na praça, que estavam sem trabalho, e disse-lhes: ‘Ide também para a minha vinha e tereis o salário que for justo’. E eles foram. Saiu de novo por volta do meio-dia e das três da tarde, e fez o mesmo. Saindo pelas cinco da tarde, encontrou ainda outros que ali estavam e disse-lhes: ‘Porque ficais aqui todo o dia sem trabalhar?’ Responderam-lhe: ‘É que ninguém nos contratou.’ Ele disse-lhes: ‘Ide também para a minha vinha.’

Ao entardecer, o dono da vinha disse ao capataz: ‘Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando pelos últimos até aos primeiros.’ Vieram os das cinco da tarde e receberam um denário cada um. Vieram, por seu turno, os primeiros e julgaram que iam receber mais, mas receberam, também eles, um denário cada um. Depois de o terem recebido, começaram a murmurar contra o proprietário, dizendo: ‘Estes últimos só trabalharam uma hora e deste-lhes a mesma paga que a nós, que suportámos o cansaço do dia e o seu calor.’ O proprietário respondeu a um deles: ‘Em nada te prejudico, meu amigo. Não foi um denário que nós ajustámos? Leva, então, o que te é devido e segue o teu caminho, pois eu quero dar a este último tanto como a ti. Ou não me será permitido dispor dos meus bens como eu entender? Será que tens inveja por eu ser bom?’ Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos”.

Mensagem

No Evangelho deste 25º Domingo do Tempo Comum (Mt 20,1-16a), Jesus conta-nos mais uma história verdadeira. A praça está sempre cheia de gente à espera de uma oportunidade. O dono da vinha sai às 06h00 da manhã e contrata trabalhadores para cultivar a sua vinha. Pagar-lhes-á um denário, que é o salário normal de um dia de trabalho. Sai outra vez às 09h00 da manhã, e encontrando mais gente na praça, envia-os para a sua vinha, dizendo que lhes pagará o que for justo. Volta a sair às 12h00, ás 15h00 e às 17h00, encontra sempre gente desocupada e a todos vai enviando para a sua vinha. O amor de Deus está bem retratado em todas as iniciativas do dono da vinha: sai a toda a hora à nossa procura.

“Uma primeira mensagem desta parábola está no próprio facto de que o senhor não tolera, por assim dizer, o desemprego: quer que todos estejam ocupados na sua vinha. E na realidade ser chamado é já a primeira recompensa: poder trabalhar na vinha do Senhor, pôr-se ao seu serviço, colaborar para a sua obra, constitui por si mesmo um prémio inestimável, que recompensa todo o esforço. Mas só o compreende quem ama o Senhor e o seu Reino” (Bento XVI).

Às 18h00, o dono da vinha ordena ao seu capataz que pague o salário (um denário) aos trabalhadores, com uma estranha condição: a começar pelos últimos! O capataz pagou a todos um denário, o salário de um inteiro dia de trabalho. “É claro que aquela moeda representa a vida eterna, dádiva que Deus reserva a todos” (Bento XVI). Deus é Alguém que não exclui ninguém da sua bondade nem sequer os que são tidos por últimos, os desprezados, os pecadores, os publicanos.

Deus quer-nos a todos por igual. Enche as nossas mãos com os seus dons. Mas nós ficamos tão mal na fotografia, que mostra bem as invejas e ciúmes que minam o nosso coração e não nos deixam ser irmãos pois somos mesquinhos, invejosos e ciumentos, quando reparamos que o dono da vinha nos trata a todos por igual: “Estes últimos só trabalharam uma hora e deste-lhes a mesma paga que a nós, que suportámos o cansaço do dia e o seu calor”. O texto desvenda o nosso instinto de grandeza e superioridade, e a dificuldade que sentimos em aceitar-nos e abraçar-nos como irmãos.

Palavra para o caminho

A maioria dos comentadores chama ao Evangelho deste Domingo de “parábola dos trabalhadores da vinha“. No entanto, um título mais adequado seria “parábola do patrão original ou diferente“.

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