Advento: somos necessitados de salvação

Volta o Advento, voltamos a começar um novo Ano Litúrgico; mas não devemos pensar que se trata unicamente de voltar a repetir os ritos e as cerimónias de outros anos. Estamos a falar de algo muito mais importante.

O Advento permite-nos recordar o essencial do Cristianismo que não consiste na participação em alguns ritos, nem na aceitação de algumas verdades, nem no cumprimento de algumas normas morais. O essencial do Cristianismo é o encontro com Cristo: uma Pessoa que está viva e nos vivifica. O resto vem depois e só é bem compreendido à luz do encontro com Cristo.

No Advento tomamos consciência da necessidade que temos de ser salvos. Não podemos salvar-nos a nós mesmos. Temos necessidade que o Salvador venha às nossas vidas.

Temos consciência da nossa própria fragilidade, da fragilidade das nossas famílias, da nossa sociedade e da Igreja. Por isso clamamos: “Vem, Senhor, não tardes. Vem para nos salvar. O teu Povo santo espera por Ti”.

Sabemos que não Te merecemos mas temos necessidade de Ti. Tem misericórdia de nós e vem às nossas vidas. Vem salvar-nos dos nossos egoísmos, das nossas tristezas e dos nossos pecados. Vem e dá-nos a vida em abundância. Vem Senhor Jesus.

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“Vós sois deuses”

Um mestre de espiritualidade contemporâneo disse que quando o rei se apaixona pela pastora faz dela uma rainha! Ao comunicar ao outro a sua vida, isto é, o seu amor, pode elevá-lo e igualá-lo a si mesmo. É o que Deus faz connosco, ao amar-nos diviniza-nos! Por isso São João não tem escrúpulos em dizer aos seus contemporâneos: “Vós sois deuses!” Não porque fossem omnipotentes, mas porque aquele que é amado pode fazer da sua vida uma história e uma entrega de amor. Isto é que é divino!

Vasco P. Magalhães, sj

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“No entardecer da vida seremos julgados pelo amor” (São João da Cruz)

“Tudo aquilo que fizestes a um só destes meus irmãos mais pequenos, a mim o fizestes”. Estas palavras não acabam nunca de nos tocar, porque nos revelam até que ponto chega o amor de Deus: até ao ponto de se identificar connosco, mas não quando estamos bem, quando somos sãos e felizes, não, mas sim quando estamos na necessidade. E desta forma escondida, Ele se deixa encontrar, nos estende a mão como mendigo. Assim Jesus revela o critério decisivo do seu juízo, isto é o amor concreto para com o próximo em dificuldade.

No fim das nossas vidas, seremos julgados pelo amor, isto é, pelo nosso esforço concreto em amar e servir Jesus nos nossos irmãos mais pequeninos e necessitados. Jesus virá no final dos tempos para julgar todas as nações, mas vem a nós todos os dias, de muitas maneiras, e pede-nos para o acolher. Aquele mendigo, aquele esfomeado, aquele encarcerado, aquele doente é Jesus. Pensemos nisto.

Papa Francisco, Angelus, 26 de Novembro de 2017

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Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo – Ano A

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 25,31-46)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Quando o Filho do homem vier na sua glória e todos os Anjos com Ele, sentar-se-á no trono da sua glória. Todas as nações serão reunidas na sua presença e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e porá as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o rei dirá àqueles que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai, recebei como herança o reino preparado para vós desde a fundação do mundo. Porque tive fome e Me destes de comer; tive sede e Me destes de beber; era forasteiro e Me recolhestes; estava nu e Me vestistes, enfermo e Me visitastes; estava na prisão e viestes até Mim’. Então os justos Lhe replicarão: ‘Senhor, quando foi que Te vimos com fome e Te demos de comer ou com sede e Te demos de beber? Quando é que Te vimos forasteiro e Te recolhemos, ou nu e Te vestimos? Quando é que Te vimos enfermo ou na prisão e viemos até Ti?’. E o rei lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: todas as vezes que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes’. Dirá então aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e os seus anjos. Porque tive fome e não Me destes de comer; tive sede e não Me destes de beber; era forasteiro e não Me recolhestes; estava nu e não Me vestistes; estive enfermo e na prisão e não Me visitastes’. Então também eles Lhe hão-de replicar: ‘Senhor, quando foi que Te vimos com fome ou com sede, forasteiro ou nu, enfermo ou na prisão, e não Te servimos?’ Então Ele lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: todas as vezes que o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a Mim o deixastes de fazer’. Estes irão para o castigo eterno e os justos para a vida eterna».

Reflexão

Celebramos hoje, último Domingo do ano litúrgico, a “Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo”. O Evangelho de hoje insiste precisamente sobre a realeza universal de Cristo juiz, com a maravilhosa parábola do juízo final, que São Mateus colocou imediatamente antes da narração da Paixão. As imagens são simples, a linguagem é popular, mas a mensagem é extremamente importante: é a verdade sobre o nosso destino último e sobre o critério com o qual seremos avaliados.

A parábola do “juízo final” é, na realidade, uma descrição grandiosa do veredicto final sobre a história humana. Ali estão as pessoas de todas as raças e povos, de todas as culturas e religiões. Vai escutar-se a última palavra que tudo esclarecerá. Dois grupos vão emergindo daquela multidão. Uns são chamados a receber a bênção de Deus: são os que se aproximaram, com misericórdia, dos necessitados. Outros são convidados a afastarem-se: viveram indiferentes ao sofrimento dos outros. No “entardecer da vida” seremos examinados pelo amor; ser-nos-á perguntado sobre o que fizemos, em concreto, pelas pessoas que precisaram da nossa ajuda. Fazer a eles ou não fazer, é fazer ou não fazer ao próprio Cristo: “Todas as vezes que o fizestes (ou não fizestes) a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes (ou não fizestes)!”. Para Jesus, a compaixão é o principal. O único modo de nos parecermos com Deus é: “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36).

Jesus não julga, nem condena. Ele apenas separa. É a própria pessoa que se julga e se condena pelo seu relacionamento com os irmãos mais pequeninos de Jesus. Somos nós que criamos ou não o nosso próprio fracasso final. Agora, neste preciso momento, estamos a aproximar-nos ou a afastar-nos de Cristo. Neste instante, estamos a decidir a nossa vida!

Palavra para o caminho

Para sabermos o que é que Jesus tem em vista quando se afirma como Rei, é preciso saber como é que a Escritura traça o perfil do Rei. É como quem pinta um quadro, ou melhor, dois: um díptico. No primeiro quadro, o Rei é alguém muito próximo de Deus, completamente nas mãos de Deus, sempre atento à sua Palavra, de modo que deve ter, para seu uso pessoal, uma cópia da Lei de Deus, feita pela sua própria mão, para não poder dizer que não entende a letra, e deve lê-la todos os dias, nada fazendo por sua conta, mas sempre e só de acordo com a Palavra de Deus (Deuteronómio 17,18-19). No segundo quadro, que completa o primeiro, formando um díptico, o Rei é alguém muito próximo do seu povo, sempre atento ao seu povo, em ordem a poder levar-lhe a prosperidade, o bem-estar, a saúde, a paz, a alegria, a felicidade, a salvação. Aí está, então, o retrato completo de Jesus Cristo como Rei: sempre pertinho de Deus, sempre pertinho de nós (António Couto).

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Participar na Missa significa entrar na vitória do Ressuscitado

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Prosseguindo as Catequeses sobre a Missa, podemos questionar-nos: o que é essencialmente a Missa? A Missa é o memorial do Mistério pascal de Cristo. Ela torna-nos participantes da sua vitória sobre o pecado e a morte, e confere pleno significado à nossa vida.

Por esta razão, a fim de compreender o valor da Missa devemos então entender em primeiro lugar o significado bíblico do “memorial”. Ele «não é somente a lembrança dos acontecimentos do passado, mas… tornam-se de certo modo presentes e actuais. É assim que Israel entende a sua libertação do Egipto: sempre que se celebrar a Páscoa, os acontecimentos do Êxodo tornam-se presentes à memória dos crentes, para que conformem com eles a sua vida» (Catecismo da Igreja Católica, 1363). Jesus Cristo, com a sua paixão, morte, ressurreição e ascensão ao céu levou ao cumprimento a Páscoa. E a Missa é o memorial da sua Páscoa, do seu “êxodo”, que cumpriu por nós, para nos fazer sair da escravidão e nos introduzir na terra prometida da vida eterna. Não é somente uma lembrança, não, é mais do que isso: significa evocar o que aconteceu há vinte séculos.

A Eucaristia leva-nos sempre ao ápice da acção de salvação de Deus: o Senhor Jesus, tornando-se pão partido para nós, derrama sobre nós toda a sua misericórdia e o seu amor, como fez na cruz, de modo a renovar o nosso coração, a nossa existência e a nossa forma de nos relacionarmos com Ele e com os irmãos. O Concílio Vaticano II afirma: «Sempre que no altar se celebra o sacrifício da cruz, na qual Cristo, nossa Páscoa, foi imolado, realiza-se também a obra da nossa redenção» (Const. dogm. Lumen gentium, 3).

Cada celebração da Eucaristia é um raio daquele sol sem ocaso que é Jesus ressuscitado. Participar na Missa, em particular aos Domingos, significa entrar na vitória do Ressuscitado, ser iluminados pela sua luz, abrasados pelo seu calor. Através da celebração eucarística o Espírito Santo torna-nos participantes da vida divina que é capaz de transfigurar todo o nosso ser mortal. E na sua passagem da morte para a vida, do tempo para a eternidade, o Senhor Jesus arrasta também a nós com Ele para fazer a Páscoa. Na Missa faz-se a Páscoa. Nós, na Missa, estamos com Jesus, morto e ressuscitado e Ele arrasta-nos em frente, para a vida eterna. Na Missa unimo-nos a Ele. Aliás, Cristo vive em nós e nós vivemos n’Ele: «Estou crucificado com Cristo — diz Paulo — , já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim» (Gl 2, 19-20). Paulo pensava desta forma.

Com efeito, o seu sangue liberta-nos da morte e do medo da morte. Liberta-nos não só do domínio da morte física, mas da morte espiritual que é o mal, o pecado, que se apodera de nós todas as vezes que somos vítimas do pecado nosso e alheio. E então a nossa vida é contaminada, perde beleza, perde significado, desfloresce.

Ao contrário, Cristo restitui-nos a vida; Cristo é a plenitude da vida, e quando enfrentou a morte aniquilou-a para sempre: «ressuscitando dos mortos, venceu a morte e renovou vida», confessa a Igreja celebrando a Eucaristia (Oração eucarística IV). A Páscoa de Cristo é a vitória definitiva sobre a morte, porque Ele transformou a sua morte em acto supremo de amor. Morreu por amor! E na Eucaristia, Ele quer comunicar-nos este seu amor pascal, vitorioso. Se o recebermos com fé, também nós podemos amar verdadeiramente a Deus e ao próximo, podemos amar como Ele nos amou, oferecendo a vida.

Se o amor de Cristo estiver em mim, posso doar-me plenamente ao outro, na certeza interior que mesmo se o outro me ferir eu não morrerei; caso contrário, teria que me defender. Os mártires ofereceram a própria vida devido a esta certeza da vitória de Cristo sobre a morte. Só se experimentarmos este poder de Cristo, o poder do seu amor, seremos realmente livres de nos doarmos sem medo. É este o significado da Missa: entrar nesta paixão, morte, ressurreição, ascensão de Jesus; quando vamos à Missa é como se fôssemos ao calvário, a mesma coisa. Mas pensai: no momento da Missa vamos ao calvário — usemos a imaginação — e sabemos que aquele homem ali é Jesus. Mas, será que nos permitiríamos conversar, tirar fotografias, dar um pouco de espectáculo? Não! Porque é Jesus! Certamente estaríamos em silêncio, no pranto e também na alegria de sermos salvos. Quando entramos na Igreja para celebrar a Missa pensemos nisto: entro no calvário, onde Jesus oferece a sua vida por mim. E assim desaparece o espectáculo, desaparecem as tagarelices, os comentários e estas coisas que nos afastam de algo tão bonito que é a Missa, o triunfo de Jesus.

Penso que agora é mais claro que a Páscoa se torna presente e activa todas as vezes que celebramos a Missa, ou seja, o sentido do memorial. A participação na Eucaristia faz-nos entrar no mistério pascal de Cristo, concedendo-nos a oportunidade de passar com Ele da morte para a vida, ou seja, no calvário. A Missa significa reviver o calvário, não é um espectáculo.

Papa Francisco, Audiência Geral, 22 de Novembro de 2017

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Senhor, tende piedade de nós

Elevemos um clamor de oração ao Senhor, suplicando que tenha piedade de nós e nos manifeste a sua misericórdia, porque gerámos e ignorámos situações de pobreza. Supliquemos: Senhor, tende piedade de nós.

Pelos rostos marcados pelo sofrimento, nós Vos suplicamos. Senhor, tende piedade de nós.

Pelos rostos marcados pela marginalização, nós Vos suplicamos. Senhor, tende piedade de nós.

Pelos rostos marcados pela opressão, nós Vos suplicamos. Senhor, tende piedade de nós.

Pelos rostos marcados pela violência, nós Vos suplicamos. Senhor, tende piedade de nós.

Pelos rostos marcados pelas torturas, nós Vos suplicamos. Senhor, tende piedade de nós.

Pelos rostos marcados pela prisão, nós Vos suplicamos. Senhor, tende piedade de nós.

Pelos rostos marcados pela guerra, nós Vos suplicamos. Senhor, tende piedade de nós.

Pelos rostos marcados pela privação de liberdade, nós Vos suplicamos. Senhor, tende piedade de nós.

Pelos rostos marcados pela privação de dignidade, nós Vos suplicamos. Senhor, tende piedade de nós.

Pelos rostos marcados pela ignorância, nós Vos suplicamos. Senhor, tende piedade de nós.

Pelos rostos marcados pelo analfabetismo, nós Vos suplicamos. Senhor, tende piedade de nós.

Pelos rostos marcados pela emergência sanitária, nós Vos suplicamos. Senhor, tende piedade de nós.

Pelos rostos marcados pela falta de trabalho, nós Vos suplicamos. Senhor, tende piedade de nós.

Pelos rostos marcados pelo tráfico de pessoas e pela escravidão, nós Vos suplicamos. Senhor, tende piedade de nós.

Pelos rostos marcados pelo exílio, nós Vos suplicamos. Senhor, tende piedade de nós.

Pelos rostos marcados pela miséria, nós Vos suplicamos. Senhor, tende piedade de nós.

Pelos rostos marcados pela migração forçada, nós Vos suplicamos. Senhor, tende piedade de nós.

Pelos rostos de mulheres, homens e crianças, explorados por vis interesses, nós Vos suplicamos. Senhor, tende piedade de nós.

Pelos rostos esmagados pelas lógicas perversas de poder, nós Vos suplicamos. Senhor, tende piedade de nós.

Pelos rostos esmagados pelas lógicas perversas do dinheiro, nós Vos suplicamos. Senhor, tende piedade de nós.

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1º Dia Mundial dos Pobres. Homilia do Papa Francisco

Temos a alegria de repartir o pão da Palavra e, em breve, de repartir e receber o Pão eucarístico, alimentos para o caminho da vida. Deles precisamos todos nós, ninguém está excluído, porque todos somos mendigos do essencial, do amor de Deus, que nos dá o sentido da vida e uma vida sem fim. Por isso, também hoje, estendemos a mão para Ele a fim de receber os seus dons.

E, precisamente de dons, nos fala a parábola do Evangelho. Diz-nos que somos destinatários dos talentos de Deus, «cada qual conforme a sua capacidade» (Mt 25, 15). Antes de mais nada, reconheçamos isto: temos talentos, somos «talentosos» aos olhos de Deus. Por isso ninguém pode considerar-se inútil, ninguém pode dizer-se tão pobre que não possua algo para dar aos outros. Somos eleitos e abençoados por Deus, que deseja cumular-nos dos seus dons, mais do que um pai e uma mãe o desejam fazer aos seus filhos. E Deus, aos olhos de Quem nenhum filho pode ser descartado, confia uma missão a cada um.

De facto, como Pai amoroso e exigente que é, responsabiliza-nos. Vemos, na parábola, que a cada servo são dados talentos para os multiplicar. Mas enquanto os dois primeiros realizam a missão, o terceiro servo não faz render os talentos; restitui apenas o que recebera: «Com medo – diz ele –, fui esconder o teu talento na terra. Aqui está o que te pertence» (25, 25). Como resposta, este servo recebe palavras duras: «mau e preguiçoso» (25, 26). Nele, que desagradou ao Senhor? Diria, numa palavra (talvez caída um pouco em desuso mas muito actual), a omissão. O seu mal foi o de não fazer o bem. Muitas vezes também nos parece não ter feito nada de mal e com isso nos contentamos, presumindo que somos bons e justos. Assim, porém, corremos o risco de nos comportar como o servo mau: também ele não fez nada de mal, não estragou o talento, antes guardou-o bem na terra. Mas, não fazer nada de mal, não basta. Porque Deus não é um controlador à procura de bilhetes não timbrados; é um Pai à procura de filhos, a quem confiar os seus bens e os seus projectos (cf. 25, 14). E é triste, quando o Pai do amor não recebe uma generosa resposta de amor dos filhos, que se limitam a respeitar as regras, a cumprir os mandamentos, como jornaleiros na casa do Pai (cf. Lc 15, 17).

O servo mau, uma vez recebido o talento do Senhor que gosta de partilhar e multiplicar os dons, guardou-o zelosamente, contentou-se com salvaguardá-lo; ora não é fiel a Deus quem se preocupa apenas de conservar, de manter os tesouros do passado, mas, como diz a parábola, aquele que junta novos talentos é que é verdadeiramente «fiel» (25, 21.23), porque tem a mesma mentalidade de Deus e não fica imóvel: arrisca por amor, joga a vida pelos outros, não aceita deixar tudo como está. Descuida só uma coisa: o próprio interesse. Esta é a única omissão justa.

E a omissão é também o grande pecado contra os pobres. Aqui assume um nome preciso: indiferença. Esta é dizer: «Não me diz respeito, não é problema meu, é culpa da sociedade». É passar ao largo quando o irmão está em necessidade, é mudar de canal, logo que um problema sério nos indispõe, é também indignar-se com o mal mas sem fazer nada. Deus, porém, não nos perguntará se sentimos justa indignação, mas se fizemos o bem.

Como podemos então, concretamente, agradar a Deus? Quando se quer agradar a uma pessoa querida, por exemplo dando-lhe uma prenda, é preciso primeiro conhecer os seus gostos, para evitar que a prenda seja mais do agrado de quem a dá do que da pessoa que a recebe. Quando queremos oferecer algo ao Senhor, os seus gostos encontramo-los no Evangelho. Logo a seguir ao texto que ouvimos hoje, Ele diz: «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40). Estes irmãos mais pequeninos, seus predilectos, são o faminto e o doente, o forasteiro e o recluso, o pobre e o abandonado, o doente sem ajuda e o necessitado descartado. Nos seus rostos, podemos imaginar impresso o rosto d’Ele; nos seus lábios, mesmo se fechados pela dor, as palavras d’Ele: «Isto é o meu corpo» (Mt 26, 26). No pobre, Jesus bate à porta do nosso coração e, sedento, pede-nos amor. Quando vencemos a indiferença e, em nome de Jesus, nos gastamos pelos seus irmãos mais pequeninos, somos seus amigos bons e fiéis, com quem Ele gosta de Se demorar. Deus tem em grande apreço, Ele aprecia o comportamento que ouvimos na primeira Leitura: o da «mulher forte» que «estende os braços ao infeliz, e abre a mão ao indigente» (Prv 31, 10.20). Esta é a verdadeira fortaleza: não punhos cerrados e braços cruzados, mas mãos operosas e estendidas aos pobres, à carne ferida do Senhor.

Lá, nos pobres, manifesta-se a presença de Jesus, que, sendo rico, Se fez pobre (cf. 2 Cor 8, 9). Por isso neles, na sua fragilidade, há uma «força salvífica». E, se aos olhos do mundo têm pouco valor, são eles que nos abrem o caminho para o Céu, são o nosso «passaporte para o paraíso». Para nós, é um dever evangélico cuidar deles, que são a nossa verdadeira riqueza; e fazê-lo não só dando pão, mas também repartindo com eles o pão da Palavra, do qual são os destinatários mais naturais. Amar o pobre significa lutar contra todas as pobrezas, espirituais e materiais.

E isto far-nos-á bem: abeirar-nos de quem é mais pobre do que nós, tocará a nossa vida. Lembrar-nos-á aquilo que conta verdadeiramente: amar a Deus e ao próximo. Só isto dura para sempre, tudo o resto passa; por isso, o que investimos em amor permanece, o resto desaparece. Hoje podemos perguntar-nos: «Para mim, o que conta na vida? Onde invisto?» Na riqueza que passa, da qual o mundo nunca se sacia, ou na riqueza de Deus, que dá a vida eterna? Diante de nós, está esta escolha: viver para ter na terra ou dar para ganhar o Céu. Com efeito, para o Céu, não vale o que se tem, mas o que se , e «quem amontoa para si não é rico em relação a Deus» (cf. Lc 12, 21). Então não busquemos o supérfluo para nós, mas o bem para os outros, e nada de precioso nos faltará. O Senhor, que tem compaixão das nossas pobrezas e nos reveste dos seus talentos, nos conceda a sabedoria de procurar o que conta e a coragem de amar, não com palavras, mas com obras.

Papa Francisco

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1º Dia Mundial dos Pobres

Quem é Jesus para mim?

Quem é Jesus para mim? É o Verbo feito carne, o Pão da Vida. É a vítima que Se oferece na cruz pelos nossos pecados. É o sacrifício que se oferece na Santa Missa pelos pecados do mundo e pelos meus próprios pecados. É a palavra que devo dizer. É a luz que devo acender. É a vida que devo viver. É o amor que deve ser amado. É a alegria que deve ser partilhada. É o sacrifício que devemos oferecer. É a paz que devemos semear. É o Pão de Vida que devemos comer. É o faminto que devemos alimentar. É o sedento que devemos saciar. É o nu que devemos vestir. É o sem-abrigo a quem que devemos dar reparo. É o solitário a quem devemos fazer companhia. É o inesperado que devemos acolher. É o leproso a quem devemos lavar as feridas. É o mendigo que devemos socorrer. É o alcoólico que devemos escutar. É o deficiente que devemos proteger. É o recém-nascido que devemos acolher. É o cego que devemos guiar. É o mudo por quem devemos falar. É o aleijado que devemos ajudar a caminhar. É a prostituta que devemos afastar do perigo e encher da nossa amizade. É o recluso que devemos visitar. É o idoso que devemos servir. Jesus é o meu Deus. Jesus é o meu Esposo. Jesus é a minha Vida. Jesus é o meu único Amor. Jesus é tudo para mim. Jesus, para mim, é o único.

Santa Teresa de Calcutá

Vinde, benditos de meu Pai; recebei como herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-Me de comer; tive sede e destes-Me de beber; era peregrino e Me recolhestes; não tinha roupa e Me vestistes; estive doente e viestes visitar-Me; estava na prisão e fostes ver-Me’. Então os justos Lhe dirão: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome e Te demos de comer, ou com sede e Te demos de beber? Quando é que Te vimos peregrino e Te recolhemos, ou sem roupa e Te vestimos? Quando é que Te vimos doente ou na prisão e Te fomos ver?’. E o Rei lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes’ (Mt 25, 34-40).

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33º Domingo do Tempo Comum – Ano A

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 25, 14-30)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «Um homem, ao partir de viagem, chamou os servos e confiou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada qual conforme a sua capacidade; e depois partiu. Aquele que recebeu cinco talentos negociou com eles e ganhou outros cinco. Da mesma forma, aquele que recebeu dois ganhou outros dois. Mas aquele que apenas recebeu um foi fazer um buraco na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor.

Passado muito tempo, voltou o senhor daqueles servos e pediu-lhes contas. Aquele que tinha recebido cinco talentos aproximou-se e entregou-lhe outros cinco, dizendo: ‘Senhor, confiaste-me cinco talentos; aqui estão outros cinco que eu ganhei.’ O senhor disse-lhe: ‘Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel em coisas de pouca monta, muito te confiarei. Entra no gozo do teu senhor.’ Veio, em seguida, o que tinha recebido dois talentos: ‘Senhor, disse ele, confiaste-me dois talentos; aqui estão outros dois que eu ganhei.’ O senhor disse-lhe: ‘Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel em coisas de pouca monta, muito te confiarei. Entra no gozo do teu senhor.’ Veio, finalmente, o que tinha recebido um só talento: ‘Senhor, disse ele, sempre te conheci como homem duro, que ceifas onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste. Por isso, com medo, fui esconder o teu talento na terra. Aqui está o que te pertence.’

O senhor respondeu-lhe: ‘Servo mau e preguiçoso! Sabias que eu ceifo onde não semeei e recolho onde não espalhei. Pois bem, devias ter levado o meu dinheiro aos banqueiros e, no meu regresso, teria levantado o meu dinheiro com juros.’ ‘Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem dez talentos. Porque ao que tem será dado e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. A esse servo inútil, lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.’»

Reflexão

O texto deste Domingo é conhecido pela parábola dos talentos e começa assim: Um homem, ao partir de viagem, chamou os servos e confiou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada qual conforme a sua capacidade; e depois partiu. No tempo de Jesus um talento era uma soma considerável de dinheiro, e hoje, no contexto da parábola, pode ser interpretado em termos de dons recebidos de Deus. O texto demonstra que o importante é arriscar e lançar-se à acção em prol do crescimento do Reino de Deus, para que os dons que recebemos de Deus possam crescer e frutificar (de forma alguma se deve interpretar o texto ao pé-da-letra, como se ele tratasse de investimentos e lucros financeiros).

Jesus confiou à comunidade cristã a revelação dos segredos do Reino e a revelação de Deus como “Abbá”, (Querido Pai, Paizinho). Este dom é um privilégio, mas também um desafio e uma responsabilidade. Nem a comunidade cristã, nem o cristão enquanto pessoa individual podem guardar para si esta riqueza. Embora carreguemos “este tesouro em vasos de barro” (2Cor 4, 7), como disse São Paulo, temos que partir para a missão, para que o maior número possível de homens, mulheres e crianças cheguem a essa experiência de Deus e do Reino. Não é suficiente que estejamos preparados para o encontro com o Senhor, de que nos falava o texto do Domingo passado (parábola das 10 jovens) mas é preciso também a actividade missionária para que o Reino de Deus cresça, mediante o nosso testemunho de vida.

Palavra para o caminho

A atitude errada é a do receio: o servo que tem medo do seu senhor e teme o seu retorno, esconde a moeda debaixo da terra e ela não produz qualquer fruto. Isto acontece por exemplo com quem, tendo recebido o Baptismo, a Comunhão e a Crisma, depois enterra tais dons debaixo de uma camada de preconceitos, sob uma falsa imagem de Deus que paralisa a fé e as obras, a ponto de atraiçoar as expectativas do Senhor. Mas a parábola põe em maior evidência os bons frutos produzidos pelos discípulos que, felizes pelo dom recebido, não o conservaram escondido, com receio e inveja, mas fizeram-no frutificar, compartilhando-o, comunicando-o. Sim, o que Cristo nos concedeu multiplica-se quando é doado (Bento XVI, Angelus, 16 de Novembro de 2008).

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A Missa é um encontro de amor com Deus

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

Continuamos com as catequeses sobre a Santa Missa. Para compreender a beleza da celebração eucarística desejo iniciar com um aspeto muito simples: a Missa é oração, aliás, é a oração por excelência, a mais elevada, a mais sublime, e ao mesmo tempo a mais “concreta”. Com efeito é o encontro de amor com Deus mediante a sua Palavra e o Corpo e Sangue de Jesus. É um encontro com o Senhor.

Mas primeiro temos que responder a uma pergunta. O que é realmente a oração? Antes de tudo, ela é diálogo, relação pessoal com Deus. E o homem foi criado como ser em relação pessoal com Deus que tem a sua plena realização unicamente no encontro com o seu Criador. O caminho da vida é rumo ao encontro definitivo com o Senhor.

O Livro do Génesis afirma que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, o qual é Pai e Filho e Espírito Santo, uma relação perfeita de amor que é unidade. Disto podemos compreender que todos nós fomos criados para entrar numa relação perfeita de amor, num contínuo doar-nos e receber-nos para assim podermos encontrar a plenitude do nosso ser.

Quando Moisés, diante da sarça ardente, recebeu a chamada de Deus, perguntou-lhe qual era o seu nome. E o que respondeu Deus? «Eu sou Aquele que sou» (Êx 3, 14). Esta expressão, no seu sentido originário, manifesta presença e favor, e com efeito imediatamente a seguir Deus acrescenta: «O Senhor, o Deus dos vossos pais, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob» (v. 15). Assim também Cristo, quando chama os seus discípulos, os chama para que estejam com Ele. Eis, por conseguinte, a maior graça: poder experimentar que a Missa, a Eucaristia é o momento privilegiado para estar com Jesus e, através d’Ele, com Deus e com os irmãos.

Rezar, como qualquer diálogo verdadeiro, significa saber também ficar em silêncio — nos diálogos há momentos de silêncio — em silêncio juntamente com Jesus. E quando vamos à Missa, talvez cheguemos cinco minutos antes e comecemos a falar com quem está ao nosso lado. Mas não é o momento para falar: é o momento do silêncio a fim de nos prepararmos para o diálogo. É o momento de se recolher no coração a fim de se preparar para o encontro com Jesus. O silêncio é tão importante! Recordai-vos do que disse na semana passada: não vamos a um espetáculo, vamos ao encontro com o Senhor e o silêncio prepara-nos e acompanha-nos. Permanecer em silêncio juntamente com Jesus. E do misterioso silêncio de Deus brota a sua Palavra que ressoa no nosso coração. O próprio Jesus nos ensina como é possível “estar” realmente com o Pai e no-lo demonstra com a sua oração. Os Evangelhos mostram-nos Jesus que se retira em lugares afastados para rezar; os discípulos, ao ver esta sua relação íntima com o Pai, sentem o desejo de poder participar nela, e pedem-lhe: «Senhor, ensina-nos a rezar» (Lc 11, 1). Assim ouvimos há pouco, na primeira Leitura, no início da audiência. Jesus responde que a primeira coisa necessária para rezar é saber dizer “Pai”. Estejamos atentos: se eu não for capaz de dizer “Pai” a Deus, não sou capaz de rezar. Temos que aprender a dizer “Pai”, ou seja, de nos pormos na sua presença com confiança filial. Mas a fim de poder aprender, é preciso reconhecer humildemente que precisamos de ser instruídos, e dizer com simplicidade: Senhor, ensina-me a rezar.

Este é o primeiro ponto: ser humildes, reconhecer-se filhos, repousar no Pai, confiar n’Ele. Para entrar no Reino dos céus é necessário fazer-se pequeninos como as crianças. No sentido de que as crianças sabem confiar, sabem que alguém se preocupará com elas, com o que hão de comer, com o que vestirão e assim por diante (cf. Mt 6, 25-32). Esta é a primeira atitude: confiança e confidência, como a criança com os pais; saber que Deus se recorda de ti, cuida de ti, de ti, de mim, de todos.

A segunda predisposição, também ela própria das crianças, é deixar-se surpreender. A criança faz sempre muitas perguntas porque deseja descobrir o mundo; e admira-se até com coisas pequenas porque para ela tudo é novo. Para entrar no Reino dos céus é preciso deixar-se surpreender. Na nossa relação com o Senhor, na oração — eu pergunto — deixamo-nos surpreender ou pensamos que a oração é falar a Deus como fazem os papagaios? Não, é confiar e abrir o coração para se deixar surpreender. Deixamo-nos maravilhar por Deus que é sempre o Deus das surpresas? Porque o encontro com o Senhor é sempre um encontro vivo, não é um encontro de museu. É um encontro vivo e nós vamos à Missa e não a um museu. Vamos a um encontro vivo com o Senhor.

No Evangelho fala-se de um certo Nicodemos (cf. Jo 3, 1-21), um idoso, uma autoridade em Israel, que vai procurar Jesus para o conhecer; e o Senhor fala-lhe da necessidade de “renascer do alto” (cf. v. 3). Mas que significa isto? Pode-se “renascer”? Voltar a ter o gosto, a alegria, a maravilha da vida, é possível, mesmo face a tantas tragédias? Esta é uma pergunta fundamental da nossa fé e este é o desejo de qualquer crente verdadeiro: o desejo de renascer, a alegria de recomeçar. Nós temos este desejo? Cada um de nós tem vontade de renascer sempre para se encontrar com o Senhor? Tendes este desejo? Com efeito, pode-se perdê-lo facilmente porque, por causa de tantas atividades, de tantos projetos a concretizar, no final temos pouco tempo e perdemos de vista o que é fundamental: a nossa vida do coração, a nossa vida espiritual, a nossa vida que é encontro com o Senhor na oração.

Na verdade, o Senhor surpreende-nos ao mostrar-nos que Ele nos ama até com as nossas debilidades: «Jesus Cristo […] é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo» (1 Jo 2, 2). Este dom, fonte de verdadeira consolação — mas o Senhor perdoa-nos sempre — conforta, é uma verdadeira consolação, é um dom que nos é concedido através da Eucaristia, aquele banquete nupcial no qual o Esposo encontra a nossa fragilidade. Posso dizer que quando recebo a comunhão na Missa, o Senhor encontra a minha fragilidade? Sim! Podemos dizê-lo porque isto é verdade! O Senhor encontra a nossa fragilidade para nos reconduzir à nossa primeira chamada: ser à imagem e semelhança de Deus. É este o ambiente da Eucaristia, é esta a oração.

Papa Francisco, Audiência Geral, 15 de Novembro de 2017

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