Via Sacra: 6ª e 7ª Estações

6ª Estação – Jesus é flagelado e coroado de espinhos

V. Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus!

R. Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo!

Do Evangelho de São Marcos (Mc 15, 16-19): Os soldados conduziram-no para dentro do átrio, isto é, ao pretório, convocando toda a corte. Revestiram-nO então com um manto de púrpura, e cingiram-Lhe a cabeça com uma coroa tecida de espinhos. Então começaram a saudá-lO, dizendo: “salve, ó rei dos judeus.” Ao mesmo tempo batiam-Lhe com uma cana na cabeça, cuspiam-Lhe e pondo-se de joelhos faziam-lhe reverências.

Refinadíssima tortura a que padeceu Cristo: tortura da flagelação e da comédia sangrenta. Os açoites terminam em coroação de espinhos. Que infâmia esta a dos soldados! Que escárnio de falsas homenagens! A comédia das genuflexões, os golpes na cabeça e os escarros no rosto. À dor moral une-se a dor física.

Oremos: Senhor Jesus, Cristo das injúrias, flagelado, ultrajado, escarnecido, coroado de espinhos. Quanta paciência temos para aprender diante da vossa imagem preso à coluna, e perante a comédia dos que não têm compaixão! Iluminai-nos com o Vosso amor, para que nunca flagelemos ninguém, nem coroemos de espinhos, nem façamos pouco dos débeis, nem exerçamos a violência física. Vós, o paciente, que sois Deus com o Pai, na unidade do espírito Santo.

R. Amen.

7ª Estação: Jesus carrega com a cruz

V. Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus!

R. Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo!

Do Evangelho de São Marcos (Mc 15, 20-21): Tendo-O escarnecido, os soldados tiraram-Lhe o manto de púrpura e vestiram-Lhe as suas próprias roupas. Depois levaram-No dali, para o crucificarem.

Sobre os ombros de Jesus colocaram, colocamos todos, a Cruz. O seu peso é duro, mas é-o sobretudo pelo seu fim. O Filho de Deus caminha com a Cruz às costas para salvar os filhos dos homens. A Cruz de Cristo é bem diferente das cruzes de adorno, de poder e de honra que nós, homens, colocamos uns aos outros. A árvore seca do patíbulo converte-se em árvore verde de vida.

Oremos: Senhor Jesus, Mestre no alto da Cruz, Sacerdote do único sacrifício, ensinai-nos a sermos Vossos discípulos, a saber tomar a nossa própria cruz, a seguir-Vos sempre. Dai-nos a verdadeira sabedoria, para sabermos aceitar e entender a cruz como caminho necessário para a glória. Vós que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo.

R. Amen.

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Via Sacra: 5ª Estação

5ª Estação: Jesus é julgado por Pilatos

V. Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus!

R. Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo!

Do Evangelho de São Marcos (15, 9-15): Pilatos perguntou à multidão: “querem que solte o Rei dos judeus?”. O povo, porém, incitado pelos príncipes dos sacerdotes, gritava: “solta-nos Barrabás”. Pilatos de novo perguntou: “que quereis que eu faça ao Rei dos judeus?”. Eles gritaram:” crucifica-O!”. Então Pilatos disse: “que mal é que ele praticou?”. Contudo eles ainda mais forte gritaram: “crucifica-O!”. Então Pilatos, querendo agradar à multidão, soltou-lhes Barrabás. E depois de ter mandado chicotear Jesus, entregou-O para que O crucificassem.

Pilatos quis manter a ordem no meio de um povo desordeiro, e quis também salvar um inocente. As duas coisas eram opostas. Os gritos da multidão impressionavam-no. E embora lavasse as mãos diante do povo, acabou por ser culpado do assassinato de um inocente. Pilatos, curioso por saber o que é a verdade, não a descobre diante de Cristo que Se cala… Pilatos quis agradar ao povo, libertando um homicida e condenando à morte Quem tinha vindo para dar a vida por todos.

Oremos: Senhor Jesus, que do tribunal religioso fostes levado à presença da autoridade politica para serdes condenado; Vós que passastes pela vida fazendo o bem e pregando a Boa Nova da salvação, sois entregue aos invejosos para serdes crucificado. Livrai-nos da hipocrisia de lavarmos as mãos perante a injustiça; que, seguindo o Vosso exemplo em todas as circunstancias, sempre salvemos e nunca condenemos. Vós que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo.

R. Amen.

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Via Sacra: 3ª e 4ª Estações

3ª Estação: Jesus é condenado pelo Sinédrio

V. Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus!

R. Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo!

Do Evangelho de São Marcos (14, 55.60-64): Os príncipes dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um testemunho contra Jesus para Lhe dar a morte, mas não o encontravam. O sumo-sacerdote levantou-se no meio de todos e perguntou a Jesus: “não respondes nada ao que eles depõem contra ti?” “és Tu o Messias, Filho do Deus bendito?”. Jesus respondeu-lhe: “ Eu sou”. Todos sentenciaram que Jesus era réu de morte.

O Sinédrio, o grande Concelho de anciãos, sacerdotes e escribas, reunido em assembleia extraordinária, num lugar onde não era costume e a uma hora não habitual, decide a morte de Jesus. Um tribunal, sinal de justiça, actua injustamente condenando o justo. A inocência é declarada culpada. Querer condenar à morte, falsear testemunhos, fazer calar o que interpela pela sua coerência e pureza de vida, tem sido e é atitude frequente.

Oremos: Senhor Jesus, calado diante do tribunal, condenado à morte, esbofeteado e cuspido: que grande lição de silencio e de humildade nos dais, a nós que falamos tanto e julgamos negativamente! Concedei-Nos a graça de viver em perdão, de nunca condenar ninguém e de não nos escandalizarmos facilmente. Vós que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo.

R. Amen.

4ª Estação – Jesus é negado por Pedro

V. Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus!

R. Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo!

Do Evangelho de São Marcos (14, 66-72): Estando Pedro em baixo no átrio, aquecendo-se, veio uma das criadas e ao ver Pedro disse-lhe: “tu também estavas com o Nazareno, com Jesus.” Ele porém negou, dizendo: “nem sei nem entendo o que dizes.” Saindo fora, ao vestíbulo, cantou um galo. Tendo a criada visto Pedro outra vez, disse aos presentes: “este é dos d’Ele.” Ele novamente negou. Tendo passado um pouco, disseram-lhe os presentes: “na verdade, tu és um dos d’Ele, pois és galileu.” Ele começou a fazer imprecações e a jurar: “não conheço Esse Homem de Quem falais”. Nesse momento o galo cantou pela segunda vez. Então Pedro recordou-se do que Jesus lhe tinha dito: “antes que o galo cante duas vezes, tu já Me terás negado três vezes.” E começou a chorar.

Na noite da Paixão, diante de um tribunal de mulheres e soldados, cheio de medo e suor, Pedro negou publicamente a sua ligação com o Nazareno. Pedro, tu que ouviste o canto do galo, tu que choraste a tua negação, não ouves os gritos dos cobardes, dos que negam para não serem condenados? Não vês os negadores de sempre, a quem a alma treme no corpo?

Oremos: Senhor Jesus, a luz serena e bondosa dos Vossos olhos penetrou na noite; os Vossos olhos luminosos cruzaram-se com os olhos envergonhados de Pedro. Concedei-nos que sejamos sinceros e fortes na debilidade das nossas lágrimas, e que saibamos chorar a nossa cobardia, para podermos voltar a ver o Vosso rosto. Vós que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo.

R. Amen.

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4º Domingo da Quaresma – Ano B

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 3, 14-21)

Assim como Moisés ergueu a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja erguido ao alto, a fim de que todo o que nele crê tenha a vida eterna. Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna. De facto, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no Filho Unigénito de Deus. E a condenação está nisto: a Luz veio ao mundo, e os homens preferiram as trevas à Luz, porque as suas obras eram más. De facto, quem pratica o mal odeia a Luz e não se aproxima da Luz para que as suas acções não sejam desmascaradas. Mas quem pratica a verdade aproxima-se da Luz, de modo a tornar-se claro que os seus actos são feitos segundo Deus.»

Reflexão

“Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna”. Não se trata de uma frase mais, palavras que poderiam ser eliminadas do Evangelho sem que nada de importante acontecesse. É a afirmação que recolhe o núcleo essencial da fé cristã. Este amor de Deus é a origem e o fundamento da nossa esperança. Deus ama o mundo, ama-o tal como é: inacabado e incerto, cheio de conflitos e contradições, capaz do melhor e do pior. Este mundo não percorre o seu caminho sozinho, perdido e desamparado. Deus envolve-o com o seu amor.

Jesus é o “presente” que Deus Pai dá ao mundo, e não só aos cristãos. Só quem se aproxima de Jesus Cristo como o maior dom do Pai, pode fazer a descoberta da proximidade de Deus de todo o ser humano. A Igreja é chamada a recordar ao mundo este amor de Deus. Nada há de mais importante.

Com efeito, Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu seu Filho único (Jo 3, 16). Ouvindo estas palavras, dirigimos o olhar do nosso coração a Jesus Crucificado e sentimos dentro de nós que Deus nos ama, nos ama verdadeiramente, nos ama muito! Eis a expressão mais simples, que resume o Evangelho inteiro, toda a fé, toda a teologia: Deus ama-nos com amor gratuito e sem limites. (…)

Cruz de Cristo é a prova suprema da misericórdia e do amor de Deus por nós: Jesus amou-nos “até ao fim” (Jo 13, 1), ou seja, não apenas até ao último instante da sua vida terrena, mas até ao extremo limite do amor” (Papa Francisco).

Palavra para o caminho

Neste momento que estamos a viver, em que tudo parece confuso, incerto e desalentador, nada nos impede de introduzir um pouco de amor no mundo: “Onde não há amor, põe amor e colherás amor” (São João da Cruz).

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Oração Eucarística. Catequese do Papa Francisco

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Continuemos as catequeses sobre a Santa Missa, e com esta catequese reflitamos sobre a Oração eucarística. Quando se conclui o rito da apresentação do pão e do vinho, tem início a Oração eucarística, que qualifica a celebração da Missa e constitui o seu momento central, que leva à sagrada Comunhão. Corresponde a quanto o próprio Jesus fez, à mesa com os Apóstolos na Última Ceia, quando «deu graças» sobre o pão e depois sobre o cálice do vinho (cf. Mt 26, 27; Mc 14, 23; Lc 22, 17.19; 1 Cor 11, 24): a sua ação de graças revive em cada nossa Eucaristia, associando-nos ao seu sacrifício de salvação.

Nesta Oração solene — a Oração eucarística é solene — a Igreja exprime o que ela cumpre quando celebra a Eucaristia e o motivo pelo qual a celebra, ou seja fazer comunhão com Cristo realmente presente no pão e no vinho consagrados. Depois de convidar o povo a elevar os corações ao Senhor e dar-lhe graças, o sacerdote pronuncia a Oração em voz alta, em nome de todos os presentes, dirigindo-se ao Pai por meio de Jesus Cristo no Espírito Santo. «O significado desta Oração é que toda a assembleia dos fiéis se una com Cristo para magnificar as grandes obras de Deus e para oferecer do sacrifício» (Ordenamento Geral do Missal Romano, 78). E para nos unir devemos compreender. Por isso, a Igreja quis celebrar a Missa na língua que as pessoas entendem, a fim de que cada um possa unir-se a este louvor e a esta grande oração juntamente com o sacerdote. Na verdade, «o sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício» (Catecismo da Igreja Católica, 1367).

No Missal há várias fórmulas de Oração eucarística, todas constituídas por elementos caraterísticos, que gostaria de recordar agora (cf. OGMR, 79; CIC, 1352-1354). Todas são belíssimas. Antes de tudo, há o Prefácio, que é uma ação de graças pelos dons de Deus, em particular pelo envio do seu Filho como Salvador. O Prefácio conclui-se com a aclamação do «Santo», normalmente cantada. É bom cantar o “Santo”: “Santo, Santo, Santo é o Senhor”. É bom cantá-lo. Toda a assembleia une a própria voz àquela dos Anjos e dos Santos para louvar e glorificar a Deus.

Depois há a invocação do Espírito a fim de que com o seu poder consagre o pão e o vinho. Invocamos o Espírito para que venha e no pão e no vinho esteja presente Jesus. A ação do Espírito Santo e a eficácia das próprias palavras de Cristo proferidas pelo sacerdote, tornam realmente presente, sob as espécies do pão e do vinho, o seu Corpo e o seu Sangue, o seu sacrifício oferecido na cruz de uma vez para sempre (cf. CIC, 1375). Nisto Jesus foi claríssimo. Ouvimos como São Paulo no início narra as palavras de Jesus: «Este é o meu corpo, este é o meu sangue». «Este é o meu sangue, este é o meu corpo». O próprio Jesus disse isto. Não devemos formular pensamentos estranhos: “Mas, isso será possível…”. É o corpo de Jesus; ponto final! A fé: ajuda-nos a fé; com um ato de fé acreditamos que é o corpo e o sangue de Jesus. É o “mistério da fé”, como dizemos depois da consagração. O sacerdote diz: «Mistério da fé» e respondemos com uma aclamação. Celebrando o memorial da morte e ressurreição do Senhor, na expetativa da sua vinda gloriosa, a Igreja oferece ao Pai o sacrifício que reconcilia céu e terra: oferece o sacrifício pascal de Cristo oferecendo-se com Ele e pedindo, em virtude do Espírito Santo, para se tornar “em Cristo um só corpo e um só espírito” (Oração eucarística III; cf. Sacrosanctum Concilium, 48 OGMR, 79f). A Igreja deseja unir-nos a Cristo e tornar-se com o Senhor um só corpo e um só espírito. É esta a graça e o fruto da Comunhão sacramental: nutrimo-nos do Corpo de Cristo para nos tornarmos, nós que o comemos, o seu Corpo vivo hoje no mundo.

Este é o mistério de comunhão, a Igreja une-se à oferta de Cristo e à sua intercessão e nesta luz, «Nas catacumbas, a Igreja é muitas vezes representada como uma mulher em oração, de braços largamente abertos em atitude orante. Como Cristo, que estendeu os braços na Cruz, assim, por Ele, com Ele e n’Ele, a Igreja se oferece e intercede por todos os homens» (CIC, 1368). A Igreja que ora, a Igreja orante. É bom pensar que a Igreja ora, reza. Há um trecho no livro dos Atos dos Apóstolos, quando Pedro estava no cárcere, no qual a comunidade cristã diz: “Orava incessantemente por Ele”. A Igreja que ora, a Igreja orante. E quando vamos à Missa é para fazer isto: fazer Igreja orante.

A Oração eucarística pede a Deus que receba todos os seus filhos na perfeição do amor, em união com o Papa e o Bispo, mencionados pelo nome, sinal de que celebramos em comunhão com a Igreja universal e com a Igreja particular. A súplica, como oferenda, é apresentada a Deus por todos os membros da Igreja, vivos e defuntos, na expetativa da bem-aventurada esperança de partilhar a herança eterna do céu, com a Virgem Maria (cf. CIC, 1369-1371). Ninguém nem nada fica esquecido na Oração eucarística, mas cada coisa é reconduzida a Deus, como recorda a doxologia que a conclui. Ninguém é esquecido. E se eu tiver uma pessoa, parentes, amigos, que estão em necessidade ou passaram deste mundo para o outro, posso nomeá-los neste momento, interiormente e em silêncio ou escrever para que o nome seja pronunciado. “Padre, quanto devo pagar para que o meu nome seja dito?” — “Nada”. Entendestes isto? Nada! Não se paga a Missa. Ela é o sacrifício de Cristo, que é gratuito. A redenção é gratuita. Se quiseres, faz uma oferta, mas não se paga. É importante entender isto.

Esta fórmula codificada de oração, talvez a possamos ouvir um pouco distante — é verdade, é uma fórmula antiga — mas se compreendermos bem o seu significado, então certamente participaremos melhor. De facto, ela exprime tudo o que realizamos na celebração eucarística: e além disso ensina-nos a cultivar três atitudes que nunca deveriam faltar aos discípulos de Jesus. As três atitudes: primeira, aprender a “dar graças, sempre e em todos os lugares”, e não só em determinas ocasiões, quando tudo corre bem; segunda, fazer da nossa vida um dom de amor, livre e gratuito; terceira, fazer comunhão concreta, na Igreja e com todos. Portanto, esta Oração central da Missa educa-nos, aos poucos, a fazer de toda a nossa vida uma “eucaristia”, isto é uma ação de graças.

Papa Francisco, Audiência Geral, 7 de Março de 2018

 

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Perseverar na oração

Há um mandato que aparece muitas vezes na Bíblia: ser perseverante na oração. É um segredo muito importante para ser feliz. E não se trata de muito tempo de oração ou de muitas orações. Trata-se de transformar e viver tudo em oração. Quando o nosso trabalho, lazer e amizades estiverem cheios de presença de Deus, então perseveramos na oração para lá das orações.

Vasco P. Magalhães, sj

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Via Sacra: 2ª Estação

2º Estação – Jesus, atraiçoado por Judas, é preso

V. Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Jesus!
R. Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo!

Do Evangelho de São Marcos (Mc 14, 43-46): Ainda Jesus estava a falar quando apareceu Judas, um dos Doze, e com ele uma grande multidão, com espadas e varapaus, enviada pelos príncipes do sacerdotes, pelos escribas e anciãos. Logo que chegou aproximou-se de Jesus e beijou-O, dizendo: “Mestre”. Então deitaram-lhe as mãos e prenderam-nO.

É terrível sentir-se atraiçoado, vendido por um amigo. Nunca se poderá justificar a primazia do dinheiro sobre o amor. Judas esteve na ceia com Cristo e em companhia dos Apóstolos; ninguém adivinhava o que ele ia fazer. E saiu para a noite negra da traição. Judas deu um falso beijo para entregar o Mestre, prostituindo o sinal nobre do amor. Beijou para atraiçoar.

Oremos: Senhor Jesus Cristo, a vossa agonia debaixo da oliveira, árvore da paz, termina com o barulho e o tumulto da traição, e a prisão. Nós vos pedimos fidelidade no amor, constância no bem e verdade na palavra. Livrai-nos sempre da traição e do engano. Vós que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo.

R. Amen.

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Quaresma 2018. Excerto da mensagem do Papa Francisco – 5

O fogo da Páscoa

Convido, sobretudo os membros da Igreja, a empreender com ardor o caminho da Quaresma, apoiados na esmola, no jejum e na oração. Se por vezes parece apagar-se em muitos corações o amor, este não se apaga no coração de Deus! Ele sempre nos dá novas ocasiões, para podermos recomeçar a amar.

Ocasião propícia será, também este ano, a iniciativa «24 horas para o Senhor», que convida a celebrar o sacramento da Reconciliação num contexto de adoração eucarística. Em 2018, aquela terá lugar nos dias 9 e 10 de março – uma sexta-feira e um sábado –, inspirando -se nestas palavras do Salmo 130: «Em Ti, encontramos o perdão» (v. 4). Em cada diocese, pelo menos uma igreja ficará aberta durante 24 horas consecutivas, oferecendo a possibilidade de adoração e da confissão sacramental.

Na noite de Páscoa, reviveremos o sugestivo rito de acender o círio pascal: a luz, tirada do «lume novo», pouco a pouco expulsará a escuridão e iluminará a assembleia litúrgica. «A luz de Cristo, gloriosamente ressuscitado, nos dissipe as trevas do coração e do espírito», para que todos possamos reviver a experiência dos discípulos de Emaús: ouvir a palavra do Senhor e alimentar-nos do Pão Eucarístico permitirá que o nosso coração volte a inflamar-se de fé, esperança e amor.

Abençoo-vos de coração e rezo por vós. Não vos esqueçais de rezar por mim.

Vaticano, 1 de Novembro de 2017

Solenidade de Todos os Santos

Francisco

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O Ofertório. Catequese do Papa Francisco na Audiência Geral

Bom dia, queridos irmãos e irmãs!

Continuemos as catequeses sobre a Santa Missa. À Liturgia da Palavra — sobre a qual meditei nas catequeses passadas — segue-se a outra parte constitutiva da Missa, que é a Liturgia eucarística. Nela, através dos sinais sagrados, a Igreja torna continuamente presente o Sacrifício da nova aliança, selada por Jesus no altar da Cruz (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. Sacrosanctum concilium, 47). O primeiro altar cristão foi o da Cruz, e quando nos aproximamos do altar para celebrar a Missa, a nossa memória vai ao altar da Cruz, onde se realizou o primeiro sacrifício. O sacerdote, que na Missa representa Cristo, cumpre aquilo que o próprio Senhor fez e confiou aos discípulos na última Ceia: tomou o pão e o cálice, deu graças e distribuiu-os aos discípulos, dizendo: «Tomai e comei… bebei: isto é o meu Corpo… isto é o cálice do meu Sangue. Fazei isto em memória de mim!».

Obediente ao mandato de Jesus, a Igreja dispôs a Liturgia eucarística em momentos que correspondem às palavras e aos gestos realizados por Ele na vigília da sua Paixão. Assim, na preparação dos dons levam-se ao altar o pão e o vinho, ou seja, os elementos que Cristo tomou nas suas mãos. Na Prece eucarística damos graças a Deus pela obra da redenção, e as ofertas tornam-se o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo. Seguem-se a fração do Pão e a Comunhão, mediante a qual revivemos a experiência dos Apóstolos que receberam os dons eucarísticos das mãos do próprio Cristo (cf. Ordenamento Geral do Missal Romano, 72).

Portanto, ao primeiro gesto de Jesus: «Tomou o pão e o cálice do vinho», corresponde a preparação dos dons. É a primeira parte da Liturgia eucarística. É bom que o pão e o vinho sejam apresentados ao sacerdote pelos fiéis, porque eles significam a oferta espiritual da Igreja ali congregada para a Eucaristia. É bom que precisamente os fiéis levem o pão e o vinho ao altar. Não obstante hoje «os fiéis já não levem, como outrora, o próprio pão e vinho, destinados à Liturgia, todavia o rito da apresentação destes dons conserva o seu valor e significado espiritual» (ibid., n. 73). E a este propósito, é significativo que, ao ordenar um novo presbítero, o Bispo, quando lhe entrega o pão e o vinho, diz: «Recebe as ofertas do povo santo para o sacrifício eucarístico» (Pontifical Romano – Ordenação dos bispos, dos presbíteros e dos diáconos). O povo de Deus que leva a oferta, o pão e o vinho, a grande oferta para a Missa! Portanto, nos sinais do pão e do vinho, o povo fiel põe a própria oferta nas mãos do sacerdote, que a coloca no altar, ou mesa do Senhor, «que é o centro de toda a Liturgia eucarística» (OGMR, n. 73). Ou seja, o centro da Missa é o altar, e o altar é Cristo; é necessário olhar sempre para o altar, que constitui o cerne da Missa. Por conseguinte, no «fruto da terra e do trabalho do homem» oferece-se o compromisso dos fiéis a fazer de si mesmos, obedientes à Palavra divina, um «sacrifício agradável a Deus Pai Todo-Poderoso», «pelo bem de toda a sua santa Igreja». Deste modo, «a vida dos fiéis, o seu louvor, o seu sofrimento, a sua oração e o seu trabalho unem-se aos de Cristo e à sua oblação total, adquirindo assim um novo valor» (Catecismo da Igreja Católica, 1.368).

Sem dúvida, a nossa oferta é pouca coisa, mas Cristo tem necessidade deste pouco. O Senhor pede-nos pouco e dá-nos muito. Pede-nos pouco. Na vida diária, pede-nos a boa vontade; pede-nos um coração aberto; pede-nos a vontade de ser melhores, para receber Aquele que se oferece a si mesmo a nós na Eucaristia; pede-nos estas oblações simbólicas que depois se tornarão o seu Corpo e o seu Sangue. Uma imagem deste movimento oblativo de oração é representada pelo incenso que, consumido no fogo, liberta uma fumaça perfumada que se eleva: incensar as ofertas, como se faz nos dias santos, incensar a cruz, o altar, o presbítero e o povo sacerdotal manifesta visivelmente o vínculo ofertorial que une todas estas realidades ao sacrifício de Cristo (cf. OGMR, n. 75). E não vos esqueçais: há o altar, que é Cristo, mas sempre em referência ao primeiro altar, que é a Cruz; e ao altar, que é Cristo, levamos o pouco dos nossos dons, o pão e o vinho, que depois se tornarão muito: o próprio Jesus que se oferece a nós!

É tudo isto que exprime também a oração do ofertório. Nela, o sacerdote pede a Deus que aceite os dons que a Igreja lhe oferece, invocando o fruto do admirável intercâmbio entre a nossa pobreza e a sua riqueza. No pão e no vinho apresentamos-lhe a oblação da nossa vida, a fim de que seja transformada pelo Espírito Santo no sacrifício de Cristo, tornando-se com Ele uma única oferenda espiritual agradável ao Pai. Enquanto concluímos assim a preparação dos dons, dispomo-nos para a Prece eucarística (cf. ibid., n. 77).

espiritualidade da doação de si, que este momento da Missa nos ensina, possa iluminar os nossos dias, os relacionamentos com os outros, aquilo que levamos a cabo e os sofrimentos que encontramos, ajudando-nos a construir a cidade terrena à luz do Evangelho.

Papa Francisco, Audiência Geral, 28 de Fevereiro de 2018

 

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3º Domingo da Quaresma – Ano B

Evangelho de Nossa Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 2, 13-25)

Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados às bancas. Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas; e disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio». Os discípulos recordaram-se do que estava escrito: «Devora-me o zelo pela tua casa».

Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe: «Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?» Jesus respondeu-lhes: «Destruí este templo e em três dias o levantarei». Disseram os judeus: «Foram precisos quarenta e seis anos para se construir este templo e Tu vais levantá-lo em três dias?» Jesus, porém, falava do templo do seu corpo. Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e acreditaram na Escritura e nas palavras que Jesus dissera.

Enquanto Jesus permaneceu em Jerusalém pela festa da Páscoa, muitos, ao verem os milagres que fazia, acreditaram no seu nome. Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos e não precisava de que Lhe dessem informações sobre ninguém: Ele bem sabia o que há no homem.

Meditação

O Evangelho deste 3º Domingo da Quaresma (Ano B) apresenta-nos o episódio da expulsão dos vendedores do templo. Jesus fez um chicote de cordas e expulsou todos para fora do templo, com as ovelhas e os bois, o dinheiro, tudo. O gesto e as palavras de Jesus lembram várias profecias: a casa de Deus não pode ser transformada em covil de ladrões (Jeremias 7, 11); no futuro não haverá mais vendedores na casa de Deus (Zacarias 14, 21); a casa de Deus deve ser uma casa de oração para todos os povos (Isaías 56, 7).

Vendo o gesto de Jesus, os discípulos lembraram-se de outras frases e factos do Antigo Testamento, nomeadamente, o salmo que diz: “Devora-me o zelo pela tua casa” (Salmo 69, 10), e o profeta Elias que dizia: “Ardo de zelo pela causa de Deus” (1 Reis 19, 9.14). Naquele tempo dizia-se: “A Bíblia explica-se pela Bíblia”. Ou seja, só Deus consegue explicar o sentido da Palavra de Deus. Por isso, se os gestos de Jesus são Palavras de Deus, então devem ser iluminados e interpretados a partir da Palavra de Deus presente na Escritura. Isto ajuda a actualizar o significado das coisas que Jesus fez e disse, e a manter viva a sua presença no meio de nós.

Tocando no templo, Jesus tocou no fundamento da religião do seu povo. Os líderes judeus, perceberam que ele tinha agido com muita autoridade. Por isso, perguntam-lhe: “Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?”. Jesus responde: “Destruí este templo e em três dias o levantarei”. Jesus falava do templo do seu corpo, que seria destruído pelos romanos e autoridades judaicas e em três dias seria totalmente renovado através da ressurreição. Os judeus tomaram as palavras de Jesus ao pé da letra e zombaram dele: “Foram precisos quarenta e seis anos para se construir este templo e Tu vais levantá-lo em três dias?”. É como se dissessem com desprezo: “Vai enganar outro!”. Não entenderam nada do gesto de Jesus ou não quiseram entender!

Os discípulos também não entenderam o significado do que Jesus disse. Foi só depois da ressurreição que compreenderam que ele falava do templo do seu corpo. A compreensão das coisas de Deus só acontece aos poucos, por etapas. A expulsão dos comerciantes tinha ajudado a entender as profecias do Antigo Testamento. Agora, é a luz da ressurreição que ajuda a entender as palavras do próprio Jesus. Jesus ressuscitado é o novo templo, onde Deus se faz presente no meio da comunidade.

Palavra para o caminho

O que o Evangelho deste Domingo nos conta pode surpreender-nos, contudo, essa é a reacção de Jesus ao encontrar-se com homens que, inclusive no templo, não sabem procurar outra coisa que não seja o seu próprio negócio. O templo deixa de ser lugar de encontro de irmãos e de filhos com Deus Pai quando a nossa vida é um mercado onde só se presta culto ao dinheiro.

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