Por mim, Cristo provou a morte

Nada existe nas minhas obras de que me possa gloriar, nada tenho de que me gloriar, e por isso gloriar-me-ei em Cristo. Não me alegrarei por ser justo, mas porque fui redimido. Não me alegrarei porque não tenho pecados, mas porque os pecados me foram perdoados. Não me alegrarei porque ajudei nem porque alguém me ajudou, mas porque Cristo é meu advogado junto do Pai, porque o sangue de Cristo foi derramado por mim. A minha culpa tornou-se para mim o preço da redenção, através da qual Cristo veio a mim. Por mim, Cristo provou a morte. É mais proveitosa a culpa que a inocência. A inocência tinha-me tornado arrogante, a culpa tornou-me humilde.

Santo Ambrósio de Milão

Abrir

Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2019

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO
PARA A QUARESMA DE 2019

«A criação encontra-se em expectativa ansiosa,
aguardando a revelação dos filhos de Deus» (Rm 8, 19)

Queridos irmãos e irmãs!

Todos os anos, por meio da Mãe Igreja, Deus «concede aos seus fiéis a graça de se prepararem, na alegria do coração purificado, para celebrar as festas pascais, a fim de que (…), participando nos mistérios da renovação cristã, alcancem a plenitude da filiação divina» (Prefácio I da Quaresma). Assim, de Páscoa em Páscoa, podemos caminhar para a realização da salvação que já recebemos, graças ao mistério pascal de Cristo: «De facto, foi na esperança que fomos salvos» (Rm 8, 24). Este mistério de salvação, já operante em nós durante a vida terrena, é um processo dinâmico que abrange também a história e toda a criação. São Paulo chega a dizer: «Até a criação se encontra em expectativa ansiosa, aguardando a revelação dos filhos de Deus» (Rm 8, 19). Nesta perspectiva, gostaria de oferecer algumas propostas de reflexão, que acompanhem o nosso caminho de conversão na próxima Quaresma.

1. A redenção da criação

A celebração do Tríduo Pascal da paixão, morte e ressurreição de Cristo, ponto culminante do Ano Litúrgico, sempre nos chama a viver um itinerário de preparação, cientes de que tornar-nos semelhantes a Cristo (cf. Rm 8, 29) é um dom inestimável da misericórdia de Deus.

Se o homem vive como filho de Deus, se vive como pessoa redimida, que se deixa guiar pelo Espírito Santo (cf. Rm 8, 14), e sabe reconhecer e praticar a lei de Deus, a começar pela lei gravada no seu coração e na natureza, beneficia também a criação, cooperando para a sua redenção. Por isso, a criação – diz São Paulo – deseja de modo intensíssimo que se manifestem os filhos de Deus, isto é, que a vida daqueles que gozam da graça do mistério pascal de Jesus se cubra plenamente dos seus frutos, destinados a alcançar o seu completo amadurecimento na redenção do próprio corpo humano. Quando a caridade de Cristo transfigura a vida dos santos – espírito, alma e corpo –, estes rendem louvor a Deus e, com a oração, a contemplação e a arte, envolvem nisto também as criaturas, como demonstra admiravelmente o «Cântico do irmão sol», de São Francisco de Assis (cf. Encíclica Laudato si’, 87). Neste mundo, porém, a harmonia gerada pela redenção continua ainda – e sempre estará – ameaçada pela força negativa do pecado e da morte.

2. A força destruidora do pecado

Com efeito, quando não vivemos como filhos de Deus, muitas vezes adoptamos comportamentos destruidores do próximo e das outras criaturas – mas também de nós próprios –, considerando, de forma mais ou menos consciente, que podemos usá-los como bem nos apraz. Então sobrepõe-se a intemperança, levando a um estilo de vida que viola os limites que a nossa condição humana e a natureza nos pedem para respeitar, seguindo aqueles desejos incontrolados que, no livro da Sabedoria, se atribuem aos ímpios, ou seja, a quantos não têm Deus como ponto de referência das suas acções, nem uma esperança para o futuro (cf. 2, 1-11). Se não estivermos voltados continuamente para a Páscoa, para o horizonte da Ressurreição, é claro que acaba por se impor a lógica do tudo e imediatamente, do possuir cada vez mais.

Como sabemos, a causa de todo o mal é o pecado, que, desde a sua aparição no meio dos homens, interrompeu a comunhão com Deus, com os outros e com a criação, à qual nos encontramos ligados antes de mais nada através do nosso corpo. Rompendo-se a comunhão com Deus, acabou por falir também a relação harmoniosa dos seres humanos com o meio ambiente, onde estão chamados a viver, a ponto de o jardim se transformar num deserto (cf. Gn 3, 17-18). Trata-se daquele pecado que leva o homem a considerar-se como deus da criação, a sentir-se o seu senhor absoluto e a usá-la, não para o fim querido pelo Criador, mas para interesse próprio em detrimento das criaturas e dos outros.

Quando se abandona a lei de Deus, a lei do amor, acaba por se afirmar a lei do mais forte sobre o mais fraco. O pecado – que habita no coração do homem (cf. Mc 7, 20-23), manifestando-se como avidez, ambição desmedida de bem-estar, desinteresse pelo bem dos outros e muitas vezes também do próprio – leva à exploração da criação (pessoas e meio ambiente), movidos por aquela ganância insaciável que considera todo o desejo um direito e que, mais cedo ou mais tarde, acabará por destruir inclusive quem está dominado por ela.

3. A força sanadora do arrependimento e do perdão

Por isso, a criação tem impelente necessidade que se revelem os filhos de Deus, aqueles que se tornaram «nova criação»: «Se alguém está em Cristo, é uma nova criação. O que era antigo passou; eis que surgiram coisas novas» (2 Cor 5, 17). Com efeito, com a sua manifestação, a própria criação pode também «fazer páscoa»: abrir-se para o novo céu e a nova terra (cf. Ap 21, 1). E o caminho rumo à Páscoa chama-nos precisamente a restaurar a nossa fisionomia e o nosso coração de cristãos, através do arrependimento, a conversão e o perdão, para podermos viver toda a riqueza da graça do mistério pascal.

Esta «impaciência», esta expectativa da criação ver-se-á satisfeita quando se manifestarem os filhos de Deus, isto é, quando os cristãos e todos os homens entrarem decididamente neste «parto» que é a conversão. Juntamente connosco, toda a criação é chamada a sair «da escravidão da corrupção, para alcançar a liberdade na glória dos filhos de Deus» (Rm 8, 21). A Quaresma é sinal sacramental desta conversão. Ela chama os cristãos a encarnarem, de forma mais intensa e concreta, o mistério pascal na sua vida pessoal, familiar e social, particularmente através do jejum, da oração e da esmola.

Jejuar, isto é, aprender a modificar a nossa atitude para com os outros e as criaturas: passar da tentação de «devorar» tudo para satisfazer a nossa voracidade, à capacidade de sofrer por amor, que pode preencher o vazio do nosso coração. Orar, para saber renunciar à idolatria e à auto-suficiência do nosso eu, e nos declararmos necessitados do Senhor e da sua misericórdia. Dar esmola, para sair da insensatez de viver e acumular tudo para nós mesmos, com a ilusão de assegurarmos um futuro que não nos pertence. E, assim, reencontrar a alegria do projecto que Deus colocou na criação e no nosso coração: o projecto de amá-Lo a Ele, aos nossos irmãos e ao mundo inteiro, encontrando neste amor a verdadeira felicidade.

Queridos irmãos e irmãs, a «quaresma» do Filho de Deus consistiu em entrar no deserto da criação para fazê-la voltar a ser aquele jardim da comunhão com Deus que era antes do pecado das origens (cf. Mc 1,12-13; Is 51,3). Que a nossa Quaresma seja percorrer o mesmo caminho, para levar a esperança de Cristo também à criação, que «será libertada da escravidão da corrupção, para alcançar a liberdade na glória dos filhos de Deus» (Rm 8, 21). Não deixemos que passe em vão este tempo favorável! Peçamos a Deus que nos ajude a realizar um caminho de verdadeira conversão. Abandonemos o egoísmo, o olhar fixo em nós mesmos, e voltemo-nos para a Páscoa de Jesus; façamo-nos próximo dos irmãos e irmãs em dificuldade, partilhando com eles os nossos bens espirituais e materiais. Assim, acolhendo na nossa vida concreta a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, atrairemos também sobre a criação a sua força transformadora.

Vaticano, Festa de São Francisco de Assis, 4 de Outubro de 2018.

Franciscus

Abrir

Encontro “A protecção dos menores na Igreja”

Chegou a hora de colaborarmos, juntos, para erradicar tal brutalidade

O nosso trabalho levou-nos a reconhecer, uma vez mais, que a gravidade do flagelo dos abusos sexuais contra menores é um fenómeno historicamente difuso, infelizmente, em todas as culturas e sociedades. Mas, apenas em tempos relativamente recentes, se tornou objecto de estudos sistemáticos, graças à mudança de sensibilidade da opinião pública sobre um problema considerado tabu no passado, ou seja, todos sabiam da sua existência, mas ninguém falava nele. Estamos, pois, diante dum problema universal e transversal que, infelizmente, existe em quase toda a parte. Devemos ser claros: a universalidade de tal flagelo, ao mesmo tempo que confirma a sua gravidade nas nossas sociedades, não diminui a sua monstruosidade dentro da Igreja.

A desumanidade do fenómeno, a nível mundial, torna-se ainda mais grave e escandalosa na Igreja, porque está em contraste com a sua autoridade moral e a sua credibilidade ética. O consagrado, escolhido por Deus para guiar as almas à salvação, deixa-se subjugar pela sua fragilidade humana ou pela sua doença, tornando-se assim um instrumento de satanás. Nos abusos, vemos a mão do mal que não poupa sequer a inocência das crianças. Não há explicações suficientes para estes abusos contra as crianças. Com humildade e coragem, devemos reconhecer que estamos perante o mistério do mal, que se encarniça contra os mais frágeis, porque são imagem de Jesus. É por isso que actualmente cresceu na Igreja a consciência do dever que tem de procurar não só conter os gravíssimos abusos com medidas disciplinares e processos civis e canónicos, mas também enfrentar decididamente o fenómeno dentro e fora da Igreja. Sente-se chamada a combater este mal que atinge o centro da sua missão: anunciar o Evangelho aos pequeninos e protegê-los dos lobos vorazes.

Quero repetir aqui claramente: ainda que na Igreja se constatasse um único caso de abuso – o que em si já constitui uma monstruosidade –, tratar-se-á dele com a máxima seriedade. Irmãos e irmãs: na ira justificada das pessoas, a Igreja vê o reflexo da ira de Deus, traído e esbofeteado por estes consagrados desonestos. O eco do grito silencioso dos menores, que, em vez de encontrar neles paternidade e guias espirituais, acharam algozes, fará abalar os corações anestesiados pela hipocrisia e o poder. Temos o dever de ouvir atentamente este sufocado grito silencioso.

É difícil, porém, compreender o fenómeno dos abusos sexuais contra os menores sem a consideração do poder, pois aqueles são sempre a consequência do abuso de poder, a exploração duma posição de inferioridade do indefeso abusado que permite a manipulação da sua consciência e da sua fragilidade psicológica e física. O abuso de poder está presente também nas outras formas de abusos de que são vítimas quase oitenta e cinco milhões de crianças, no esquecimento geral: as crianças-soldado, os menores prostituídos, as crianças desnutridas, as crianças raptadas e frequentemente vítimas do monstruoso comércio de órgãos humanos, ou então transformadas em escravos, as crianças vítimas das guerras, as crianças refugiadas, as crianças abortadas, etc.

Perante tanta crueldade, tanto sacrifício idólatra das crianças ao deus poder, dinheiro, orgulho, soberba, não são suficientes meras explicações empíricas; estas não são capazes de fazer compreender a amplitude e a profundidade deste drama. A hermenêutica positivista demonstra, mais uma vez, a sua limitação. Dá-nos uma explicação verdadeira que nos ajudará a tomar as medidas necessárias, mas não é capaz de nos indicar o significado. E hoje precisamos de explicações e significados. As explicações ajudar-nos-ão imenso no sector operativo, mas deixar-nos-ão a meio do caminho.

Qual seria então o «significado» existencial deste fenómeno criminoso? Hoje, tendo em conta a sua amplitude e profundidade humana, só pode ser a manifestação actual do espírito do mal. Sem ter presente esta dimensão, permaneceremos longe da verdade e sem verdadeiras soluções. Irmãos e irmãs, estamos hoje perante uma manifestação do mal, descarada, agressiva e destruidora. Por detrás e dentro disto está o espírito do mal, que, no seu orgulho e soberba, se sente o dono do mundo e pensa que venceu. Isto gostaria de vo-lo dizer com a autoridade de irmão e pai (pequeno e pecador, sem dúvida, mas que é o pastor da Igreja que preside na caridade): nestes dolorosos casos, vejo a mão do mal que não poupa sequer a inocência dos pequeninos. E isto leva-me a pensar no exemplo de Herodes que, impelido pelo medo de perder o seu poder, ordenou massacrar todas as crianças de Belém. Por trás disto está satanás.

E assim como devemos tomar todas as medidas práticas que o bom senso, as ciências e a sociedade nos oferecem, assim também não devemos perder de vista esta realidade e tomar as medidas espirituais que o próprio Senhor nos ensina: humilhação, acusa de nós mesmos, oração, penitência. É o único modo de vencer o espírito do mal. Foi assim que Jesus o venceu.

Assim, o objectivo da Igreja será ouvir, tutelar, proteger e tratar os menores abusados, explorados e esquecidos, onde quer que estejam. Para alcançar este objectivo, a Igreja deve elevar-se acima de todas as polémicas ideológicas e as políticas jornalísticas que frequentemente instrumentalizam, por vários interesses, os próprios dramas vividos pelos pequeninos.

Por isso, chegou a hora de colaborarmos, juntos, para erradicar tal brutalidade do corpo da nossa humanidade, adoptando todas as medidas necessárias já em vigor a nível internacional e a nível eclesial. Chegou a hora de encontrar o justo equilíbrio de todos os valores em jogo e dar directrizes uniformes para a Igreja, evitando os dois extremos: nem judicialismo, provocado pelo sentimento de culpa face aos erros passados e pela pressão do mundo mediático, nem auto-defesa que não enfrenta as causas e as consequências destes graves delitos.

Faço um sentido apelo à luta total contra os abusos de menores, tanto no campo sexual como noutros campos, por parte de todas as autoridades e dos indivíduos, porque se trata de crimes abomináveis que devem ser cancelados da face da terra: pedem isto mesmo as muitas vítimas escondidas nas famílias e em vários setores das nossas sociedades.

Excerto do discurso do Papa Francisco no final da concelebração eucarística

Abrir

7º Domingo do Tempo Comum – Ano C

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 6,27-38)

Naquele tempo, Jesus falou aos seus discípulos, dizendo: «Digo-vos a vós que escutais: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos caluniam. A quem te bater numa face, apresenta-lhe também a outra; e a quem te tirar o manto, não impeças de levar também a túnica. Dá a todo aquele que te pede e a quem levar o que é teu, não o reclames. Como quereis que os outros vos façam, fazei-lho vós também. Se amais aqueles que vos amam, que graça é a vossa? Também os pecadores amam aqueles que os amam. Se fazeis bem aos que vos fazem bem, que graça é a vossa? Também os pecadores fazem o mesmo. E se emprestais àqueles de quem esperais receber, que graça é a vossa? Também os pecadores emprestam aos pecadores, a fim de receberem outro tanto. Vós, porém, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem nada esperar em troca. Então será grande a vossa recompensa e sereis filhos do Altíssimo, que é bom até para os ingratos e os maus. Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados. Não condeneis e não sereis condenados. Perdoai e ser-vos-á perdoado. Dai e dar-se-vos-á. Deitar-vos-ão no regaço uma boa medida, calcada, sacudida, a transbordar. Porque com a medida com que medirdes, sereis medidos».

Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso”

A missão de Jesus consistiu em tornar presente por palavras e obras que o Pai é Amor e Misericórdia. Jesus, que encarna e torna visível no mundo a Misericórdia do Pai, faz-se também misericordioso. O Evangelho só aparece como “Boa Nova” se compreendermos esta novidade vivida e encarnada por Jesus.

Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso”. Ser misericordioso como Deus constitui o mais elevado convite e a mensagem mais profunda que o ser humano recebe sobre o modo como deve tratar a si mesmo e as outras pessoas. O Deus misericordioso cria em nós um coração novo, feito de acordo com o seu, capaz de misericórdia: “Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia”.

A misericórdia presente em nós é modelada e alimentada pela Misericórdia divina, que se torna visível no perdão, na compaixão, no consolo, na ternura, no cuidado… A nossa atitude misericordiosa configura-nos à imagem de Deus misericordioso, assemelhando-nos a ele, descentra-nos de nós mesmos e faz-nos ir em direcção à outra pessoa, numa atitude de pura gratuidade. Talvez a existência de muitos mudasse e adquirisse outra cor e outra vida, se aprendessem unicamente a amar alguém gratuitamente. Quer queiramos quer não, o ser humano está chamado a amar desinteressadamente e se não o faz na sua vida abre-se um vazio que nada nem ninguém pode preencher. A vivência da Misericórdia torna-nos realmente livres, e isto faz nascer em nós uma profunda alegria interior.

É a partir da Misericórdia que a pessoa é capaz de amar os inimigos, de fazer o bem a quem a odeia, de bendizer a quem a amaldiçoa, de oferecer a outra face, de emprestar sem esperar recompensa, de perdoar sem limites… Quem é misericordioso está convencido de que o irmão e a irmã são melhores do que aquilo que aparentam ser. A misericórdia abre um novo futuro e faz vir ao de cima o que há de melhor no interior de cada pessoa.

O discípulo de Cristo é desafiado a fazer uma opção, a escolher entre a medidas e os critérios humanos e a medida e os critérios de Deus: «A medida do amor é amar sem medida» (São Bernardo).

Palavra para o caminho

Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz. Onde há ódio, que eu leve o amor. Onde há ofensa, que eu leve o perdão. Onde há discórdia, que eu leve a união. Onde há dúvida, que eu leve a fé. Onde há erro, que eu leve a verdade. Onde há desespero, que eu leve a esperança. Onde há tristeza, que eu leve a alegria. Onde há trevas, que eu leve a luz. 

Ó Mestre, Fazei que eu procure mais consolar que ser consolado; compreender que ser compreendido; amar que ser amado. Pois é dando que se recebe,é perdoando que se é perdoado, é morrendo que se vive para a vida eterna (São Francisco de Assis)

.

Abrir

Frases sobre a Santa Missa

– O Senhor faz-se presente sobre o altar para ser oferecido ao Pai para a salvação do mundo. O Senhor está ali presente connosco.

– Participar na Missa é viver mais uma vez a paixão e morte redentora do Senhor.

– A Missa é oração, aliás, é a oração por excelência, a mais elevada, a mais sublime, e ao mesmo tempo a mais «concreta».

– A Missa é o encontro de amor com Deus mediante a sua Palavra e o Corpo e Sangue de Jesus.

– Toda a vez que comungamos, parecemo-nos mais com Jesus, transformamo-nos mais em Jesus.

– Como o pão e o vinho são convertidos no Corpo e no Sangue do Senhor, aqueles que os recebem com fé são transformados numa Eucaristia viva.

– A missa é como o grão, que na vida cresce nas obras boas, nas atitudes que nos fazem parecer com Jesus. Os frutos da Missa, portanto, são destinados a amadurecer na vida de todos os dias.

– Os cristãos não vão à missa para cumprir um dever semanal e depois se esquecer. Vão à missa para participar da ressurreição do Senhor e depois viver mais como cristãos.

– Aproximar-se regularmente ao banquete eucarístico renova, fortifica e aprofunda o elo com a comunidade cristã à qual pertencemos, segundo o princípio que a Eucaristia faz a Igreja.

– A missa é composta por duas partes, que são a Liturgia da Palavra e a Liturgia eucarística, tão estreitamente conjuntas entre elas que formam um único ato de culto”.

Papa Francisco

Abrir

20 de Fevereiro: Santos Francisco e Jacinta Marto

Fátima, os Pastorinhos, o Carmelo e um Milagre

Se eu pudesse meter no coração de toda a gente o lume que tenho cá dentro no peito a queimar-me e a fazer-me gostar tanto do Coração de Jesus e do Coração de Maria!” (Memórias da Irmã Lúcia III, 9).

Ave Maria Puríssima!

O Frei Manuel Castro, responsável pela revista “Família Carmelita”, da Ordem do Carmo em Portugal, pediu-me que escrevesse algo sobre a ligação entre a cura do menino Lucas, que conduziu à canonização dos Pastorinhos Francisco e Jacinta, e o nosso Carmelo de Campo Mourão (foto acima: capela do Carmelo “Nossa Senhora do Carmo” onde se pode ver Lucas, Irmã Teresa e os santos pastorinhos Francisco e Jacinta. Foto abaixo: Lucas e o Papa Francisco no dia da canonização de Francisco Marto e Jacinta Marto, em Fátima, em 13 de Maio de 2017). Faço-o com muito gosto.

As maravilhas e grandezas que Deus opera pela intercessão dos seus Santos são muitas, e na maioria das vezes a Omnipotência Divina escolhe frágeis instrumentos para manifestar a sua grandeza e infinita Misericórdia.

Aconteceu em 2013 o acidente de uma criança que comoveu uma pequena cidade e cuja notícia bateu às portas do nosso Mosteiro. Lucas caiu de uma altura de 6 metros, da janela da casa dos avós, onde brincava com sua irmãzinha. Ficou em coma muito grave pela fratura craniana com perda de massa encefálica, teve duas paragens cardíacas e os médicos achavam que tinha poucas probabilidades de sobreviver e se sobrevivesse ficaria com graves sequelas.

No mesmo dia do acidente, pessoas ligaram para o nosso Mosteiro pedindo orações pelo Lucas e pela família. Num primeiro telefonema a Irmã porteira não passou o recado à Comunidade pois, comovida com o fato, sentiu que deveria rezar apenas pelo conforto da família, pois pela gravidade do acidente não tinha esperanças que o menino Lucas fosse salvo. Era um domingo, 03 de Março. Passados uns dias a saúde da criança piorava e novamente uma pessoa nos telefonou perguntando: “Vocês estão rezando pelo Lucas? Ele ainda corre muito risco de vida e a família encontra-se muito aflita”. Desta vez outra Irmã atendeu o telefonema e passou o pedido de oração à Comunidade que estava reunida em recreação.

Eu já tinha uma antiga amizade com o Francisco e a Jacinta. Um sacerdote, amigo meu, me fez conhecer melhor a vida destes dois grandes Santos quando me pediu orações pela causa de canonização dos Beatos. Sempre recorria a eles em minha vida espiritual e também pedindo a sua intercessão pelas pessoas que me pediam orações. Francisco, o místico e contemplativo, me fez amar mais a Jesus escondido no Santíssimo Sacramento, a contemplar os mistérios de Deus, sendo exemplo para mim de absoluta docilidade à vontade Divina e no seu intenso amor e desejo de consolar o coração de Deus. Jacinta, a apóstola apaixonada, com o seu testemunho de imolação e doação sempre me ajudou a procurar ser generosa nos sacrifícios e imolação de minha vida pela Igreja, pelos sacerdotes e pela conversão e salvação das almas, ensinando-me a amar cada dia mais o Coração Imaculado de Maria e os mistérios do Rosário.

Por isso, no momento em que recebemos o pedido de oração pelo Lucas, ali mesmo na sala de recreação senti-me interiormente comovida e rezei: “Bem que vocês poderiam fazer este milagre para esta criança!”. Ao final do dia, estando eu nos afazeres da sacristia, ao colocar a chave no sacrário cujo chaveiro possuiu a medalha do Francisco e da Jacinta de um lado e do outro o Imaculado Coração de Maria e onde estavam também as relíquias dos Pastorinhos, rezei com firme confiança pedindo aos dois: “Francisco e Jacinta, curem o Lucas, por favor!”. E ali permaneci uns instantes diante de Jesus escondido e fazendo minha súplica ao Francisco e à Jacinta. No momento tive a certeza de que fui atendida. Foi uma oração simples, breve, mas diferente. Uma firme confiança em Deus me fazia crer que o céu havia ouvido minha oração. Não houve nenhum sinal concreto que me deu essa certeza mas sim uma moção interior me dizia que o Lucas estava bem. Na celebração da Eucaristia pedi às minhas Irmãs para rezarem também por essa intenção. E por Bondade de Deus e intercessão dos Santos, o milagre aconteceu. No dia seguinte, sábado, dia dedicado a Nossa Senhora, Lucas acordou do coma induzido, totalmente lúcido e sem nenhuma sequela o que surpreendeu os médicos e a todos nós.

Duas crianças curaram uma criança! A Misericórdia de Deus quis agir e salvar por intercessão de dois pequenos grandes Santos, hoje reconhecidos como tais pela Igreja, onde do céu continuam a interceder por todos nós, pelos sofrimentos da humanidade, pela santificação das almas conduzindo-as por Maria até Jesus.

Gosto tanto de Deus!”, exclamava Francisco. E a Jacinta : “Não sei como é! Sinto a Nosso Senhor dentro em mim. Compreendo o que me diz e não O vejo nem oiço; mas é tão bom estar com Ele!”. É paradoxal como duas crianças podem conduzir-nos, nós que nos consideramos grandes, no caminho da fé e da santidade. Mas esse é o agir de Deus que nos surpreende com a sua grandeza manifestada nos simples e pequenos.

O que mais me chamou a atenção neste milagre, que foi o milagre para a canonização, é que tenha ocorrido num Carmelo. Parece-me que tudo está perfeitamente entrelaçado e bem escrito por Deus. Os Pastorinhos na sexta aparição de Nossa Senhora em Fátima, no milagre do Sol, viram também Nossa Senhora do Carmo, manifestando já um prelúdio da vocação de Lúcia que se tornou monja Carmelita no Carmelo de Coimbra. Isso manifesta o estreito vínculo entre Fátima e o Carmelo que a meu ver possui uma missão especial dentro da mensagem de Fátima, sendo sinal profético de oração, comunhão com Deus e zelo apostólico pela salvação das almas.

O milagre do Lucas que levou à canonização dos Pastorinhos nos dá a entender que precisamos continuar a missão de Lúcia no anúncio da mensagem de Fátima, dos pedidos de Nossa Senhora, dentro da vivência do nosso carisma e do próprio Evangelho. Assim é que elevamos o nosso “Magnifica” aos céus pelos sinais e obras que Ele realiza e que se tornam para todos nós hoje, um impulso para buscarmos com maior fervor a santidade para assim podermos cantar um dia com os Santos Francisco e Jacinta e todos os Santos Carmelitas as Misericórdias de Deus, no céu.

31 de Maio de 2017, Festa da Visitação de Nossa Senhora

Carmelo “Nossa Senhora do Carmo”, Campo Mourão, Paraná, Brasil

Irmã Teresa Margarida do Divino Coração, OCD

Abrir

São Francisco Marto e Santa Jacinta Marto – 20 de Fevereiro

No dia 20 de Fevereiro celebra-se na Diocese de Leiria-Fátima a Festa de São Francisco Marto e de Santa Jacinta Marto. Para que fossem declarados “santos” em 13 de Maio de 2017, em Fátima, pelo Papa Francisco, foi determinante o milagre da cura do menino Lucas, natural de Juranda, município da Diocese de Campo Mourão, no estado brasileiro do Paraná, por intermédio de São Francisco e Santa Jacinta Marto. Publicamos a seguir o testemunho do Sr. João Baptista, pai do menino Lucas, que a nosso pedido nos enviou em 2017 este pequeno escrito que agora publicamos. Este testemunho foi já publicado na revista “Família Carmelita”, nº 77 de 2017, da Ordem do Carmo em Portugal, onde se encontra também o testemunho da Irmã Teresa Margarida do Divino Coração, Carmelita Descalça, do Carmelo “Nossa Senhora do Carmo”, em Campo Mourão.

Testemunho de João Batista, Pai do Lucas

Meu nome é João Batista, sou Pai do Lucas, a criança que recebeu o milagre por intercessão dos Pastorinhos Francisco e Jacinta Marto (foto: Lucas, irmã e pais). Meu filho, quando tinha cinco anos de idade, no dia 03 de março de 2013, sofreu um acidente após queda de 6 metros da janela da casa de meus pais, sofrendo fratura craniana grave com perda de tecido celebral. Seu estado era gravíssimo e os médicos deram-lhes poucas esperanças de sobrevivência. Começamos a rezar a Jesus e a Nossa Senhora de Fátima, a quem temos muita devoção. Amigos ligaram para o Carmelo de Campo Mourão, pedindo às irmãs que rezassem pelo meu filho. Mas foi num segundo telefonema, quatro dias depois do acidente, que o pedido foi passado à comunidade onde uma das irmãs, muito devota dos pastorinhos, acorreu para as relíquias dos Beatos Francisco e Jacinta, que estavam junto do Sacrário, e sentiu esse impulso de oração: “Pastorinhos, salvem este menino, que é uma criança como vocês, por favor.” Na madrugada de sexta para sábado, 09 de março, seis dias depois do acidente, meu filho Lucas acordou bem, e começou a falar, perguntando pela irmãzinha. No dia 11 saiu da UTI, e no dia 15 teve alta. Uma cura para a qual os médicos, mesmo os não-crentes, não conseguem encontrar explicação. Lucas ficou completamente bem, sem nenhum sintoma ou sequela: O que o Lucas era antes do acidente ele o é agora: sua inteligência, seu caráter, é tudo igual.

Um mês depois, no dia 03 de abril fomos até o mosteiro das monjas carmelitas de Campo Mourão, cidade bem próxima a Juranda onde vivemos. Fomos conhecer as irmãs que rezaram pelo Lucas aos Pastorinhos e agradecer a graça recebida. Irmã Teresa se tornou madrinha de nossos filhos, Lucas e Eduarda, que agora criaram grande vínculo com o Carmelo por fazer então parte da nossa história e da história de Fátima. Neste dia, Lucas entrou na clausura e saiu correndo pelo claustro como se nunca tivesse sofrido acidente algum e a irmã Teresa, levou-o à capela e rezou com ele agradecendo a graça recebida. Sentimos, minha Esposa Lucila Yuri e eu assim como toda a minha família, imensa alegria pelo milagre que levou os Pastorinhos para canonização, por terem salvo a vida de meu filho e por termos agora duas crianças que no céu continuam a interceder por nós junto a Jesus e Nossa Senhora.

Deus seja louvado por tudo!

João Batista e Familia

Abrir

6º Domingo do Tempo Comum – Ano C

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 6,17.20-26)

Naquele tempo, Jesus desceu do monte na companhia dos Apóstolos e deteve-se num sítio plano, com numerosos discípulos e uma grande multidão de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e Sidónia. Erguendo então Ele os seus olhos para os seus discípulos, dizia: «Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus. Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir. Bem-aventurados sois, quando os homens vos odiarem, quando vos excluírem, vos insultarem e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do Filho do homem. Alegrai-vos e exultai nesse dia, porque é grande no Céu a vossa recompensa. Era assim que os seus pais tratavam os profetas. Mas ai de vós, os ricos, porque já recebestes a vossa consolação. Ai de vós, os que agora estais fartos, porque haveis de ter fome. Ai de vós, os que agora rides, porque haveis de vos lamentar e chorar. Ai de vós, quando todos os homens vos elogiarem. Era assim que os seus pais tratavam os falsos profetas».

Reflexão

Conta-nos São Lucas que Jesus saiu para a montanha para orar, e passou a noite inteira em oração. O Evangelho de Lucas recorda-nos que Jesus reza sempre nos momentos importantes da sua missão. Quando amanheceu, continua São Lucas, Jesus chamou os discípulos e escolheu “Doze” a quem chamou Apóstolos, seguindo-se logo a lista dos seus nomes (Lucas 6,13-16). Notemos que o Apóstolo é o enviado autorizado, que fala em nome de quem o envia. Não está autorizado a dizer palavras suas ou a expressar a sua opinião. Fica totalmente vinculado àquele que o envia. A primeira nota que o caracteriza é a fidelidade.

Depois tendo descido com eles, ficou de pé num lugar plano, e um grupo numeroso dos seus discípulos e uma multidão numerosa do povo de toda a Judeia e de Jerusalém e do litoral de Tiro e de Sídon, que tinham vindo para o escutar e fazer-se curar das suas doenças. E aqueles que eram atormentados por espíritos impuros eram curados, e toda a multidão procurava tocá-lo, porque uma força saía dele e curava todos.

Então, Jesus, de pé, e “tendo levantado os olhos” como um profeta, declarou de forma directa e incisiva, bem-aventurados por Deus os POBRES, os FAMINTOS de agora, os que CHORAM agora, os REJEITADOS ou DESCARTADOS de agora. Lucas é mais radical e directo do que Mateus. Às quatro bem-aventuranças junta, em contraponto, quatro mal-aventuranças, declarando malditos por Deus os RICOS de agora, os FARTOS de agora, os que RIEM agora, os que RECEBEM APLAUSOS agora. As mal-aventuranças são introduzidas por um “Ai”, fórmula técnica para introduzir anúncios de desgraça no discurso profético.

As bem-aventuranças de Lucas identificam a condição social dos seus destinatários, os discípulos de Jesus: eles são pobres. São pessoas desprotegidas, exploradas, sem voz, vítimas da injustiça, privadas dos seus direitos e da sua dignidade pela arbitrariedade dos poderosos. Por isso, têm fome, choram, são rejeitadas e até perseguidas.

Lucas esclarecerá mais à frente, quando for contada a história do RICO FARTO e do POBRE LÁZARO (16,19-31), que os FARTOS não são demovidos pelos profetas nem tão-pouco por um morto que ressuscite! E esta parábola do homem Rico e do pobre Lázaro, que escutaremos no 26º Domingo, é o melhor comentário ao texto das bem-aventuranças e mal-aventuranças de hoje.

António Couto (texto sintetizado e adaptado)

Palavra para o caminho

Os pobres compreendem Jesus. Não são felizes por causa da sua pobreza. A sua miséria não é um estado invejável nem um ideal. Jesus chama-os de felizes porque Deus está do lado deles. O sofrimento deles não durará para sempre. Deus far-lhes-á justiça.

Jesus é realista. Sabe, muito bem, que as suas palavras não significam, agora mesmo, o final da fome e da miséria dos pobres. Porém, o mundo tem que saber que eles são os filhos predilectos de Deus, e isto confere à sua dignidade uma seriedade absoluta. A sua vida é sagrada.

Abrir

5º Domingo do Tempo Comum – Ano C

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas ( Lc 5, 1-11)

Naquele tempo, estava a multidão aglomerada em volta de Jesus, para ouvir a palavra de Deus. Ele encontrava-Se na margem do lago de Genesaré e viu dois barcos estacionados no lago. Os pescadores tinham deixado os barcos e estavam a lavar as redes. Jesus subiu para um barco, que era de Simão, e pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra. Depois sentou-Se e do barco pôs-Se a ensinar a multidão. Quando acabou de falar, disse a Simão: «Faz-te ao largo e lançai as redes para a pesca». Respondeu-Lhe Simão: «Mestre, andámos na faina toda a noite e não apanhámos nada. Mas, já que o dizes, lançarei as redes». Eles assim fizeram e apanharam tão grande quantidade de peixes que as redes começavam a romper-se. Fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para os virem ajudar; eles vieram e encheram ambos os barcos, de tal modo que quase se afundavam. Ao ver o sucedido, Simão Pedro lançou-se aos pés de Jesus e disse-Lhe: «Senhor, afasta-Te de mim, que sou um homem pecador». Na verdade, o temor tinha-se apoderado dele e de todos os seus companheiros, por causa da pesca realizada. Isto mesmo sucedeu a Tiago e a João, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de Simão. Jesus disse a Simão: «Não temas. Daqui em diante serás pescador de homens». Tendo conduzido os barcos para terra, eles deixaram tudo e seguiram Jesus. 

Reflexão

Diz-nos o texto deste Evangelho que certo dia Jesus estava na margem do Lago de Genesaré e a multidão estava aglomerada à sua volta “para ouvir a Palavra de Deus”. A Palavra de Deus era realmente “Boa Notícia”. Nenhuma palavra humana, por mais eloquente ou edificante que seja, pode igualar-se à Palavra de Deus: “A Igreja sempre venerou as Sagradas Escrituras da mesma forma como o próprio Corpo do Senhor” (Dei Verbum, 21).

Terminada a pregação, Jesus pede a Simão que avance para águas mais profundas e lance as redes. Como é tentador para nós – a Igreja, as comunidades, os indivíduos – ficarmos seguros nas águas tranquilas junto à margem que não apresentam perigo mas não dão frutos! Se quisermos ser realmente “pescadores de homens” teremos que enfrentar as águas profundas da vida, com todas as incertezas e inseguranças que isso acarreta.

Simão não se mostra muito entusiasmado diante do convite do Senhor, pois ele, pescador experimentado, sabia muito bem que não se lançavam as redes naquela hora do dia. Parece loucura. Assim, muitas vezes, é hoje o que Jesus nos pede parece loucura aos olhos da sociedade. Pois, como diz São Paulo “a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (1Cor 1, 25). Mesmo assim, Pedro é um homem de fé, seduzido por Jesus. As suas palavras têm, para ele, mais força do que a sua própria experiência: “Mas, já que o dizes, lançarei as redes”.

A pesca é abundantíssima. Pedro reage: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um homem pecador!”. Como a luz cria a sombra, a proximidade da santidade põe em relevo o pecado humano. Mas, Jesus não atende o pedido de Pedro: porque somos pecadores é que Ele veio ter connosco! Diz a Pedro para não ter medo, nem da sua fraqueza, nem da sua natureza pecaminosa, nem das suas falhas. Jesus chama-o tal como ele é e confia-lhe uma missão: “Daqui em diante serás pescador de homens”. Jesus ama-nos, não como gostaríamos de ser, mas como somos de facto. Somos chamados a segui-Lo como somos. O seguimento de Jesus a que Pedro e nós somos convidados, não se destina a aprender uma doutrina ou uma ideia, mas a seguir de perto uma Pessoa, Jesus de Nazaré, e a sua maneira concreta de viver. É a adesão a uma Pessoa que está em causa para Pedro e para nós.

Palavra para o caminho

Os insucessos e as dificuldades não induzam ao desânimo: nós temos o dever de lançar as redes com fé, e o Senhor faz o resto (Bento XVI).

Abrir