Páscoa, ressurreição, novidade

Na Páscoa fala-se de ressurreição e de novidade. Mas a ressurreição que Cristo veio revelar não é voltar a este mundo pesado e conflituoso. É a certeza de passar para outro, de beleza e paz, cujas sementes estão já neste. Só que a semente não vê ainda o fruto. E tem que morrer para dar fruto.

Vasco P. Magalhães, sj

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Audiência Geral. O Baptismo é o princípio dum processo que nos permite viver unidos a Cristo na Igreja

Prezados irmãos e irmãs bom dia!

Prosseguimos, neste Tempo de Páscoa, as catequeses sobre o Batismo. O significado do Batismo sobressai claramente da sua celebração, por isso dirijamos a ela a nossa atenção. Considerando os gestos e as palavras da liturgia, podemos compreender a graça e o compromisso deste Sacramento, que deve ser sempre redescoberto. Fazemos memória dela na aspersão com a água benta, que se pode realizar no domingo, no início da Missa, assim como na renovação das promessas batismais, durante a Vigília pascal. Com efeito, quanto se verifica na celebração do Batismo suscita uma dinâmica espiritual que atravessa toda a vida dos batizados; é o início de um processo que nos permite viver unidos a Cristo na Igreja. Portanto, regressar à nascente da vida cristã leva-nos a compreender melhor o dom recebido no dia do nosso Batismo e a renovar o compromisso de lhe corresponder na condição em que estamos hoje. Renovar o compromisso, compreender melhor este dom, que é o Batismo, e recordar o dia do nosso Batismo. Na quarta-feira passada pedi para fazer os deveres de casa e, cada um de nós, recordar o dia do Batismo, em que dia fui batizado. Sei que alguns de vós o sabem, outros não; os que não o sabem, perguntem aos parentes, àquelas pessoas, aos padrinhos, às madrinhas… perguntem: “Qual é a data do meu Batismo?”. Porque o Batismo é um renascimento, é como se fosse o segundo aniversário. Entendestes? Cumprir este dever de casa, perguntar: “Qual é a data do meu Batismo?”.

Antes de tudo, no rito de acolhimento pergunta-se qual é o nome do candidato, porque o nome indica a identidade de uma pessoa. Quando nos apresentamos, dizemos imediatamente o nosso nome: “Chamo-me assim”, para sair do anonimato; anónimo é quem não tem um nome. Para sair do anonimato dizemos imediatamente o nosso nome. Sem um nome permanecemos desconhecidos, sem direitos nem deveres. Deus chama cada um pelo nome, amando-nos individualmente, na realidade da nossa história. O Batismo acende a vocação pessoal a viver como cristão, que se desenvolverá durante a vida inteira. E comporta uma resposta pessoal, não emprestada, com um “copia e cola”. Com efeito, a vida cristã é tecida com uma série de chamadas e respostas: Deus continua a pronunciar o nosso nome ao longo dos anos, fazendo ressoar de muitas maneiras a sua chamada a nos conformarmos com o seu Filho Jesus. Portanto, o nome é importante! É muito importante! Os pais pensam no nome que darão ao filho já antes do nascimento: também isto faz parte da espera de um filho que, no próprio nome terá a sua identidade original, inclusive para a vida cristã ligada a Deus.

Sem dúvida, tornar-se cristão é um dom que vem do alto (cf. Jo 3, 3-8). A fé não se pode comprar, mas sim pedir e receber como dom. “Senhor, concedei-me o dom da fé!”, é uma bonita oração! “Que eu tenha fé!” é uma bonita prece. Pedi-la como dom, mas não se pode comprá-la, pede-se. Com efeito, «o Batismo é o sacramento daquela fé, com a qual os homens, iluminados pela graça do Espírito Santo, respondem ao Evangelho de Cristo» (Rito do Batismo das Crianças, Introdução geral, n. 3). A formação dos catecúmenos e a preparação dos pais, assim como a escuta da Palavra de Deus na própria celebração do Batismo, tendem a suscitar e a despertar uma fé sincera, em resposta ao Evangelho.

Se os catecúmenos adultos manifestam pessoalmente aquilo que desejam receber como dom da Igreja, as crianças são apresentadas pelos pais, com os padrinhos. O diálogo com eles permite que exprimam a vontade de que os pequenos recebam o Batismo e, à Igreja, a intenção de o celebrar. «Expressão de tudo isto é o sinal da cruz, que o celebrante e os pais traçam na testa das crianças» (Rito do Batismo das Crianças, Introdução, n. 16). «O sinal da cruz… manifesta a marca de Cristo impressa naquele que vai passar a pertencer-lhe e significa a graça da redenção que Cristo nos adquiriu pela sua cruz» (Catecismo da Igreja Católica, n. 1.235). Na celebração fazemos o sinal da cruz nas crianças. Mas gostaria de retomar um tema do qual já vos falei. As nossas crianças sabem fazer bem o sinal da cruz? Muitas vezes vi crianças que não sabem fazer o sinal da cruz. E vós, pais, mães, avôs, avós, padrinhos e madrinhas, deveis ensinar a fazer bem o sinal da cruz, porque isto significa repetir o que se fez no Batismo. Entendestes bem? Ensinar as crianças a fazer bem o sinal da cruz. Se o aprenderem desde a infância, fá-lo-ão bem mais tarde, quando forem adultos.

A cruz é o distintivo que manifesta quem somos: o nosso falar, pensar, olhar e agir estão sob o sinal da cruz, ou seja, sob o sinal do amor de Jesus até ao fim. As crianças são marcadas na testa. Os catecúmenos adultos são marcados também nos sentidos, com estas palavras: «Recebei o sinal da cruz nos ouvidos, para ouvir a voz do Senhor»; «nos olhos, para ver o esplendor da face de Deus»; «nos lábios, para responder à palavra de Deus»; «no peito, para que Cristo habite nos vossos corações mediante a fé»; «nos ombros, para sustentar o jugo suave de Cristo» (Rito da iniciação cristã dos adultos, n. 85). Tornamo-nos cristãos na medida em que a cruz se imprime em nós como uma marca “pascal” (cf. Ap 14, 1; 22, 4), tornando visível, inclusive exteriormente, o modo cristão de enfrentar a vida. Fazer o sinal da cruz quando acordamos, antes das refeições, diante de um perigo, em defesa contra o mal, à noite antes de dormir, significa dizer a nós mesmos e aos outros a quem pertencemos, quem desejamos ser. Por isso é muito importante ensinar as crianças a fazer bem o sinal da cruz. E, como fazemos ao entrar na igreja, podemos fazê-lo também em casa, conservando num pequeno vaso adequado um pouco de água benta — algumas famílias fazem-no: assim, cada vez que entramos ou saímos, fazendo o sinal da cruz com aquela água recordamo-nos que somos batizados. Não vos esqueçais, repito: ensinai as crianças a fazer o sinal da cruz!

Papa Francisco, Audiência Geral, 18 de Abril de 2018

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Frases sobre a misericórdia

– Redescubramos as obras de misericórdia corporais: dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos doentes, visitar os presos, enterrar os mortos. E não esqueçamos as obras de misericórdia espirituais: aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes, corrigir os que erram, consolar os tristes, perdoar as ofensas, suportar com paciência as pessoas molestas, rezar a Deus pelos vivos e defuntos.

– Como é difícil muitas vezes perdoar! E, no entanto, o perdão é o instrumento colocado nas nossas frágeis mãos para alcançar a serenidade do coração. Deixar cair o rancor, a raiva, a violência e a vingança são condições necessárias para viver felizes.

– O sofrimento do outro constitui um apelo à conversão, porque a necessidade do irmão recorda-me a fragilidade da minha vida, a minha dependência de Deus e dos irmãos.

– Ter um coração misericordioso não significa ter um coração débil. Quem deseja ser misericordioso necessita de um coração forte, firme, fechado ao tentador, mas aberto a Deus.

– Não se pode viver sem perdoar ou, pelo menos, não se pode viver bem, especialmente em família.

– A misericórdia para a qual somos chamados abraça toda a criação que Deus nos confiou para sermos cuidadores e não exploradores, ou pior ainda, destruidores.

Papa Francisco

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“Ele me amou e se entregou por mim” (Gal 2, 20)

Há quem dê coisas, há até quem dê coisas muito boas, há quem dê o seu tempo e o seu saber, e isto já é mais importante porque é dar-se. Mas dar a vida até ao fim, gastar-se por uma causa nobre, como uma vela que arde e dá luz a outros, isso é divino! Quem o sabe fazer entende a morte de Cristo e a cruz.

Vasco P. Magalhães, sj

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Regina Coeli (15 de Abril de 2018). “Vede as minhas mãos e os meus pés”

Na oração mariana do Regina Coeli deste 3º Domingo da Páscoa, 15 de Abril, o Papa Francisco lembrou a experiência que os apóstolos tiveram ao se depararem com a presença real de Cristo ressuscitado, que se manifesta aos seus discípulos com a vigorosa saudação “A paz esteja convosco”. 

Este episódio narrado pelo evangelista Lucas insiste muito no realismo da ressurreição. Jesus não é um fantasma, não se trata da aparição da alma de Jesus, mas da sua real presença com o corpo ressuscitado.

Os apóstolos, porém, sentem-se perturbados com aquela aparição, pois a realidade da ressurreição é inconcebível para eles. “Vede as minhas mãos e os meus pés”, diz Jesus aos apóstolos. A insistência de Jesus sobre a realidade da sua ressurreição ilumina a perspectiva cristã sobre o corpo. O corpo não é um obstáculo ou uma prisão da alma. O corpo é criado por Deus e o homem não é completo se não está em união de corpo e alma.

A vitória de Cristo sobre a morte e a sua ressurreição em corpo e alma leva a entender que se deve ter uma ideia positiva do corpo, que pode ser um instrumento de pecado, mas o pecado não é provocado pelo corpo. O pecado não é provocado pelo corpo, mas sim pela nossa fraqueza moral. O corpo é um dom maravilhoso de Deus, destinado, em união com a alma, a expressar em plenitude a imagem e semelhança do próprio Deus. Portanto, somos chamados a ter grande respeito e cuidado pelo nosso corpo e pelo dos outros. Toda a ofensa ou ferida, ou violência ao corpo do nosso próximo é uma ofensa a Deus Criador.

Papa Francisco, Regina Coeli (resumo), 15 de Abril de 2018

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3º Domingo da Páscoa – Ano B

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 24, 35-48)

Naquele tempo os discípulos de Emaús contaram o que lhes tinha acontecido pelo caminho e como Jesus se lhes dera a conhecer, ao partir o pão. Enquanto isto diziam, Jesus apresentou-se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco!» Dominados pelo espanto e cheios de temor, julgavam ver um espírito. Disse-lhes, então: «Porque estais perturbados e porque surgem tais dúvidas nos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo. Tocai-me e olhai que um espírito não tem carne nem ossos, como verificais que Eu tenho.» Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E como, na sua alegria, não queriam acreditar de assombrados que estavam, Ele perguntou-lhes: «Tendes aí alguma coisa que se coma?» Deram-lhe um bocado de peixe assado; e, tomando-o, comeu diante deles.

Depois, disse-lhes: «Estas foram as palavras que vos disse, quando ainda estava convosco: que era necessário que se cumprisse tudo quanto a meu respeito está escrito em Moisés, nos Profetas e nos Salmos.» Abriu-lhes então o entendimento para compreenderem as Escrituras e disse-lhes: «Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e ressuscitar dentre os mortos, ao terceiro dia; que havia de ser anunciada, em seu nome, a conversão para o perdão dos pecados a todos os povos, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas destas coisas.»

Reflexão

Lucas escreve o seu Evangelho por volta do ano 85 em vista dos problemas da sua comunidade. A primeira geração de discípulos já tinha morrido pois já tinha passado mais de meio século desde os acontecimentos pascais. Agora, a comunidade vacila na sua fé, as perseguições estão no horizonte, ou até estão a acontecer, o primeiro entusiasmo diminuiu, os membros estão cansados da caminhada e perdendo de vista a mensagem vitoriosa da Páscoa. Parece que é mais forte a morte do que a vida, a opressão do que a libertação, o pecado do que a graça.

Neste cenário, Lucas escreve este capítulo 24 que traz uma mensagem de ânimo e coragem aos desanimados e vacilantes da sua época (e da nossa)! Às mulheres, que foram ao sepulcro com os perfumes, os dois anjos perguntam / interrogam: “por que procurais entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui! Ressuscitou!” Mensagem actual para os nossos tempos diante da difícil situação de tantas pessoas que enfrentam duras lutas pela sua sobrevivência. O nosso texto quer-nos lembrar que Jesus venceu o mal, não foi derrotado pela morte, está no meio de nós!

Os dois discípulos de Emaús são a imagem viva da comunidade para quem o evangelista Lucas escreve e de muitas outras nos nossos dias! Já sabem do túmulo vazio, mas estão desanimados, desiludidos, sem forças pois ainda não fizeram a experiência da presença de Jesus Ressuscitado. Os dois só fazem esta experiência quando partilham o pão! A Escritura fez com que os seus corações “ardessem pelo caminho”, mas não lhes abriu ainda os olhos para reconhecerem a presença do Ressuscitado junto deles. Para isso era necessário formar uma comunidade celebrativa de fé e de partilha: “contaram… como tinham reconhecido Jesus quando ele partiu o pão”.

Finalmente, o grupo dos discípulos reunidos em Jerusalém é símbolo das comunidades confusas e vacilantes. Tinham dificuldade em acreditar pois a mensagem da Ressurreição é realmente espantosa! Mas, uma vez feita essa experiência, eles transformam-se e tornam-se em testemunhas vivas do que sentiram, experimentaram e vivenciaram: “Vós sois as testemunhas destas coisas”. Um grupo de derrotados, sem esperança e desunidos transformam-se num grupo de missionários corajosos e convictos, assumindo a tarefa de anunciar no nome de Jesus “a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações”.

Palavra para o caminho

No Evangelho proclamado neste 3º Domingo de Páscoa “entrevê-se um repetido convite a vencer a incredulidade e a crer na ressurreição de Cristo, porque os seus discípulos estão chamados a ser testemunhas precisamente deste acontecimento extraordinário. A ressurreição de Cristo é o acontecimento central do cristianismo, verdade fundamental que se deve reafirmar com vigor em todos os tempos, porque negá-la como se tentou fazer de várias formas, e ainda se continua a fazer, ou transformá-la num acontecimento meramente espiritual, significa vanificar a nossa própria fé. «Mas se Cristo não ressuscitou afirma São Paulo é vã a nossa pregação, e vã é também a nossa fé» (1 Cor 15, 14)” (Bento XVI).

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Se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé (1Cor 15, 14)

Crer no Ressuscitado é opôr-nos com todas as nossas forças à ideia de que a grande maioria de homens, mulheres e crianças que só têm conhecido miséria, humilhação e sofrimento nesta vida, fiquem esquecidos para sempre.

Crer no Ressuscitado é aproximar-nos com esperança de tantas pessoas sem saúde, enfermos crónicos, deficientes físicos e psíquicos, pessoas afundadas na depressão, cansadas de viver e de lutar. Um dia conhecerão o que significa viver em paz e com saúde total. Escutarão as palavras do Pai: “Entra para sempre na alegria do teu Senhor”.

Crer no Ressuscitado é esperar que as horas alegres e as experiências tristes, as marcas que deixamos nas pessoas e nas coisas, o que construímos ou desfrutamos generosamente, transfigurar-se-ão. Já não conheceremos a amizade que termina, a festa que acaba nem a despedida que nos deixa tristes. Deus será tudo em todos.

Crer no Ressuscitado é acreditar que um dia escutaremos estas inacreditáveis palavras que o livro do Apocalipse coloca na boca de Deus: “Eu sou o princípio e o fim de tudo. Ao que tiver sede eu lhe darei gratuitamente do manancial da água da vida. Já não haverá morte nem choro, nem gritos e nem fadigas, porque tudo isso passou”.

José Antonio Pagola

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Audiência geral do Papa Francisco. O Baptismo converte-nos noutro Cristo

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Os cinquenta dias do tempo litúrgico pascal são propícios para refletir sobre a vida cristã que, por sua natureza, é a vida que provém do próprio Cristo. De facto, somos cristãos na medida em que deixamos Jesus Cristo viver em nós. Então, por onde começar a fim de reavivar esta consciência se não pelo princípio, pelo Sacramento que acendeu em nós a vida cristã? Pelo Batismo. A Páscoa de Cristo, com a sua carga de novidade, chega até nós através do Batismo para nos transformar à sua imagem: os batizados pertencem a Jesus Cristo, Ele é o Senhor da sua existência. O Batismo é o «fundamento de toda a vida cristã» (Catecismo da Igreja Católica, 1213). É o primeiro dos Sacramentos, porque é a porta que permite a Cristo Senhor habitar a nossa pessoa e, a nós, imergir-nos no seu Mistério.

O verbo grego “batizar” significa “imergir” (cf. CIC, 1214). O banho com a água é um rito comum em várias crenças para exprimir a passagem de uma condição para outra, sinal de purificação para um novo início. Mas para nós cristãos não deve passar despercebido que se é o corpo a ser imergido na água, é a alma que é imersa em Cristo para receber o perdão do pecado e resplandecer de luz divina (cf. Tertuliano, Sobre a ressurreição dos mortos, VIII, 3; ccl 2, 931; pl 2, 806). Em virtude do Espírito Santo, o Batismo imerge-nos na morte e ressurreição do Senhor, afogando na pia batismal o homem velho, dominado pelo pecado que separa de Deus, e fazendo com que nasça o homem novo, recriado em Jesus. N’Ele, todos os filhos de Adão são chamados para a vida nova. Ou seja, o Batismo é um renascimento. Estou certo, certíssimo de que todos nós recordamos a data do nosso nascimento: tenho a certeza. Mas questiono-me, com alguma dúvida, e pergunto-vos: cada um de vós recorda qual foi a data do próprio batismo? Alguns dizem sim — está bem. Mas é um sim um pouco débil, porque talvez muitos não recordem. Mas se festejamos o dia do nascimento, como não festejar — pelo menos recordar — o dia do renascimento? Dar-vos-ei um dever de casa, uma tarefa hoje para fazer em casa. Quantos de vós que não se recordam a data do batismo, perguntem à mãe, aos tios, aos netos, perguntem: “Sabes qual é a data do batismo?”, e nunca mais a esqueçais. E demos graças ao Senhor por aquele dia, porque é precisamente o dia em que Jesus entrou em nós, que o Espírito Santo entrou em nós. Compreendestes bem o dever de casa? Todos devemos saber a data do nosso batismo. É outro aniversário: o aniversário do renascimento. Não vos esqueçais de fazer isto, por favor.

Recordemos as últimas palavras do Ressuscitado aos Apóstolos: são precisamente um mandato: «Ide e fazei discípulos todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo» (Mt 28, 19). Através da lavacro batismal, quem crê em Cristo é imerso na própria vida da Trindade.

De facto, a do Batismo não é uma água qualquer, mas a água sobre a qual é invocado o Espírito que «dá a vida» (Credo). Pensemos no que Jesus disse a Nicodemos para lhe explicar o nascimento para a vida divina: «Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito» (Jo 3, 5-6). Portanto o Batismo é também chamado “regeneração”: acreditamos que Deus nos salvou «pela sua misericórdia, com uma água que regenera e renova no Espírito» (Tt 3, 5).

Por conseguinte, o Batismo é sinal eficaz de renascimento, para caminhar em novidade de vida. Recorda-o São Paulo aos cristãos de Roma: «Ignorais, porventura, que todos nós que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? Pelo batismo sepultámo-nos juntamente com Ele, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos, mediante a glória do Pai, assim caminhemos nós também numa vida nova» (Rm 6, 3-4).

Imergindo-nos em Cristo, o Batismo torna-nos também membros do seu Corpo, que é a Igreja, e participamos da sua missão no mundo (cf. CIC 1213). Nós batizados não estamos isolados: somos membros do Corpo de Cristo. A vitalidade que brota da pia batismal é ilustrada por estas palavras de Jesus: «Eu sou a videira, vós as varas: quem está em mim e eu nele, esse dá muito fruto» (cf. Jo 15, 5). A mesma vida, a do Espírito Santo, escorre de Cristo para os batizados, unindo-os num só Corpo (cf. 1 Cor 12, 13), crismado pela santa unção e alimentado na mesa eucarística.

O Batismo permite que Cristo viva em nós e a nós que vivamos unidos a Ele, para colaborar na Igreja, cada um segundo a própria condição, para a transformação do mundo. Recebido uma única vez, o lavacro batismal ilumina toda a nossa vida, guiando os nossos passos até à Jerusalém do Céu. Há um antes e um depois do Batismo. O Sacramento pressupõe um caminho de fé, que chamamos catecumenato, evidente quando é um adulto que pede o Batismo. Mas também as crianças desde a antiguidade, são batizadas na fé dos pais (cf. Rito do Batismo das crianças, Introdução, 2). E sobre isto gostaria de vos dizer algo. Alguns pensam: mas por que batizar uma criança que não entende? Esperemos que cresça, que compreenda e seja ela mesma a pedir o Batismo. Mas isto significa não ter confiança no Espírito Santo, porque quando batizamos uma criança, naquela criança entra o Espírito Santo, e o Espírito Santo faz com que cresça naquela criança, desde pequenina, virtudes cristãs que depois florescerão. Sempre se deve dar esta oportunidade a todos, a todas as crianças, de ter dentro de si o Espírito Santo que as guie durante a vida. Não deixeis de batizar as crianças! Ninguém merece o Batismo, que é sempre dom gratuito para todos, adultos e recém-nascidos. Mas como acontece com uma semente cheia de vida, este dom ganha raízes e dá fruto num terreno alimentado pela fé. As promessas batismais que a cada ano renovamos na Vigília Pascal devem ser reavivadas todos os dias a fim de que o Batismo “cristifique”: não devemos ter medo desta palavra; o Batismo “cristifica-nos”, quem recebeu o Batismo e é “cristificado” assemelha-se a Cristo, transforma-se em Cristo, tornando-se deveras outro Cristo.

Papa Francisco, Audiência Geral, 11 de Abril de 2018

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Crer no Ressuscitado…

Crer no Ressuscitado é resistirmos a aceitar que a nossa vida é somente um pequeno parêntese entre dois grandes vazios. Apoiando-nos em Jesus Ressuscitado por Deus, intuímos, desejamos e cremos que Deus está a conduzir até a verdadeira plenitude o anseio de vida, de justiça e de paz que se encontra no coração da Humanidade e em toda a criação.

Crer no Ressuscitado é opôr-nos com todas as nossas forças à ideia de que a grande maioria de homens, mulheres e crianças que só têm conhecido miséria, humilhação e sofrimento nesta vida, fiquem esquecidos para sempre.

Crer no Ressuscitado é confiar numa vida onde já não haverá pobreza nem dor, ninguém estará triste nem precisará de chorar. Finalmente, poderemos ver os que se fazem transportar em pequenas embarcações chegar à sua verdadeira Pátria.

Crer no Ressuscitado é aproximar-nos com esperança de tantas pessoas sem saúde, enfermos crónicos, deficientes físicos e psíquicos, pessoas afundadas na depressão, cansadas de viver e de lutar. Um dia conhecerão o que significa viver em paz e com saúde total. Escutarão as palavras do Pai: “Entra para sempre na alegria do teu Senhor”.

Crer no Ressuscitado é não nos resignarmos a que Deus seja para sempre um “Deus oculto” de quem não possamos conhecer o seu olhar, a sua ternura e os seus abraços. Encontrá-lo-emos encarnado para sempre gloriosamente em Jesus.

Crer no Ressuscitado é confiar que os nossos esforços por um mundo mais humano e feliz não se perderão. Um dia feliz, os últimos serão os primeiros e as prostitutas preceder-nos-ão no Reino.

Crer no Ressuscitado é saber que tudo o que aqui ficou pela metade, o que não conseguiu ser, o que estropiamos com a nossa torpeza ou o nosso pecado, tudo alcançará em Deus a sua plenitude. Nada se perderá do que vivemos com amor e ao que renunciamos por amor.

Crer no Ressuscitado é esperar que as horas alegres e as experiências tristes, as marcas que deixamos nas pessoas e nas coisas, o que construímos ou desfrutamos generosamente, transfigurar-se-á. Já não conheceremos a amizade que termina, a festa que acaba nem a despedida que nos deixa tristes. Deus será tudo em todos.

Crer no Ressuscitado é acreditar que um dia escutaremos estas inacreditáveis palavras que o livro do Apocalipse coloca na boca de Deus: “Eu sou o princípio e o fim de tudo. Ao que tiver sede eu lhe darei gratuitamente do manancial da água da vida. Já não haverá morte nem choro, nem gritos e nem fadigas, porque tudo isso passou”.

José Antonio Pagola

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